Música

mixtape! | de inverno

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O blog ainda está fechado para reformas, cês sabem. Mas, enquanto isso, preparei uma mixtape para os dias de inverno. Está muito boa: tem Fiona Apple, Frank Ocean, Dirty Projectors, Aimee Mann, Twin Shadow etc.

Nem vou falar muito sobre o CDzinho. Ouçam e, se possível, comentem. A lista de músicas está na caixa de comentários.

Faça o download da mixtape de julho
Ou ouça aqui

mixtape! | de maio?

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A mixtape de maio está muito mais nervosinha e sortida que a de abril porque… porque… hum, porque (difícil explicar essas coisas)… porque chega de melancolia, certo?

Estava eu ouvindo a coletânea do mês passado quando enfim percebi: “Céus, que seleção musical mais sombria!” Curiosamente, naquele cedêzinho a minha intenção era gravar canções otimistas, cheias de afeto e doçura. O que aconteceu?

A mixtape anterior, creio eu, acabou por mostrar o estado de espírito de um sujeito em conflito, ao mesmo tempo entusiasmado com um período de mudanças extraordinárias, mas ainda numa luta terrível para lidar com a morte de uma das pessoas mais importantes da vida dele. Aquele cedê me mostra hoje que a temporada não foi simples.

A coletânea nova é bem diferente, e acredito ter a ver com o ritmo da cidade de São Paulo, onde moro há dois meses, e com uma tentativa (meio desesperada, admito) de seguir em frente. Ela tem alguns vestígios cinzentos, não vou negar, ainda que ma pareça mais agressiva, talvez mais vibrante. Não sei como vocês – os três leitores ainda nesta sala – vão avaliá-la. Só sei que estou satisfeito com o que ouço.

Aqui vocês encontram El-P (que tá lá na foto), Animal Collective, Death Grips, Of Montreal, Santigold, M.I.A., Howler, Damon Albarn, The Walkmen, Schoolboy Q. Algumas das músicas não são especificamente de maio, e entram nesta coletânea porque não conseguiram se encaixar nas anteriores. Encare-a como uma mixtape de outcasts. A lista de músicas está na caixa de comentários.

Espero que vocês apreciem.

Faça o download da mixtape de maio.

Ou ouça aqui:

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mixtape! | abril, enquanto isso

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O post mais recente deste blog foi escrito no dia 30 de março, uma sexta-feira, e (ainda) contém uma mixtape. Um tempão depois, cá estou de volta pra mostrar que sou homem de palavra. Prometi mixtapes mensais, certo? Certo? Então certo.

Este cedê quase não viu o sol raiar, coitado, mas não vou esmiuçar essa história. Em resumo, foi um mês completamente peculiar. Não apenas porque mudei de cidade e tive que me adaptar a uma outra rotina (isso cês sabem), mas por uma série de motivos (pessoais, também profissionais) que foram me afastando do blog.

Quero voltar a escrever aqui, principalmente sobre música (porque novidades cinematográficas off-blog vão aparecer nos próximos meses, aguardem), e isso deve acontecer logo mais. Não parei de ouvir discos durante o mês, e esta (modesta) mixtape sintetiza (de alguma forma) o que aconteceu nas últimas semanas.

É um disquinho menos triste que os anteriores, e cheio de otimismo (ainda que um otimismo cinzento, se é que vocês me entendem).

Aqui dentro você encontra Spiritualized, Here We Go Magic, Chromatics, Lotus Plaza, Moonface (salve Spencer Krug!), Jack White, Bear in Heaven, Zammuto (tá lá na foto acima) e Rufus Wainwright.

Tá bonita a coletânea (a lista de músicas fica na caixa de comentários). Divirtam-se.

Faça o download da mixtape de abril.

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mixtape! | Março, últimos dias

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Amigos, esta é uma mixtape valente. Ela quase-quase não veio ao mundo, tenho que admitir – porque, talvez vocês tenham percebido, março foi um mês difícil para este blogueiro.

A partir de abril, se o blog sobreviver a todo esse tsunami, os posts serão escritos diretamente de São Paulo, pra onde me mudo semana que vem. Portanto, que rufem os tambores!, esta é a minha última coletânea brasiliense – não por acaso, ela soa um pouco como a cidade de que estou me despedindo.

É, em resumo, a mixtape mais emotiva de todos os tempos (preparem-se).

Estou em pleno processo de mudança, e não sobra tempo nem para olhar pro relógio: por isso, a mixtape deste mês só poderá ser ouvida (por enquanto) aqui no blog, via streaming. Mas calma! Prometo, talvez durante o fim de semana, postar os arquivos em mp3 pra vocês ouvirem as musiquinhas em vossos iPods.

Nesta seleção, vocês encontram as belas melodias de Beach House (que ganhou a tão cobiçada foto no alto do post), Daniel Rossen, Andrew Bird, Magnetic Fields, Young Magic, The Shins, The Men, Perfume Genius e Poliça.

Faça o download da mixtape de março (enfim!).

Ou, por enquanto, ouça aqui:

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♪ | Port of Morrow | The Shins

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Quando você ouvir pela primeira vez este álbum do Shins, possivelmente vai concluir que Port of Morrow é todo ele uma superfície polida e tranquila. Vai ficar, imagino, a impressão de que você já desvendou — antes, há muito tempo, numa outra época — todos os mistérios deste disco, mesmo que ainda não tenha se aproximado da faixa 6.

A sensação de conforto deve se tornar ainda explícita ao perceber que James Mercer, o mentor do quinteto, está regularmente nos avisando que ele é um “homem simples” (em Bait and Switch) e que estas canções não são, bem, muito complicadas (vide Simple Song, o primeiro single).

Havia um tempo, por volta de 2002-2003, em que Mercer comentava que o Shins era apenas uma desculpa que encontrou para criar variações inesperadas dentro dos limites de canções pop de três minutos de duração. O plano ainda parece fazer sentido, já que quase todas as faixas de Port of Morrow são canções convencionais, ainda que com uma ou duas (ou três) arestas aparentes — um efeito fofo de sintetizador, um corinho com eco, a bateria repetitiva de um hit do Phoenix.

No caso de ter resistido à monotonia generalizada, pode ser que você encontre um indício de que as coisas podem não ser tão unidimensionais como parecem. “É tudo muito simples, e terrivelmente complexo”, alerta Mercer, lá quase no fim do álbum (em 40 Mark Strasse). O que provoca a pergunta inevitável: onde está a complexidade?

Talvez ela tenha se escondido nos versos de Mercer. É sabido que os versos de Mercer sempre representaram por volta de 80% daquilo que você considerava encantador nesta banda. Quando Natalie Portman, no draminha indie Hora de Voltar, comentou que o Shins mudaria nossas vidas, há boas chances de que estivesse falando sobre o teor deliciosamente literário de músicas como The Past and Pending e New Slang.

Ler as canções, neste caso, será uma pista importante para que você encontre a segunda dimensão do disco: Port of Morrow, então, vai se abrir graciosamente num álbum menos sereno e cômodo, com rasteirices que versam sobre envelhecimento, morte, dores de cotovelo e que, volta e meia, tentam materializar um sentimento que não se descreve com facilidade — um mal estar que acomete alguns adultos bem sucedidos, bons pais e maridos (Mercer, 41 anos, é casado e tem dois filhos), mas ainda assombrados por um tipo adolescente de inquietação.

A faixa título resume essa crise discreta. Depois de narrar uma cena que demonstra “a mecânica amarga da vida” (um animal devorando outro), ele descreve, com um falsete soul, o asco que a gente sente ao ver fotos de guerras. Como informar às crianças sobre todo esse horror? Os responsáveis por esses conflitos lamentáveis são “palhaços diabólicos”, o compositor conclui. Mas, em seguida, rompe o discurso inocente com uma constatação mais dura: “Logo notamos, caro ouvinte, que eu e você também estivemos lá”. Lá onde? Nas guerras e tragédias? Estaríamos, eu e você e Mercer, todos inseridos no Grande Esquema Medonho das Coisas?

Terrivelmente complexo, indeed.

Diante desse contraste entre letra & música, há o perigo de que você lamente a falta de valentia de Mercer, que se deu por satisfeito após gravar somente a metade de um conceito: um álbum que se lê com prazer e se ouve com certo tédio. Entender que este é o primeiro produto do selo de Mercer, o Aural Apothecary (via Columbia Records), esclarece o porquê de escolhas tão óbvias: antes de criar um disco novo do Shins, o músico/microempresário parece ter se sentido na obrigação de escrever mais um disco (típico, agradável, acessível) da banda. It’s Only Life, por exemplo, poderia ser uma balada edificante de Noel Gallagher. E September, o lado B de Red Rabbits.

Ao cruzar essas duas informações (a artística e a comercial), você vai perceber (como eu percebi) que Mercer sente uma falta tremenda do tempo em que o Shins era uma banda pequena e sem tantos compromissos, inventada dentro do cômodo pequeno de um apartamento. “A partir do momento em que você começa a jogar o jogo de tentar ser grande, você sempre perde”, ele comentou, numa entrevista. Mas, desde Wincing the Night Away, não é exatamente isso (ser maior; ao menos musicalmente mais ambicioso) que tenta fazer?

Port of Morrow, você haverá de concordar comigo, sofre de um complexo semelhante ao que contaminou pelo menos 50% daquele disco de 2007: o desejo por crescimento (e profissionalização madura) neutraliza a qualidade mais notável da banda. A saber, a simulação de um pop simultaneamente modesto (na atitude, na produção doméstica) e arrojado (na composição engenhosa dos versos, nos esquemas melódicos).

Ao fim do disco, você pode se pegar perguntando se ainda seria possível tratar o Shins como uma banda incomum. A pergunta, que se faz de simples, termina se mostrando não terrivelmente complexa — mas um tantinho enganadora, sim.

Quarto disco do Shins. 10 faixas, com produção de Greg Kurstin. Lançamento Aural Apothecary/Columbia Records. C+

♪ | Put Your Back N 2 It | Perfume Genius

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Então resolvi escrever um diário para narrar minhas experiências, meus sentimentos e minhas aventuras, minhas impressões sobre o mundo, a vida e tudo o mais. Escrevi três páginas em 10 minutos, depois fui dormir. No dia seguinte, quando dei por mim diante daquele alagamento de palavras, me senti um pouco enjoado. E estúpido.

Pensei: este diário só não vai me envergonhar se eu reescrevê-lo de forma que o texto fale a uma pessoa razoavelmente interessante, e não a uma página de papel (páginas de papel, sabemos, não sentem constrangimento nem pena nem raiva nem qualquer outra coisa). Só que aí passei a suspeitar que o projeto em si perderia sentido, já que diários são, naturalmente, objetos intransferíveis que não mostramos a ninguém.

De qualquer forma, segui escrevendo o meu caderninho de acordo com esse plano B — como se para uma outra pessoa — e, agora, até que estou satisfeito com o rumo que ele está tomando. Iniciei a minha obra no dia 1º de março e pretendo encerrá-la no dia 30. Essa é a meta.

Ainda penso, no entanto, em como esse diário ficaria se eu o escrevesse com uma prosa totalmente livre, derramando irresponsavelmente os meus pensamentos mais sinceros. Acho que seria um baita de um convite ao sadismo, e impublicável.

Vá saber.

Esses conflitos diarísticos e existenciais ocorreram — por coincidência — enquanto eu tentava me familiarizar com o segundo disco de Mike Hadreas, aka Perfume Genius. Como este é um blog sobre música & filmes, seria melhor se eu começasse a falar nele (no disco) em vez de ficar passeando em torno do meu umbigo.

As histórias (a minha e a dele), é claro, acabam se conectando. Porque, enquanto eu escrevo um diário, Mike grava discos que contém alguns dos elementos que encontramos nessas narrativas íntimas: ele é daqueles artistas que, a exemplo de um Casiotone For The Painfully Alone, de um Xiu Xiu ou até de um Eels, cria uma relação de cumplicidade muito estreita — quase irresponsável, às vezes constrangedora — com o ouvinte, mais ou menos como na primeira versão do meu diário in progress. As informações sobre o disco no site da Matador Records deixam bem claro (porque é esse o plano) que Mike vive quase tudo o que canta — e experimenta esses versos possivelmente aos prantos, sofrendo um pouco a cada dia.

Learning, o álbum anterior, era ainda mais (supostamente) direto. Nele, Mike – um rapaz de Seattle então com 20 e tantos anos – desabafava sobre crises familiares, o vício em drogas, a tentativa de suicídio e as experiências sexuais com os namorados. Put Your Back N 2 It é, diz a Matador Records, um disco mais “universal” e “cinematográfico”, menos “esparso” e “introspectivo”. Ainda que a faixa título, segundo o próprio compositor, tenha sido feita para mostrar ao namorado que sexo gay pode ser algo confortável e carinhoso. “Escrevi para Alan antes de nossa primeira vez”, ele conta, no site.

Encurtar a distância que geralmente se estabelece entre um cantor e seu público é um dos desejos mais explícitos de Mike — talvez por isso, no texto de divulgação, ele explique por que escreveu cada uma das faixas (nenhuma historinha supera a de Floating Spit: “E se A História sem Fim se passasse numa sauna, como ele se pareceria? Como as criaturas seriam?”). Ler o texto e ouvir as canções deixa a sensação de se conhecer muito — talvez demais — sobre a intimidade do compositor.

Nas músicas, Mike também se esforça para mostrar-se como veio ao mundo. Os arranjos são quase transparentes, e ele quase sempre é acompanhado por um piano e por camadas finas (em espessura) de efeitos new age, com uma ou outra referência mais arejada (como em Normal Song, uma quase balada country). As comparações com James Blake se tornam óbvias, ainda que me pareçam equivocadas porque, ao contrário do britânico, Mike tenta criar a impressão de um reality-show sonoro, captado com espontaneidade e certa displicência, como se a necessidade se confessar, de se desnudar para mostrar-nos que é de verdade, fosse o mais importante.

Aplicando esse método, sempre de forma muito calculada (e com esboços por vezes muito bonitos de melodias), Mike encena, em primeira pessoa, as desventuras de um homem cheio de sequelas, tentando encontrar a sonoridade mais adequada para transmitir as sensações de isolamento e depressão. Soa legítimo, ainda que ele ainda não consiga transformar toda essa catarse numa arte particular. Por enquanto, só ouço o desespero — transcrito num diário sem pudor ou arremate.

Segundo disco do Perfume Genius. 12 faixas, com produção de Mike Hadreas. Lançamento Matador Records. C+

♪ | Visions | Grimes

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Talvez não seja necessário (nem recomendável) ouvir este disco por inteiro para entender por que a canadense Claire Boucher é a revelação do ano. As resenhas sobre Visions nos informam que ela é um dos símbolos proeminentes de uma cena em ascensão — apelidada simplesmente de “weird” —, que atualiza a “sensibilidade punk” ao se apropriar de um punhado de referências marginais do pop, chafundrando em dejetos de k-pop, synthpop, shoegazing, ambient, minimal, lo-fi, new age, funk de boate vagabunda e, se não estou enganado, um tiquinho de carimbó.

Simultaneamente a essas (supostas) peraltices sonoras, Claire também desenvolve, segundo o site da gravadora Rough Trade, “as artes do 2D (?), performance, dança, artes plásticas, vídeo e som”, num set que incorpora influências “tão amplas como Enya, TLC e Aphex Twin”. Com uma carta de apresentações dessas, imagino que seria simples conseguir, no mínimo, uma bolsa de estudos na BRIT School for Performing Arts & Technology.

É um portifólio notável — que inclui, além de Visions, mais três discos gravados rapidamente, desde 2010. Ao contrário dos álbuns anteriores, que foram tratados como rascunhos para laboratório de Creative Writing, o novo projeto mostra ambições de profissionalização. Na 4AD Records, lar do Gang Gang Dance e do Ariel Pink, Claire se comporta como uma repórter iniciante que decidiu trocar as liberdades da pequena imprensa interiorana pelo prestígio de um “jornalão”. Grandes responsabilidades, you see?

Visions aparece, de fato, como um álbum mais “apresentável”, que tenta organizar num combo audível as dezenas (centenas?) de intenções de Claire. Pode ser interpretado como um rito de passagem. Pena que, para quem evita o burburinho das resenhas, a experiência pode ser decepcionante: desconectado de um contexto que o engrandece (e do hype, velho hype), deve deixar a impressão de que foi programado a partir de uma seleção de palavras populares em blogs e sites de indie rock — e não de visões particulares sobre o pop, o indie, o “bedroom pop” ou o que quer que seja.

Esse circuito ruidoso de informação — que atua principalmente, diga-se, fora e ao redor do disco — nos atrapalha quando tentamos identificar as singularidades de Claire. Depois de muitas audições, não consegui encontrar muitas: a sonoridade que ela pratica não é tão frenética nem criativa quanto se vende por aí, e me parece apenas uma variação precária (e pobre de propósito, aparentemente) do pop cut ‘n’ paste que M.I.A. e Diplo fazem com mais gana e alegria. Claire cria uma redoma estetizante que me parece frágil demais, e que se rompe tão logo ela tenta encontrar densidade numa arte em 2D (isto é: a partir da faixa sete, quando o disco vai descendo a ladeira da contemporaneidade).

As ideias de Claire fervilham tão intensamente que talvez deveríamos amá-la (e admirar o disco) apenas por isso: pela teoria, e não pela prática. Mas Visions periga ser esmagado pela ânsia de disparar estímulos de curta duração, frívolos e sem substância — por isso mesmo, poucos lançamentos recentes representam com tanta fidelidade uma época em que se precisa justificar com estardalhaço discos que serão rapidamente substituídos por outros, tão “importantes” e “urgentes” quanto.

Quarto disco da Grimes. 13 faixas, com produção de Grimes. Lançamento 4AD Records/Arbutus. C

mini | 1 post, 16 discos

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Deixe-me livrar destes disquinhos antes que eles desapareçam completamente do meu HD, tudo bem? (Regra do jogo: textos injustamente curtos, porque a vida é assim mesmo).

Go Fly a Kite | Ben Kweller | Noise Co | C+ | Precocemente nostálgico (e talvez por isso um tantinho adorável e triste), como se Kweller tivesse completado 60 anos e não 30. Pode ser “lido” como um disco bem pé-no-chão sobre o fim da adolescência, ainda que o compositor não tenha amadurecido e siga irrelevante.

Hymns | Cardinal | Fire Records | C+ | Após quase 20 anos de hibernação, o duo americano retorna com um disco tão out of time quanto o début de 1994. É verdade que o Clientele fez isso tudo com mais finesse, mas não é desprezível o jeito como eles vão “estragando” canções pop com detalhes psicodélicos (um vocal distorcido, um efeito de teclado etc). Teias de aranha everywhere, mas tem seu encanto.

I Am Gemini | Cursive | Saddle Creek | C | O conceito é juvenil demais para ser levado a sério (vai mais ou menos assim: o bem e o mal num confronto dentro de uma casa), mas dá à banda certo ânimo para seguir compondo. Ainda assim, não me convidem pra jogar esse RPG-indie de novo.

Django Django | Django Django | Because Music | B | Um dos ídolos do quarteto é o Beta Band, e que bom: um disco que dá a sensação de se transformar a cada faixa, em constante movimento de autodestruição/recriação, e, apesar de gordo (até nisso eles imitam o BB), que entretém mesmo quando as mutações soam como esboços que mereciam ser deletados antes de virar MP3.

Have Some Faith in Magic | Errors | Rock Action Records | B | Aquilo que alguns chamariam de pós-rock, só que com mais vivacidade que letargia. Disco a disco, a banda vai encontrando um som pra chamar de seu, e isso é bonito de notar.

The Year of No Returning | Ezra Furman | Independente | C+ | Furman ainda não sabe exatamente o que quer, e se sai melhor como um discípulo de Bruce Springsteen (American Soil é ótima) que de Jeff Tweedy. A acompanhar.

Interstellar | Frankie Rose | Slumberland | B | Musa indie nova-iorquina floating in space, num CD que oscila do synthpop ao shoegazing, e por isso muitíssimo gostável e up-to-date (vide as reações muito positivas na imprensa americana). É mesmo um doce, mas eu prefiro as faixas mais dançantes às mais morosas – e é um tanto breve, não?

MU.ZZ.LE | Gonjasufi | Warp | B | Outro álbum curto, muito curto, que deixa uma série de promessas em stand-by. A faceta hip-hop do compositor não parece ainda bem resolvida, e o que ouço são rascunhos, só que não consigo ignorar um disco que atira tantas boas ideias ao vento.

A Sleep & a Forgetting | Islands | ANTI- | C+ | Ainda me parece pouco convincente (e não muito natural) essa transformação do Islands numa banda menos delirante e mais mundana, e o disco acaba tomando o caminho fácil de optar por um som genérico, superficial, cheio de chavões de country rock. Enfim: mais para Bright Eyes e Girls que para um Lambchop.

Born to Die | Lana Del Rey | Interscope | D+ | Nem princesinha deprê, nem monstrengo pré-fabricado: apenas uma (mais uma) estrela pop desnorteada dentro de um EP grandalhão, feito às pressas, toscamente produzido, e que esvazia terrivelmente após a quinta faixa. Tem Video Games, daí o +.

Kisses on the Bottom | Paul McCartney | Hear Music | C+ | É um disco sincero de crooner, perfeito para animar bailes de terceira idade e (se você tiver ânimo) com algumas pistas que explicam certas referências embrionárias dos Beatles. Mas Paul não precisava disso.

Habits and Contradictions | Schoolboy Q | Top Dawg | B+ | Um tema recorrente (sexo, sexo e sexo), mais de uma dezena de boas ideias sonoras (a faixa com sampler de Portishead, apesar de óbvia, empurra o disco surpreendentemente para o dark side), ainda que repetitivo e dispersivo demais. Um bom editor fez falta. Ouvi muitas vezes e aviso: ele vai melhorando.

Animal Joy | Shearwater | Sub Pop | C+ | Um disco de rock sisudo e monocromático (ainda se faz isso?) como os primeiros do Pearl Jam e do Alice in Chains, que não soaria estranho se tivesse sido lançado no início dos anos 90. Até a capa me deixa com saudades das camisas de flanela, mas péra lá: o álbum acabou cinco vezes e ainda não descobri o que há de particular no Shearwater.

Young and Old | Tennis | Fat Possum | D+ | Com uma palheta de referências parecida, o Hospitality fez um álbum muito agradável este ano. O Tennis parece fadado a ser uma espécie de She & Him de segunda divisão – lamentável e desnecessário, portanto.

This Something Rain | Tindersticks | Lucky Dog | B | Mais um disco muito digno e elegante do Tindersticks (como todos os outros, aliás), ainda que eu acredite que ele vá perdendo a força assim que a primeira faixa (de nove minutos, e excelente) termina.

Sounds From Nowheresville | The Ting Tings | Columbia | D+ | Uma banda pop muito limitada tentando, hum, break on through to the other side: raramente dá certo. Se a ideia era nos deixar com saudades de That’s Not My Name, conseguiram. Parabéns, Columbia, cês tinham razão.

♪ | Break it Yourself | Andrew Bird

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Amplidão, esse susbstantivo tão feioso e maltratado, há de cair bem em qualquer resenha sobre Break it Yourself. O novo de Andrew Bird soa como a trilha para um road movie pastoral, malickiano, de três horas de duração. Com direito ao corte final, o músico criou um álbum de folk-pop em VistaVision, cujas faixas (e são 14!) se movimentam sem sufoco numa paisagem vasta, cheia de terrenos abandonados e roads to nowhere. Não deixa de ser um “statement” valente — estou aqui sentado em minha poltrona, com uma latinha de guaraná, esperando os comentários do primeiro esperto que vai acusar o disco de ser irregular, inflado, desequilibrado, tedioso etc.

Fazer o quê? Talvez ele seja tudo isso (irregular, inflado etc), só que mais complicado é perceber que Bird buscou conscientemente um formato mais arejado e contemplativo para apresentar faixas que poderiam ter sido compactadas num disco de 35 minutos (este tem 60). Tem uma diferença importante aí.

Pode ser que as músicas não sejam tão memoráveis quanto as que apareceram em álbuns como The Mysterious Production of Eggs ou do ótimo The Swimming Hour (que marcou a grande transição da carreira de Bird, antes mais afinado ao jazz e aos modelos de big bands norte-americanas), mas aqui é tudo questão de dimensão, de compor as cenas e esticar o escopo: uma faixa mais convencional e familiar como Near Death Death Experience ou Fatal Shore, por exemplo, ganha uma força tremenda quando despenca dentro de uma narrativa tão plácida, com momentos de quase letargia — é como se o compositor atirasse uma pedrinha num lago completamente silencioso, só pra ver o que acontece.

E apesar de todos aqueles momentos graciosos que conhecemos muito bem (como no refrão de Near Death, em que Bird comenta que vai dançar “como um sobrevivente de câncer”), o disco caminha imperturbável numa toada lenta, quase austera, cheia de momentos de beleza serena (o trecho instrumental de Hole in the Ocean Floor, que vai seguindo vagarosamente sem vontade de acabar, é declaração de independência), sem a ansiedade juvenil que é tão valorizada no “indie rock”. Será subestimado, claro. Recomendo que se ouça logo depois de Mr. M, do Lambchop, numa tarde preguiçosa de folga. E sem pressa, porque o filme é grande.

Nono disco de Andrew Bird. 14 faixas, com produção do próprio músico. Lançamento Mom+Pop. B+

mixtape! | …sides of the moon

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A mixtape de fevereiro chegou mais cedo porque, no fim das contas, não temos tempo a perder. Em resumo: esta coletânea soa um pouco mais aérea, mais cósmica que a anterior. Um cdzinho de space pop, se você preferir.

Mas não só isso. Se este balaio de fevereiro tem algo de flutuante, há momentos em que ele desce ao solo mui modestamente, e nos mostra paisagens terrenas. A minha intenção, desta vez, foi zanzar entre esses extremos sem romper a atmosfera que paira sobre todas as músicas. Não sei se consegui, mas gostei muito do resultado.

Sem mais invencionices (ou licenças poéticas), este mix contém, nesta ordem, faixas de Frankie Rose, Sleigh Bells, Imperial Teen, Hospitality (que ganhou foto lá no topo do post), Air, Yamantaka//Sonic Titan, Islands, Ezra Furman, Cardinal e Chairlift. A lista das músicas está, como de hábito, na caixa de comentários.

Espero que vocês se divirtam. Comentários serão muito bem recebidos. E, para quem quiser baixar o cdzim, recomendo pressa: os arquivos estão desaparecendo rapidamente.

Faça o download da mixtape de fevereiro.

Ou ouça aqui:

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♪ | Hospitality | Hospitality

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O primeiro disco do trio nova-iorquino Hospitality é uma crônica sobre os ups and downs da vida aos 20 anos de idade. Um álbum que pode ser tratado como um afresco desimportante porque, bem, não é de hoje que se subestima o valor de uma boa crônica.

Quem narra esta história é Amber Papini — multiinstrumentista, cantora, compositora e ex-aluna da Universidade de Yale. Ainda que já tenha passado dos 30 anos, ela canta com a falsa inocência juvenil de quem entende verdadeiramente os discos do Camera Obscura, e organiza as harmonias & melodias com a clareza (e a concisão!) que se cobra de uma redação de vestibular.

Ouvindo o disco, posso imaginar Amber (ou, digamos, a personagem que ela interpreta) vagando eufórica (e um pouco triste, porque sempre se é um pouco triste nessa idade) pelos corredores do alojamento universitário de mentirinha onde vive Rory, heroína da série Gilmore Girls e também ex-estudante de Yale. Este é o álbum que uma das amigas espertas-e-um-tantinho-pedantes de Rory teria gravado, se preferissem Vampire Weekend a Sonic Youth.

Como nos projetos-de-conclusão-de-curso do Vampire Weekend, a estreia do Hospitality seleciona timbres e versos com o rigor de quem passa horas no hortifruti avaliando a qualidade dos produtos. É um álbum curto (dura 32 minutos), mas cada detalhe conta e poucos se repetem. As tão comentadas referências de “afropop”, por exemplo, grudam nas canções de maneira tão despretensiosa — são adesivos coloridos, fofos e pequeninos — que é impossível acusar Amber de, vish, ousadia. Não. Não é por aí.

Não é muito seguro supor, aliás, que Amber conheça muitos discos psicodélicos dos anos 1960. Ainda que as melodias sensuais e um tanto angulosas de, notem, Betty Wang possam apontar para um Love ou de um Zombies, talvez ela tenha ouvido, na verdade, os três álbuns do Shins — um atrás do outro, e intinterruptamente.

Polir as gravações de forma a produzir uma sonoridade aconchegante (o nome da banda não nos engana em absolutamente nada) parece-me o objetivo principal. Outra meta é literária, e nisso Amber também nos ganha sutilmente: “Vamos fazer de conta que é verão. Vamos fazer de conta que somos casados”, ela provoca, em Sleepover. Liberal Arts, sobre o quão frustrante é se formar em cursos pouco práticos (imagine escolher letras em vez de direito), é puro charme nerd, irresistível para quem já virou noites traduzindo ensaios de Fredric Jameson.

O que parece uma tolice, né? Amber pode não ter nada especialmente complexo a comentar sobre o cotidiano de meninas instruídas de 20 anos, mas o faz com graciosidade. E um tino notável para escolher as cenas que merecem ser enquadradas nas páginas dessas canções-Moleskines. “Cinema é uma questão do que está dentro no plano e o que não está”, já dizia Martin Scorsese. Pois bem: nada polui os planos deste pequeno indie movie.

Primeiro disco do Hospitality. 10 faixas, com produção de Nathan Michel e Shane Stoneback. Lançamento Merge Records. B

♪ | Reign of Terror | Sleigh Bells

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Podemos concluir, sem sarcasmo, que o segundo disco do Sleigh Bells contém no máximo duas ideias: por um lado (1), o duo se assume de vez como uma “guitar band”, espanando a zoeira de samplers do disco anterior para criar uma sonoridade menos marrenta e mais irônica, com algo de Daft Punk (fase-Human After All) e de Def Leppard e Poison (salve-se quem puder); por outro (2), tenta compor canções de estrutura convencional, e eu não ficaria surpreso se duas delas (as baladas à la American Idol End of the Line e You Lost Me) aparecessem no próximo álbum da Gwen Stefani. É essa a vibe, amigos.

Derek Miller e Alexis Krauss colidem essas duas ideias em acidentões espetaculares, sob jatos de gelo seco e chuva de gel. Quase todas as músicas contêm riffs bombásticos de hard rock, zunidos de bateria eletrônica a 50.000/hora, efeitos sonoros que simulam explosões/decolagem/cheerleaders-em-fúria/rojões-de-festa-junina e uma vocalista desolada, cantando coisas tristes sobre amores perdidos, fracassos, ressacas e afins. Me lembra muito, e muito perigosamente, outro disco de banda indie tentando negociar com certos parâmetros do pop: It’s Blitz!, do Yeah Yeah Yeahs.

Não me parece, no entanto, um disquinho assim tão cínico, nem tão loucamente apelativo, nem digno de muitas audições: se falta sal na farofada do Sleigh Bells, seria má vontade não notar que a banda sabe onde quer chegar — e eles chegam, com precisão, a um disco mais melodioso e dócil, até mais sério (bottom line: cabou a festa, molecada), mas ainda in our faces, que talvez tenha sido criado para contradizer os comentários maldosos de quem identificava no álbum anterior uma, e apenas uma, ideia. A revanche, pois: DUAS ideias até razoavelmente interessantes, que juntas às vezes fazem um barulhão gracioso (Comeback Kid, D.O.A., Born to Lose), às vezes não.

Segundo disco do Sleigh Bells. 11 faixas, com produção de Derek Miller. Lançamento Mom+Pop. C+

♪ | Old Ideas | Leonard Cohen

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Nos primeiros versos da música Going home, que abre o disco Old Ideas, Deus admite: “Eu amo conversar com Leonard. Ele é um atleta e um pastor. Um depravado preguiçoso vestido em terno”. Em seguida, o (eu suponho) todo-poderoso trata de explicar a admiração por nosso mais querido outsider: “Mas ele sempre fala tudo o que eu mando, mesmo quando as notícias não são boas. Ele nunca vai ter a liberdade para recusar.” Eis o pacto sinistro.

A voz divina (e divinamente rouca, as always) descreve Leonard Cohen — que, na capa de seu 12º álbum de estúdio, aparece num jardim, pernas cruzadas, lendo um livro, de chapéu preto e gravata. É, perceba, uma maneira inusitada de abrir um disco. Mas o monólogo celestial mostra que, aos 77 anos, o autor de tantas canções de love and hate se sente confortável para brincar com a imagem que a cultura pop — e ele próprio — criaram para representá-lo.

É essa persona soturna, mas também autoirônica (mais esperta, portanto, que o resenhista que trata este disco como uma obra solene, blindada, perfeita), que “atua” nessas 10 canções. O título alerta: são ideias antigas, sem novidades, ali mofando décadas a fio. Tudo igualzinho: Deus tá lá no céu, observando e nos julgando/condenando e usando Leonard para enviar mensagens sonoras aos homens imperfeitos na Terra. Ao mesmo tempo, algo muda: esse som divinal, desta vez, me parece um tanto mais mundano e gracioso, ainda que quase banal (um sonho: um disco de Leonard Cohen com acompanhamento/composições do Lambchop). Piano, violão, guitarra, percussão discretíssima e vocais femininos enevoam sutilmente as melodias, sem saudade (aleluia!) dos sintetizadores kitsch de Ten New Songs (2001) ou da frouxidão harmônica de Dear Heather (2004).

Milagroso é como Cohen ainda encontra mistérios em uma paisagem tão antiga, inventada por ele próprio há quatro décadas. Ainda é amável, sim, a conversa de Leonard.

Décimo segundo disco de Leonard Cohen. 10 faixas, com produção de Ed Sanders. Lançamento Columbia. B

♪ | Le Voyage Dans La Lune | Air

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Depois de três álbuns que tentavam reencenar a atmosfera de Moon Safari (o melhor deles, Talkie Walkie, até que tinha algum charme), só faltava ao Air retornar didaticamente também ao NOME daquele disco de estreia. Não falta mais: em Le Voyage Dans La Lune, eles ampliam a trilha sonora que compuseram para a versão restaurada do filme de Georges Méliès, de 1902, usando um formato que, para quem acompanha a dupla, já pode ser tomado como um tique: faixas instrumentais etéreas e “requintadas” de, afe, space-lounge intercaladas a dóceis chansons. Uma viagem não exatamente fantástica.

As boas lembranças daquela outra trilha sonora escrita por Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel tornam a aventura ainda mais frustrante. Em The Virgin Suicides, o Air criava um tema central forte e ia desenhando variações delicadas — e inesperadas, mas sempre sutilmente — em torno dele. As faixas remetiam ao ar róseo-cinzento do filme, ao mesmo tempo em que sugeriam novas imagens. Existia ali um jogo bem estimulante entre música e cinema, entre compositores e cineasta, que não consigo notar neste disco novo.

A soundtrack que prepararam para Méliès talvez faça sentido quando sobreposta às sequências do curta-metragem (que dura 16 minutos), mas, como obra independente, parece-me vaga, incompleta, com músicas que justificam a birra (injusta, é claro) de quem vê no Air uma banda blasé e superficial. O pior é que, aqui, eles não mostram nem mesmo a curiosidade (que existia nos primeiros discos) de pesquisar gêneros pop: Seven Stars, uma das poucas faixas memoráveis, trata o próprio Air como a única referência, saturando a combinação piano/efeitos especiais/vocal entorpecido. Não irrita, não machuca, mas o velho desejo exploratório foi pros ares.

As participações de Victoria Legrand (do Beach House) e do Au Revoir Simone são dispostas neste disco-simulador-de-voo como objetos decorativos de cena. Embelezam as imagens, e cumprem a função de compor um espetáculo “sofisticado” para sessões de gala de festivais. Pobre Méliès.

Sétimo disco do Air. 11 faixas, com produção da própria banda. Lançamento Astralwerks Records. D+

♪ | Clear Heart Full Eyes | Craig Finn

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O primeiro disco solo de Craig Finn confirma que, mais do que um compositor “sincero” e “emotivo”, o vocalista do Hold Steady é um ficcionista pop muito habilidoso: não apenas um inventor de personagens e de tramas — discos como Boys and Girls in America podem ser “lidos” como coletâneas de contos —, mas um fã de rock que está sempre buscando as referências mais adequadas para emoldurar as narrativas que cria. Se um disco como Separation Sunday, por exemplo, mostrava todo um esforço para atualizar os climas dos primeiros álbuns de Springsteen e The Clash (e aí era como se Finn escolhesse essa ou aquela lente para filmar um enredo juvenil), este Clear Heart Full Eyes tem objetivos muito diferentes: em resumo, é um álbum até bem típico de singer-songwriter de alt.country, projetado cuidadosamente como tal, com uma sonoridade mais polida (para dar impressão de maturidade, talvez) e uma cadência serena, como se o compositor tivesse resolvido informar ao público que tem 40 anos de idade — e que, na Escala Drive-By Truckers de Afinidade, prefere o sentimentalismo de Patterson Hood às loucuras de Mike Cooley. Os personagens das músicas são versões mais envelhecidas dos tipos que moram nos discos do Hold Steady: beberrões fracassados, desprezíveis (de tão comuns), metidos em dramas irrelevantes (amorosos, em grande parte), que dormem em quartos de aluguel (Rented Room, a melhor da safra) e não podem contar com ninguém (No Future). Finn ainda domina os temas e sabe selecionar referências, sabe o que quer, mas este álbum de “coração limpo” pode deixar a impressão de que o compositor/autor desta vez enquadrou a própria prosa num clichê — o do disco “adulto”.

Primeiro disco solo de Craig Finn. 11 faixas, com produção de Mike McCarthy. Lançamento Full Time Hobby. C+