Dia: maio 23, 2009

Superoito express (9)

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manic

(Numa noite fria)

Journal for plague lovers | Manic Street Preachers | 7.5 | Desde o sumiço de Richey Edwards, que abandonou o Manic Street Preachers e (possivelmente) o planeta Terra em fevereiro de 1995, a banda britânica passou a carreira tentando resgatar a fúria meio irracional que produziu o espinhoso The holy bible, de 1994. Sem sucesso. Antes do desaparecimento, Richey deixou um caderno de versos malditos que, quase 15 anos depois, são editados e musicados neste Journal for plague lovers. Podemos enxergar oportunismo e morbidez nessa ideia, mas não podemos esquecer o quão arriscado e até mesmo insano é um projeto desses (imaginem Dave Grohl e Krist Novoselic compondo novas melodias para letras de Cobain). James Dean Bradfield evita muitas (mas não todas) as firulas à hard rock oitentista da fase pós Everything must go (e aí incluo o superestimado Know your enemy, de 2001) para concentrar-se numa crueza extremamente sincera que nos leva ao rock americano do início dos anos 90. Com as letras à mão, é uma pancada – que nos maltrata nos momentos mais diretos, como All is vanity, Pretension/Repulsion e a carta de despedida William’s last words. O disco mais poderoso dos Preachers desde 1996 – e a culpa é toda de Richey, esteja ele onde estiver. 

Further complications | Jarvis Cocker | 7.5 | Tal como o mais recente do Manic Street Preachers, o segundo álbum solo do vocalista do Pulp tem a assinatura de Steve Albini – por isso não assusta a quantidade de referências musicais que, não por coincidência, ajudaram a formatar o grunge no início dos 90 (T-Rex, hard rock setentista, Iggy Pop, atitude punk). Os momentos de graça e estranheza de Further complications estão nessa negociação constante entre a grife de Albini e as ambições de crooner sombrio típicas de Cocker, que soa ora como Scott Walker, ora como Nick Cave e, na maior parte do tempo, como o Pulp super-irônico e quase cruel de This is hardcore. As canções não são tão fortes quanto as do álbum anterior (exceção: I never said I was deep, essencial), mas a produção finalmente traz o peso e a convicção que faltavam.      

Outer south | Conor Oberst and the Mystic Valley Band | 6.5 | Não é tão medíocre e superficial quanto soa nas primeiras audições, muito menos tão imponente quanto Oberst talvez tivesse planejado (The basement tapes, do Dylan, paira sobre os 70 minutos do disco como um fantasma sádico). É apenas uma tentativa de construir uma “banda caótica, mas de verdade” à Grateful Dead e Buffalo Springfield, com um detalhe inconveniente: Oberst é tão superior aos outros compositores da Mystic Valley Band que o disco acaba com a aparência de um projeto solo (a exceção é Big black nothing, de Nik Freitas). Mas se poderíamos ter ouvido um álbum inteiro de canções tão inspiradas quanto White shoes (Elliott Smith choraria litros), por que gastar tempo com bobagens?

Yours truly, the commuter | Jason Lytle | 6 | Falando em Elliott Smith… Se o álbum derradeiro do Grandaddy era uma tristíssima carta de despedida (um tipo estranho de disco de suicídio), a estreia solo de Lytle devia soar como um hesitante, imperfeito (e talvez adorável) primeiro disco. Mas não. É, como eu esperava, uma versão stripped-down do Grandaddy, que troca as experimentações de estúdio por canções ainda mais pessoais (seria possível?) e mundanas. As primeiras faixas mostram um compositor revigorado (Brand new sun e I am lost são ótimas), mas o álbum logo se afunda num mar de lamentações. A vida é difícil. A vida após a morte é especialmente complicada. Mas controle-se, rapaz.