Os discos da minha vida (23)

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Hoje este ranking é só saudade. A saga dos meus 100 discos inesquecíveis chega a uma episódio um tanto choroso, um tanto blue, mas nada grave: pode parecer incrível, mas voltei a ser um menino de 15 anos, ansioso e febril, que anda pelas ruas sem ouvir o barulho dos carros e nem dorme direito de tanto pensar nela. Olho para as nuvens e vejo desenhos engraçados. No trabalho, não me concentro. Sorrio quando os casais se abraçam. 

Eu sei, meus bróderes: soa como uma enxurrada de sentimentos perturbadores. Mas estou me sentindo muito bem, obrigado.

É claro que ela faz falta, está longe, e isso machuca um pouco. Mas, por outro lado, ela se faz sempre tão presente que é como se a distância encurtasse. Entre uma e outra chamada de longa distância, vamos enganando o calendário até o próximo voo, que não demora. Pode parecer uma tortura. Mas estamos bem, obrigado.

Meu único desejo, neste momento, é que a sensação não vá embora. Talvez ela não vá, quem sabe? Me descobri um otimista.

Por tudo isso vocês notarão nos novos textos deste blog – e, por consequência, nesta saga que não acaba nunca – algo de juvenil, de muito ingênuo. Que sou eu na minha expressão mais sincera, eu em janeiro de 2011, eu abobado encarando a parede branca do meu quarto, eu queimando parágrafos com lirismo de colégio, eu num momento da minha vida que ainda me enche de surpresa e alegria. 

Com o tempo, vou explicar melhor o que acontece. Enquanto não consigo, abro minha estante e tiro mais dois discos que talvez vocês gostem de ouvir – talvez vocês precisem ouvir (são dois álbuns que marcaram a minha vida e a vida de uma multidão). Talvez vocês se apaixonem por eles. E aí talvez vocês entendam mais ou menos em que pé estou.   

056Bringing it all back home | Bob Dylan | 1965 | download

Entre todos os discos de Bob Dylan, Bringing it all back home era o favorito dos meus 15 anos de idade, um pouco antes de eu descobrir Nashville skyline e Blood on the tracks. Com o tempo entendi o motivo de tanto fascínio: é o disco em que Dylan bagunça o quarto de brinquedos, talvez entusiasmado demais com todas os objetos coloridos que estão espalhados no chão. É, para efeitos de história do pop, um álbum de transição: metade folky, metade elétrico, o prenúncio da revolução de Highway 61 revisited (também de 1965), mas já surreal e enigmático como as obras-primas que ele gravaria daí em diante. Uma diferença em relação aos outros: neste aqui, Dylan faz a invenção mais sofisticada soar como um hobby, uma brincadeira, uma ideia de diversão. Top 3: Maggie’s farm, Subterranean homesick blues, It’s alright ma (I’m only bleeding).

055 | Music from Big Pink | The Band | 1968 | download

Não foi proposital organizar este encontro extraordinário, dentro de um post, entre o meu disco favorito da The Band e um dos meus preferidos do Bob Dylan. Mas, forçando a amizade, acredito que eles têm semelhanças que vão muito além do fato de que a sonoridade da The Band foi em grande parte amadurecida nos shows de Dylan, com quem se apresentou anos antes. São dois discos que exalam um ar de descoberta. Dylan descobria aos poucos um estilo; já a The Band encontrava uma forma de condensar várias das referências que moldaram o fim dos anos 1960: o rock, o country, o folk, a psicodelia, a contracultura, as estradas sem fim, a cultura hippie, a saudade das tradições. Nasciam os fundamentos do country rock. Todo esse estado-de-coisas cultural inserido naturalmente num disco de 11 músicas. O tipo de fenômeno que não acontece sempre. Mas aconteceu. Top 3: This wheel’s on fire, The weight, I shall be released.

24 comentários em “Os discos da minha vida (23)

    guilherme semionato disse:
    janeiro 18, 2011 às 2:31 am

    o big pink é supersuperb mesmo.

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 18, 2011 às 2:32 am

    Eu gosto de todos os outros discos da The Band, sou muito suspeito pra falar sobre eles. Mas o Big Pink é favorito mesmo, não vou mentir.

    Daniel disse:
    janeiro 18, 2011 às 2:48 am

    Music from the Big Pink é sensacional, fiquei chapado quando ouvi pela primeira vez. Faz um tempinho q não ouço, mas lembro do impacto. Há umas canções devastadoramente belas nesse disco, como “Tears of Rage”, “Lonesome Suzie” e a já citada “I Shall be Released”. Acho q já deu pra perceber q eu sou fissurado em country-rock, e esse disco é um dos definidores do estilo.

    E Tiago, a melhor maneira de fazer a sensação não sumir é não se preocupar com isso, simplesmente deixe a coisa fluir. Acredite cara, tudo dá certo no fim.

    Pedro disse:
    janeiro 18, 2011 às 3:22 am

    Cara, eu te entendo completamente nos primeiros parágrafos, pq eu também estou gostando de uma menina que não mora na minha cidade, e sei muito bem como é isso. Mas também te entendo pelo outro lado pq também estou vivendo um dos melhores momentos da minha vida hehe. E Dylan é Dylan né. Blood on the Tracks é realmente O álbum dos relacionamentos que deram errado. Blonde on Blonde é outro álbum genial, e assim vai. Esse de hoje eu não ouvi ainda, só Subterranean Homesick Blues. Mas já estou corrigindo a vergonha e baixando os dois (do The Band também) de uma vez só haha.

    Pedro disse:
    janeiro 18, 2011 às 6:12 am

    E claro, Mr. Tambourine Man também!

    Alê Marucci disse:
    janeiro 18, 2011 às 11:15 am

    Esses discos eu não conheço, embora eu tenha até bastante coisa do Dylan, tanto em CD como em MP3.
    Baixei os dois pra engrossar a minha já inchada lista de discos a serem ouvidos.
    Ah, e eu estou muito, muito bem, obrigada, e bem confiante de que a gente não vai deixar que essa sensação nos deixe. :)

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 18, 2011 às 2:38 pm

    Daniel, o disco seguinte, ‘The Band’ é quase tão genial quanto. E a base toda do coutnry rock tá aí. Um fã da primeira fase do Wilco que ouve um desses discos começa a perceber que o maior talento do Jeff Tweedy não é exatamente a originalidade, hehe.

    Isso aí, Pedro, sentimentos conflitantes e a sensação de que tudo vai dar certo. Você entende o que digo, então. Eu gosto de todos os discos do Dylan, até dos mais polêmicos, mas Blonde on Blonde e Highway 61, apesar de indiscutíveis e tudo o mais, não vão entrar neste ranking aqui.

    Baixe sim, Alê. ‘Bringing it all back home’ é a primeira obra-prima do Dylan e sempre foi um pouco subestimado em relação aos que vieram depois. O impressionante é que ele tem uma quantidade absurda de músicas que marcaram época.

    Pedro Primo disse:
    janeiro 18, 2011 às 5:42 pm

    Acho que sou o único ser no universo que prefere “Freewheelin’ Bob Dylan” a qualquer outro disco dele, hahaha. Mas esse é genial também, como quase tudo que o cara fez.

    Taís Rodrigues disse:
    janeiro 18, 2011 às 5:44 pm

    E não é que os votos de um 2011 melhor estão se concretizando? Bom saber que o melhor blogueiro do mundo está feliz.
    Pelo visto Nashville skyline e Blood on the tracks vão aparecer futuramente na lista, estou certa? O Blood on the tracks é meu Dylan favorito. E Bringing it all back home foi meu primeiro Bob Dylan, cantava Maggie’s Farm altíssimo e totalmente errado.
    Acredita que nunca ouvi nada do The Band? Resolverei essa pendência ainda hoje. Volto pra te falar o que achei.

    Top 50 cada vez mais perto…

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 18, 2011 às 6:12 pm

    Pedro, ‘Freewheelin’ é ótimo também. Aliás, você TEM que ouvir o Bootleg series novo, que pega as gravações demo dessa fase folk do Dylan. 2h30 de música e muita coisa boa, recomendo.

    Taís, 2011 tá surpreendente mesmo. :) E “melhor blogueiro do mundo” é, no mínimo, o maior exagero do mundo, haha. Ouça The Band AGORA, você vai adorar. E eles aprenderam muito com o Dylan.

    Top 50 chegando e, a partir de agora, muitos clássicos.

    humberto junior disse:
    janeiro 18, 2011 às 6:18 pm

    nunca ouvi esses discos antes, to comecando a ouvir bob dylan, blood on the tracks como eu ja falei num outro comentario, é uma das coisas mais bonitas que eu ja ouvi, ahhhhh e… SUPEROITO TA NAMORANDO LALALALALA SUPEROITO E ALÊ DEBAIXO DA ARVORE SE BEIJANDO LALALALALALA SUPEROITO TA NAMORANDO (8)

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 18, 2011 às 6:20 pm

    Tava demorando, hem, Humberto.

    humberto junior disse:
    janeiro 18, 2011 às 6:32 pm

    huasuhashuashuashuashuashuashuashuas acertei que é a alê, ou ela eh apenas outra “colega de trabalho”? jaisijashuasuhaushas

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 18, 2011 às 7:04 pm

    Tá certíssimo, Humberto.

    Felipe Queiroz disse:
    janeiro 18, 2011 às 7:18 pm

    ahahah.. eu já desconfiava desse clima…

    Bringing it all back home foi por um período o meu disco favorito do Dylan, talvez porque foi o primeiro que ouvi. O meu preferido da The Band é o autointitulado de 69, que é um pouco mais pra cima.

    O negócio tá começando a ficar bom :)

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 18, 2011 às 7:26 pm

    Também gosto muito desse disco do The Band, Felipe, quase tanto quanto de Big Pink. São geniais.

    humberto junior disse:
    janeiro 18, 2011 às 8:31 pm

    hahahaha ganhei 5 pontos por ter descoberto com quem o supa ta namorando. e eu escolho trocar 1 desses 5 pontos por “as melhores bandas brasileiras para vc q qse nao conhece nada feito no brasil, as melhores e mais classicas”.

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 18, 2011 às 8:41 pm

    Não é muito difícil essa, Humberto. Tá anotado.

    Michel Simões disse:
    janeiro 19, 2011 às 1:06 am

    as coisas mudam a cada dois segundos, Tiago, eu te falo isso sempre hehe

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 19, 2011 às 1:40 am

    ô! mudam totalmente.

    Diego Maia disse:
    janeiro 19, 2011 às 7:21 pm

    Teu Dylan preferido é Blood on the Tracks?

    Nunca fui muito fã dele, mas adivinha o meu? :P

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 19, 2011 às 7:57 pm

    É Blood on the Tracks, Diegão.

    Diego Maia disse:
    janeiro 20, 2011 às 12:14 am

    O meu é o Highway mesmo.

    Tiago Superoito respondido:
    janeiro 20, 2011 às 12:22 am

    Ah tá, é obra-prima também.

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