Dia: maio 4, 2009
2 ou 3 parágrafos | O equilibrista
Neste O equilibrista (7.5/10), James Marsh conta como o francês Philippe Petit, equilibrado sobre um cabo de aço, cruzou o espaço que separava o topo das duas torres do World Trade Center, em Nova York, no dia 7 de agosto de 1974. Com clareza, o filme responde quase todas as perguntas básicas sobre esse fato: o que, quem, como, quando e onde. Mas, horas depois da projeção, nos deixa remoendo a questão que falta: por quê?
Por que Petit invadiu as Torres Gêmeas como quem assalta um banco? Por que fantasiava, desde jovem, com o desafio de apropriar-se daquele prédio? Quais as motivações daquele homem? Onde termina a busca por beleza e começa a loucura? Obsessão não se explica, mas qual seria o propósito de uma arte tão arriscada?
Perto do fim do filme, Petit ameaça uma resposta. Fala em rebeldia, em quebrar regras e lembra que, desde pequeno, gosta de “escalar coisas”. Não me convence. O diretor mostra o personagem da forma como ele quer ser visto. Não é intrusivo. As primeiras cenas são narradas como que num thriller de golpe. Mais adiante, descobrimos que, um dia antes de flutuar sobre Manhattan, o equilibrista passou a madrugada assistindo a fitas do gênero. As encenações à cinema mudo e a trilha sonora apoteótica tentam traduzir uma sensação de sublime que talvez guarde alguma relação com a filosofia de vida de Petit. De qualquer forma, é impossível saber. Por que ele faz o que faz? Acredito que o mistério, esse mistério, empresta uma terceira dimensão a um documentário que, caso contrário, seria apenas um perfil elegantemente correto. Ainda estou intrigado.
3 a.m. | Eminem
Juro que eu estava disposto a desdenhar este novo clipe do Eminem, ligeiramente superior ao frustrante We made you, mas senti que precisava escrever algo sobre o retorno do rapper (ou pelo menos sobre a forma como esse retorno se manifesta até aqui).
Por enquanto, fico com a impressão de que Relapse , o novo disco, será uma espécie de Wolverine da música pop: um blockbuster burocrático, reciclagem dos clichês de uma franquia bem sucedida. Acredito que por isso We made you e 3 A.M. resgatem de uma forma tão explícita e exibida os dois extremos da trajetória de Eminem: no primeiro caso, voltamos ao humorista sacana, que vive de desenhar charges de estrelas do pop (uma piada batida, aliás); no segundo, retorna o narrador de violentas histórias de horror, rated R (e taí o clipe).
Ainda que eu prefira o slasher-Eminem à filme B, reconheço que até essa faceta mais camp acabou virando uma cartada previsível. No tempo em que (espontaneamente!) confundia a própria biografia com a ficção mais enlouquecida (vide Marshall Mathers LP), era um dos rappers mais interessantes dos anos 90. Autoficção em estado bruto. Hoje em dia, Eminem parece encenar o próprio sucesso na indústria musical, a própria carreira. Um remake de si mesmo. Não sei se vale a pena (ou faz sentido) ouvir de novo.