Mês: agosto 2010
Os discos da minha vida (4)
A aventura continua: com você, mais dois para o ranking sen-ti-men-tal, quase irracional, dos discos que acimentaram a estrada da minha vida. Acredite: são 100. Garanto que, mais cedo ou mais tarde, este trem chegará ao fim da linha. Não, não estamos quase lá. Sim, ainda vai demorar. A má notícia? Quando o destino bater à porta, aposto que você olhará para trás e, pensativo, concluirá que perdeu tempo demais – uma eternidaaade – numa jornada muito improdutiva.
De qualquer forma, tome isto em consideração: do mundo nada se leva, mas aqui, neste site tão modesto e pobretão, você pode fazer o download de discos que são quase sempre decentes. A vida é ou não é boa (às vezes)?
094 | Mezzanine | Massive Attack | 1998 | download
Mezzanine é uma das memórias mais fortes de uma período em que eu me via obrigado a “criar” os discos antes de conseguir ouvi-los. Na biblioteca da Cultura Inglesa, onde as assinaturas da New Musical Express e da Melody Maker praticamente salvaram a minha vida, eu ia construindo os álbuns na minha cabeça, torcendo para que eles aparecessem nas lojas. O do Massive Attack foi talvez o caso mais bizarro: acabei inventando um disco muito diferente daquele que conheci alguns meses depois – um disco mais mundano, mais palpável. Na época, muito se escreveu sobre Mezzanine, mas o som do álbum me tomou completamente de surpresa: uma massa compacta, escura, como que ejetada de um outro planeta, mas também adorável como as cantigas que você ouve desde criança. Lembro bem da sensação de ouvir Teardrop pela primeira vez: um hipnótico objeto voador descia no meu quarto. Top 3: Teardrop, Risingson, Group four.
093 | Bookends | Simon & Garfunkel | 1968 | download
Os anos 60. A contracultura. O fim do mundo (como o conhecíamos). Quando pensamos nisso tudo, o que nos espera? Uma canção dos Beatles (como A day in the life), uma performance de Jim Morrison, o hino americano reinventado por Jimi Hendrix e outros símbolos que estampam matérias de jornal e documentários de tevê a cabo. Mas foi esse mesmo contexto que contaminou discos agradabilíssimos, elegantes, quase nada furiosos (e até mansos) como Bookends, a obra-prima de Simon & Garfunkel. O que se ouve é a viagem de dois bons moços por uma década que talvez eles não compreendessem muito bem – mas que, por inércia, remodelou uma sonoridade capaz de combinar tradição (em faixas caretinhas e lindíssimas como Overs e Old friends) com tentativas valentes de adaptação a mudanças (A hazy shade of winter, Save the life of my child). Não é um dos melhores discos de 1968. Mas provavelmente o que melhor define uma época de despedidas e transições. Top 3: A hazy shade of winter, Old friends, America.
PS: Sei que é exigir muito de vocês, mas amanhã à noite, terça-feira, a mixtape de agosto (mais conhecida como “a melhor mixtape amadora de todos os tempos”) estará aqui neste bat-blog. Talvez às 22h. Espero vocês.
All delighted people EP | Sufjan Stevens
No dia 12 de outubro, Sufjan Stevens lança um disco novo. Por enquanto, sabemos duas ou três coisas sobre ele: que se chama The age of adz, que não tenta decifrar nenhum estado norte-americano, que faz uso pesado de efeitos eletrônicos e orquestra, que não é um “álbum conceitual”.
Mas, ao mesmo tempo, não temos certeza de coisa alguma. Uma das manias de Sufjan Stevens, lembre-se, é sabotar as nossas expectativas. Talvez seja isto o que mais queremos dele: o inesperado.
Stevens é o compositor de melodias tenras, pessoais. Também é o sujeito das ambições loucas, dos grandes planos, das ideias impraticáveis (um disco para cada um dos 50 estados americanos, por exemplo). Mas, além de tudo, é o songwriter autoirônico, que olha no espelho e ri da imagem que vê. O indie rock tem um quê patético (talvez por se levar excessivamente a sério, como um culto excêntrico disseminado em rituais on-line), e Sufjan entende a graça.
Daí que, antes de The age of adz, ele lançou um EP de oito faixas chamado All delighted people. Parece um aperitivo, uma distração, um brinde. Mas, quando você ouve o disquinho, descobre que se trata de um álbum completo, de quase 60 minutos de duração, robusto e cheio de si.
Talvez Stevens queira que tratemos o disco com a leveza como tratamos EPs. Mas não dá. All delighted people pode até ser uma obra “menor” se comparada a álbuns como Illinois (2005) e Seven swans (2004). No entanto, é mais atrevido do que a maior parte dos discos lançados por qualquer outra pessoa em 2010.
As faixas do álbum foram construídas em torno da canção-título. Que é, segundo Stevens, uma homenagem “ao Apocalipse, ao tédio existencial e a Sounds of silence, de Paul Simon”. Cada um desses temas inspiraria um grande disco – o impressionante é que, na faixa, eles são explorados com a grandiosidade de uma ópera-prog, que vai do folk sessentista a Beatles e, é claro, Simon & Garfunkel. Stevens não quer pouca coisa: com cordas fulminantes, coros e solos de guitarra à space-rock, ele vai à lua e volta. Talvez não seja a melhor canção que gravou. Certamente é a maior.
É tão desregrada que se desdobra em duas. A primeira, de 11 minutos, vai se desdobrando feito um réquiem para o fim do mundo. Stevens resume toda uma longa trajetória em cenas curtas, enquanto o mundo explode. Já a segunda, de oito minutos (e apelidada muito marotamente de Classic rock version), parece celebrar a destruição com sopros e atmosferas roubadas de um disco do Pink Floyd. É como se Elliott Smith tivesse ouvido menos #1 Record, do Big Star, e mais Wish you were here.
Uma canção FEROZ que provavelmente devoraria qualquer disco em que fosse incluída – o EP, portanto, é uma forma de enjaulá-la com o devido respeito.
Mas o disco não é apenas isso (se fosse, já seria grande). Para equilibrar os excessos desse turbilhão pop, Stevens cria algumas das canções mais delicadas da carreira – com violão, voz, ecos e quase nada mais. A começar por Enchanting ghost, que cita explicitamente um arranjo de Elliott Smith como para simular uma sensação de intimidade, de confissão sussurrada. É comovente. Tanto quanto Heirloom, com violões dedilhados e uma voz que parece transmitida do fundo de um beco, e From the mouth of Gabriel, triste como poucas.
Como de costume, Stevens nos engana, nos atira no olho de um paradoxo: apesar do título, All delighted people fala sobre pessoas desencantadas, tateando um mundo que perdeu o sentido. Corações quebrados, medo disso e daquilo, incertezas, Paul Simon. E melodias tão assustadoramente macias.
Parece pop. Mas isto é hardcore.
EP de Sufjan Stevens. Oito faixas, com produção de Sufjan Stevens. Lançamento on-line da Asthmatic Kitty. 8/10
Superoito express (30)
Tomorrow morning | Eels | 7.5
Oficialmente, Tomorrow morning é o terceiro capítulo de uma trilogia que começou com Hombre lobo (2009) e End times (lançado em janeiro de 2010). Na prática, soa como uma continuação de Blinking lights and other revelations (2005), um dos melhores discos de Mark Oliver Everett. Aquele álbum parecia ter sido escrito e gravado nas primeiras horas do dia, num estado de quase vigília. Era preguiçosamente belo. Já o novo sugere uma manhã quente de verão. Céu azul. Férias. Passarinhos piando. E a sensação de que o pior já passou.
É, portanto, um daqueles discos otimistas e quase alegres, que só soam convincentes quando escritos por sujeitos muito calejados. É o Nashvile skyline de Everett, e um álbum que consegue resolver quase todos os problemas dos anteriores. Em resumo: não tem o peso de um tedioso diário de um ano ruim. Não (ainda que algumas faixas mais aborrecidas deixem vestígios dessa fase). Everett faz um esforço admirável para simular dias felizes e, no processo, acaba redescobrindo o prazer do pop doméstico, lúdico, que nos leva num pulo à estreia dele, Beautiful freak (1996). Juntas, essas canções mais alaranjadas e cheias de surpresas renderiam um disquinho nota 8.5. Então (papel e caneta!) anote aí e faça o seu CDzão do Eels: I’m a hummingbird, Baby loves me, Spectacular girl, This is where it gets good, Oh so lovely (a melhor do disco), The man, Looking up e Mystery of life.
Black city | Matthew Dear | 7.5
Se Tomorrow morning é um disco diurno, Black city é exatamente o oposto disso: noite preta (e é até instigante ouvir um disco após o outro; eu recomendo). Matthew Dear cria um ambiente instável, tenso, todos composto em tons de cinza, com canções que nos seduzem e, depois de alguns minutos, vão se desmontando até se transformar em objetos disformes. É um horror (no bom sentido). A faixa-título me parece um túnel sem fim, iluminado por lâmpadas frias, com curvas que chegam inesperadamente. E o miolo do álbum soa tão encardido quanto um The Contino sessions, do Death in Vegas, e um Pre-millenium tension, do Tricky. Só me incomoda um pouco notar que a atmosfera por vezes sufoca as canções. Felizmente, não é o que acontece com o encerramento, uma lindeza chamada Gem.
The orchard | Ra Ra Riot | 6
O problema de discos que desenvolvem conceitos redondinhos (como Tomorrow morning e Black city) é que eles acabam denunciando a irregularidade de discos mais imaturos – como é o caso deste The orchard. Está claro que o Ra Ra Riot entrou em estúdio para gravar uma versão mais “sofisticada” e “adulta” de The Rhumb line (que já não era um grande disco) e que, para isso, acabou apelando para os recursos mais óbvios: arranjos melodramáticos de cordas e uma ou outra canção que rodaria em rádios mais conservadoras (caso de You and I know). O que é uma pena, já que o disco tem faixas que renderiam maravilhas num esquema lo-fi (a linha de baixo galopante de Boy e os corinhos de Massachusetts são viciantes). Deveriam ter aprendido com os chapas do Vampire Weekend: crescer é preciso, mas um passo de cada vez.
Causers of this | Toro Y Moi | 6
Outro disco com momentos luminosos, só que dispersos num conjunto ainda verde. Consigo notar alguns sinais de Animal Collective (as canções circulares, escoradas mais em ritmos do que em melodias) e do Cut Copy (ares de synthpop), além de um desejo grande de afirmar um estilo (não foi dessa vez). Apesar disso, o disco me agrada por apresentar um compositor de sutilezas: Chazwick Bundick nos obriga a ouvi-lo várias vezes antes de tirarmos alguma conclusão. Talamak e a faixa-título mostram que o rapaz tem muito a ganhar se tiver o despudor de incluir mais elementos pop num estilo que, por enquanto, veste o rótulo ‘chillwave’ confortavelmente. Talvez confortavelmente demais.
Personal life | The Thermals
Depois de uma fábula apocalíptica (The body, the blood, the machine, de 2006) e de um disco narrado por defuntos (Now we can see, 2009), o Thermals finalmente desce à “vida real”.
Não estamos falando, é claro, de um disco sobre a VIDA REAL, já que seria um tema abrangente demais para uma banda que costuma ser extremamente específica nas questões de que trata. O fim do mundo, por exemplo. A morte, outro exemplo. E, agora, as relações amorosas.
O nome do disco é Personal life. Mais explícito do que isso, impossível.
Você lembra de quando era criança e a professora pedia para que os alunos escrevessem redações de “tema livre”? E lembra daquele amiguinho seu que, pronto para se esbaldar com tanta liberdade, preparou um texto incrível sobre uma guerra interplanetária entre besouros, marcianos e operários da construção civil? Pois bem: se o Thermals fosse um desses jovens estudantes, ele escreveria sobre besouros ou marcianos ou operários da construção civil ou planetas ou sobre guerra. Nunca sobre todos esses temas ao mesmo tempo.
O curioso, no caso da banda, é notar como ela se movimenta dentro de limites muito bem acimentados. Daí a diferença entre Personal life e aqueles dois discos que o trio gravou recentemente: é um álbum um pouco mais aberto a desvios imprevisíveis. Um pouco.
O que não chega a ser uma grande revelação — ou um avanço —, já que ninguém espera que o Thermals se transforme num Of Montreal. É uma banda concisa, econômica, que fabrica discos orgulhosos da própria pequenez. A sonoridade de Personal life cabe num dedal: punk melodioso com pouquíssimos acessórios, estética de demotape e sem os esteroides que se espera do gênero. É, aparentemente, até manso. E sempre foi assim.
Mas, como acontece com o Hold Steady e com o Gaslight Anthem (para ficarmos em dois casos), é como se a simplicidade melódica combinasse com o universo dos personagens. Ela serve à narrativa (e não o contrário). E, no caso do Thermals, é a narrativa que nos conquista. É, acima de tudo, a franqueza (e o humor meio geek, de fãs de gibis) como a banda chama o público para bater um papo.
O indie rock tem sim uma vocação para a aventura, para olhar além da mesmice programada por executivos de gravadoras (o paraíso não é o disco novo do Klaxons, digamos). Mas também é um ambiente adequado para a espontaneidade, para o discurso “ao pé do ouvido”, para a confissão sem filtros ou efeitos digitais. O selo do Thermals, Kill Rock Stars, já lançou álbuns do Elliott Smith e do Sleater-Kinney. São três artistas que, ame-os ou não, soam reais.
Dito isso, vamos ao dark side of the record: Personal life mostra a face mais frágil do Thermals. Pronto. Falei. Ele não tem a fúria de The body, the blood, the machine nem canções tão tocantes (e enlouquecidas) quanto as de Now we can see. É, em síntese, um bloco de anotações (escrito a lápis) sobre o início, o meio e o fim de um caso. Abre com uma música chamada I’m gonna change your life e termina com You changed my life.
Simples. Mesmo quando sabemos que essa história toda, essa epopeia toda, não é tão simples quanto esse disco dá a entender.
O amor é um tema que massacra o pragmatismo do Thermals. Dá até para afirmar que este disco é o registro de uma derrota: a banda tentou enfrentar o conceito e perdeu. Mas tentou. Há momentos em que o disco belisca perigosamente o emocore (Only for you é quase-quase um épico romântico) e há outros quase singelos, em dívida com Kurt Cobain (Alone, a fool). Gosto muito de Not like any other feeling, em que eles tentam explicar o sentimento e não conseguem.
Paciência.
Truffaut dizia que o amor é o maior dos temas. Concordo com ele, e acredito que o maior dos temas cabe num disco de indie rock. Cabe. Mas não neste. Em faixas como Power lies, o Thermals ainda tenta criar conexões entre a política e a dinâmica de uma relação amorosa. Poder e mentiras. E promessas falsas. E tudo o mais. Nas últimas canções, falam diretamente aos fãs. Your love is so strong, etc. O discurso se alarga, mas sabe o que acontece? A narrativa, mesmo tão sentimental, parece raspar a superfície do drama.
Eu torceria por uma continuação (e para que, neste período, eles ouvissem um pouco mais de Blood on the tracks). Mas o Thermals é uma banda de rock que teme a redundância. Não musical, entenda (alguns riffs deste disco lembram os de discos anteriores, o pulso nem sempre pulsa), mas temática. Na próxima redação do colégio, este aluno aplicado do indie americano vai escrever sobre golfinhos ou aquecimento global ou paternidade ou adoção. E ainda vai soar adorável como sempre soou.
Algumas coisas não mudam.
Quinto disco do The Thermals. 10 faixas, com produção de Chris Walla. Lançamento Kill Rock Stars. 6.5/10
Os discos da minha vida (3)
Voltamos a apresentar, após um breve intervalo, o ranking sentimental dos 100 discos que viraram a minha vida pelo avesso e não foram embora na manhã seguinte. Não me venham com cobranças de coerência ou bom senso – não desta vez, ok? Com vocês, meus amigos, mais um capítulo de uma incrível saga que começou há duas semanas (possivelmente num dia em que bati a cabeça na porta ou comi cereal estragado) e termina nem-deus-sabe-quando. Voilá.
096 | Summer in Abaddon | Pinback | 2004 | download
Um álbum que, desde 2004, ouço semanalmente, religiosamente. É um mantra. Contém memórias do meu namoro (que se segura firme e forte) e de um dos melhores períodos da minha vida. E talvez nem seja um disco muito bom (mas garanto que ele é, no mínimo, intrigante). A arte do Pinback, aparentemente muito simples (construir, desmontar e reconstruir pequenos fragmentos de melodias, riffs e solos), sempre me impressionou por parecer exata, irretocável. Ouço os discos como quem admira uma cidade de miniaturas onde cada prediozinho se encontra no único lugar onde poderia estar. Mas Summer in Abaddon é especial já que acrescenta um elemento irracional a essa matemática: é como se um rio de lava derretesse lentamente essa cidadezinha e nos devorasse junto. Desta vez, a emoção venceu. top 3: Fortress, Bloods on fire, AFK.
095 | #1 Record | Big Star | 1972 | download
Quando comecei a juntar as peças desta lista, prometi a mim mesmo que não incluiria tantos discos de power pop. Mas cá estou me traindo, e logo de começo: não há como subestimar esse tipo de belezura (que, especialmente no lado B, soa tão pungente quanto os momentos mais pungentes dos Beatles e do Beach Boys, acredite em mim). Mesmo quando a belezura em questão me leva a um período terrível, em que eu era um rapazinho solitário que ficava no meu quarto remoendo amores platônicos por meninas impossíveis. That 90’s show. Mas passou. Hoje, ele soa como pop perfeito sobre sentimentos por vezes sangrentos: amor adolescente, nostalgia, pequenos prazeres, decepções e, claro, pôr do sol. “É ok olhar lá para fora”, eles avisam. Siga o conselho. top 3: Thirteen, Watch the sunrise, Feel.
2 ou 3 parágrafos | O último mestre do ar
Não estou entre os devotos de M. Night Shyamalan e, portanto, vocês serão poupados do parágrafo em que tento argumentar apaixonadamente que existe sim um grande cineasta no comando deste O último mestre do ar (não acredito que exista). Aceito ser chamado de tolo e superficial (e cego, é claro), mas tudo o que encontrei foi um épico de fantasia aborrecido que cumpre uma série de procedimentos obrigatórios desse tipo de épico de fantasia aborrecido. Nem paraíso, nem inferno: chame de purgatório.
Mais curioso do que o filme em si é notar que esta superprodução poderia ter sido SIM a obra-prima de Shyamalan. Em tese, ela acumula uma série de elementos que são caríssimos ao cineasta – o amor pela fabulação, o olhar infantil, as imagens com um quê metafísico, a espiritualidade etc. O que me impressiona é a dificuldade enorme que o diretor encontra para garantir algum sentido, alguma força vital, alguma forma a um ambiente que parece (novamente: em tese) tão próximo de tudo o que ele criou até aqui. O último mestre do ar (2/5) teria como transcender a pecha de subproduto frívolo (e muita gente ainda torce para que o filme consiga! e muita gente vai encontrar um filme cheio de graça!), mas se sai tão corriqueiro quanto um episódio de As crônicas de Nárnia.
A composição visual, para começo de conversa, me parece profundamente entediante, a começar pelo uso das cores: o contraste entre ciano e laranja (manipulados digitalmente, das paisagens aos rostos dos atores) chega a lembrar os truques mais grosseiros de Michael Bay. Os efeitos de CGI, ainda que até razoáveis (o trailer sugeria um espetáculo muito mais tosco), também deixam a impressão de que saíram da mesma máquina que produz centenas de genéricos. A narrativa se arrasta. Difícil explicar o que acontece: Shyalaman parece estar presente em todos os temas do filme, mas, ao mesmo tempo, se ausenta, se apaga de uma forma que ainda não consigo compreender. Em alguns momentos, deixa o trabalho todo para um elenco meio perplexo, estático (à exceção do protagonista, que tem algum carisma), e perde o fio de uma trama bolorenta, que tenta condensar em tempo recorde os episódios de um desenho animado que parece desinteressar até ao próprio diretor. Quando a cena final abre caminho para uma continuação, soa como ameaça. Entendo as suas obsessões, Shyamalan; sei que, em tese, você é um cineasta brilhante. Mas (e a culpa é minha, não sua) taí um mundo de fantasia para onde não faço a menor questão de voltar.
Surfing the void | Klaxons
Havia alguns sinais luminosos no disco Myths of the near future, de 2007, que piscavam em nossa direção e nos alertavam: atenção, vocês estão ouvindo uma banda especial.
Eles não eram assim tão numerosos assim (melhor disco de 2007, New Musical Express? Não). Mas estavam lá: na glicerina pop de Golden skans, na névoa cavernosa de Magick, nos delírios sci-fi de Atlantis to Interzone, na euforia meio pateta de It’s not over yet. Quando todas acendiam ao mesmo tempo, essas lamparinas formavam um ótimo álbum de singles.
Mais interessante do que isso: Myths of the near future parecia criar um túnel fluorescente entre dois planetas distantes — o indie-esquizo, onde vale tudo (de bandas como Super Furry Animals e Deerhoof), e um tom ambicioso, até imponente, beirando o ridículo, muito típico do prog rock (um truque que o Foals, por exemplo, operou com muita segurança no disco mais recente).
Eu mesmo nunca descobri se deveria levar o Klaxons a sério ou tratá-los como uns sacanas — acredito que essa confusão, muito saudável, acabou por valorizar a banda e o disco.
Mas o quarteto, talvez por ter se sentido obrigado a pagar o preço pelas expectativas exageradas que foram criadas em torno do disco, sucumbiu a um dos maiores clichês do rock: entrou em estúdio para gravar um “álbum difícil, experimental e denso”. Mais ou menos na mesma época em que o MGMT resolveu fazer a mesmíssima coisa. E pouco depois da jornada americana do Arctic Monkeys, muito parecida.
O filmezinho do Klaxons, no entanto, tem mais cenas de ação e suspense: o disco-enigma acabou rejeitado pela gravadora, faixas gravadas com o produtor Tony Visconti foram rejeitadas e, depois de litros de leite derramado, o bando de Jamie Reynolds foi a Los Angeles, se submeteu às torturas do produtor Ross Robinson (que, por trabalhos prestados para o Korn e o Limp Bizkit, foi chamado de “o poderoso chefão do new metal”) e fez um disco nervosão, pesadão e quadradão.
Surfing the void lembra um pouco Congratulations, do MGMT (é coeso, sólido feito paralelepípedo, com faixas que trombam umas nas outras), e Humbug, do Arctic Monkeys (é uma versão enlameada de faixas que o Klaxons já gravou). Mas soa mais frustrante, principalmente para quem esperava do Klaxons surpresas incríveis.
Aviso logo: elas inexistem.
Myths of the near future era um playground dos horrores, com brinquedinhos coloridos e deformados. Surfing the void é um moedor automático de carne. Cinzento. Não muito assustador (a menos que você tenha algum trauma de utensílios domésticos). E que vai moendo sem parar.
O disco começou como um projeto curioso (mostrar uma banda robusta, confiante, que encontrou um estilo e está com ele até o fim), mas não tem as melodias, as letras, o entusiasmo ou o espírito de aventura para justificar a suposta ousadia. Falando sério: se este disco é ousado, temos que reformar nossos conceitos e respeitar tudo o que o Soulfly gravou nos últimos 10 anos.
Pelo contrário: Surfing the void surpreende por mostrar uma banda descolorida, quase mecânica, tentando múltiplas combinações de Magick (o horror, o peso, o noise, a Macholândia marombada) com os temas amalucados de Atlantis to Interzone. Flashover, o primeiro single, é exatamente essa combinação (e acaba soando como uma faixa de A-Lex, do Sepultura. Isso é cool, amigo indie?). O disco nem chega a irritar, nem chega a machucar nossa sensibilidade (e era isso, aparentemente, o que eles queriam): soa apenas repetitivo, cansado.
A virulência do disco — que deveria provocar arrepios — soa maçante.
Se a ideia era afastar-se do rótulo “new rave”, o Klaxons conseguiu. Da mesma forma como o MGMT foi muito bem sucedido na missão de livrar-se das rádios e trilhas de seriados de tevê. Mas a que custo?
O MGMT se suicidou com um disco de rock psicodélico sessentista que podemos chamar de competente. O Arctic Monkeys foi à farra e tomou doses de stoner rock e outras substâncias ilegais (mais ou menos como quatro adolescentes que se fazem de adultos para entrar numa boate de strip-tease). Já o Klaxons parece entrar na festa errada com o acompanhante errado, no país errado e (pior) na hora errada.
Dizendo assim, parece um disco terrível. Mas não. É apenas mediano. É apenas passável. A capa, por exemplo, é ótima (veja num tamanho ampliado). E, em duas faixas (Venusia, que vai deixar os produtores de True blood salivando, e Cypherspeed), a banda mostra que sabe usar os anabolizantes de Robinson para criar momentos de tensão que reforçam o clima de paranoia (alienígena?) que encobre o álbum. São hits sobre o futuro, mas que apontam para 1998, 1999. Extra astronomical, por exemplo, parece reciclar Setting sun, do Chemical Brothers.
Velha dúvida, novamente: estão de gozação? Ou estão falando sério?
Surfing the void é, como eles nos avisaram, denso. O que talvez, em certos círculos, será considerado um avanço em relação a uma estreia imprevisível e sem rumo (e deliciosa, mas who cares?). Desta vez, o Klaxons sabe muito bem o que quer: surfar no vazio. Um vazio barulhento. Um vazio de becos pouco iluminados. Um vazio enfeitado com adesivos de ETs e naves espaciais. Um vazio muito agressivo. Mas, quando o disco termina, o que nos espera?
Exatamente.
Segundo disco do Klaxons. 10 faixas, gravadas em Los Angeles com o produtor Ross Robinson. Lançamento Polydor. 5.5/10
2 ou 3 parágrafos | Cabeça a prêmio
Quando li o livro do Marçal Aquino, lembro que pensei o seguinte: 1. o romance daria um filme muito tenso, um legítimo thriller à brasileira (os capítulos são concisos, a prosa de Aquino provoca asfixia, o Brasil que aparece no papel é imenso e desolado etc), mas 2. esse filme custaria uma fortuna e, portanto, não seria feito.
A adaptação dirigida por Marco Ricca (3/5) resolve essa questão de escopo de uma forma muito prática e, às vezes, elegante: ele achata a trama (narrada de forma linear e em menos locações), mas mantém os personagens. Também preserva uma característica muito marcante do texto, que é a aproximação com o folhetim. Todos os elementos de uma boa novela das oito estão aqui – amores impossíveis, fuga, traições, assassinatos, intrigas familiares -, mas desnudados por uma câmera seca, por uma fotografia amarelada, por um diretor que dá tempo aos atores e parece se preocupar mais com os personagens do que com o desenvolvimento da ação. Nisso, lembra um pouco o Beto Brant de O invasor.
E é essa a maior diferença que noto entre filme e livro. No filme, a narrativa é mais frouxa – talvez de propósito, talvez por inexperiência de diretor estreante. A aflição de Aquino é como que dissolvida pela montagem. Outra característica que me incomoda é que, ao tratar todos os personagens de uma forma mais ou menos igualitária, o roteiro acaba subestimando aquele que se revela um dos mais importantes da trama: o capanga de Eduardo Moscovis merecia mais tempo na tela, até para identificarmos a agonia que engata a reviravolta final. No mais, uma estreia muito mais forte e bem sucedida do que eu esperava.
Os discos da minha vida (2)
Um ranking sentimental dos 100 discos que (pausa dramática) marcaram a minha vida. Dois por semana, talvez às segundas-feiras (mas, pensando bem, possivelmente às quartas). Pelos meus cálculos, terminaremos esta jornada antes do fim do mundo. Hold tight.
098 | Grievous angel | Gram Parsons | 1974 | download
Eu tive uma momento country-rock: ele durou mais ou menos uns seis meses (acho que por volta de 1997), mas foi tão intenso, tão dedicado, tão obsessivo que eu poderia incluir nesta lista quase todos os discos que ouvi naquela época. Meu quarto cheirava a slide guitars. Neil Young era meu pastor; Bob Dylan, meu arcebispo. Perto deles, Gram Parsons era só um coroinha. Mas, com Grievous angel, o branquelo do cabelo esvoaçante me ensinou a entender o que há de fundamental no gênero: alegria e dor, em cores primárias. E quando eu soube que o sujeito morreu de overdose de morfina pouco depois de gravar essas canções quase sempre tão tranquilas, o disco se transformou num mistério. Ainda é. top 3: Brass buttons, Hearts on fire, In my hour of darkness.
097 | Gentlemen | The Afghan Whigs | 1993 | download
O terceiro disco do Afghan Whigs começa com o som de um vendaval. O que vem depois soa ainda mais arrepiante: a voz de um homem confessando segredos por vezes constrangedores. Numa década de discos-de-catarse (uma das especialidades do grunge), poucos soaram tão críveis quanto este aqui. Talvez por parecer tão direto: Greg Dulli compactou o estilo do Afghan Whigs e, quase acidentalmente, acabou criando um padrão para o indie rock dos anos 90, com riffs repetitivos, às vezes dissonantes, quase sempre tristíssimos, engolidos por tufões de guitarras. Para mim, é um álbum que representa o início da adolescência: ódio e medo, mas não sabemos exatamente de quê. top 3: Gentlemen, Debonair, Be sweet.
No Twitter | 1 a 15 de agosto
Uma compilação dos comentários-relâmpago que postei no Twitter recentemente. Em alguns casos, com adjetivos e interjeições que não couberam nos 140 caracteres. Nesta edição, de novo, só filmes. Com faixas-bônus, como sempre.
5 x Favela – Agora por nós mesmos | Vários diretores | 3/5 | Este filme de episódios mostra que as oficinas comunitárias do Rio ensinam direitinho a contar histórias. Mas cinema não é só isso, ou é? Os roteiros têm certa “personalidade”, mas deixam a impressão de que foram dirigidos por uma só pessoa.
Meu malvado favorito | Despicable me | Pierre Coffin e Chris Renaud | 3/5 | Uma animação digital quase igual às outras, mas eu ficaria muito feliz se todas as outras tivessem música de Pharrell Williams e um anti-herói tão traumatizado.
Destinos ligados | Mother and child | Rodrigo García | 2.5/5 | Foi produzido pelo Iñarritu (daí o título brasileiro?), mas a direção pega leve, felizmente. O elenco amacia um roteiro por vezes mecânico demais.
Histórias de amor duram apenas 90 minutos | Paulo Halm | 2/5 | O personagem principal, intratável, é páreo para a mocinha amarga de Não, minha filha, você não irá dançar, do Honoré. Caio Blat e Daniel Dantas se esforçam, mas eu preferiria que esta história de amor durasse uns 20 minutos.
O aprendiz de feiticeiro | The sorcerer’s apprentice | Jon Turteltaub | 1.5/5 | Típico produto da linha de montagem de Jerry Bruckheimer (produtor de Piratas do Caribe e Príncipe da Pérsia). Tédio para toda a família.
400 contra 1 – Uma história do crime organizado | Caco Souza | 1/5 | Tem tantas idas e vindas quanto A origem, mas à serviço de um roteiro singelo (e de uma direção perdida no tiroteio). Atenção: dá dor de cabeça no dia seguinte.
XXXO | M.I.A.
O clipe novo da M.I.A. dirigido por Hype Williams e Aaron Platt, tem vibe de cartão ordinário de Dia dos Namorados que você encontra em papelarias de baixo nível: romantismo, sedução, onças, gansos e unicórnios. Estou quase certo de que se trata de uma paródia dos micos que a Shakira pagava nos anos 90, mas não estão certo disso. Deve ter mais a ver com Bollywood. Ou com o gosto duvidoso dos turistas que costumam frequentar Abu Dhabi. “Thank you for adding me”, ela agradece. BFF, M.I.A.!
Hadestown | Anaïs Mitchell
Não sei se vocês perceberam, mas tenho um fraco por discos que miram ridiculamente alto, que apostam tudo o que possuem, que querem fincar bandeiras na lua. Em alguns casos, me esforço para não gostar deles por antecipação, antes de ouvi-los. Bons ou maus, têm a minha torcida.
Hadestown, o quarto álbum de Anaïs Mitchell, é dessa casta. Loucamente ambicioso. Talvez ambicioso demais. Você começa a ouvir e, 60 minutos depois, conclui: alguém deveria pendurá-lo numa das galerias da Pinacoteca.
Um álbum “de arte”, pois.
Em 20 canções interligadas, a cantora folk de Vermont convida amigos do metiê para interpretar uma recriação do mito de Orfeu e Eurídice, transferido para a Grande Depressão norte-americana. Mitchell é Eurídice, Justin Vernon (o Bon Iver) faz as vezes de Orfeu, Ben Knox Miller (The Low Anthem) incorpora Hermes e, por fim, Greg Brown e Ani DiFranco vivem Hades e Perséfone.
Felizmente, Cacá Diegues não foi convidado para produzir.
Quem assistiu às estripulias de Toni Garrido, aliás, sabe o que esperar da trama: paixão e tragédia, em resumo. E uma descida ao reino dos mortos. O disco oferece uma série de referências obscuras para quem se dispõe a destrinchar o mito. Mas a trabalheira não é obrigatória. Já que, como nos melhores álbuns “conceituais”, este também funciona muito bem sem referências bibliográficas ou manual de instruções.
Uma primeira audição, é claro, pode intimidar os desavisados. Mitchell usa o mote da Grande Depressão para pesquisar a música americana dos anos 1920, o que resulta num álbum que encena o mito grego com elementos de jazz, blues e country. Se fosse um filme, seria muito parecido com E aí, meu irmão, cadê você?, dos irmãos Coen. Um curto-circuito histórico-literário-mitológico.
Generosa, Mitchell (a atriz/diretora/roteirista do projeto) permite que os coadjuvantes apareçam em solos às vezes mais grandiosos do que a interpretação da moça. Os convidados cumprem uma função importante: eles ressaltam o quão elástico é o talento de Mitchell para a composição. Há faixas que soam como as peraltices de Tom Waits. Outras lembram as confissões mais pastorais de Joan Baez. Outras remetem aos “song cycles” de Van Dyke Parks.
E, se os agudos de Mitchell lembram de imediato Joanna Newsom (e a competição é dureza), as melodias e os arranjos vão numa outra direção, mais teatral. Cada música tenta capturar um momento na trama que é narrada, daí o frenesi de Papers (Hades finds out) e o bucolismo de Flowers (Eurydices song). A segunda metade do álbum é mais pesarosa que a primeira — em matéria de dramaturgia, tudo faz sentido, há começo, meio e fim.
O mais interessante do disco é que, quando esse historinha começa a evaporar (lá pela terceira audição), a maior parte das canções (não todas) vão se despregando umas das outras e soar como peças independentes, sobre sentimentos até muito comuns, ornamentadas com arranjos de cordas que caíram do céu (Michael Chorney, um gênio). Canções de amor e agonia.
E são faixas de temperamento forte — como Way down Hadestown, When the chips are down e Why we build a wall — que nos fazem retornar a este disco mesmo quando a narrativa deixa de nos deslumbrar. É por isso que o disco fica conosco: algumas cenas são mais duradouras e bonitas do que a ideia, o “conceito” da obra.
Se preferir, portanto, não tenha vergonha de encará-lo como um disco de música pop (mas admita: a depender dos esforços da curadoria e do estado de espírito do visitante, um passeio na Pinacoteca pode ser muito agradável).
Terceiro disco de Anais Mitchell. 20 faixas, com produção de Todd Sickafoose. Lançamento Righteous Babe Records. 8/10
Os discos da minha vida (1)
Os discos da minha vida, parte 1. Uma série de posts que começa hoje e só termina pra lá do fim do mundo. Nem desconfio quando.
A ideia é muito, muito simples: 100 discos que marcaram a minha vida, 2 por semana, quando possível com links para que você os ouça.
Não é, portanto, uma lista com a pretensão de elencar os “melhores discos de todos os tempos” ou os “discos mais influentes” ou os “discos para você ouvir antes de morrer” ou os “discos que mudaram o mundo”. É apenas um longo ranking de álbuns que se confundem com algumas das minhas melhores (e às vezes piores) lembranças.
Um top 100 muito pessoal, cheio de idiossincrasias que vão irritar quem entende um pouquinho de música pop. Francamente: é uma listinha insignificante.
A maior parte dos discos vem dos anos 90, a época em que comecei a ouvir música compulsivamente. Mas é apenas o ponto de partida para uma viagem mais extensa (espero que vocês acompanhem com um pouco de paciência).
Tentarei ser breve nos comentários, até para que isto aqui não se transforme numa sessão aborrecida de autoanálise. Aviso que os textos explicam pouco sobre os álbuns e, no máximo, tentam recuperar a minha relação com esses discos. Não espere tratados. E é uma questão delicada, afinal de contas: não costumo ouvir estes discos, até para não ser tragado por terríveis flashbacks.
Mas sugiro que você os ouça. São bons.
100 | Grand Prix | Teenage Fanclub | 1995 | download
Hoje soa como o álbum de power pop mais direto que se fez: um refrão, um riff, coros agradáveis, emoções frágeis, alguma tristeza e quase nada mais. Quase uma cartilha. Lá nos anos 90, foi um disco que me perseguiu quase contra a minha vontade. Nas primeiras audições, não levei muito a sério: achei aguado e choroso (o oposto do grunge, por exemplo). Eu tinha 15 anos. Mas cresci e Grand prix foi crescendo junto comigo, como um amuleto. “Este sentimento não vai embora”, eles avisavam. Não foi. top 3: Don’t look back, Sparky’s dream, Neil Jung.
099 | Ten | Pearl Jam | 1991 | download
Eu juro que não me lembrava disto: a estreia do Pearl Jam sempre começou com essa atmosfera pseudo-oriental que mais tarde seria aplicada a discos do Kula Shaker e da Alanis Morissette? Mas taí: esse tipo de excesso era uma característica da onda grunge que o Pearl Jam soube aplicar com despudor e sisudez. E, saudosismo à parte, ainda considero o melhor momento deles. Menos aventureiro do que No code, mas gloriosamente single-minded (não consigo encontrar outro termo). Eu tinha a fita-cassete e admito que preferia o lado B (a começar por Oceans, ainda tocante). Hoje acho que eu ficaria com lado A, que tem o cheiro das minhas blusas de flanela. top 3: Oceans, Black, Jeremy.