Dia: janeiro 11, 2009
Tonight: Franz Ferdinand | Franz Ferdinand
É um pesadelo ou o Franz Ferdinand realmente conseguiu gravar um terceiro álbum menos vibrante e criativo que o último do Kaiser Chiefs?
Deixa eu ouvir de novo, calma aí. (40 mornos minutos depois). Pff, é isso mesmo.
Quem lê este blog de vez em quando sabe que os escoceses têm uns 850 mil fãs mais entusiasmados que eu. Confesso que não me apaixonei terrivelmente nem pela estreia do quarteto, apesar de admitir (com um pouco de… frio na barriga?) que o disquinho está entre os mais importantes da década.
Quando o segundo disco deles era tratado como a última festa decente do deserto (tipo: não é tão legal repetir a mesma ladainha, mas eles podem!), eu lamentava: podia ter soado tão melhor!
O tempo fez deles uma espécie de gigante indie, mas continuo encarando o Franz Ferdinand como uma ótima banda de singles (Take me out, Matinee, Do you want to?, Walk away) que se convenceu de que consegue gravar bons álbuns.
Tonight, por exemplo, abre com dois hits perfeitinhos: Ulysses e Turn it on. Que soam extremamente agradáveis, dançantes e nota 10 até o momento em que se nota o quanto eles se parecem com todos os outros hits que a banda emplacou por aí.
Alex Kapranos, além de cínico e muito cool, é também bastante honesto em relação à grife sonora do Franz Ferdinand: “Seremos sempre uma daquelas bandas que soam iguais, não importa o que façam”, comentou. Taí uma descrição perfeita para Tonight. O álbum segue uma série de trajetos diferentes para, no fim da linha, chegar exatamente naquilo que esperamos do Franz Ferdinand.
Até aí, tudo bem: cada década tem o Ramones que merece, e, se até o Strokes não conseguiu abandonar o formato que o consagrou (e o Libertines praticamente se implodiu no processo), por que o Franz se safaria? O que vejo como problemático é que Tonight foi erguido com planos mirabolantes que nunca se concretizaram. Isso é legal?
Há alguns meses, Kapranos nos avisou que este seria um “álbum de dance music”, com “influências de dub e música africana” , com um “conceito pop” (inicialmente, o produtor seria Brian Higgins, do Xenomania) e canções “sobre a vida real”. Há um pouco disso tudo em Tonight (e as faixas Send him away e Can’t stop feeling realmente têm um quê afro na percussão), mas diluído num caldo exageradamente familiar.
É como se o Franz Ferdinand quisesse seguir em frente sem largar algumas barras de proteção – o que faz de Tonight um tipo bastante seguro de álbum de transição (e sinceramente espero que eles consigam completar essa transição sabe-se-lá-pra-onde).
Se o exagero de sintetizadores remete aos anos 1980 (sem as belas sacadas do Cut Copy ou o espírito kitsch de um Daft Punk), Tonight só será tomado como um álbum de dance music pela própria banda. Novamente, Kapranos se diz entediado, em busca de diversão (Ulysses é neo-Take me out), e, como letrista, segue atirando versos curtos, auto-irônicos, slogans que você memoriza na primeira audição. Há algumas novidades nas bordas de Tonight, mas a polpa continua rigorosamente conservada.
Para que não me acusem de má vontade, faço uma ressalva: o disco só diz a que veio nas três últimas faixas. Se há um “novo Franz Ferdinand”, ele está escondido aí: na poeira eletrônica que encerra Lucid dreams, na psicodelia fofa (essa sim, inspirada, com frescor) de Dream again e na baladinha acústica Katherine kiss me, que ainda assim fica parecendo lado B de single.
No mais, o álbum encerra as suspeitas de que o Franz Ferdinand faria justiça às comparações com o Talking Heads. De alquimistas eles têm muito pouco. Agora, para quem se satisfaz com o poder (inegável, vá) de um saboroso refrão sem sentido… Os hitmakers estão chegando.
Terceiro álbum do Franz Ferdinand. 12 faixas, com produção de Dan Carey. Domino Records. 6/10
Ulysses – Franz Ferdinand
(Eu fico imaginando o quão interessante teria sido se o álbum soasse tão noturno e paranoico quanto sugere o videoclipe aí em cima… Mas ok, é um clipe sem grandes arroubos criativos, o que combina com a ocasião)