Mês: novembro 2009
Código de conduta
Law Abiding Citizen | F. Gary Gray | 5
O triste é que poderia ter sido um thriller interessante: até uma certa altura da trama (e sem trocadilhos), o cineasta coloca os dois personagens principais numa zona acinzentada, oscilando entre os papeis de mocinho e vilão. Mas, para facilitar nosso trabalho, logo descarta as ambiguidades e, para justificar o jogo de gato-e-rato, apela para a grosseria banal: o plano mirabolante do vilão, de tão violento e absurdo, acaba lembrando as mutretas de Jogos mortais. E medo: o roteirista, Kurt Wimmer, assina o remake de O vingador do futuro, que vem aí.
Substitutos
Surrogates | Jonathan Mostow | 7
Um filmezinho diabólico que eu colocaria na minha pequena lista de fitas de ficção-científica que tiraram meu sono em 2009 (junto com Presságio, por enquanto). O roteiro é inspirado numa graphic novel, mas poderia ter brotado de um livro do Isaac Asimov ou do Aldous Huxley. Num futuro até plausível, as pessoas ficam ilhadas dentro de casa, onde comandam (via parafernália tecnológica) versões robóticas de si mesmos. Como consequência, os índices de criminalidade despencam e o sedentarismo dispara (e o clima de bem-estar, vejam isto!, é inebriante). E se a Terra se transformasse num seriado teen norte-americano, habitado pelo elenco de Barrados no baile e por seres plastificados à superprodução de Michael Bay? Eis o elenco deste engraçadíssimo filme de horror que segue as regras triviais do gênero e, ainda assim, permite todo tipo de debate pessimista sobre a vida que levamos. Eu interpretei como uma hipérbole para o mundo pós-internet – e, fraco que sou para esse tipo de fantasia, me assustei com a ideia.
Vigaristas
The Brothers Bloom | Rian Johnson | 6
Era mais ou menos o que eu esperava do diretor de A ponta de um crime. Uma comédia todinha artificial – da encenação extravagante às peripécias do roteiro, não há lugar algum para realismo -, mas que provoca o efeito de um longo espetáculo de fogos de artifício. Adorável em alguns momentos (trecho de diálogo favorito: “Você é a única plateia de que preciso”, diz o trapaceiro megalomaníaco ao irmão), mas efêmero. E as comparações com Wes Anderson me parecem equivocadas. Pendengas familiares à parte, Johnson tem vigor, mas por enquanto só fez modestos shows de mágica.
Diário de SP | Superoito no Planeta Terra
Com lamentável atraso, aí vão meus comentários (incrivelmente curtos) sobre os shows do festival Planeta Terra, que rolou sábado passado no Playcenter, em São Paulo. Os shows não me tiraram do chão, mas admito que fechei os olhos no looping da montanha-russa.

Móveis Colonais de Acaju | 7 | Como sempre, incansáveis (e o André está cantando cada vez melhor). A abertura do show foi, como diria Herbert Vianna, acima das palavras. Um pouco menos criativos no palco, no entanto.
Maxïmo Park | 4 | Não tão vergonhoso quanto The Rakes, mas quase lá. No palco, o pior acontece: tudo o que a banda fez de decente está concentrado no disco de estreia. Infelizmente, eles parecem curtir muito os outros dois discos. Serviria como show de abertura do Franz Ferdinand (ok, talvez nem isso).
EX! | 4.5 | Vi um pedacinho de nada, mas me pareceu uma paródia de todas as bandas moderninhas de Nova York (com uma vocalista que me deixou com saudades do La Roux). Era?
Primal Scream | 5 | As lembranças do show ruidoso, violentíssimo que eles fizeram no Tim Festival há alguns anos pesaram contra este (morno) retorno. E, para piorar, soou desconjuntado: começou como uma colagem das referências punk da banda, terminou com hits fáceis e sensação de psicodelia requentada. Pouco.
Sonic Youth | 7 | O primeiro show do Sonic Youth a gente nunca esquece (e o Metronomy que espere). Tudo bem: não há como descrever a força estranha que move Kim Gordon no palco (num determinado momento, acho até que ela virou Monga, a indie selvagem). Também tenho que admitir que é intelectualmente muito excitante assistir a uma banda que vive no presente e não dá bola para os próprios hits. Mas é um show que deve ter deslumbrado especialmente os fãs do disco mais recente deles. Sei que seria pedir muito, mas eu preferiria ter curtido o repertório de Murray Street ou de Washing machine.
The Ting Tings e Iggy and the Stooges | Vi um pouco dos dois shows (a organização do festival, sádica, marcou as duas atrações para o mesmo horário), nem dá para avaliar direito. Ting Tings rendeu mais do que eu esperava: eles conseguem segurar o público por quase 60 minutos com apenas três hits e clima de programa de auditório (eu daria um 7, vai). Do Iggy vi só três músicas e me arrependi de não ter ficado mais tempo no palco principal.
N.A.S.A. | 4 | Picaretagem muito da vagabunda.
Etienne de Crecy | 8 | Surpresa: quem procurava espetáculo visual encontrou um parque de diversão inteiro no show hipnótico do DJ francês. Dançando no cubo mágico. Fantástico.