Dia: janeiro 20, 2009

Austrália

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Australia, 2008. De Baz Luhrmann. Com Nicole Kidman, Hugh Jackman e Bryan Brown. 165min. 3/10

Austrália é um daqueles filmes que transformam as (geralmente chatíssimas) sessões para a imprensa numa festa. O longa tem quase três horas de duração. Da primeira meia hora em diante, já havia gente fazendo piada, simulando bocejos, combinando o almoço, passando mensagem por celular, atualizando o twitter, fazendo compras online.

Como numa longa viagem de ônibus, era preciso matar o tempo de alguma forma.

Curioso como o primeiro projeto verdadeiramente ambicioso (inspirado em épicos de multidões como Ben-Hur e Titanic) de Baz Luhrmann tenha resultado numa espécie de transatlântico desgovernado: caro, vistoso, imenso, mas que importância tudo isso tem quando estamos perdidos no oceano?

Logo nas primeiras cenas, quando apresenta os personagens da forma mais desengonçada possível, fica claro que Luhrmann mira alto: quer narrar uma fábula que dê conta de remeter à formação da sociedade australiana e, como se isso fosse pouco, ainda pretende somar uma aventura infanto-juvenil, uma love story demodê, um drama de guerra e (ora, sim!) uma denúncia dos maus tratos sofridos pelos aborígines.

Luhrmann facilita o nosso trabalho ao trancar a Austrália inteira dentro de uma fazenda: lá convivem uma inglesa aristocrática (Nicole Kidman), um capataz grosseirão (Hugh Jackson) e um menino meio-aborígine, meio-branco. Fiquei imaginando uma superprodução chamada Brasil que narrasse as relações entre uma linda portuguesa, que se apaixona por um escravo e adota um indiozinho.

Sutileza não é nem nunca foi o metiê de Luhrmann (vide o uso exaustivo da música-tema de O mágico de Oz). Mas, de um filme que assume com tanta franqueza a inspiração de monumentos do entretenimento, seria exagero cobrar desta narrativa um pouco de… afetuosidade? Bom humor? Fluência? Austrália não tem nada disso.

É um espetáculo que, na linha da trilogia Piratas do Caribe, acumula efeitos e rescunhos de ideias sem fazer conexões entre elas – e acaba sabotando o perfil psicológico dos personagens (daí, nada feito: quem se envolverá com a história de amor entre dois postes?).

Para os que se enjoavam com o decalque frenético dos filmes anteriores do cineasta, Austrália prova que o buraco está em outro canto: sem as antigas muletas formais, o diretor simplesmente tomba no vazio. Se o país é tão enfadonho quanto este filme, não me convidem.

Superoito express (I)

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Eu estou com pressa e talvez você também esteja. Então aí vão alguns comentários acelerados para disquinhos que andei ouvindo nessas últimas semanas (e que, num mundo perfeito e com mais dias de folga, renderiam textos bem maiores). Sem brincadeira: tenho apenas 15 minutos para escrever este post – por isso mesmo, dê um desconto para o tio aqui e pegue leve nos comentários, ok? 

Hush | Asobi Seksu | 7 |  Segue rigorosamente e preguiçosamente a cartilha do dream pop (e, ao contrário da estreia do duo, este disco dedica-se mais à construção de melodias assobiáveis que a trabalhar cuidadosamente atmosfera das canções). Mas, como exercício de gênero, é quase perfeito – e faixas como Glacially, minha favorita, e In the sky podem sim expandir o público da banda.  Os agudos de Yuki Chikudate ainda provocam arrepios – para o bem e para o mal.

Blood bank EP | Bon Iver | 7 | O grande teste de Bon Iver será sobreviver ao mito de “homem das cavernas” que criou para si em For Emma, forever ago. O EP Blood bank é o primeiro passo: ainda esparso, o som do compositor aos poucos desce da montanha para habitar o mundo real – nesse processo, a faixa-título (os versos poderiam ser diálogos de um filme de amor de David Gordon Green) e a primaveril Babys apontam para uma fase menos desiludida, e não menos comovente. 

Welcome to the Welcome Wagon | The Welcome Wagon | 6.5 | Sufjan Stevens se encanta com as composições religosas que um casal escreve para os cultos de uma igreja presbiteriana de Nova York, os convida para uma temporada de gravação e, no papel de co-piloto do álbum, floreia as canções com os detalhes (e o banjo!) que encontramos em discos como Chicago e The avalanche. Nenhuma outra pregação gospel soará tão doce – e, ainda que quase tudo pareça lado B de Stevens, American legion emociona até os mais céticos.

Changing horses | Ben Kweller | 6 | Mais que um simples “projeto country”, o disco acaba destacando o que já sabíamos: Kweller é um compositor conservador por natureza (e tudo o que ele quer da vida é dividir um álbum de bluegrass com o Jack White). Não move montanhas, mas manipula com competência e emoção os chavões do gênero (em Gypsy road e Hurtin’ you, por exemplo).

Ray guns are not just the future | The Bird and The Bee | 6 | No segundo álbum, o duo de Los Angeles continua a se aproximar perigosamente do pop fofo e estéril que se ouve em comercial de sabonete – mas, para nossa sorte, ainda não chegaram lá. O álbum abre com uma referência assustadoramente cristalina a Alegria, alegria, de Caetano Veloso. Mas a inspiração de tropicália fica aí: as faixas seguintes se acomodariam muito bem num álbum antigo do Cardigans.