Star Trek

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Star Trek, 2009. De J.J. Abrams. Com Chris Pine, Zachary Quinto, Simon Pegg, John Cho, Leonard Nimoy e Eric Bana. 126min. 6.5/10

Um amigo meu, um tanto perplexo com a situação toda: “A campanha de marketing de Star Trek é tão eficiente que estou me roendo de ansiedade pelo retorno de uma série que sempre desprezei.”

É o sonho de toda equipe de publicidade, não é? Já nos primeiros trailers deste filme, quando bati o olho naquele azul-pastel meio rosado rasgando a tela, admito que comecei a sentir saudades de um hobby que nunca tive, de um passado que nunca vivi – de sensações que talvez tenham evaporado da minha memória para ceder lugar a lembranças mais interessantes.

Fatos: não sou trekker. Não conheço nenhum trekker. Não acompanhei os episódios da série original, criada por Gene Roddenberry em 1966. Não me interessei por nenhum dos longas-metragens inspirados no programa de tevê. Eu poderia ter movido minha bunda e assistido a filmes como Generations, de 1994, ou First contact, de 1996. Preferi ficar em casa. Provavelmente assisti a algum deles há muito tempo: quando penso nessa saga de ficção-científica, tudo o que lembro é de um grupo de homens uniformizados conversando sobre assuntos complicados demais, ou pueris demais, ou tolos demais – temas e manias que, somados uns aos outros, nunca me interessaram.

Quando eu era pequeno, usavam Star Trek como um argumento infalível para ressaltar as qualidades de Star Wars. Sabe-se lá por que razão, o tempo fez justiça aos fracos e renegados. Veja só: o novo Star Trek pode sim ser empunhado como arma por aqueles que desejam desancar os Star Wars mais recentes. É uma atualização jovial de (mais) uma franquia envelhecida.

Rejuvenescer a tripulação da Enterprise permite ao filme a criação de um elo firme entre antigos fãs e um público novo e/ou desinteressado. Em vez de zerar o placar e criar novos paradigmas para a franquia, o novo capítulo preserva antigos métodos como uma forma de “respeitar” o original. Os efeitos visuais seriam mais modestos, mas cenas de abertura poderiam estar em qualquer um dos filmes anteriores: lá estão os homens uniformizados dentro de uma nave, flutuando no espaço, combatendo um vilão monstruoso que poderia habitar nossos pesadelos mais infantilizados.

Depois dos créditos iniciais, porém, vem o primeiro golpe de J.J. Abrams. Mais para Missão: impossível III que para Lost, a sequência de ação (embalada por Sabotage, dos Beastie Boys) acompanha as estripulias de um pequeno James T. Kirk com vocação para Vin Diesel. É o suficiente para convencer-nos de que aquele não será mais um Star Trek. E talvez o bastante para explicar aos antigos fãs de que os tempos mudaram. O que se vê a partir daí um jogo de estica-e-puxa entre a intenção de homenagear a série dos anos 60 e o projeto de renová-la.

De uma forma ou de outra, o filme funciona. É uma palavra adequada, já que Abrams filma com o pragmatismo de quem produz um episódio-piloto que precisa dar certo. Cada um dos elementos do filme é formatado para agradar a uma determinada fatia da audiência (dos nerds, que provavelmente adoram os longos diálogos sobre buracos negros, às adolescentes animadíssimas com a cena em que o rebelde Kirk aparece só de cueca). O truque usado pelo roteiro para justificar a trama – viagens no tempo, ora! – parece conter duas ou três piadas internas que só os fãs da quinta temporada de Lost entenderão.

Abrams filma o roteiro de Roberto Orci e Alex Kurtzman (ambos de Transformers, anote aí) como uma aventura de ação. Os conflitos são desatados na velocidade da luz e, muitas vezes, resolvidos no braço. A Enterprise é recauchutada como um parque luminoso, de cores que cintilam na tela como a vitrine de uma loja de doces. Os atores recuperam as fragilidades de personagens que já soavam como caricaturas. Construir a relação de amizade entre Kirk e Spock parece tão importante para o roteiro quanto desenvolver sucessão de eventos que pode dar na destruição do planeta Terra (mas que ninguém espere a angústia provocada por Presságio, ok?).

O novo Star Trek reinicia a franquia com bastante competência. Abrams ainda me parece filmar de modo excessivamente técnico, impessoal, um produtor com uma câmera. É um filme correto. Que se beneficiará das baixíssimas expectativas de quem nunca entendeu os trekkers (e de quem assistiu ao trailer do novo Transformers, aparentemente tenebroso). E que contará com a torcida dos fãs. Mas aí nem vale: eles sobreviveram a filmes que, colocados em perspectiva, transformam qualquer episódio de Lost em obra-prima.

25 comentários em “Star Trek

    rafagoom disse:
    maio 9, 2009 às 10:56 pm

    Eu também fui público alvo desse novo Star Trek. Não sei (quase) nada da história original. Me emocionei no início do filme, ri com as piadas e fiquei apreensivo nas cenas de luta. Mas foi só isso, não quero uma seqüência. Na verdade tenho medo que quebrem o novo brinquedo. É um bom filme? Pra mim foi =)

    E esse trailer de Transformers, hein? Não me animou.

    Tiago Superoito respondido:
    maio 9, 2009 às 11:24 pm

    Mas acho que a sequência é quase certeza…

    netiteve disse:
    maio 10, 2009 às 1:57 am

    Discordo que Abrams filma de forma impessoal. O domínio técnico em cenas de ação e diálogos é a marca pessoal dele. Talvez ele não tenha é um estilo, como Spielberg, que faz todos os filmes com a mesma batida, o que faz qualquer expectador ver poucas cenas e reconhecê-lo na hora.

    Esse filme está bem distante de todas as formas anteriores de direção já vista na cine-série. Pra falar a verdade, quase todos tinha o mesmo jietão da tv, e tirando o primeiro, do Robert Wise, é apenas (ou finalmente) o Abrams que deixa o ritmo com cara de cinemão.

    A melhor decisão que ele teve como produtor foi assumir a direção do filme. Talvez se fosse outro diretor tudo ficaria igual ao já visto e a renovação teria dado errado.

    Outra coisa que ele fez foi salvar o roteiro fraco da dupla Orci e Kurtzman (que não boto fé nenhuma). Infelizmente eles irão escrever a sequência e Abrams já avisou que não dirigirá.

    E fica a pergunta: quem dará personalidade a um futuro roteiro de roteiristas que casam bem apenas com Michael Bay?

    Bom, o importante é que a franquia está novamente viva. E talvez prospere.

    Filipe Furtado disse:
    maio 10, 2009 às 4:14 pm

    Netileve, o lado mais cinematografico deste filme é mais de produção que direção. Os Star Treks nunca tiveram produção muito grande, o que ressaltava como mesmo os melhores filmes (o segundo e o quarto) pareciam um episioduplo de fim de temporada.

    Tiago Superoito respondido:
    maio 10, 2009 às 10:01 pm

    Não posso afirmar que os filmes pareciam ou não episódios da série (não assiti à série), mas confio no que o Filipe escreveu.

    cavalca disse:
    maio 10, 2009 às 11:46 pm

    O primeiro filme é o que mais tem cara de cinema. E é um dos piorzinhos.

    A força da cinessérie sempre esteve mais nos roteiros (destaco o 2, o 6 e o 8).

    Se bem que o Nemesis, o (agora segundo) mais recente – tem produção nível Star Wars. Pena que o filme é completamente insípido.

    cavalca disse:
    maio 10, 2009 às 11:48 pm

    Ouvi uns papos de que o Damon Lindelof de Lost escreveria o próximo. Seria uma mão na roda. Chama o Jack Bender pra dirigir que já serve.

    Pra uma franquia que já teve o Shatner dirigindo…

    Liga dos Blogues Cinematográficos disse:
    maio 10, 2009 às 11:54 pm

    Eu entendo o raciocínio, mas discordo de que o filme é impessoal. Pelo contrário, acho que é um trabalho que tem muito de emotivo, mas que sabe colocar essa emoção no lugar certo.

    Tiago Superoito respondido:
    maio 11, 2009 às 12:47 am

    Cavalca, também acho que o interessante seria chamar logo e Lindelof e o Cuse pra escreverem o roteiro e chamar qualquer diretor envolvido com Lost para dirigir. Não descarto o J.J. Abrams. Acho que o cara é competente. Ele vai lá e faz o trabalho direitinho. Mas duvido que Star Trek ou MI3 fiquem como filmes memoráveis. São eficientes. Vão lá e cumprem o papel. É outra coisa.

    Chico, não consegui ver nada de muito emotivo. Mas enfim: há melodramas de tevê bastante emotivos e dirigidos de forma impessoal. Vejo a direção de J.J. Abrams como bastante típica de uma cultura de séries de tevê. Você poderia ter colocado o Jack Bender ou o Stephen Williams no lugar (com Abrams produzindo) e o resultado, aposto, seria praticamente o mesmo.

    Filipe Furtado disse:
    maio 11, 2009 às 5:35 am

    Sobre os roteiristas é bom apontar que para alem de escreverem os ultimos filmes do Michael Bay, a dupla deste filme eram os principais roteiristas de Alias, co-criaram a serie nova do Abrams e tiveram a primeira oportunidade em cinema justamente reescrevendo Missão Impossivel 3, ou seja são caras de confiança dele, acho difil que eles não escrevam o próximo também.

    Tiago Superoito respondido:
    maio 11, 2009 às 10:57 am

    Aliás, alguém sabe me dizer se ‘Fringe’ é bom?

    Diego disse:
    maio 11, 2009 às 1:35 pm

    Não, não é, concentre-se nas séries que importam!

    Tiago Superoito respondido:
    maio 11, 2009 às 1:43 pm

    Quais são as séries que importam?

    cavalca disse:
    maio 11, 2009 às 5:15 pm

    Se o teu parâmetro é Fringe, muitas.

    cavalca disse:
    maio 11, 2009 às 5:20 pm

    Atualmente recomendo quase qualquer coisa da HBO: In Treatment, Sopranos, Deadwood.

    Tem também The Wire, cuja primeira termiei ontem. Os entendidos dizem ser a melhor série de todos os tempos (!).

    Tiago Superoito respondido:
    maio 11, 2009 às 5:23 pm

    Bem, Sopranos vi a primeira temporada. In Treatment devo começar em breve. Deadwood ainda não. The Wire não consegui baixar ainda (se alguém tiver links bons da primeira temporada, agradeço).

    cavalca disse:
    maio 11, 2009 às 7:51 pm

    Tem um torrent da primeira temporada bem bom no mininova. É o que tem mais seeds.

    Chico disse:
    maio 11, 2009 às 9:44 pm

    Tiago, eu acho a aparição do Leonard Nimoy completamente emocional. E acho que o affair do jovem Spock com a Uhura a mesma coisa. Eu acho que o filme é, sim, super calculado, mas acho que ele sabe usar sua mega produção em favor do roteiro.

    Tiago Superoito respondido:
    maio 11, 2009 às 9:47 pm

    A aparição do Nimoy? Pode ser (e a voz do sujeito é impressionante, provocaria comoção até se dublasse comercial de margarina). O affair com a Uhura? Sei não, Chico…

    netiteve disse:
    maio 11, 2009 às 11:59 pm

    Já vi muita gente (em muitos lugares) afirmar que o romance de Uhura e Spock foi um erro do filme. Bom, um interesse dela nele sempre existiu na Jornada original. Só não foi desenvolvido ao longo da série. Foi um bom resgate, melhor que as meras citaçõezinhas ao passado espalhadas por toda a história.

    De fato, eu gostei desse enlace dos dois. E ainda mais porque foi a única coisa que me deixou surpreendido durante a projeção. Porque quase todas as outras linhas de histórias e/ou situações já haviam sido “vendidas” pelos trailers.

    Inclusive a surpresa funciona justamente porque nos trailers se dá a entender que o affair seria entre Uhura e Kirk, gerando tão iguais indignações de fãs mundo afora.

    Ah, eu gostaria muito que Damon Lindelof escrevesse o próximo filme. Pelo menos em Lost ele sempre escreve os melhores episódios, junto com Carlton Cuse.

    Daniel Pilon disse:
    maio 12, 2009 às 3:15 am

    Assista How I Met Your Mother. Foi a melhor coisa que surgiu para eu ver quando chego do trabalho em muito tempo (pena que já vi tudo).

    rafagoom disse:
    maio 12, 2009 às 3:44 am

    Olha, se a continuação (estou raciocinando, não aceitando) tiver um ciuminho entre Spock e Kirk por Uhura, será um ótimo bromance.
    Cenas emotivas? Kirk pivete naquele carro (Dodge?) no deserto a sei-lá-eu quantos km por hora ouvindo Sabotage no talo realmente me emocionou!
    E já disse que fui às lágrimas com o nascimento do Kirk.

    Tiago Superoito respondido:
    maio 12, 2009 às 10:47 am

    Anotado, Pilon.

    Rafa, o J.J. Abrams adora um triângilo amoroso, não? Vide Lost…

    cavalca disse:
    maio 12, 2009 às 4:41 pm

    Boto fé na recomendação do Pilon, caso tu seja sitcom-friendly.

    denise disse:
    maio 14, 2009 às 6:02 pm

    Adorei o filme,só não entendi o que fizeram no final do filme, com o velho spock, encontrar com ele mesmo mais novo,e dizer que irá reconstruir o seu planeta, ao lado do pai que por sinal esta´mais novo que ele não fez sentido.Acho que o correto seria ele voltar a tempo dele ou mesmo ter morrido para salvar a terra,e assim ficar a versão mais nova, para um novo começo.

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