Lost

Coquet Coquette | Of Montreal

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Crueldade! Canibalismo! Sangue! Pintura facial bizarra! Um faminto Of Montreal invade a nossa praia com um clipezinho que mostra o que aconteceria se um episódio de Lost fosse sabotado por piratas do mal. Um horror. Uma guerra. Um filme trash. Ainda não entendi direito o que essa canção aí tem a ver com a carnificina, mas não estou reclamando. A direção é de Jason Miller – que pega, mata e come.

2 ou 31 parágrafos | Lost, the end

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(Atenção: o texto a seguir pode conter spoilers e informações irrelevantes sobre o episódio final de Lost e sobre as manias de Tiago Superoito)

Sempre vou lembrar de três professoras de português.

Uma delas dizia: “Tiago, não comece uma história sem saber como terminar”. Eu, sete anos de idade, já era craque em parágrafos desregrados. Fluxos e mais fluxos de consciência. E ela me alertando, em agonia: menino, se ampare em vírgulas!, pontos finais são salva-vidas muito úteis! Muito teimoso (antes e hoje, sempre), nunca aprendi nenhuma dessas lições. Escrevo sem cuidado ou itinerário.

Lost highway.

A outra professora, que era a própria Afrodite, tentou me ensinar tantas fórmulas, truques, tantas manhas de redação! Tantas dicas que me salvariam de tantas gafes! Não ficou quase nada. Só uns flashes: o rosto rosado, a franja sobre os aros redondos dos óculos, a voz agudíssima (um terror) e o conselho: “na literatura, Tiago, tudo é possível”. E meu coração inflava: ah. Ela estava certa ou estava errada? Nunca nem refleti sobre o assunto. O que fiz foi acreditar, e acredito: no papel, tudo é possível.

A terceira e mais intrigante, cansada dos meus delírios imaturos, me orientou: “Termine o texto da forma como quiser, Tiago, mas com beleza“. Eu não entendi. A ideia sempre me pareceu um mistério e, no mais, eu terminaria os meus textos como eu bem entendesse. Tudo é possível, tudo é possível. Eu era (sou) um cabeça de pedra. Mas depois, anos e mais anos depois, entendi o que ela queria dizer: eu deveria terminar meus textos com graça e elegância, como quem se despede de alguém que se ama.

Também não me vejo cumprindo essas formalidades. Mas, desde que me entendo por leitor, sempre me assombro com os desfechos extraordinários. Os desfechos iluminados. Belos ou feios ou chocantes ou abruptos e antipáticos. Tanto faz. Dizem que os primeiros parágrafos são atestados de inteligência e bom senso. Sempre preferi as conclusões. 

Quando passo das cem páginas de um livro, me apresso para saber como ele vai terminar. Não me interessa exatamente o destino dos personagens. Quero saber como o livro termina. Como. Com que frase, adjetivo, interjeição, pensamento ou provocação. Um ponto final nunca é igual a um outro.

Voltei a pensar nessa minha mania quando ouvi os comentários sobre último capítulo de Lost. Os comentários dos outros e os meus comentários. Todos apaixonados, agressivos, furiosos, já que séries duradouras de tevê são como bandas de rock ou times de futebol. Nos afeiçoamos a elas. Dê três temporadas, apenas três temporadas, e elas grudarão na nossa parede feito fotografia de infância.

Um parêntese que explica a minha relação com séries: comecei a ver Lost ainda na primeira temporada, a contragosto. Minha namorada gostou e eu fui atrás. No início, me pareceu um show oportunista, mix de Survivor com Arquivo X. Nada especial. Na segunda temporada, eu já associava as aventuras de Jack, Sawyer e Locke ao jeito como a minha namorada deitava a cabeça no meu colo enquanto assistíamos aos episódios. Ao perfume, ao sofá da casa, ao barulho do ar condicionado. Na sexta edição, cada um dos capítulos me trouxe saudades dela, que hoje mora em outra cidade. Em mim, o seriado se transformou em uma espécie de souvenir, polaroide de uma época que passou.

Meio forte. E você entende?

Escrevi esse parêntese só para ilustrar como às vezes nos conectamos a esses programas muito tolos de tevê. Lost não é irrelevante, eu sei: poucas séries souberam brincar tão graciosamente com o tempo. Pretérito, presente do indicativo, futuro imperfeito. Muito se falou sobre os mistérios da ilha onde o avião da Oceanic se espatifou, mas o que me deslumbrou foi o jogo narrativo. Os flashbacks, flashforwards e flashsideways, soltos no ar.  

Os fãs têm uma relação extremamente passional com a série, a série é só deles, e entendo a origem desse fogo. Tem muito a ver com a cumplicidade que sentimos em relação aos nossos ídolos pop. Confiamos neles. Torcemos para que, em retribuição, eles nos sejam fiéis. Perdoamos tropeços. E, nas situações mais trágicas, reconhecemos que eles nos deixaram de coração partido.

Sem querer ser piegas, mas a season finale de Lost partiu o coração deste fã aqui.

E acho que por um motivo que me leva aos desfechos brilhantes de livros que amo: não há encanto, elegância, graça ou inteligência nessa conclusão. Pior: é uma conclusão translúcida, banal como um show barato de mágica. Deixo de me deslumbrar quando descubro por que o coelho sai da cartola. 

Eu acreditava – mesmo com todos os indícios de erro – que os roteiristas-ilusionistas seriam capazes de me assombrar. Mas aí a culpa é de quem? Minha, que esperava muito? Ou da série, que me ofereceu tão pouco?

Ou ninguém é culpado e o divórcio é amigável?

Não me pergunte. O curioso é que reagi às patetadas do episódio como um fã de rock que, num belo dia, recebe a notícia de que o ídolo decidiu se despedir do showbusiness com um disco ultraóbvio de canções natalinas.

The end me parece, sob todos os aspectos, um disco ultraóbvio de canções natalinas. Um episódio que nos chantageia, nos maltrata, nos subestima. Uma tortura em dó maior. Compartilho, até instintivamente, da irritação de alguns fãs: seis anos e isso? É muito tempo. Conheço gente que mudou três vezes de emprego nesse período de tempo. E os enigmas que não se resolveram? E os números? E o projeto Dharma? E os monumentos de pedra? E o Walt, coitado? E o nosso futuro?  

Séries de mistério são quase sempre uma armadilha. Veja o caso de Arquivo X. O vilão é o tempo, sempre ele. O suspense é prolongado excessivamente, a multiplicação de subtramas deixa inúmeras pontas soltas nos roteiros, a mitologia vira um fardo e toda tentativa de encontrar soluções para os enigmas da trama soam simplórias, apressadas. Estava escrito: Lost só agradaria à maior parte dos fãs se terminasse com um desfecho imprevisto e emocionante que nos fizesse repensar a nossa existência no planeta e os rumos da ficção.

Mas o que nos resta é um roteiro de Damon Lindelof e Carlton Cuse. 

Entendo que, para a dupla, deve ter sido uma jornada ainda mais complicada que a nossa. Imagine isso, conviver com todos esses personagens, definir os destinos de cada um deles. E pensar em malabarismos formais para espantar o nosso tédio e alimentar a nossa fome de fantasia. Deve ter sido dose. E mais: escrever um episódio-evento, um arranha-céu para a noite de domingo, atração imperdível para todas as idades e crenças. Quase uma mini-final de superbowl. Imagino que até eu, na pele deles, sentiria a obrigação de simplificar um pouquinho as coisas.

O episódio final de Lost, talvez aprisionado nesse jogo de pressões, soa tão singelo e descomplicado quanto o episódio-piloto. Perto dele, a quinta temporada fica parecendo um supletivo de física quântica. Há duas linhas narrativas: uma delas, sobre a luta do bem (Jack) contra o mal (Locke) na ilha da fantasia; a outra, sobre antigos amigos que se reencontram numa realidade movediça, onde os desejos aparentemente se realizam. Para o “leigo”, soa como uma ficção científica sentimental com a assinatura do protagonista de Dawson’s creek.

Já para os “fiéis”, trata-se de uma big despedida. A realidade “alternativa” mostra-se uma desculpa para uma reunião de elenco. A cada trombada dos personagens, flashbacks velozes pipocam na tela e nos fazem lembrar de todo o tempo que gastamos com a série. Caiu uma lágrima, arrancada pela útima tecnologia em chantagem sentimental.

Na ilha, a arquitetura do roteiro revela-se ainda mais grosseira. Um hipopótamo. Personagens correm para salvar o mundo, matam uns aos outros, provocam terromotos e tempestades, mergulham numa caverna dourada, manipulam uma rolha gigante (!) e resumem todos os dramas da série a uma perseguição de Tom vs. Jerry. O mocinho mata o vilão, beija a mocinha e se sacrifica por uma causa que ninguém sabe dizer se é nobre ou não. Whatever. Está claro que os roteiristas querem encerrar logo a epopéia e ir ao que interessa: a realidade paralela, onde tudo termina bem.

O que me incomoda (e aí aparecem os fios da narrativa e a picaretagem do empreendimento) é que esse tempo paralelo que tanto interessa aos roteiristas é uma criação da sexta temporada. Um truque de última hora inventado para nos surpreeender. Me pergunto se Damon e Carlton não poderiam ter encontrado uma surpresa aterradora sem abandonar o Grande Esquema das Coisas – isto é: dentro da ilha.  

Mas, novamente, saquei a estratégia. Os roteiristas tentaram usar uma das teorias mais difundidas entre os fãs (a de que todos os personagens estavam mortos) de uma forma que os enganassem (já que não é a ilha o purgatório, mas a “realidade alternativa”). Uma tentativa interessante. Mais curioso ainda é como, neste finale, os roteiristas invertem nossas expectativas: a ilha é o mundo real, enquanto que Los Angeles vira a cidade dos sonhos.

Fico muito satisfeito quando penso que os roteiristas realmente refletiram sobre tudo isso. Mas duvido muito que isso tenha acontecido, já que o episódio todo é desenvolvido com as fórmulas mais apelativas de dramalhões religiosos. Quando descobrimos que os personagens estão à caminho do céu – eles se reencontraram e, por isso, têm direito à liberação -, é inevitável pensar que a grande lição da série é algo como “a vida é uma aventura, mas o melhor está por vir.”

O que, para mim, é uma filosofia abominável. Eu é que não vou ficar esperando pelo dia em que a porta da minha igrejinha particular vai abrir. Não. Mas, ainda que eu tenha me decepcionado com a série também por conta disso (sério, Damon e Carlton, leiam qualquer textinho do Carl Sagan e entendam que a vida às vezes não faz sentido e é bonita mesmo assim!), não é, repito, o que mais me frustrou no desfecho. É que parece ter faltado aquele elemento misterioso que separa os livros inesquecíveis das bobagens de autoajuda, aquele toque sobrenatural que nos enche de entusiasmo, nem que por alguns minutos. Que renova a nossa fé na literatura.

Quando leio um bom livro ou vejo um bom filme, quero viver mais.

Com este episódio de Lost, meu único desejo: esmagar o televisor. Fulo e bronco feito um hooligan. Meus ídolos! Lembrei da minha professora: tudo é possível. E da outra: escreva desfechos com beleza. Depois, mais calmo, tentei me convencer de que o errado sou eu. Esta é a conclusão que soa bela para quem a escreveu. Eu é que não deveria ficar sonhando os sonhos dos outros.

End credits. Hora de acordar.

No Twitter | 15-21 de maio

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Uma compilação dos comentários-relâmpago sobre séries e filmes que postei no Twitter durante a semana. Em alguns casos, com adjetivos e interjeições que não couberam nos 140 caracteres (e uma faixa-bônus!).

Me and Orson Welles | Richard Linklater | 3/5 | Obrigado, Linklater, por um filme de época sem a sisudez ou a pompa de uma parada militar. Em matéria de fluência, um espetáculo. Mas Zac Efron, tio?

O inferno de Henri Georges-Clouzot | L’enfer d’Henri Georges-Clouzot | Serge Bromberg e Ruxandra Medrea | 3/5 | O doc termina e, ainda assim, mal consigo imaginar se o filme de Clouzot seria algo genial ou apenas enorme. Mistério.

Fúria de Titãs | Clash of the Titans | Louis Leterrier | 2.5/5 | Uma fantasia pulp carnavalesca mais divertida do que eu esperava. Sim, eu esperava Super Xuxa contra o Baixo Astral. E o 3D-que-não-dá-barato é apenas uma entre várias picaretagens do filme.

Palavras cruzadas | Wordplay | Patrick Creadon | 2.5/5 | Este doc nos mostra que as cruzadinhas do New York Times são mais sagazes do que o conteúdo noticioso de muito jornal brasileiro. Mas quando o filme se transforma num thriller sobre batalha dos nerds, vira jogo de sete erros.

Treme | s01e05: Shame, shame, shame | 4/5 | Quando chega a cena-chave (cruel!), percebemos o quanto gostamos daqueles personagens. Bela série, grande episódio.

V | S01e12: Red sky | 3/5 | “É season finale, minha gente, vamos matar alienígenas!” Mas aí o episódio vai ficando finalmente bom quando… é claro, ele acaba.

Lost | s06e16: What they died for | 3/5 | A salvação do episódio, soletrando: B-E-N. O resto é conversa ao pé da fogueira para ninar criancinha (e vamos torcer para que tenham guardado todas as melhores surpresas para o desfecho). E já deu, né?

FlashForward | s01e20: The negotiation | 3/5 | A agente infiltrada, Janis, é o trunfo da série. Aceito engolir o besteirol todo só pra saber como ela sai da encrenca.

Glee | s01e19: Dream on | 2.5/5 | Sempre me decepciono quando a série troca o humor pela chantagem sentimental. Este sonolento episódio sobre sonhos, sonhadores e sonhos-de-valsa é o caso.

No Twitter | 9-14 de maio

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Uma compilação dos comentários-relâmpago sobre séries e filmes que postei no Twitter durante a semana. Em alguns casos, com adjetivos e interjeições que não couberam nos 140 caracteres.

Robin Hood | Ridley Scott | 2/5 | Esta versão aborrecida da lenda transforma todas as outras adaptações em fantasia bocó. Eu fico com a fantasia bocó. (Mas a última cena de batalha me impressionou: grau de brutalidade que não se encontra em livros para crianças).

O preço da traição | Chloe | Atom Egoyan | 2/5 | Egoyan chega ao fim da linha: Atração fatal com verniz autoral. Desta vez, nada de converter lixo em reflexão.

Querido John | Dear John | Lasse Hallström | 1/5 | Dramalhão medonho para fãs de Crepúsculo. Não tem vampiros, mas duvido que corra sangue nas veias do parzinho principal.

Lost | s06e15: Across the sea | 2.5/5 | Um megaflashback bíblico (lição do dia: a culpa é da mãe) com várias respostas que mereciam ter ficado em segredo. Deus!

V | s01e11: Fruition | 2/5 | Os visitantes alienígenas ameaçam, os rebeldes matutam estratégias de resistência. E é assim há uns cinco episódios.

Glee | s01e18: Laryngitis | 3/5 | ‘Você é Top 40, eu sou Rhythm and Blues’. Boa. No fim, eles assassinam One, do U2. Quase tantas intrigas amorosas quanto um episódio de Grey’s anatomy.

Justified | s01e06: The collection | 3/5 | Eu não me importaria nada se largassem as tramas policiais na sala de edição e transformassem a série num drama intimista (mas admito que ainda não consegui entrar na brincadeira).

FlashForward | s01e19: Course correction | 3/5 | Mais um daqueles episódios corridos, alucinados que mostram o quanto os roteiristas desta série veneram 24 horas.

Scissor | Liars

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É ou não é perturbador este clipe do Liars? Notem o drama: você está perdido no mar, à deriva, ainda desnorteado, sozinho num bote amarelo. A coisa não é moleza, mas aí você descobre que, ao seu lado, pedras misteriosas começam a aparecer sabe-se-lá-de-onde. Você atira as malditas pedrinhas no mar, mas outras aparecem dentro do bote. Do nada! Então você pula na água e dá umas braçadas até o barco mais próximo, mas todos os tripulantes estão… mortos! A situação fica mais estranha quando… Não vou estragar a surpresa. Só adianto que os criadores de Lost nunca teriam a coragem de fazer um desfecho enlouquecido desses. Mas Andy Bruntel tem. E, do Liars, felizmente ainda podemos esperar tudo.

PS: Este sitezinho instável entrou na lista dos ‘blogs da semana’ no blog do Inagaki. Isso me deixa feliz e, principalmente, muito surpreso. Obrigado!

Lost | LA X

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(Cuidado, os próximos parágrafos contêm inúmeros spoilers da sexta temporada de Lost. Estão avisados)

Conversei com três ou quatro pessoas que, com bons argumentos, detestaram os dois primeiros episódios desta sexta temporada. Pode parecer mesmo muito difícil defender uma série que parece ter se contentado com a tarefa de explicar, um a um, os seus próprios enigmas (e os saltos temporais da quinta temporada ainda me parecem uma distração bem tola). Mas taí, discordo dos detratores: não só gostei deste recomeço como passei a acreditar que a série vai sim conseguir criar um desfecho capaz de remeter à atmosfera de mistério das primeiras temporadas.

Depois dos flashbacks e flashforwards, os roteiristas encontraram um jeito de fazer justiça ao jogo narrativo que marcou alguns dos melhores momentos do programa: agora, duas realidades se alternam. Existe a vida na ilha, em 2007, e a vida sem o acidente que derrubou no avião da Oceanic, em 2004. Seria uma temporada inteira dedicada a ilustrar o experimento do Gato de Schrödinger?

Lost segue frágil em vários aspectos: os diálogos são apenas razoáveis, as atuações não vão além do mediano e toda a encenação quase sempre acaba descambando para o kitsch (os defensores do templo, dentro da ilha, poderiam fazer parte do elenco de coadjuvantes de Piratas do Caribe). O trabalho coletivo de montagem, no entanto, continua bem afiado. E falem o que quiserem: não conheço outra série de tevê que tenha desenvolvido uma trama com uma estrutura narrativa tão livre, tão maleável. É, nesse aspecto (e continua a ser), um laboratório.

E, mais importante, parece que Damon Lindelof e Carlton Cuse vão compartilhar do sentimento prematuro de perda que acomete os fãs da série e criar uma temporada quase tristonha, melancólica. Foi que pressenti quando vi as cenas no avião, com a aparição de personagens que já não estavam em cena há algum tempo. Tem algo de bonito nisso: nessa realidade alternativa, com um quê de sonho, o espectador também realiza um desejo — o de voltar ao começo e reviver antigas sensações.

2 ou 3 parágrafos | Anjos e demônios

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Não sei se captei corretamente a lição deste thriller meio apalermado, mas acredito que ele nos ensina algo importante: toda igreja é formada por seres humanos, todos os seres humanos são falhos e alguns padres sobrevivem a extraordinárias quedas de helicóptero. É por aí?

De qualquer forma, Anjos e demônios (5/10) é um avanço tremendo se comparado ao sorumbático O código Da Vinci. Ron Howard, o faz-tudo, finalmente parece ter entendido que os livros de Dan Brown devem ser tratados unicamente como pretexto para filmes B que não valem um tostão. Com padres voadores. Bombas que contêm chaves para a origem da vida. E um simbologista preparadíssimo, mais atento e sagaz que centenas de oficiais da pateta polícia italiana (já os guias turísticos, meu bom deus, têm doutorado e o diabo a quatro).

Os personagens são divididos em dois grupos: os que pensam rápido demais e os que têm segundas intenções (e jacas no lugar dos cérebros). Ewan McGregor capta o espírito da coisa, hilariante como uma espécie de Gugu Liberato do Vaticano. Imagino que, com um diretor mais delirante (John Woo?) e tramas escritas pelos roteiristas de Lost e 24 horas, teríamos uma bela franquia (televisiva) de ação. Mas Ron Howard é carola demais para tratar a santa casa como parque de diversão. Daí o mea culpa com a Igreja (todos somos falhos, sim, mas o ponto nunca foi esse, meu irmão!) e uma reviravolta final que manda todo o resto do filme ao quinto dos infernos. Estúpida, mas não no sentido espertinho da coisa.

Lost | Quinta temporada

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lost

A vida me ensinou que (hum, pareço um velho, vamos começar de novo).

A experiência me ensinou que escrever textinhos opinativos sobre séries de tevê é um tiro que frequentemente sai pela culatra. Como devemos analisar um produto cuja autoria é diluída entre um punhado de roteiristas e diretores? Como tentar um olhar distanciado para um programa que, ao entrar na nossa rotina com a intensidade de um hobby (um hábito!), nos conforta mesmo quando tropeça nos 40 minutos mais desajeitados da história da teledramaturgia? Desisto.

Acompanho Lost há cinco anos e aposto que, se somarmos o tempo gasto nessa atividade totalmente improdutiva, eu poderia ter escrito dois ou três romances parrudos sobre tipos agoniados e crises existenciais. A quinta temporada (7.5/10) me parece a mais desastrada de todas: a necessidade de esclarecer mistérios é tamanha que muitos dos episódios soam simplesmente como explanações didáticas para fãs aflitos por entender de onde veio, o que significa isso ou aquilo. Mas não me arrependo: hobby é hobby, com ele vou até o fim.

O curioso é que, quanto mais responde as próprias perguntas, mais mirabolante a série parece. O que era insólito tomou proporções delirantes. Agora, os personagens saltam no tempo, morrem e ressuscitam, falam latim, alteram eventos do passado e atualizam trechos bíblicos com a naturalidade de quem vira páginas de gibis.

Lost pode ser acusado de tudo, vejam bem, mas taí uma série que lançou as próprias ambições à estratosfera. Nesse ponto, está à altura de Arquivo X, que definhou depois da quinta temporada. Em cinco anos, fomos obrigados a aceitar o que há de menos plausível no mundo da ficção-científica (se é que podemos chamar isso tudo de ficção-científica). E o que ganhamos em troca?

Quase nada, é verdade. Fico com a impressão de que, desde o início da quarta temporada, assisti a um longo aquecimento para o desfecho da série. Na quinta, essa sensação ficou um pouco mais intensa. Aceitar a premissa à De volta para o futuro, admito, foi o mais complicado: se os personagens podem voltar indefinidamente no tempo à mercê das vontades dos roteiristas, onde fica o mistério? Trata-se de um truque velho: mergulhar no passado da saga não resolve o que ela tem de inconsistente nem avança a trama. Só parece um flashback tamanho-família. Na maior parte do tempo, a narrativa girou em falso.

O episódio final resumiu os problemas da temporada (e não siga adiante neste texto se você ainda não assistiu ao episódio): o personagem mais abstrato da série ganhou corpo e os roteiristas gastaram parte do tempo explicando as relações entre aquele homem e alguns dos passageiros da Oceanic. Precisava? Como de praxe, os minutos finais deixaram ganchos forte para os próximos episódios (e o que foram as cenas tresloucadas envolvendo uma bomba meio enferrujada?). Mas, apesar de aguardar ansiosamente, ainda temo por eles.

Star Trek

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trek

Star Trek, 2009. De J.J. Abrams. Com Chris Pine, Zachary Quinto, Simon Pegg, John Cho, Leonard Nimoy e Eric Bana. 126min. 6.5/10

Um amigo meu, um tanto perplexo com a situação toda: “A campanha de marketing de Star Trek é tão eficiente que estou me roendo de ansiedade pelo retorno de uma série que sempre desprezei.”

É o sonho de toda equipe de publicidade, não é? Já nos primeiros trailers deste filme, quando bati o olho naquele azul-pastel meio rosado rasgando a tela, admito que comecei a sentir saudades de um hobby que nunca tive, de um passado que nunca vivi – de sensações que talvez tenham evaporado da minha memória para ceder lugar a lembranças mais interessantes.

Fatos: não sou trekker. Não conheço nenhum trekker. Não acompanhei os episódios da série original, criada por Gene Roddenberry em 1966. Não me interessei por nenhum dos longas-metragens inspirados no programa de tevê. Eu poderia ter movido minha bunda e assistido a filmes como Generations, de 1994, ou First contact, de 1996. Preferi ficar em casa. Provavelmente assisti a algum deles há muito tempo: quando penso nessa saga de ficção-científica, tudo o que lembro é de um grupo de homens uniformizados conversando sobre assuntos complicados demais, ou pueris demais, ou tolos demais – temas e manias que, somados uns aos outros, nunca me interessaram.

Quando eu era pequeno, usavam Star Trek como um argumento infalível para ressaltar as qualidades de Star Wars. Sabe-se lá por que razão, o tempo fez justiça aos fracos e renegados. Veja só: o novo Star Trek pode sim ser empunhado como arma por aqueles que desejam desancar os Star Wars mais recentes. É uma atualização jovial de (mais) uma franquia envelhecida.

Rejuvenescer a tripulação da Enterprise permite ao filme a criação de um elo firme entre antigos fãs e um público novo e/ou desinteressado. Em vez de zerar o placar e criar novos paradigmas para a franquia, o novo capítulo preserva antigos métodos como uma forma de “respeitar” o original. Os efeitos visuais seriam mais modestos, mas cenas de abertura poderiam estar em qualquer um dos filmes anteriores: lá estão os homens uniformizados dentro de uma nave, flutuando no espaço, combatendo um vilão monstruoso que poderia habitar nossos pesadelos mais infantilizados.

Depois dos créditos iniciais, porém, vem o primeiro golpe de J.J. Abrams. Mais para Missão: impossível III que para Lost, a sequência de ação (embalada por Sabotage, dos Beastie Boys) acompanha as estripulias de um pequeno James T. Kirk com vocação para Vin Diesel. É o suficiente para convencer-nos de que aquele não será mais um Star Trek. E talvez o bastante para explicar aos antigos fãs de que os tempos mudaram. O que se vê a partir daí um jogo de estica-e-puxa entre a intenção de homenagear a série dos anos 60 e o projeto de renová-la.

De uma forma ou de outra, o filme funciona. É uma palavra adequada, já que Abrams filma com o pragmatismo de quem produz um episódio-piloto que precisa dar certo. Cada um dos elementos do filme é formatado para agradar a uma determinada fatia da audiência (dos nerds, que provavelmente adoram os longos diálogos sobre buracos negros, às adolescentes animadíssimas com a cena em que o rebelde Kirk aparece só de cueca). O truque usado pelo roteiro para justificar a trama – viagens no tempo, ora! – parece conter duas ou três piadas internas que só os fãs da quinta temporada de Lost entenderão.

Abrams filma o roteiro de Roberto Orci e Alex Kurtzman (ambos de Transformers, anote aí) como uma aventura de ação. Os conflitos são desatados na velocidade da luz e, muitas vezes, resolvidos no braço. A Enterprise é recauchutada como um parque luminoso, de cores que cintilam na tela como a vitrine de uma loja de doces. Os atores recuperam as fragilidades de personagens que já soavam como caricaturas. Construir a relação de amizade entre Kirk e Spock parece tão importante para o roteiro quanto desenvolver sucessão de eventos que pode dar na destruição do planeta Terra (mas que ninguém espere a angústia provocada por Presságio, ok?).

O novo Star Trek reinicia a franquia com bastante competência. Abrams ainda me parece filmar de modo excessivamente técnico, impessoal, um produtor com uma câmera. É um filme correto. Que se beneficiará das baixíssimas expectativas de quem nunca entendeu os trekkers (e de quem assistiu ao trailer do novo Transformers, aparentemente tenebroso). E que contará com a torcida dos fãs. Mas aí nem vale: eles sobreviveram a filmes que, colocados em perspectiva, transformam qualquer episódio de Lost em obra-prima.

Lost | The life and death of Jeremy Bentham

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lostbentham

A estranha lógica de Lost: depois de um episódio sustentado numa Grande Revelação (o retorno dos sobreviventes à ilha), The life and death of Jeremy Bentham deveria ter batido como um longo anticlímax. Aqui, os roteiristas da série recuam para acompanhar as aventuras de John Locke entre os pobres mortais. Surpreendentemente, o flashback rende os melhores 40 minutos desta temporada.

E uma prova bastante sólida de que Lost, mesmo em dias frenéticos, ainda consegue se dedicar decentemente aos perfis dos personagens.

O episódio confirma a fé dos seguidores de Locke: o salvador da humanidade (podemos cravar logo isso de uma vez por todas?) é torturado, morto, enforcado e (oh!) ressuscita para liderar os irmãos bem-aventurados. Confesso que, num primeiro momento, desconfiei das metáforas religiosas da trama. Mas agora, devidamente convertido, deixo o futuro desta saga nas mãos de Damon Lindelof e Carlon Cuse. Amém.

É que, apesar do recurso fácil de citar a Bíblia em vão (estratégia para fisgar os leitores de O código Da Vinci?), a série sai-se bem num período em que organiza as peças do tabuleiro para compor uma temporada de guerras e revoluções. E sério: se John Locke é nosso Jesus Cristo, podemos esperar o apocalipse… agora?

Enquanto os heróis estão em transe, saltitando no tempo, o jogo dos vilões parece cada vez mais interessante. Qual é o seu favorito? Flor… Widmore, que até agora assumia o posto de Satã, começa a se revelar estranhamente adorável. Já Donate… Ben, bem, para esse eu não emprestaria dois reais.

Sorte a minha: fiz primeira comunhão e crisma. Caso contrário, ficaria perdidinho. 

PS: Ao contrário do que acontecia na quarta temporada, fico com a impressão de que os posts sobre Lost são um desastre de audiência aqui no blog. Para não desgastar nossa amizade, volto a escrever sobre o assunto no final da temporada. Certo?

Lost | 316

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lost316

Um episódio que, para mim, pareceu tão divertido (um exemplo: ele começa exatamente da mesma forma que a abertura da primeira temporada) quanto difícil de engolir. Todas as peças do jogo estão se encaixando, mas, a cada novo flash de luz branca, me pergunto se o trabalho dos roteiristas não anda fácil demais.

Cadê a reviravolta que mudará novamente toda a nossa perspectiva sobre a série, hem? (Tudo bem que ninguém está prometendo algo do gênero, mas fico na expectativa).

É até chato especular sobre o desenrolar da trama, já que (pelo andar da carruagem) muitos mistérios serão explicados no próximo episódio. Gostei da ideia de reconstituir o momento do embarque no Oceanic, mas eu ficaria mais satisfeito (chamem-me de sádico) com uma nova cena de queda de avião. Tudo menos o maldito flash de luz branca.

O número do vôo da Ajira remete a uma passagem bíblica que fala em vida eterna para aqueles que acreditam em Jesus Cristo. No episódio, um bilhete monossilábico de John Locke dá a entender que o salvador da humanidade é careca, rabugento e pode ter se sacrificado para salvar os “escolhidos”. Faz sentido, não faz? Mas como explicar o violão que Hurley leva na bagagem? Teria sido encomendado por um certo roqueiro drogado metido a Noel Gallagher?

Nada, nada, nada desvia a atenção dos fãs do programa. Por isso, o episódio começa pela grande revelação (o retorno de alguns dos sobreviventes à ilha) e é desenvolvido como um longo flashback. Lembra os melhores momentos da série – isso se excluirmos toda aquela explicação furada sobre um certo pêndulo gigante que me fez lembrar de Stargate e outras nerdices afins. Que aí já é abusar da minha paciência.

Lost | The little prince

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Uma homenagem de Lost ao livro favorito das candidatas a miss? E comandada por Kate, miss apatia? Minhas expectativas não eram exatamente altas em relação a este episódio. Talvez por isso eu tenha me surpreendido com o resultado, até simpático e tal. 

Em meio à avalanche de informações desta quinta temporada, eu andava precisando mesmo de um capítulo desses, que explora relações entre personagens (Jack & Kate, Aaron & Kate, Kate & Sun, Jin & um bando de franceses num bote bacana) enquanto larga uma dezena de pistas mais ou menos desconexas para que os fãs se divirtam até semana que vem.

Pelo menos os roteiristas têm senso de humor. “Time travel’s a bitch”, comentou Sawyer, na frase que resume este início de temporada. E Evangeline Lilly comentou numa entrevista que se também se confunde com essa história de saltos temporais. Ok, não estou sozinho.

Só que, não é por nada não, se insistirem em cenas como aquela em que Sawyer assiste a um evento do passado (e cai numa crise sentimental que ressuscita um antigo triângulo amoroso que…  você também não sentia falta?), Damon Lindelof e cia. poderiam convocar logo o Robert Zemeckis para dirigir um dos episódios.

No mais, o que foi aquele resgate de Jin? O homem mais sortudo do planeta Terra ou o quê?

Tudo bem que esta série exige imaginação mais fértil que a do jovem herói do livro de Antoine de Saint-Exupéry. Se é assim, nos concentremos um pouco em algumas das novas pistas: dizem por aí que a palavra “besixdouze”, que aparece numa das cenas, foi o nome escolhido para remeter a um asteróide descoberto em 1993. Em O pequeno príncipe, o personagem principal vive num asteróide chamado B612. Em francês, se pronuncia “besixdouze”. O que pode ter a ver com o feixe de luz que aparece entre as montanhas (e é solenemente desprezado por John Locke).

Mas que também pode não significar nada. Será que as misses têm a resposta?

No mais, os misteriosos números voltam a aparecer, por exemplo, no endereço de Kate: 42 Panorama St. É um detalhe mais interessante que a relação amorosa entre Kate e Jack. De tão arrastada, fica a impressão de que, fora da ilha, a love story tomou uma ducha fria de realidade. Ou seria apenas uma lembrança de que, em matéria de romantismo, Lost soa tão crível quanto um episódio de Gossip girl?

(E narizes sangrando me lembram da época em que cheguei em Brasília. Um inferno. Era toda semana. 12 anos de idade, sangue pra abastecer cinco filmes de zumbis. Tive que cauterizar, e desde então vivo bem, obrigado.)

Lost | Jughead

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Há coisas mais importantes acontecendo, tá (o fim do mundo, por exemplo). Mas um pulinho na ilha da fantasia, pode ser?

Se a quinta temporada de Lost abriu num empurrão, o terceiro episódio segue o ritmo do anterior. Para que flashbacks (e por aqui, admito, eles começam a fazer falta) quando os personagens podem transportam ao passado quando os roteiristas bem entendem?

Cada vez mais, fica a impressão de que um capítulo de Lost não sobrevive sem a revelação de uma ou duas surpresas importantes para satisfazer a curiosidade dos fãs. Por enquanto, dá conta da tarefa: saber que Widmore já esteve na ilha pode não representar nenhum grande susto, mas fica claro que a maior diversão dos roteiristas é pregar esse tipo de peça no espectador.

Não faço ideia se, daqui a três ou quatro capítulos, esse formato frágil cairá por terra. A verdade é que a série não consegue (ou não quer) mais se divertir com o perfil psicológico dos personagens. A relação entre Desmond e o filho (chamado Charlie) é atropelada pela ação. Aguardo por um episódio decente sobre Richard Alpert, o ladrão de cenas desta temporada. E o Ben, que deveria estar no centro desta história, onde foi parar?

A ordem é esta: preencher lacunas da narrativa, para que ninguém sinta falta de explicações quando o final da série chegar. É assim desde a quarta temporada. Só espero que consigam aliar esse estrutura meio mecânica e matemática aos dramas dos personagens. Caso contrário, será só mais um jogo de videogame (e, aí, o jeito será uma esticadinha no caloroso True blood).

Lost | Because you left + The lie

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Imagino o desespero de quem tentou começar a acompanhar Lost a partir da quinta temporada. Diante do tsunami de informações que varreu as cenas iniciais da premiere, exibida quarta-feira passada nos Estados Unidos, eu desligaria a tevê nos cinco primeiros minutos, e depois correria para o colo de um episódio de Two and a half men.

Não me surpreendo com a notícia de que a audiência despencou. Não há como fugir da impressão de que o programa passou a dialogar exclusivamente com os fãs. Aposto que os executivos da rede ABC estão matutando para facilitar o trabalho de uma multidão de novatos, mas os criadores da série não parecem muito incomodados com isso. A estreia da nova temporada, Because you left, é um capítulo tão frenético que será revisto inúmeras vezes pelos fãs – e descartado imediatamente pelos não-iniciados.

Chegamos num ponto em que qualquer redundância pode ser fatal. Se o desfecho da temporada anterior transportava a série para o ambiente da fantasia mais desvairada (a ilha se move e desaparece, eis a regra do jogo), este recomeço confirma que Lost só tem a ganhar com os saltos imaginativos.

A série que, lá no começo de tudo, parecia um cruzamento bizarro de Survivor com Arquivo X, hoje engrossa o caldo pop com referências de De volta para o futuro e física quântica. A ilha, descobrimos agora, não apenas sumiu do mapa – ela pula, como um disco arranhado, entre passado, presente e futuro. “Se eu começar a explicar, você não vai conseguir entender”, explica o personagem especialista em física. É o recado dos roteiristas Damon Lindelof e Carlton Cuse: ao espectador, resta embarcar na viagem insólita – ou tomar outro avião.

Sem priorizar os recursos de flashbacks ou flash-fowards (já que a meta agora é fisgar a atenção do público aceleradamente), os dois primeiros episódios alternam duas tramas igualmente intensas: na ilha, os sobreviventes se deslocam no tempo a cada clarão; fora dela, os Oceanic 6 tentam retornar à ilha para resgatar os abandonados. Seria uma questão de simples solução, mas (e taí outra questão que deve mover a temporada) nem todos querem voltar.

Cada vez menos apegada ao sentimentalismo rasteiro, e mais dedicada à ação pura e simples, a série promete crescer muito se mantiver o ritmo desses dois primeiros episódios. The lie, o segundo, segue o formato de um típico capítulo da quarta temporada (com a revelação em doses homeopáticas de elementos que serão essenciais para compor o desfecho da trama). Mas é na taquicardia de Because you left que Lost vai ao paraíso: como nenhuma outra série, esta leva em conta as vantagens de uma época em que podemos ver e rever cenas quantas vezes quisermos (no YouTube, via DIVX etc). Confia que o público será capaz de juntar as peças do quebra-cabeças por conta própria.

Claro que nem todo mundo está disposto à brincadeira: mas, para aqueles fãs que criam novas teorias sobre o enigma a cada episódio, é um tipo de passatempo provocativo que ainda se mantém um passo a frente do espectador. Há programas mais complexos e sofisticados – mas desconfio que Lost mereça ser tratado de outra forma, como um outro tipo de entretenimento: é uma série, mas também um jogo. E esta nova partida, tomara, será para experts. 

Episódios: Because you left (Damon Lindelof e Carlon Cuse, 8), The lie (Edward Kitsis e Adam Horowitz, 7.5).