Os discos da minha vida (35)
A saga dos 100 discos mais faiscantes da minha vida chega a um episódio que é pura apoteose e delírio, rapaziada. Um fogaréu tão intenso que, ao fim do post, só sobreviverão as baratas e – é claro – este ranking sentimental.
Resolvi o seguinte: mesmo que este blog pendure o All Star (é provável), esta odisseia aqui só vai terminar quando chegar ao fim. Combinado? Combinado.
Puxe a cadeira, portanto. Tome um suco de maracujá, um antisiolítico, escreva uma carta longa para a namorada, faça planos para os netinhos, vá grampeando todas as contas de luz e água dos últimos seis meses, ocupe-se. A atividade recreativa não termina cedo.
A partir de agora, todos os discos da lista me levam de volta à minha adolescência e, por isso, vão me fazer chorar feito um bebezinho. Vou sofrer. Vai ter mágoa. Vai ter saudade. Vai ter lembrança cruel. Fica, sensatez. Bróder, veja isto: não consigo ouvir vários desses discos (eles abrem o baú dos meus sentimentos), quiçá escrever sobre eles!
Eu deveria ficar bem quieto. Bico fechado. Ou pedir para outras pessoas escreverem parágrafos distanciados, técnicos. Ou recortar e colar trechos do Wikipedia e do All Music Guide. Ou jogar vinte clichês no liquidificador aqui de casa e postar a vitamina. Não sei. É tudo muito estranho. É tudo muito abstrato. É tudo muito louco, gente.
Certo, sem piadinhas. Vamos aos discos, antes que eu entregue os pontos, perca a cabeça e mate um porco (o download é obrigatório, ok?).
032 | Odessey and oracle | The Zombies | 1968 | download
Eu sei, eu entendo: os seus amigos não conhecem esta obra-prima do Zombies porque ela não paralisou o mundo com surpresas instantâneas (caso de Sgt. Peppers) nem entrou para o livro sagrado dos discos intocáveis, nossos cânones (caso de Pet sounds). Mas é prudente aceitar o óbvio: isto aqui não quer ser uma revolução, mas uma síntese de tudo o que conhecemos por psicodelia britânica, em canções contagiosas, mas também delicadas, que vão se abrindo e nos envenenando feito flores exóticas (é uma metáfora kitsch, ok, tá certo, mas ninguém procura comedimento no pop barroco). Com apenas 35 minutos, e faixas que obrigam reprises infinitas, foi um dos discos que ouvi mais vezes. Uma obsessão que me transformou num fã de rock para sempre frustrado: procuro discos tão extravagantes e bonitos quanto este, quase nunca os encontro. Top 3: A rose for Emily, Time of the season, Friends of mine.
031 | Wowee zowee | Pavement | 1995 | download
O Pavement gravou discos BEM melhores, não gravou? Crooked rain, crooked rain, de 1994, é todo perfeitinho. Slanted and enchanted, de 1992, certamente sai como o mais importante. Mas o meu preferido é Wowee zowee, o “álbum branco” de uma banda arteira demais para levar a sério a ideia de gravar um “álbum branco”. A palavra que mais se usou no lançamento do disco foi ‘ecletismo’. Eu prefiro outra: ‘excessos’. Excessos saudáveis, diga-se. Com acenos a Frank Zappa, um quê de country rock e outro de hardcore, a banda rejeita se enquadrar a qualquer gênero (indie rock, ã-hã) e lança como single uma faixa que, nos anos 70, seria tachada de soft rock (Rattled by the rush). A revista Rolling Stone deu nota baixa. Enquanto isso, eu adotava o CD como uma espécie de segredo perverso, que pouca gente entenderia. Uma piada interna. E assim ficou. Top 3: Father to a sister of tought, Grounded, We dance.
abril 12, 2011 às 8:59 pm
Engraçado, o disco que eu gosto e ouvi menos dos Pavement é o Slanted and Enchanted. Gosto bem mais dos discos do meio, este, Brighten the Corners e Crooked Rain, Crooked Rain (talvez o meu preferido). Nos últimos tempos, e à conta do concerto que vi deles em Barcelona, aprendi a gostar do Terror Twilight.
abril 12, 2011 às 9:20 pm
Pra mim fica assim: Wowee Zowee > Crooked Rain > Slanted and Enchanted > Brighten the corners > Terror twilight. E gosto muito do Terror twilight.
abril 12, 2011 às 9:25 pm
Odessey & Oracle – simplesmente maravilhoso.
abril 12, 2011 às 9:53 pm
Até a Bruna Surfistinha curte Zombies! E ‘This will be our year’ é o hino de todo 1º de janeiro.
abril 12, 2011 às 9:59 pm
Sem discussão, Daniel.
Samuel, Bruna Surfistinha entende das coisas. Não era ela que tinha um blog de cotações para discos de rock dos anos 60?
abril 12, 2011 às 10:16 pm
Amo Pavement, mas não vejo muita graça em Wowee Zowee.
Nunca ouvi o do Zombies.
abril 12, 2011 às 10:19 pm
“mesmo que este blog pendure o All Star (é provável)”
Vai começar?
abril 12, 2011 às 10:23 pm
Esse disco do Zombies talvez seja meu favorito dos anos 60 – pau a pau com Dusty in Memphis da Dusty Springfield.
Surpreendente o Wowee Zowee – que eu acho bem maneiro, mas sou mais os dois primeiros mesmo.
abril 13, 2011 às 12:47 am
Zombies eu tenho escutado muito ultimamente, perfeito é pouco. No mesmo nível só o “Forever Changes” do Love.
Esse do Pavement não ouvi, deles prefiro o Crooked Rain.
abril 13, 2011 às 1:57 am
Ouça, Diego, você vai pirar.
Ih, Daniel, tenho muitos outros preferidos dos anos 60, ainda vão aparecer na lista. Dusty já apareceu.
Forever changes é maravilhoso, Ricardo. Stay tuned.
abril 13, 2011 às 4:39 am
Hummmm, pelo visto a singela confraria californiana de mr. Arthur Lee dará o ar da graça por essas bandas… Maravilha!
Um álbum que joga uma pérola desse quilate pra escanteio não pode ficar de fora de nenhuma celebração: http://www.youtube.com/watch?v=MeaOM7rMfog
abril 13, 2011 às 2:10 pm
Não poderia faltar, Samuel.
abril 14, 2011 às 11:55 am
Que feliz encontar Zombies na sua lista!!! Odessey and Oracle é simplesmente maravilhoso!!! Houve tempo que não saía da minha playlist. Agora deu até saudade de ouvir de novo. :D
abril 16, 2011 às 5:54 pm
Legal o Wowee Zowee na lista. Acho tão bom quanto os dois primeiros do Pavement.
abril 18, 2011 às 7:43 am
Legal! Vou baixar o The Zombies, que nao conheço. (E o que é “pendurar o All Star?)
abril 18, 2011 às 7:46 am
Vixi. O comentário aí de cima é meu. Sorry, Michel!!
abril 18, 2011 às 9:41 am
E eu pensando: bacana, o Michel vai baixar Zombies! Hahaha. Legal, Ailton, baixa lá, é bom pacas.
E pendurar o All Star equivale a ‘pendurar a chuteira’, se é que você me entende.
abril 18, 2011 às 2:07 pm
Se aposentar? Mas de que? Do blog?? Recebe pelo menos alguma coisa do INSS por isso? hehehe
abril 19, 2011 às 4:51 pm
Tô ouvindo o do Zombies desde o dia desse post aqui. Nunca tinha ouvido inteiro, mas já conhecia algumas (impossível alguém nunca ter ouvido Time of the Season mesmo sem querer). E tô apaixonado, obrigado :D
maio 1, 2011 às 8:27 pm
Pra mim fica assim: Wowee Zowee > Slanted and Enchanted > Crooked Rain > Terror twilight > Brighten the corners. E gosto muito do Brighten the corners.
Na verdade as posições sempre mudam, mas em geral quem fica em primeiro sempre é o Wowee e o Slanted.
agosto 6, 2011 às 3:40 am
cara, eu não consigo escolher o meu disco preferido do pavement. Me pedir uma coisa dessas, é como me dar um tapa na cara. Simpesmente não consigo.. Mas eu digo uma coisa.. Wowee Zowee é delicioso também, assim como todos os discos Pavementianos. Aproveito também para parabenizar seu blog, que é duka, e para lhe pedir uma coisa: no disco “pig lib” do SM, tem alguns bônus trcks, e entre esses, uma musica chamada “Dynamic Calories”, entre outras…. acontece eu tinha o Pig Lib baixado, com todas essas faixas extras, porém, isso foi há um tempo atrás, e acabei perdendo esses arquivos, e agora não encontro em lugar nenhum para baixar novamente.. :(….. Eu até encontrei arquivos em torrent com essas faixas extras, mas já está há um mês aqui no meu utorrent, mas não baixa, porque não tem seeders…. será que vc faria a boa ação de disponibilizar isso para baixar?? Desde já, agradeço!