Mês: novembro 2007

O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford *

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Brad Pitt é nosso Jesse James? Mark David Chapman é nosso Robert Ford? Durante 2h40, o filme de Dominik nos obrigará a fazer esse tipo de conexão mais ou menos tola, com a tese de que o mito do Oeste teria representado a semente da cultura do culto à celebridade. Representou? Não representou? O problema não está nas perguntas, mas em como o diretor praticamente confina os personagens a essa idéia. Eles mal têm espaço para respirar – são, no máximo, símbolos para alguma coisa.

O Jesse James de Pitt vaga como um espectro pela paisagem. Paranóico e doente, é um ídolo nas últimas. Já o Robert Ford de Casey Affleck (em atuação, no mínimo, muito afetada) é o fã obsessivo, o stalker que, se pudesse, devoraria (literalmente, sem conotações homoeróticas aqui) o objeto de desejo. O filme é uma dança de salão entre essas duas figuras – e, enquanto o cineasta evita simplifcar demais essa relação (o que fica muito difícil, já que existe uma irritante narração em off para atrapalhar tudo), até se presta a alguma observação mais sutil dos personagens. A trilha de Nick Cave e Warren Ellis ajuda, até o momento em que vira muleta para arrancar lirismo de uma narrativa com excesso de gorduras.

É um filme cheio de espaços vazios. No mau sentido.

A montanha sagrada ***

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O estranho mundo de Alejandro Jodorowsky, o homem que filmava com os testículos.

Poucos terão a disposição de abandonar o FicBrasília (que começa amanhã) para acompanhar a mostra do cineasta chileno no CCBB. Mas há pelo menos dois bons motivos para rearrumar a agenda: um deles é El topo (que ainda não vi, mas dizem ser a obra-prima do sujeito), o outro é este A montanha sagrada, que é algo estranhíssimo.

Não sei se serve muito bem como introdução ao universo de Jodorowsky, mas, para este que vos escreve, é o caso. Dá para pescar referências de Buñuel e de graphic novels – e a representação de um misticismo extremamente plural fica muito clara desde as primeiras cenas  -, mas salta aos olhos uma aflição até meio infantil, como se o diretor fosse um menino de dez anos diante de uma caixa de giz de cera e um caderno cheio de páginas em branco. Cada plano é de uma riqueza de detalhes que renderiam uma dúzia de gibis.

Dez minutos de filme (e os dez minutos mais insanos que você terá visto em sua vida) e mergulhamos em uma jornada que oscila entre o nonsense, o simbolismo religioso, a metáfora política, a psicodelia à chá de cogumelo e, finalmente, cenas absurdamente lindas, como as que passarinhos escapam do peito de homens metralhados. Sabe os 30 minutos finais de Eu me lembro? Este é o filme para o transe daqueles personagens.

Aqui, um texto muito bom para quem vai acompanhar a mostra.

Vencedores do Festival de Brasília

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Filme para Cleópatra. Direção para Laís Bodanzky, por Chega de saudade. Prêmios “técnicos” quase todos para Cleópatra. Alessandra Negrini melhor atriz, Eucir de Souza melhor ator (por Meu mundo em perigo, que ganhou prêmio da crítica), Anabazys com prêmio especial de júri. Chega de saudade com júri popular.

Foi a vaia mais barulhenta da história do festival. O público simplesmente deu as costas pro Bressane e abandonou a cerimônia de premiação. É isso aí. Estou satisfeito com o resultado.

Antes de cometer presepadas ou cair no erro de render-se à tal “voz do público”, o júri parece ter parado para refletir sobre o conceito do festival, à margem do mercado e com foco na ousadia. Ainda bem. Caso Chega de saudade tivesse vencido, esse teria sido um dos resultados mais medíocres da história da mostra (um bom par para Amor & cia, de Helvécio Ratton).

Só não precisavam ter abandonado tão completamente o filme do Reichenbach (que ficou com prêmio de atriz coadjuvante, para Djin Sganzerla). O troféu para a Negrini é duvidoso, mas até aí o júri marcou posição na defesa da inventividade contra uma arte funcional. Alívio.

Anabazys **

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Não que alguém se importe com isso, mas o Festival de Brasília fechou a mostra competitiva ontem meio que salvo pelo gongo. Não deu para identificar nenhum grande filme na seleção, mas (diferentemente do ano passado), também nenhuma porcaria – o único que chegou perto do desastre foi Amigos de risco, mas nem é caso tão absurdo assim.

Bons cineastas como Reichenbach e Bressane chegaram com obras que apenas reforçam certas marcas autorais, enquanto Bodanzky entregou o pão-de-ló com recheio de vento que deve acabar vencendo a competição (por falta de opção?). Mas podemos encontrar alguns avanços aqui e ali. Por exemplo: o documentário de Joel Pizzini e Paloma Rocha – exibido em Veneza – praticamente reduz o outro filme sobre Glauber Rocha (Labirinto do Brasil, de Sílvio Tendler) a uma caricatura cômica. A idéia de ilustrar A idade da Terra (o doc será incluído como extra no DVD do filme-maldito de Glauber) com depoimentos raros do próprio diretor já interessaria, mas os cineastas ainda tentam uma homenagem de “dentro pra fora”. Os rolos de Anabazys, por exemplo, podem ser exibidos em qualquer ordem, sem prejuízo de compreensão do que vai na tela. A versão original tinha 2h40. A nova coube em 1h30 (e funcionaria perfeitamente com 30 minutos a menos).

Surpreende como a dupla de diretores evita a todo custo uma imagem simplesmente heróica de Glauber, e dá espaço para um discurso que – além de escalafobético, como Tendler já nos mostrara – espirra contradições e incômodo. O diretor de Terra em transe fala diretamente ao público, e, quando ataca vícios políticos do país, parece até estar vivo, atento a este século 21. Menos delirante e poético que Rocha que voa, acaba por funcionar como convite para a obra de Glauber (e uma espécie de “comentário em off” para A idade da Terra, especificamente) – e está bom assim.

Chega de saudade **

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Seria este o vencedor do Festival de Brasília de 2007? Pelo menos o prêmio de júri popular parece garantido. O segundo longa de Laís Bodanzky (que venceu aqui por Bicho de sete cabeças) conquistou a platéia de tal modo que, na conclusão dos (intermináveis) créditos finais, ainda havia gente batendo palmas no compasso da trilha sonora.

Mas seria este o vencedor ideal de um festival marcado pela defesa de fitas ora radicalmente pessoais, ora provocadoras e polêmicas, que consagrou Baixio das bestas e tem em Julio Bressane uma espécie de símbolo de integridade artística? Acredito que não. O filme de Bodanzky é correto, agradável. Mas, ainda que exiba um trabalho bem cuidadoso de encenação, que tira o máximo de espontaneidade de um ótimo elenco, deixa a impressão de um apresentável pastel de vento – mais ou menos como Antônia, de Tata Amaral.

Se as referências de Ettore Scola e Robert Altman são inevitáveis, Bodanzky escapa do decalque ao assumir as artimanhas de um típico filme-painel apenas como ponto de partida para a composição de um ambiente: uma calorosa casa de baile. A estrutura da narrativa nunca desacelera o ritmo dos acontecimentos – as pequenas tramas são entrecortadas por vários números musicais – e busca um retrato franco dos personagens, quase todos pra lá dos 60 anos de idade. Não cai nas obviedades de comédias no esquema “nunca é tarde para viver”, como Elsa e Fred, ainda que deva alguma consistência às melodias que embalam esta pista de dança non-stop.

Falsa loura **

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Reichenbach define este novo filme – nascido dentro do projeto de longas sobre a vida das operárias do ABC – como um adágio. No sentido da tradução latina, a palavra significa um pequeno relato de caráter moral. No musical, italiano, é o movimento mais lento de uma peça. Não poderia haver síntese mais exata para o filme, que arrancou muitos aplausos do público do Festival de Brasília.

Como Garotas do ABC, é uma tragicomédia apinhada de referências pop e marginais – há ecos de antigos musicais, de Zurlini, de trash, de paródia. Mas existe um feixe de melancolia que perspassa a trama, e adiciona um elemento amargo, dolorido a esse típico caldeirão que se espera do cineasta. A trama é uma espécie de Showgirls à brasileira – a heroína, vivida por Rosanne Mulholland, é moça pobre que se envolverá com dois astros da música só para quebrar a cara com as vilanices do showbusiness . Mais ainda que Verhoeven, Reichenbach sai em defesa irrestrita das mulheres contra a tirania masculina – todos os homens do filme são cafajestes.

O diretor entra nesse universo de uma forma muito generosa, e assimila as referências musicais (o pop romântico, o brega, o rock diluído) de um determinado grupo social com carinho – numa das melhores cenas do filme, a falsa loura tem um sonho à videokê com o ídolo vivido por Maurício Mattar. Os 15 minutos finais, que flutuam numa longa valsa, estão entre os mais corajosos que o cineasta já filmou – como um delírio hollywoodiano, concluído com um desfecho cruel, eles soam como um capítulo à parte. Entre a ilusão e as tristes conseqüências da ilusão, o diretor nos oferece um pouco das duas sensações.

Cleópatra **

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Brasília viu o novo filme de Bressane e se dividiu entre os que gostaram, os que suportaram e vaiaram e os que simplesmente odiaram (esses últimos abandonaram a sessão). A reação não é novidade alguma. Já vi uns cinco filmes do diretor no Festival de Brasília e sempre, sempre terminamos nesse embate.

No fim da sessão, nem o diretor parecia espantado: “Estranho, achei que as vaias foram até amenas desta vez”. Pois é.

O cinema de Bressane nunca vai deixar de incomodar, já que ele parece existir, antes de mais nada, para satisfazer às obsessões particulares do cineasta. Desta vez, o projeto era adaptar o mito de Cleópatra para a língua portuguesa, já que são poucas as apropriações dessa lenda pelo idioma. De saída, quem demonstraria algum interesse por uma proposta dessas (e pergunto o mesmo sobre São Jerônimo, por exemplo)?

Acontece que o cineasta não está preocupado com nada isso, e continua a fazer filmes ricos em simbologia e nem aí para padrões de um certo cinema realista, ou aquele preocupado com temas e discussões nacionais. O mundo não é o bastante para Bressane, o tempo dele não é necessariamente hoje e, por isso mesmo, Cleópatra caiu como um OVNI no Cine Brasília. Para quem não aceitar o jogo, será fácil reparar no sotaque risível de Alessandra Negrini e na pose cafajeste de Miguel Falabella (como Júlio César). O amontoado de tecidos também sugere um quê carnavalesco, mas nada que o diretor não tivesse previsto. Ele ainda se movimenta entre o clássico e o popular, não tem medo de vulgaridades e, sem o menor pudor, faz a musa disparar o seguinte desabafo: “Não sou sua rameira egípcia que ao primeiro sinal se arreganha”.

Curiosamente, o filme narra uma trama com início-meio-fim, só que confinada quase sempre em dois grandes estúdios e com forte carga teatral. Não chega a ser o deslumbramento de Filme de amor, mas é o retorno de um cineasta verdadeiramente radical. Este cinema é dele e de mais ninguém. Eu estou entre os que topam a provocação. 

Meu mundo em perigo **

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Duas história de vida ligadas por um acidente de trânsito. Mas não é exatamente o que você está pensando.

Existe sim esquematismo na trama do terceiro longa de José Eduardo Belmonte – no modo como os personagens se esbarram e acertam contas -, mas o filme deixa claro que isso é o menos importante: estamos em um melodrama sobre relações familiares que se preocupa em extrair de cada cena o máximo de emoção, de fricção explosiva entre os atores. Curioso como o mesmo “acaso” que ajuda a movimentar o roteiro (em alguns momentos, de forma truncada) atua positivamente dentro desse método de filmagem arejado, intenso, que pode até ser encarado como uma grande homenagem à escola Cassavetes – por isso mesmo, o filme vai ser elogiado à rodo por uma certa crítica em sintonia com esse olhar.

É o melhor filme de Belmonte, e talvez o único cuja realização estaria à altura da idéia inicial (é, de certa forma, um aperfeiçoamento da narrativa aberta de Subterrâneos, com trechos de forte carga documental). É tudo, no fim das contas, uma questão de criar a atomosfera certa para os sentimentos à flor da pele dos personagens – a trilha sonora à macumba-zen, ótima, dá a senha para esse transe. Só não consigo ainda compartilhar (e esse é um problema meu, entenda) o lirismo meio naif do diretor, que extrapola nos ápices de romantismo do filme – uma das cenas, num quarto de hotel, é quase decalque de Kar-wai. De qualquer forma, é um avanço. Tem chances de prêmios aqui no Festival de Brasília e deve virar cult.

Amigos de risco *

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O Festival de Brasília abriu a mostra competitiva com este pequeno longa pernambucano, gravado em digital com orçamento reduzidíssimo. Antes da exibição, o diretor Daniel Bandeira, 28, admitiu que o simples fato de participar de competição já podia ser encarado como vitória. Encaremos assim, então.

É um filme muito modesto, mas que disfarça certa ambição – registrar a noite de Recife em digital, por exemplo, ou incluir uma cena de perseguição que parece até homenagem a Colateral. Nos primeiros 20 minutos, desenvolve um bom trabalho de elenco. Os atores ganham espaço para apresentar cada personagem, sem pressa, e há um cuidado interessente em preservar sotaque, gírias, a espontaneidade das situações. Até aí, vale.

Quando o conflito principal entra em cena – numa noitada em que absolutamente tudo dá errado, um homem apaga e é carregado por dois amigos -, esse esforço todo parece desabar lentamente aos olhos do público. Na platéia, alguns notaram um quê de Depois de horas, outros identificaram parentesco com Um morto muito louco, outros contaram os minutos para o fim da sessão (e o longa tem 88 minutos). Uns riram com o filme, outros riram do filme. Parece haver uma tentativa de flertar com o nonsense (o diretor se diz influenciado até por blaxploitation), mas o que salta aos olhos mesmo é um texto muito pueril, aflito por enumerar as crueldades de um mundo em que, como dizia aquela música do Detrito Federal, ninguém ajuda ninguém. Um cinema feito com vontade, mas ainda cronicamente inviável.

Viagem a Darjeeling **

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Pausa obrigatória durante o Festival de Brasília.

Ainda que…

Wes Anderson é Wes Anderson, mas vamos combinar: este aqui não chega aos joelhos de A vida marinha com Steve Zissou, e (nos momentos menos inspirados, infelizmente não são poucos) ajuda a revelar como Anderson parece empacado no território que escolheu como habitat. Nada contra cineastas que dirigem um mesmo filme várias vezes, mas ele deixa a impressão de estar muito, muito confortável no playground das amargas crônicas familiares.

É um filme preocupante, mas ainda assim muito bonito de se ver. O diretor demonstra um domínio cada vez maior da própria gramática (os movimentos de câmera, o uso de câmera lenta com canções de rock, a fotografia deslumbrante, tudo funciona às mil maravilhas) e parece lapidar aos poucos um tipo de sarcasmo sutil, bem particular. É um dos filmes mais enxutos dele, e isso pode ser interpretado como sinal de amadurecimento. A idéia de acrescentar um curta-metragem como prólogo – com registro ainda mais melancólico – é ótima (ainda que o curta em si tenha me parecido de um romantismo absolutamente juvenil).

Minha boa vontade, no caso, é infinita. Mas não vou conseguir assistir a mais um típico filme do diretor sem pensar em como Anderson anda fazendo filmes cada vez mais seguros e previsíveis. A começar por este aqui.

Proezas de satanás na vila de Leva-e-Traz ***

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Lá vamos nós de novo (e espero que desta vez eu não receba ameaças de morte de cineastas maníacos).

Na abertura do Festival de Brasília, geralmente a organização opta por um longa brasiliense inédito. Mas, já que é tempo de comemorar os 40 anos da mostra, desta vez preferiram um resgate até bem interessante. O filme de Paulo Gil Soares, de 1967, venceu a terceira edição do festival e foi muito pouco visto desde então. O diretor não queria exibi-lo novamente – mas, depois de morto (em 2000), a família tratou de recuperar as poucas cópias existentes (apenas duas, parece). O trabalho de restauração foi bem cuidadoso, e finalmente podemos conhecer o único vencedor de Brasília quase condenado ao esquecimento.

O filme retrata bem um cinema nordestino ainda impactado pelo vendaval chamado Deus e o diabo na terra do sol. Numa primeira impressão, impressiona o trabalho despirocado do diretor com o universo da literatura de cordel – nos diálogos, nos temas mirabolantes, na estrutura mezzo nonsense da trama, mas também nas belas canções de Caetano e Gal (pré-Tropicália). Os elementos da narrativa são usados como símbolos políticos – o diabo, por exemplo, representa o capitalismo -, o que confina o filme em uma época bem específica da produção brasileira. Curioso ter vencido o festival já durante a ditadura militar, sob controle cerrado da censura: talvez os militares tenham se deixado levar pelo bom humor do longa e esquecido do retrato de um país desamparado que existe – e pulsa – nas profundezas desse cinema que, simultaneamente, brinca e fala muito sério.

Jogos mortais III °

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Provavelmente um dos filmes mais grotescos que já vi – e isso, num dia de bom humor, talvez teria contado como ponto positivo.

Digo provavelmente por que o quarto episódio, que não verei tão cedo, deve ter ido ainda mais longe em matéria de detalhes cirúrgicos doentios.

E assim me preparo para o Festival de Brasília, que começa hoje.

FicBrasília 2007

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O Festival Internacional de Cinema de Brasília (FicBrasília) surpreendeu e está decente. Alguns filmes que vão passar por aqui, a partir do dia 30 (dois dias depois do encerramento do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que começa amanhã):

4 meses, 3 semanas e 2 dias, Cristian Mungiu
A coragem de amar, Claude Lelouch
A era da inocência, Denys Arcand
A espiã, Paul Verhoeven
A retirada, Amos Gitai
A vida dos outros, Florian Henckel von Donnersmarck
Amor em tempos de cólera, Mike Newell
Angel, François Ozon
À prova de morte, Quentin Tarantino
Cada um com seu cinema
Canções de amor, Christophe Honoré 
Cochochi, Israel Cárdenas
Crimes de autor, Claude Lelouch
Delirious, Tom DiCillo
Desejo e reparação, Joe Wright
Déficit, Gael Garcia Bernal
Exuberante deserto, Dror Shaul
Fay Grim, Hal Hartley
Império dos sonhos, David Lynch
Iraque em fragmentos, James Longley
Irina Palm, Sam Garbaski
I’m not there, Todd Haynes
Inútil, Jia Zhang-ke 
Jogo de cena, Eduardo Coutinho
Lust, caution, Ang Lee
Nascido e criado, Pablo Trapero
O clube de leitura de Jane Austen, Robin Swicord
O jogo de vida e morte, Kenneth Branagh
Paranoid park, Gus Van Sant
Redacted, Brian de Palma
Saving Grace, Tom Kalin
Sempre bela, Manoel de Oliveira
Shortbus, John Cameron Mitchell
Smiley Face, Gregg Araki 
O sol, Alexander Sokurov 
Sombras de Goya, Milos Forman
SOS saúde, Michael Moore
The banishment, Andrey Zvyagintsev
Um amor jovem, Ethan Hawke
Vocês, os vivos, Roy Andersson 
XXY, Lucia Puenzo 

Ainda vai ter mostra de Joaquim Pedro de Andrade e uma seleção de três filmes de Hou Hsiao-Hsien (Three times, Millenium mambo e Dust in the wind).

Vou tentar acompanhar as duas maratonas aqui no blog.

No vale das sombras *

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A bandeira norte-americana é hasteada de ponta-cabeça. A imagem bastaria, mas não num filme de Paul Haggis. Aqui, o veterano do Vietnã – e isso logo numa das primeiras cenas – notará o problema, descerá a bandeira e nos explicará o significado simbólico daquela ação.  Um parágrafo sem entrelinhas.

O tom da narrativa parece se distanciar do mosaico didático de Crash – mas seria tão diferente assim? Novamente, Haggis explora as vítimas de uma América em eterna crise de valores (e a metáfora grosseira da bandeira não nos deixa margem para outra interpretação). Mais uma vez, força conexões entre um momento histórico (no caso, a Guerra do Iraque) e os dramas particulares dos personagens. Talvez a maior novidade esteja no registro: menos espalhafatoso, mais sóbrio, guiado por uma interpretação emocionada de Tommy Lee Jones. É melhor, mas Haggis continua Haggis.

Simplório assim, ele perde a boa oportunidade de soar contemporâneo, principalmente pela forma desinteressada como explora a questão das imagens captadas por soldados, enclausuradas em celulares como poderosos códigos secretos. Opta por uma modorrenta trama de mistério que, por fim, nos leva a um lugar onde sempre estivemos: à denúncia dos horrores da guerra, que transforma bons meninos em soldados cruéis. E, lá no desfecho, ainda retornaremos à imagem da bandeira norte-americana, de ponta-cabeça.

Haggis mastiga e mastiga. Há quem engula.

Lady Chatterley ****

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Para um filme de imagens tão fortes, óbvia conseqüência: me deixou quase sem palavras.

A descoberta do corpo e do mundo, em 168 minutos que passam como uma vida inteira.