Mês: julho 2008

‘Mucho’ Babasónicos **

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Vamos afundar este blog de vez? Então lá vai: o primeiro comentário de um álbum de uma banda… argentina, por que não?

Sim, eu sei que não é mais bacana assistir à MTV Latino e que Mercosul é tão semana passada, mas tenho que admitir que, durante esse tempo todo, esses anos todos, esses blogs todos, eu acompanhei o Babasónicos como um fã. Tudo bem: um fã distante, desconfiado e relapso.

Mas um fã. Quando fui a Buenos Aires pela primeira vez, ouvi tantas vezes o ótimo Anoche, de 2005, que memorizei o momento exato da transição entre as quatro primeiras faixas (que vêm grudadas umas nas outras, feito a parte final de Abbey Road). Verdade. Nem estou ironizando. Minha namorada foi à Argentina recentemente e adivinhem o que ela trouxe de presente pro sortudão aqui? Luces, álbum ao vivo.

Então sim, ora, um CD novo do Babasónicos merece sim um latifúndio neste blog – que é de nicho, é honesto, poderia estar matando e não tem a obrigação de cumprir metas mercadológicas. É uma banda que, pro nosso governo, expõe com bastante clareza o vazio criativo da indústria fonográfica brasileira. Um grupo pop, radiofônico e cheio de boa idéias. A última vez que ouvimos algo assim foi com o Los Hermanos. E depois?

Esses hermanos aqui gravam discos para multidões – e não gravam à toa. Depois de Anoche, um álbum fluorescente de tão psicodélico, Mucho é a manhã sóbria. No período entre um trabalho e outro, a banda sofreu com a morte do tecladista Gabriel Manelli e optou por fazer canções mais diretas, sem tanto rebuscamento nas melodias ou na produção. Pelo menos por enquanto, não dá pra ser feliz.

Apesar do título, Mucho é quase um rascunho. É pouco, é menos. As duas primeiras faixas, Yo anuncio e Pijamas, são simples de dar dó. Quase frágeis, ainda que som refrãos que não nos abandonam facilmente. O álbum cresce um tanto com Cuello rojo e com a baladona (linda) Como eran las cosas. Como ficamos até aí? Uma banda mais madura e menos corajosa.

Tanto é assim que a faixa mais aventureira, Microdancing, parece ter desembarcado no disco errado. Depois dela, retornamos ao ambiente das paixões complicadas, das confissões difíceis, dos versos auto-irônicos.

Aos que querem se apaixonar pelo Babasónicos, indico o álbum anterior, Anoche. Só que não dá para desprezar este Mucho: depois de um espetáculo de raios laser, ninguém esperava por esse banho de cinza. É o que acontece: os discos que os fãs procuram nem sempre são os que as bandas podem nos oferecer.

Este é um Babasónicos fraturado. Mas vá lá, tente encontrar aqui no Brasil um novo álbum pop com toda essa classe, toda essa segurança. Estou aqui esperando a resposta.

Veneza

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Ponyo on the cliff by the sea, de Hayao Miyazaki, um dos selecionados para a edição deste ano do Festival de Veneza, narra a amizade entre um menino de cinco anos de idade e uma princesa transformada em peixe. Não preciso saber de mais nada sobre o novo filme do diretor de A viagem de Chihiro. Para mim, seria motivo suficiente para pegar um bote e ir remando para tirar umas férias na Itália. A lista completa dos longas que concorrem ao prêmio principal, ainda assim, não é das que inspiram esse tipo de aventura – um dos destaques é a estréia de Guillermo Arriaga na direção, e isso justifica toda e qualquer sensação de desconfiança.

‘Conor Oberst’ Conor Oberst **

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Para gravar o quarto álbum solo, Conor Oberst instalou um estúdio temporário numa vila montanhosa do México chamada Valle Místico. A impressão superficial que alguém pode tirar deste disco é que nosso Huckleberry Finn indie não precisaria ter ido tão longe para gravar essas 12 canções. Elas remetem à tradição do rock norte-americana – do folk ao country, via Bob Dylan e Gram Parsons.

Só que, aprovemos ou não, Conor decidiu cair na estrada. Suspeito que esse auto-exílio tenha contribuído para a luz silenciosa que paira sobre o disco – não é um álbum sobre metrópoles. Quando fala em Nova York, ele já pensa em despedida. “A estrada cura tudo”, canta.

Não deixa de ser um clichê. Mas a arte de Conor sempre funcionou assim. Ela passa por um olhar comovido, arrepiado, para certos lugares-comuns da juventude (é por isso que o melhor trabalho da carreira continua, firme e forte, I’m wide awake it’s morning, do Bright Eyes). Quando narra crônicas em primeira pessoa, ele canta os amores que acabam, o medo da morte, a dificuldade de crescer.

Tome distância dessas canções e elas soarão imaturas. O que interessa é o compromisso que Conor parece ter com todas elas. Ele as traduz com o suor de quem viveu todas aquelas obviedades e algumas outras. A melhor faixa deste disco novo, Lenders in the temple, é quase um Elliott Smith. Com violões dedilhados e sussurros ao pé do microfone, Conor abre a janela da alma (ainda que não diga coisa com coisa).

Pena que o disco inteirinho não mire esse tipo de epifania. Conor quer o Olimpo. Parece agoniado por fazer o próprio Bringin’ it all back home, mas já? Conor Oberst, o álbum, me parece calculado demais, pensado em excesso para se adaptar a uma definição rasteira de “projeto folk”, de “obra pessoal”. São poucas as faixas que realmente justificam esse conceito. São bem gravadas – como Get-well-cards ou Sausalito -, mas parecem travadas numa idéia-fixa que Conor faz sobre esse tipo de álbum, sobre alguns gêneros musicais. Ele não arrisca. Cadê o espírito aventureiro?

Conor desbrava o mundo, mas não se deixa transformar por ele. Ainda enxerga um aconchegante lugar-comum. E assim, cauteloso, nos entrega competentes 40 minutos de bonitas canções.

Arquivo X: Eu quero acreditar *

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Mais uma reciclagem oportunista? E logo de uma das minhas séries favoritas de todos os tempos?

Não. Nem brinca.

Admito que não gostei já no trailer. Fã é fogo – e, no caso, sou fã. Meio ressabiado, mas fã. Um padre paranormal de barba branca (pense no Hermeto Paschoal em dias de crise existencial) que supostamente teria o talento de descobrir o paradeiro das vítimas de serial killers – isso é idéia que se use? Uma sinopse dessas talvez já tenha sido usada em episódios de um daqueles seriados policiais à C.S.I. Miami e NYPD Blues. Mas como motivo para ressuscitar Fox Moulder e Dana Scully? Não.

Chris Carter, o criador da série e o defensor desta bobagem, divulgou que a trama de Eu quero acreditar não precisaria de bula para ser compreendida. Ele foi até bastante honesto com o público. Tudo o que acontece nesse capítulo alongado (e friorento) pode ser transferido integralmente para um daquelas fitas de suspense impessoais e monocórdicas a que você assiste todo sábado no Supercine.

Para quem não é fã, uma contextualização pode ajudar a entender por que Carter, o pai do Arquivo X, tirou esse coelhinho feioso da cartola. Apesar de ter escrito o episódio piloto, o (frustrante) encerramento e ter sofrido alguns surtos de inspiração aqui e ali, o sujeito nunca foi o principal roteirista da série (meus preferidos eram Glen Morgan e James Wong). Muito menos o melhor diretor (Rob Bowman e David Nutter dão de dez). Carter é dono da bola, mas sempre houve jogadores melhores em campo.

Em Eu quero acreditar, faz falta o comando de um cineasta minimamente talentoso. Carter consegue, no máximo, forjar um episódio piloto para um novo seriado que poucos se interessariam em acompanhar. Eu, por exemplo, deixaria passar. Pode ser até curioso comparar o ritmo relativamente lento da narrativa com a montagem acelerada de um 24 horas, mas esse revival dos anos 90 não justifica um filme que impressiona pelo caráter episódico, de sobra de box de DVD.

Outro detalhe que talvez os não-fãs desconheçam. Os episódios de Arquivo X podem ser separados em dois grupos: de um lado, os que agregam sentido à mitologia da série (que explora uma possível conspiração para esconder evidências de vida fora da Terra); de outro, os que são uma espécie de Scooby-Doo para adultos (Moulder e Scully investigam e resolvem casos mirabolantes). O filme se enquadra nesse segundo grupo, e o faz sem disposição alguma para a fantasia. Lembram do capítulo em que se especulava sobre a existência de um monstro na rede de esgoto da cidade? O único personagem misterioso do longa é o padre paranormal. E ele não chega a provocar pesadelos.

Nem vou ficar reclamando da falta que os ETs fazem (ainda que o filme anterior, dirigido por Bowman, resumia as obsessões da série com muito mais elegância). Nem da incrível dificuldade que Carter encontra para desenvolver a psiquê de personagens que conhece há tanto tempo (tudo o que sabemos sobre o período de reclusão de Moulder é que ele deixou a barba crescer, Rodrigo Amarante-style). Seria cobrar muito de um filme que não tem quase nenhuma ambição – e que dedica tempo a um dilema ético que Dana Scully já enfrentava desde a primeira temporada.

Eu quero acreditar é uma daquelas reuniões de elenco que nos deixam com uma saudades danada dos bons tempos – mas não nos oferecem nenhuma boa razão para os querermos verdadeiramente de volta.

CSS na Pitchfork

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Most of CSS nuance, sense of irony, and genre schizophrenia have been excised in favor of, well, the exact sort of bland dance-punk they so skillfully avoided on their first album.

Acabou o mistério. A Pitchfork viu em Donkey um disquinho bem meia-boca. O engraçado é que, para detonar o pobre coitado, eles tratam a estréia da banda como uma espécie de obra-prima, um marco indiscutível. Mais cômico ainda é quando lembramos que o site foi um dos que pegaram no pé do álbum anterior deles. Eu não entendo. Mas, de qualquer forma, é um texto desiludido e, por isso, bom de ser lido.

29

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O que acontece comigo quando faço aniversário? No dia dos meus 20 anos, acordei com taquicardia e passei a manhã inteira questionando minha existência na Terra. Hoje parece que estou bem melhor.

Meu diário: levantei cedinho, fui brincar com os cachorros num frio glacial (um deles arranhou meu braço até tirar sangue, mas encarei o gesto como um afago desengonçado), bati palmas para o pôr-do-sol, disse olá para as três pessoas que caminhavam na rua, assinei um cheque de R$ 120 para o lar dos idosos, agradeci ao papai do céu por eu ser um homem saudável e de bom coração, visitei o blog do Zeca Camargo, li as notícias do dia e me emocionei quando percebi que não havia nenhum menino de cinco anos de idade morrendo afogado no interior do Rio Grande do Sul, me descobri muito compreensivo ao ver que a minha conta no Twitter havia caído numa espécie de buraco negro virtual e de lá não mais voltaria (não se pode controlar tudo nessa vida!), dei piruetas ao notar que o queijo e o presunto acabaram e que eu poderia me deliciar com um belo pão-com-nada no café da manhã, ouvi duas faixas do meu disco favorito do Ryan Adams, fiz as contas rapidamente e cheguei à conclusão de que tenho economias para alugar uma quitinete no Entorno do Distrito Federal e por isso não sairei tão cedo da barra da saia da mamãe, tomei uma deliciosa vitamina de banana com banana, avaliei como supimpa a queda de visitas no meu blog de nicho (a meta, afinal, é atingir um pequeno grupo de leitores inteligentíssimos), fiquei até muito satisfeito com meu aparelho dentário, já que ele fará de mim um sujeito com uma arcada em perfeitas condições de disparar sorrisos Colgate que espalharão alegria por aí, dei uma volta no quarteirão mais agradável do Lago Norte e pensei: ‘ainda não recebi nenhum aumento de salário significativo, que bom! É um estímulo para que eu trabalhe mais e melhor, para que eu seja útil à sociedade e sonhe com um futuro próspero’, imaginei quatro opções para minha viagem de férias: Los Angeles, Buenos Aires, Cuba ou, na mais provável das hipóteses, um tour pelo subúrbio do Rio de Janeiro? Comprei o jornal. Matei as palavras cruzadas num espirro. Lembrei: ‘além de tudo, sou um rapaz inteligente!’. Fiquei orgulhoso de mim mesmo. Decidi chegar atrasado no trabalho (eu mereço!). Tirei um cochilo de cinco minutos. Sonhei com um resort nababesco de país subdesenvolvido.

Aiai. Me sinto tão bem. Nada como a maturidade.

‘Snowflake midnight’ Mercury Rev **

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Tentativas de reinvenção musical são quase sempre assustadoras. No caso do Mercury Rev, tive pesadelos: usar climas de música eletrônica para atualizar uma sonoridade psicodélica/progressiva poderia muito bem aproximá-lo perigosamente do trance, do lounge e de outros pecados tristes, doloridos e mortais.

A boa notícia: Snowflake midnight não é uma tragédia (e não é o “álbum pop” do Mercury Rev). Mas também está longe de merecer elogios deslumbrados do estilo “eles voltaram à forma, meu deus!” ou “é o melhor deles desde Deserter’s songs, nossa senhora!”. Não. É bem verdade que a banda tenta se transformar numa espécie de Pink Floyd para pistas de dança. Mas sabe a distância que separa uma tentativa ambiciosa de um grande acerto? Pois é.

Se o álbum finalmente encerra um ciclo de space rock etéreo que já começava a torturar a banda, os fãs e os duendes da floresta (The secret migration é até bem intencionado, mas alguém se importou tanto assim com ele?), lança outros problemas criativos para Jonathan Donahue e cia. Por exemplo: como vencer os tiques de produção de Dave Fridmann, que volta a demonstrar a velha tendência a engordar canções com excesso de penduricalhos? E como dar o passo adiante numa poesia dopada que beira a auto-paródia (vide a fofucha A squirrel and I)?

É, na melhor das hipóteses, o retrato de um período de transição (e, na pior, de uma fase de confusão). Apesar de tudo, este álbum curto com canções espaçosas deixa a impressão de ter dado um trabalho desgraçado para a banda (tanto que eles soltarão em setembro um outro disco inteiro, de graça na internet). E, outra boa notícia, quase nunca soa como trance. Eu disse quase nunca.

Offices

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Por uma coincidência louca, só assisti agora ao Office space (no cérebro fértil do tradutor brasileiro, Como enlouquecer seu chefe). E exatamente em meio aos episódios da terceira temporada do The office, vejam só que coisa. A comparação entre os offices é bastante cruel.

O filme de Mike Judge pode até ter disparado alguma faísca em 1999 com uma charge (sob um verniz engraçadinho de sitcom, claro) para a rotina de um escritório. É um ambiente de trabalho bem típico – entediante, ultrapassado, emburrecedor e tudo mais -, e por isso a comédia acaba provocando mais aflição que risos. Mas parece um rascunho para The office – e nem estamos falando da versão inglesa da série, já que aí seria covardia.

Se Judge carrega num sentimentalismo meio bocó, o seriado vai mais fundo tanto no lado amargo da sátira (a empresa está sempre prestes a afundar e levar todos os funcionários pro esgoto com ela) e também no mais humano (relações de amizade são criadas até mesmo com o pior chefe do mundo). É mais um entre tantos casos em que a tevê dá aula pro cinema.

Clipe: ‘House of cards’ Radiohead

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Coisa sublime esse clipe de House of cards. Dirigido sem câmeras (o que vemos na telinha é resultado de uma tecnologia de 3D que “mapeia” as formas dos objetos e as distâncias entre eles), o vídeo de James Frost capta à perfeição a atmosfera da música: soul music geneticamente modificada, robôs in love. Eu tinha prometido a mim mesmo que nunca mais na história da humanidade colocaria clipes no site, mas esse aí justifica a exceção. É um dos melhores do ano e da trajetória de uma banda que, desde os tempos de The bends, quase nunca tropeça nessa área. É tudo isso mesmo. Um negócio. Quase “o melhor de todos”, o “maior videoclipe de uma banda de rock em todos os tempos”, o “todo-poderoso”, o “dark-knight dos clipes” e… ok, sem exageros, mas não estou aqui pra brincadeira: assistam, tô pedindo, por favor, vai, só desta vez. Obrigado.

Melhores do semestre

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O Filipe postou a dele, o Chico também e, nessa bonita corrente-pra-frente, cá está minha listinha dos melhores filmes lançados no nosso circuito durante o primeiro semestre de 2008. Suspeito fortemente que nenhuma estréia do segundo semestre conseguirá derrubar os três primeiros colocados. Então, meus amigos, não reclamem de falta de surpresas no fim do ano.

Eu ia fazer uma listinha dos piores, mas neste exato momento não tenho tempo nem pra pagar a conta de telefone. Essa aí vocês terão que esperar até o Natal.

1. Não estou lá, Todd Haynes

2. Onde os fracos não têm vez, Joel e Ethan Coen

3. Antes que o diabo saiba que você está morto, Sidney Lumet

4. Sweeney Todd, Tim Burton

5. Wall-E, Andrew Stanton

6. A espiã, Paul Verhoeven

7. Paranoid Park, Gus Van Sant

8. 4 meses, 3 semanas e 2 dias, Cristian Mungiu

9. Sangue negro, Paul Thomas Anderson

10. O escafandro e a borboleta, Julian Schnabel

Frustração

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Parece que o povo da Pitchfork ficou um pouquinho decepcionado com o disco do Black Kids. O que será que pensam os cachorrinhos?

Só fico imaginando o que eles vão falar do novo CSS (a crítica da Rolling Stone não escondeu a frustração).

Juro que pela última vez

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O cavaleiro das trevas? Hmm, passou perto. O destino na vida de todo DVD é descansar em paz na prateleira de promoções das Lojas Americanas. Pois foi lá, exatamente lá, com a etiqueta de R$ 19,90 estampada no meio da fuça, que achei esse DVD de Batman begins. Notem a linda recomendação do crítico d’O Globo logo na capa.

Fiquei por um tempo ali, capa do DVD nas mãos, eu e a avaliação definitiva do crítico d’O Globo, eu e ela, ela e eu, cinco minutos refletindo sobre a nossa obsessão por buscar e querer sempre o “melhor de todos”. Depois, meio inconformado por não ter encontrado a nova caixa de Gilmore Girls e doido por comprar alguma coisa, levei o Como enlouquecer seu chefe. R$ 9,90, coitado.

‘Beautiful future’ Primal Scream *

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Olha, eu entendo: impossível cobrar coerência de uma banda como o Primal Scream, assumidamente indecisa entre tantas ofertas na vitrine do pop. Tudo o que sabemos sobre a gangue de Bobby Gillespie é que ela sempre, sempre tentará nos surpreender com um novo figurino. Pode soar tanto como um bando de motoqueiros selvagens (em álbuns como Give out but don’t give up e Riot city blues) quanto como uma turma de modernóides enlouquecidos numa eterna viagem de ácido (em XTRMNTR ou até no irregular Evil heat). A obsessão de Gillespie, 46 anos, é não ficar para trás.

Essa angústia por ditar moda (nem que a partir do resgate de influências do rock clássico) se faz mais explícita nos álbuns menos enxutos da banda, aqueles que não se prendem a um conceito fechado e apontam em todas as direções: são os casos de Vanishing point, de 1997 (um dos meus favoritos), e agora deste Beautiful future (que, por enquanto, não me diz quase nada).

O disco novo aposta alto ssa idéia de instabilidade. A começar pela escalação de um duo de produtores que, esteticamente, não dividem o mesmo bangalô. De um lado, os riffs de guitarra valorizados por Paul Epworth, de Bloc Party e Maximo Park. De outro, o pop doce do sueco Björn Yttling, do trio Peter, Björn and John. Talvez a intenção da banda tenha sido flertar com a depretensão. Mas isso Gillespie nunca consegue. Sem a coragem de bancar completamente um lado mais radiofônico, o álbum acaba se afirmando apenas como um projeto de transição – ou, numa análise menos condescendente, como um rascunho.

Há faixas, como The glory of love e Over and over (essa última, uma cover fofa do Fleetwood Mac), que demonstram o interesse do grupo por um indie rock mais melódico, aquele que tem em Estocolmo a principal capital. Mas há outras, como Suicide bomb e Zombie man, que retornam ao velho nheco-nheco stoneano que o próprio Primal Scream esgotou antes de entrar em estúdio para gravar Riot city blues. O single, Can’t go back, tenta até uma aproximação forçada com a new rave (confirmada em I love to hurt, com participação de Lovefoxxx), mas essa busca incessante por uma sonoridade contemporânea morde o próprio rabo quando percebemos que quase nada a sustenta. Além de pose, claro.

Gillespie odeia olhar para o próprio passado. Talvez esteja certo. Se você tentar encontrar algum sentido na trajetória do Primal Scream, baterá de frente numa banda disforme e presa numa adolescência sem fim. Por isso, recomendo esquecer esse cenário completo: o melhor jeito de ouvir os ótimos Screamadelica, Vanishing point e XTRMNT é sem imaginar um contexto para eles. Já Beautiful future é outro drama: um disco que, ao flutuar na própria irrelevância, me decepciona de qualquer uma das formas.

Batman, um retorno

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Durante a revisão do novo Batman, tenho que admitir que mal consegui pensar nos dilemas do Homem-Morcego. Na verdade, me lembrei de outra coisa: das três ou quatro vezes em que voltei ao cinema para ver Kill Bill, vol. 1, em como retornar a algumas cenas do filme de Tarantino me provocavam sensação parecida a de ouvir repetidamente algumas das minhas canções favoritas. Aquele foi o filme que mais me ensinou sobre o valor de uma segunda, de uma terceira impressão, de como a experiência de um primeiro encontro com certas imagens pode se desdobrar num hobby quase infantil – como quem se deixa hipnotizar sempre que vê um determinado videoclipe de dois minutos de duração, como a criança pequena que não se contenta com a décima reprise do desenho animado.

Enfim. Esse deslumbramento não me seqüestrou durante a sessão de O cavaleiro das trevas, e nem estou surpreso com isso. Continuo a encarar o filme com um distanciamento estranho – às vezes parece que estou assistindo, dos bastidores, a um espetáculo de mágica. Reconheço de antemão todos os truques, vejo o coelho antes de ele ser tirado da cartola. Entendo os argumentos de quem defende o filme e concordo com alguns deles (no mais, o longa se confirmou como uma season finale para um longo seriado construído pela equipe de marketing da Warner). Só não havia conseguido adivinhar que o Coringa de Heath Ledger, que a mim soava tão doentio e desglamourizado, provocaria urros de alegria na platéia do multiplex.

E não preciso dizer que ouvi umas 250 vezes durante o fim de semana que esta é a melhor adaptação de HQ de todos os tempos. Um outro filme que já vi.

CSS na NME

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Everything from the Breeders guitars to the Cyndi Lauper enthusiasm is washed in a slick (but not distasteful) pop sheen, cleary marking this band’s ambitions to break into radio world and take their unitard fanbus off the indie circuit for good. As such it’s a thicker work than the first; no less rewarding, but perhaps not quite as exciting.

Incrível, incrível mesmo, que a resenha estrangeira mais realista até agora sobre o novo do CSS tenha vindo da New Musical Express, que parecia ter trocado as boas idéias pela tendência a erguer e devorar hypes. A nota que eles deram pro disco, aliás, foi um 7 bastante otimista.