To lose my life | White Lies
Eu sei que deveria encarar To lose my life como uma daquelas típicas estreias imperfeitas porém divertidas, programadas para cumprir as expectativas de uma grande gravadora. Mas o disco rende algo mais interessante: é um sintoma poderoso da crise criativa do rock britânico.
Sim, já que, se o White Lies é uma das maiores apostas inglesas para este início de 2009, então estamos perdidos. É o caso de fechar a fábrica e começar a maquete do zero.
Não é uma banda ruim, nem incompetente, nem irritante, ainda que bastante problemática. O trio, liderado pelo vocalista Harry McVeigh (mais um que tenta cantar igualzinho ao Ian Curtis), não é o primeiro a diluir o pós-punk do final dos anos 1970 em refrãos de rádio-rock. Não será o último.
Mas, e tão pouco depois do Glasvegas, o que incomoda é notar como uma banda iniciante mediana e razoavelmente interessante (e tão derivativa quanto, digamos, o Editors) consegue mobilizar a imprensa britânica. O óbvio ululante merecerá um Mercury Prize?
O primeiro parágrafo da resenha da Pitchfork para o álbum do Glasvegas (leia aqui) sintetiza o problema. Enquanto o rock britânico não deixar de se contentar com muito pouco, teremos que engolir as supostas revoluções de “promessas” como o White Lies.
Hype à parte, To lose my life soa tão frágil e desprovido de personalidade quanto a estreia do The Ting Tings. Uma espécie de Interpol aguado, o trio dilui a desilusão do goth rock num formato pop previsível. Canções como Death e A place to hide têm a estrutura de hit e funcionam à beça (mas, até aí, nada que as diferenciem de um sucesso do Fall Out Boy). Só que não passam de um cruzamento do tom épico do Arcade Fire com as firulas do Tears for Fears.
Mais dolorido é acompanhar os versos agoniadíssimos, que tentam rimar sofrimento com sucesso comercial. Acabam soando inofensivos (pior: não existe verdade nem desespero nessa sessão de terapia), mesmo quando falam sobre suicídio, assassinados e medo de morrer.
“Escrevo minhas memórias com sangue no chão”, ameaça o vocalista, em E.S.T.. Seria mais honesto terminar o verso assim: “, e com elas crio o tema fofo de um seriado teen.”
Primeiro álbum do White Lies. 10 faixas, com produção de Ed Buller e Max Dingel. Fiction Records/Polydor. 5/10
janeiro 15, 2009 às 10:34 pm
“Não é uma banda ruim”
É sim.
“nem incompetente”
É sim.
“nem irritante”
Ah, é sim.
janeiro 16, 2009 às 10:35 am
Hahaha. Ok, então.
janeiro 17, 2009 às 4:04 am
Nem me interessei em escutar o disco porque de um modo geral as figuras mais imunes a hype na imprensa inglesa foram bem frias com ele, mas eu diria que o que você diz se refere menos ao rock inglês e mais a imprensa inglesa e é menos uma crise mas a esta altura um estado das coisas que todos aceitam como normal.
janeiro 17, 2009 às 11:12 am
Não sei se é só uma crise da imprensa inglesa, já que os americanos procuram novidades interessantes na Inglaterra e encontram cada vez menos (o texto da Pitchfork, do ponto de vista americano, explica isso).
Claro que a imprensa inglesa ajuda a criar esse clima de frustração. Mas as coisas já estiveram bem melhores por lá.
janeiro 18, 2009 às 3:01 am
Eu já acho que os americanos de um modo geral fazem um trabalho bem ruim de acompanhar a cena inglesa.
maio 14, 2009 às 1:11 am
Olha, eu já comprei o cd ( original, é claro ), sem essa de “downloads”, e confesso, adorei o début dos caras, não entendo porquê tanta malhação nos caras, dizendo que fazem o som que Joy Division, Bauhaus e outros faziam a 30 anos, pôxa, os amados, e paparicados Arctic Monkeys ( que venha o novíssimo dêles ), não fazem o que os Buzzcocks faziam, também a 30 anos atrás ? Disquinho bacana, esse “to lose my life” hehehe !!
julho 5, 2009 às 8:36 pm
Péssima essa hein? Não é porque a voz do vocalista é um tanto parecida com a do Ian Curtis que ele queira imitar ou algo, como vocês são precipitados, a banda não é ruim. :)