2014: 50 discos

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Li por aí que 2014 foi um ano decepcionante para a música. Não concordo em nada com esse quase consenso. Por isso, desta vez resolvi selecionar 50 discos em vez de 20.

50 discos, apesar de discordar da festa que se fez para álbuns como Lost in the Dream, do The War On Drugs, Our Love, do Caribou, e St. Vincent, isso sim falar em Future Islands e Cloud Nothings. Discos corretos, talvez corretos demais; não consigo torcer por eles.

Fechar esta lista não foi simples. Fiz ao menos três tentativas de incluir o EP do Moonface, por exemplo, mas não coube.

O guilty pleasure foi FOUR, do One Direction, o disco que o The Killers vem tentando gravar desde 2008.

A seguir, os 50 de 2014 que recomendo com mais força.

50. ‘Sketches from an Island’, Mark Barrott

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Um dos mais injustiçados de 2014, talvez por revelar seus encantos muito lentamente, numa época em que as derivações de easy listening, ambient e soft rock não são consideradas tão cool quanto há cinco anos. Dito isso, é daqueles álbuns que nos transportam de imediato a um ambiente muito específico: no caso, uma ilha perfeitamente pacífica, no meio do nada.

49. ‘Fate’, Dark0

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Davor Bokhari tem um estilo tão compacto e cristalino que corre o risco de ser tratado como superficial e/ou repetitivo. Não é uma coisa nem outra: esta trilha sonora para um game imaginário transita sutilmente por diversos cenários (as fases do jogo) sem trair um ponto de vista bem particular para a música eletrônica.

48. ‘Under the Skin’, Mica Levi

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Evita tudo aquilo que me irrita no filme de Jonathan Glazer: soa alienígena, claro, mas a delicadeza do som ganha nuances quando descolada do exibicionismo vazio que muitas das imagens carregam. O longa ganharia muito se aprendesse com uma trilha sonora que, em vez de se contentar com a demonstração de referências já consagradas, prefere criar, do zero, um pequeno e estranho planeta sonoro.

47. ‘At Best Cuckold’, Avi Buffalo

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O álbum imaturo e ansioso de indie rock que se espera de um compositor de vinte e poucos anos, com a vantagem de que Avi Zahner-Isenberg consegue se apropriar de estilos manjados (ele não é o primeiro nem será o último a imitar Elliott Smith) com o entusiasmo de quem descobre tesouros.

46. ‘Unfidelity’, Ekoplekz

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Nick Edwards é um produtor hiperativo que dissolve o próprio estilo numa série de projetos, em diversos selos de música eletrônica. Neste disco pela Planet Mu, da Inglaterra, ele dá conta de compactar esse persona e, ao mesmo tempo, nos confundir ainda mais. Consegue equilibrar o lado mais experimental desse som com momentos mais emotivos, sem que, nessas transições, o disco perca o ritmo ou a densidade.

45. ‘English Oceans’, Drive-By Truckers

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Um dos melhores da banda, lançado infelizmente numa época em que country rock voltou a ser visto como um subgênero démodé. Azar de quem ignorou o novo duelo entre Patterson Hood e Mike Cooley, empenhados na missão de gravar um álbum sem batalhas perdidas. As primeiras cinco músicas, juntas, resumem a trajetória do grupo e comprovam que, em matéria de storytelling, eles seguem no auge.

44. ‘Spectre’, Eomac

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Num tempo em que a selvageria do thrash metal e do drone ganham status cool em sites de rock, este projeto de eletrônica de Ian McDonnell nos lembra que a sutileza e o detalhismo podem amplificar esse tipo de pesadelo. Combinando techno, IDM, jungle, entre outros gêneros, ele cria uma atmosfera que, como num bom filme de horror, captura completamente a nossa atenção mesmo nos momentos mais desconfortáveis.

43. ‘Beautiful Pimp II’, Rome Fortune

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Eis o avesso de um típico álbum de hip-hop: é curtíssimo, conciso, sem obviedades sonoras (cada música tem uma surpresa bem específica) e com letras sobre temas não muito típicos no gênero. Nos deixa ansiosos por um disco maior e mais imponente – até notarmos que, quando isso acontecer, o Rome Fortune perderá 90% de sua graça.

42. ‘Cilvia Demo’, Isaiah Rashad

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Um típico disco de hip-hop, mas que reanima os clichês do gênero graças a uma característica que se tornou rara: soa tão pessoal e verdadeiro que deixa a sensação de uma conversa ouvida ao acaso, na rua. Sem artifícios muito chamativos, Isaiah vence mais pela dedicação que pelo talento – o que não chega a ser um problema quando se tem faixas tão poderosas quanto essas.

41. ‘Psychic 9-5 Club’, HTRK

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O álbum é um rito de passagem para uma banda australiana que precisou se reinventar após o suicídio de um dos três integrantes. A tragédia faz sombra sobre o álbum e, inevitavelmente, a atmosfera é de uma melancolia das mais tristes. A sensação de desencanto, no entanto, aos poucos é aliviada por uma certa ideia de esperança em um synthpop lento, sedutor e que, às vezes, se apaga no breu. Não é simples, não diverte, mas deveria?

40. ‘Piñata’, Freddie Gibbs e Madlib

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Daqueles encontros que seriam curiosos mesmo em discos muito ruins, o que não é o caso. Não se trata, no entanto, do clássico que muitos esperavam deles – mas eu não espero um clássico (ao menos não nos moldes convencionais) de Madlib. Ele segue fiel a um estilo de criação a partir de fragmentos, rascunhos, nostalgia e futuro, ideias pensadas pela metade, um conjunto vasto e incompleto porque é assim que ele quer que seja. A voz de Freddie Gibbs e a de uma multidão de convidados povoam esse mundo sempre fascinante.

39. ‘Burn Your Fire for No Witness’, Angel Olsen

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Não se trata de um álbum de estreia, mas soa como um: em vez de escolher um caminho para seguir, Olsen toma vários. Ela seria capaz de gravar um disco excelente de folk, mas não é essa a intenção (não aqui, ao menos). Talvez acidentalmente, compôs um álbum tão multifacetado e contraditório quanto a identidade que se nota nas letras das canções. Um perfeito disco-espelho para uma compositora ainda misteriosa.

38. ‘Do It Again’, Röyksopp e Robyn

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Se o álbum mais recente do Röyksopp confirmou os problemas que a dupla enfrenta sempre que se arrisca em formatos mais longos, este EP com Robyn saiu o oposto disso: a necessidade de se adaptar a um modelo mais conciso de gravação obrigou o duo a definir uma linha sonora mais precisa. Eles acertam ao apostar numa versão negativa para a imagem colorida e dançante da popstar, que reaparece enclausurada numa espécie de pesadelo erótico em preto e branco.

37. ‘Angels & Devils’, The Bug

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Tal como Black Metal, de Dean Blunt, este é um disco dividido em duas partes: a primeira, mais delicada e a segunda, furiosa. O conceito pode dar a impressão de um truque singelo, mas é modesto o suficiente para Kevin Martin organizar uma personalidade “bipolar”. Apesar das belezas da primeira metade, hoje não consigo escolher a que mais me agrada.

36. ‘Salad Days’, Mac DeMarco

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O anterior, 2, era o grande momento do Mac. Salad Days, apesar de um pouco menor, é onde ele afirma com clareza os próprios princípios. Eis a carta de intenções do sujeito: mover-se não necessariamente na direção que os críticos, fãs ou chefes de gravadora desejam, mas indo e vindo em melodias que desenham, de canção em canção, um estilo arejado, aberto a erros e acidentes – alguns deles, como se ouve em Passing Out Pieces e Brother, sublimes.

35. ‘Are we There’, Sharon Van Etten

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A cada disco, Sharon se sujeita a exercícios de generosidade e abre frestas na própria música (que é, por si só, de um intimismo profundo) para que mais amigos colaborem e muitas outras pessoas se aproximem de canções que, num primeiro momento, poderiam parecer particulares demais. O álbum mais acessível da compositora pode não ser aquele que provoca a catarse mais bonita, mas os melhores momentos dela estão aqui: da aflitiva Your Love is Killing Me à solar Every Time the Sun Comes Up, temos um passeio pelas madrugadas e manhãs de Sharon.

34. ‘Sunbathing Animals’, Parquet Courts

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Vencida a impressão de que a banda não faz nada além de transportar a cartilha de Stephen Malkmus (com um pouco de Pixies e Talking Heads) para a geração que cresceu ouvindo Strokes, a banda revela-se uma das poucas capazes de descobrir alternativas criativas para o pós-punk, talvez o subgênero mais maltratado desde o início do século 21.  Saldo: um disco surpreendente nascido de uma fórmula já bem surrada.

33. ‘By Any Means’, Kevin Gates

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Chame do que quiser, mas, mixtape ou não, Kevin Gates vem lançando uma série de ótimos álbuns de hip-hop sem perder o fôlego. Este é um dos melhores: mais coeso e potente que a maior parte dos lançamentos mainstream do ano.

32. ‘Because I’m Worth It’, Copeland

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As duas metades do Hype Williams gravaram dois dos discos mais provocativos do ano. Enquanto Dean Blunt tomou novamente um desvio que ninguém esperava dele, Inga Copeland deu um mergulho ainda mais radical numa sonoridade soturna, cheia de transformações que testam a imagem que vai sendo construída por quem ouve o álbum. Tal como Blunt, quebrar expectativas é o objetivo principal.

31. ‘My Krazy Life’, YG

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Tal como na parceria criativa entre Drake e o produtor Noah “40” Shebib, o rapper YG encontrou no DJ Mustard uma espécie de diretor de sons, encarregado de “enquadrar” musicalmente as crônicas violentas que ele escreve. Desse encontro nasceu um disco de rap incomum, de uma unidade estilística marcante e que soa diferente de tudo o que é feito no momento.

30. ‘Parallel Memories’, Mr. Mitch

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Apesar de ter sido revelado na cena grime, Miles Mitchell ignora as tendências e marcas do gênero em um disco que, na falta de uma definição mais exata, pode ser descrito como um sonho minimalista. Indico, por exemplo, para quem se encantou pelo primeiro disco de James Blake, mas sentiu falta de mistério no segundo. Poucas músicas lançadas em 2014 são tão hipnóticas quanto Don’t Leave.

29. ‘You’re Dead!’, Flying Lotus

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O método de Flying Lotus: converter temas universais em discos nem um pouco convencionais. Em muitos momentos, este álbum sobre morte soa mais como uma celebração jazzística que como um réquiem. Sigo com a impressão de que Steven Ellison nos oferece apenas pequenos insights de um processo criativo que não cabe em discos. Mas talvez nem seja isso: o divertido, no caso, é tentar encontrar vias de acesso aos puzzles que ele cria.

28. ‘Lese Majesty’, Shabazz Palaces

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De um grupo tão empenhado em prever o futuro do hip-hop, o mínimo que se espera é álbuns que nos transportem a outros planetas. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, com erros e excessos, este disco não traz revoluções e, por isso, pode provocar certa decepção. Mais importante, no entanto, é como ele defende com convicção a ideia de liberdade dentro de um gênero cada vez mais tomado por fórmulas. Quando acerta, o Shabazz Palaces ainda faz os discos mais independentes deste mundo.

27. ‘Black Light Spiral’, Untold

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Criar um disco completamente original de música eletrônica é um desafio talvez impossível, tamanha a quantidade de selos e produtores que lançam faixas a cada semana. Mas foi esse o ponto de partida de Jack Dunning e, apenas por isso, seu álbum de estreia já provocaria curiosidade (um pouco de ambição nunca fez mal à música pop). Impressionante é como ele, além de não desviar da ideia de partir da estaca zero e criar sons como se não houvesse passado, consegue fazer com que nos adaptemos lentamente às suas estranhezas. Basta sobreviver ao impacto das primeiras audições.

26. ‘Yellow Memories’, Fatima

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É quase sempre curiosa a maneira como produtores e intérpretes europeus se apropriam de modelos pop que foram transformados em lugares-comuns pelas gravadoras americanas. O caso da sueca Fatima Bramme Sey, que mora em Londres, é um bom exemplo de como as diferenças culturais renovam gêneros já muito conhecidos. Acompanhada de produtores de eletrônica minimalista, ela parece ter tentado gravar um álbum de soul music nos moldes de uma Alicia Keys. Conseguiu algo melhor: canções tão sensuais e agradáveis quanto microscópicas – uma combinação que, claro, foi incompreendida nos Estados Unidos.

25. ‘The Moon Rang Like a Bell’, Hundred Waters

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Combinar folk e eletrônica parece moleza: um banquinho, um violão e barulhinhos fofos? A banda Hundred Waters dá um passo adiante no subgênero ao envelopar com uma atmosfera de perigo e mistério a receita flower power – daí a semelhança inevitável com o trip hop dos anos 90. O equilíbrio entre os elementos é preciso e seguro, sem facilitar muito para o público. O convite: adentrar o disco como quem, na ponta dos pés, explora uma floresta… às escuras.

24. ‘Workshop 19’, Kassem Mosse

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É um álbum de estreia, mas o estilo de Mosse está prontinho: uma eletrônica sensual e pulsante, com elementos de house e techno que serpenteiam de faixa e faixa e, quando menos se espera, são transformados de maneiras inesperadas. Talvez funcione nas pistas de dança, suponho que sim, mas provoca efeito entorpecente em qualquer situação – até na fila do banco, acredite.

23. ‘DSU’, Alex G

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Um disco pequenino de indie rock que talvez não devesse ter entrado nesta lista, mas não serei desonesto: foi um dos que mais ouvi em 2014. Alex é um ás no formato de canções de melodias sofisticadas com duração curtíssima e interpretação desengonçada (de propósito?). Um álbum que não quer ser grande. Mas ouça com atenção e você encontrará uma coleção quase enciclopédica de referências a subgêneros alternativos dos anos 90, de Breeders a Elliott Smith, interpretados com o ar informal de quem toca violão pros amigos ao redor de uma fogueira. Adorável.

22. ‘Atlas’, Real Estate

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Parece um blefe: a banda repete o formato do disco anterior, às vezes literalmente. Mas, se o som segue o mesmo (há bandas que não precisam nem devem mudar), o álbum parece retratar um personagem que ficou um pouco mais velho, talvez mais sábio, ainda inseguro e melancólico. O tom sincero e desencantado de faixas como The Bend é tão irresistível quanto os riffs perfeitos das guitarras.

21. ‘Hell can Wait’, Vince Staples

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Além de ter escrito algumas das melhores músicas do ano (e não só dentro do universo do hip-hop, como Blue Suede e Limos), Vince Staples lançou um EP que provoca imensa tristeza quando termina – é curto demais. Se ele conseguirá reunir tantas faixas marcantes num próximo álbum? Possivelmente não. Mas não importa. Muitos rappers venderiam a alma para criar um disquinho perfeito e incendiário como este.

20. ‘Present Tense’, Wild Beasts

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Apesar de não ter me conquistado imediatamente (nem na primeira, nem na décima audição), o disco se instalou nos meus fones de ouvido no decorrer do ano e, hoje, eu não mudaria quase nada nele (ok, as duas faixas mais pop forçam um pouco a barra ao apelar para chegar a um público que certamente não se interessaria pela banda). Na maior parte do tempo, é o som de um grupo que sabe exatamente que, na música pop de 2014, mais importante que experimentar tudo é saber o que não experimentar.

19. ‘Ruins’, Grouper

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Não é nada tão complicado de ouvir mas, para mim, foi o disco mais difícil de 2014: tentei várias vezes, sem sucesso, encontrar portas para entrar na sonoridade quase opaca do álbum. Consegue dar forma melodiosa a um sentimento de solidão que eu não desejaria a ninguém. Não é para todos os momentos, mas, naqueles momentos, provoca estrago.

18. ‘Reality Testing’, Lone

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Eis um disco fácil de música eletrônica: funcionaria muito bem em elevadores ou no lounge de um consultório de dentista. Essa aparente simplicidade, no entanto, pode deixar a impressão de superficialidade, o que seria um engano terrível. As faixas soam familiares não por roubar tiques de outros compositores (nada de Avicii por aqui, pessoal), mas por criar ambientes aconchegantes e delicados. Ouça várias vezes e você perceberá a generosidade de um álbum que quer e merece ser amado por muita gente.

17. ‘What is this Heart?’, How to Dress Well

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A aposta em canções mais emotivas, diretas e confessionais parecia um passo largo demais para Tom Krell. Esse ato de coragem, no entanto, trouxe recompensas surpreendentes. Ao sair do casulo da indietrônica, o compositor criou um disco de muitas facetas, que abre uma série de possibilidades tanto para ele quanto para um subgênero que parecia fadado à mesmice. Músicas como Words I Don’t Remember, que beira o prog rock, mostram um músico que, ufa, ainda não vê limites para a própria arte.

16. ‘Black Metal’, Dean Blunt

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De uma provocação (bastante oportuna, por sinal), nasce um álbum excepcional. Para colocar em discussão os papéis a que são submetidos os músicos negros na Inglaterra, Blunt foi ao selo Rough Trade (conhecido por álbuns de shoegazing do fim dos anos 80) para gravar uma série de canções introspectivas de indie rock que podem, mas não deveriam, provocar desconforto imediato em quem esperava dele um álbum de hip-hop, soul e dub. Além de incomodar, Blunt vai além e divide o disco em duas metades – a primeira mais “branca”, a segunda “negra” -, criando um jogo de espelhos que coloca em dúvida a intenção de cada música. Um dos álbuns mais inteligentes do ano, apesar da aparência torta e imperfeita.

15. ‘Black Portland’, Young Thug e Bloody Jay

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Enquanto alguns rappers usa o formato da mixtape para disparar uma série de ideias que serão depuradas posteriormente, há quem prefira explorar a liberdade garantida por esses discos que não são encarados como discos. É o caso desse projeto de Young Thug, um dos rappers mais habilidosos em atividade, e Bloody Jay. Sem barreiras para a criatividade – e para a imaginação doentia -, eles criaram um álbum que mostra o vigor do gênero quando aplicado a rimas despudoradas, agressivas, idiotas, proibidas para qualquer idade.

14. ‘To Be Kind’, Swans

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Apesar de não provocar o choque do anterior, o irretocável The Seer (2012), o álbum mantém parte daquela estrutura, só que sem repetir a fórmula. As canções aparecem ainda mais longas e torturantes, mas num conjunto melhor delineado. Fica a impressão de, disco a disco, Michael Gira compreende melhor o que é central em seu estilo. Um álbum ainda não contramão da época em que vivemos – ele exige que paremos tudo e dediquemos um tempo grande a ele, como quem vê um filme de três horas ou lê um romance russo – e que parece existir para nos fazer refletir sobre a forma como consumimos música. Uma enorme ambição, como de costume, entre muitas outras.

13. ‘In Conflict’, Owen Pallett

xin-conflict-1.jpg.pagespeed.ic.xkU5N_nPlpNada menos 2014 que um disco de indie rock progressivo que mistura canções confessionais com delírios de nerd louco por RPG. Não imagino nenhuma dessas músicas no repertório dos concorrentes do The Voice, mas é bom deixar claro que trata-se do disco pop de Owen Pallett – ou ao menos aquele que tenta aproximações com melodias menos extraterrenas (há faixas produzidas por Brian Eno no modo Coldplay de produzir!). Bizarrices à parte, um aviso: a exposição prolongada a esses violinos barrocos pode provocar dependência.

12. ‘Syro’, Aphex Twin

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Enquanto boa parte da crítica festejava o retorno de Aphex Twin como uma espécie de acontecimento transcendental na música pop – daqueles que ocorrem de década em década, dependendo de circunstâncias especiais de temperatura e pressão -, o produtor contra-atacava com uma estratégia de marketing perversa, reduzindo seu novo disco a uma série de experiências menores, despretensiosas perto de tudo o que ele vinha fazendo secretamente. Syro se situa entre esses extremos: um álbum não tão essencial nem desprezível, mas simplesmente (!) um álbum com as faixas que Aphex Twin quer nos mostrar em 2014. O que é muito, já que quase ninguém é tão bom quanto ele – e o bastante, por enquanto.

11. ‘Faith in Strangers’, Andy Stott

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Reinventar-se é uma coisa (muito comum na música pop, por sinal); recriar-se como um artista tão ou mais interessante é outra, bem diferente. Além de surpreender ao revelar uma identidade mais soturna e arredia, que nega quase tudo o que fez dele um queridinho no álbum anterior, o produtor nos apresenta um outro estilo igualmente firme e que nos seduz como se pela primeira vez. Todos ganhamos com a mutação: em vez de um Andy Stott, agora temos dois.

10. ‘Plowing Into the Field of Love’, Iceage

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Este disco foi elogiado por abrir novas frentes sonoras para uma banda que, antes, operava numa frequência claustrofóbica, com uma ideia-fixa de pós-punk com peso, forma e cor de pedregulho. Ok. Faz sentido. O que mais me entusiasma nele, no entanto, é outro aspecto. Este: não há outro disco, e incluo aqui os do Interpol, que tenha compreendido de forma tão completa o que havia de tensão e angústia no estilo de bandas como Joy Division, para ficarmos no exemplo mais vampirizado. Aqui, o Iceage recupera a força bruta, desesperada, à-beira-do-abismo desse gênero. A interpretação de faixas como Glassy Eyed, Dormant and Veiled, de uma agonia quase insuportável, transforma o pós-punk num terreno novamente perigoso. Eu não me surpreenderia se uma geração de bandas de adolescentes fosse criada por causa deste álbum enfezado.

9. ‘Too Bright’, Perfume Genius

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É natural que a conversa siga um rumo extramusical quando se fala em Perfume Genius. A discussão sobre papeis sexuais, gênero e minorias extrapola as canções de Mike Hadreas até por uma opção do compositor de expor opiniões e narrar experiências de maneira abertamente provocativa. Mesmo nesse contexto, Too Bright cai como uma revelação: a própria estrutura do disco, que se transforma e surpreende a cada pequena canção, se mostra em sintonia com um discurso em que a defesa dos direitos individuais aparece sempre em primeiro lugar. Sem boas canções, no entanto, o álbum seria apenas uma boa intenção. Missão cumprida, então: não há uma única faixa que pareça ter sido incluída apenas para transmitir uma mensagem importante.

8. ‘Pom Pom’, Ariel Pink

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O discípulo mais talentoso de Frank Zappa fez um disco que, mesmo nos momentos mais previsíveis, mostra o quão medroso anda o nosso indie rock de 2014. Aos que veem no álbum apenas uma bagunça, a sugestão é prestar atenção à forma como Pink organiza as faixas, cada uma construída a partir de uma pesquisa sonora específica e quase sem repetições ou ideias desperdiçadas. O conjunto excessivo (de propósito), como se uma fita de VHS fosse projetada numa tela Imax, tem um quê de brincadeira infantil. Nada de tolo nisso.

7. ‘Where We Come From’, Popcaan

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O melhor álbum pop do ano pode deixar a impressão de ter surgido do nada, mas não há dúvidas sobre a identidade musical de Andrae Jay Sutherland. O jamaicano revigora o dancehall com tanta habilidade e senso de melodia que envolve as canções em uma atmosfera de registro definitivo. Ao fim da primeira audição, senti como se estivesse diante de um clássico redescoberto. Não é o caso, mas eu ficaria muito feliz se alguma dessas músicas (quase todas, grudentas de doer) invadissem o top 10 norte-americano e provocassem nele uma pequena revolução.

6. ‘LP1’, FKA Twigs

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Eu não ficarei impressionado se, tal como aconteceu recentemente com The Weeknd, este disco perder boa parte de seu impacto daqui a um, dois anos. É o que acontece com álbuns que 1. captam uma certa atmosfera que se faz presente no mundo pop, como quem “liga os pontos” numa ilustração para crianças e 2. congelam esse “som contemporâneo” em um conjunto de faixas potentes. Em 2014, nenhum disco se enquadrou nesse perfil de forma tão eficiente quanto este aqui. Ficará datado rapidamente? Talvez sim. Será odiado por causa disso? Provavelmente. Mas não terá sido culpa dele.

5. ‘It’s Album Time’, Todd Terje

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Um disco à prova de rabugices: alegre, inclusivo, generoso, que nos tira repetidamente para dançar – e, nos raros momentos de pausa, nos leva às lágrimas. Esta é a ideia que Todd Terje faz da música pop. Não deve ser encarada, é claro, como uma arte pueril. Pelo contrário. Quanto mais se ouve o álbum, mais se nota a quantidade de detalhes que faz de cada faixa montanhas-russas de boas vibrações. Uma ode à euforia – mesmo quando ela termina em ressaca (o que acontece, de vez em quando).

4. ‘Black Messiah’, D’Angelo and The Vanguard

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Nos 14 anos em que se ausentou da música pop, D’Angelo ouviu Beach Boys, David Bowie e planejou (com muita dificuldade) um disco que seria a sua obra-prima soul. Black Messiah talvez não seja tudo isso, mas espelha um período de transformações na trajetória de um compositor que ainda tenta negociar a tradição da black music com um olhar vanguardista para o gênero. Curioso é como, apesar da gestação complicada, o álbum tenha nascido sem arestas e com um conceito bem claro – o de distorcer e “poluir” composições de estrutura clássica em uma atmosfera festiva que pode lembrar uma jam entre velhos amigos. Obra-prima? O tempo dirá. Para mim, já soa enorme.

3. ‘PC Music x DISown Radio’, Vários

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A “carta de intenções” do selo PC Music, a usina criativa mais importante de 2014, é a trilha sonora para uma festa que nunca termina. O objetivo principal não é que pensemos muito sobre a música, mas o resultado mostra como a internet pode transformar nossas referências musicais, retorcer nossa sensação de nostalgia e traduzir tudo isso em novos contextos.

2. ‘RTJ2’, Run the Jewels

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El-P e Killer Mike, não se separem nunca, por favor (e: Angel Duster, melhor música do universo).

1. ‘Benji’, Sun Kil Moon

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“I suppose I’ve run out of metaphors, and when you get older, you’re bothered, or inspired, by other things in life than a girl breaking up with you. Things get heavier as you get older. At 47, I can’t write from the perspective of a 25-year-old anymore. My life has just changed too much and my environment around me” (Mark Kozelek)

‘Our Love’, Sharon Van Etten

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“There’s a part of me that wants to go back to school and become a therapist. And help people in a different way, where I know I’m helping somebody. I’ve been in and out of therapy for years to try to understand what I’ve been through and how it affects me now. You feel happier, even if you’re going through a hard time, just to be able to talk and relate to people. At certain times in your life, you may not realise that you’re completely blocked off to the world. I meet people that are so closed off, and it makes me really sad. I just… I want you to live. I want you to be happy” (em entrevista à NME)

‘Motorway to Roswell’, Pixies

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“You have to face the fact that there’s been a real process of standardisation in the music industry. It’s all about circuits, about treadmills. Too bad it can’t sometimes be a little more… sci-fi, you know? A little more futuristic. Like you imagine Ziggy Stardust’s band might have been. Like the idea of rock ‘n’ roll that you have” (Black Francis, julho de 1990, à NME)

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Playlist aqui.

‘The Selfish Giant’, Damon Albarn

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A única grande música do álbum solo do Albarn é grande o suficiente para justificar a existência do disco. As outras canções (algumas boas, algumas esquecíveis) gravitam em torno dela.

[lost albums: ‘Mutations’, Beck]

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Numa das entrevistas que Beck Hansen concedeu para divulgar o disco mais recente dele, Morning Phase (mais um capítulo frouxo e esquecível de uma fase de autoplágio que começou em 2005 com Guero), não lembro por que motivo Mutations apareceu na conversa. Mas acabou surgindo – e de uma forma periférica, como de costume. Beck contou ao repórter que ficava surpreso quando alguém mais jovem o perguntava sobre o álbum. “Fico pensando: como ele conhece esse disco?”.

Talvez até eu, o maior defensor de Mutations que conheço, acabe admitindo que disco sempre mostrou um baita potencial para ser esquecido completamente por todos (até pelo Beck). Não é um álbum “importante” como Odelay, que veio antes – nesse caso, uma OBRA que sempre será lembrada em listas de 50/100/500 melhores. Tampouco é “catártico” e “emocionante” como Sea Change, que veio depois. Não soa “provocativo” como Midnite Vultures, nem “surpreendente” como Mellow Gold. Quando foi lançado, em 1998, foi tratado como um projeto despretensioso, desimportante, um exercício folk. Pior: hoje, o próprio Beck parece acreditar nessa definição.

Acontece que o tempo, apesar de não ter sido tão agradável com Midnite Vultures ou com Mellow Gold, foi gentil com Mutations – um disco que, a cada vez que ouço, soa como o grande álbum do Beck e um dos maiores dos anos 90. Talvez um exagero, mas me perdoem: é um exagero sincero.

E talvez ele me agrade tanto – e sempre mais – por conter em abundância características tão raras no repertório do compositor. Leveza. E outra: espontaneidade.

Talvez por ter tratado o disco como uma nota de rodapé, Beck se espreguiçou de um jeito nunca antes ouvido. Não é um disco desleixado – o homem é obsessivo, perfeccionista e, por isso, incapaz de se dar esse tipo de luxo. Mas as canções ganham arranjos e produção (de Nigel Godrich, diga-se) que arejam as melodias em vez de sufocá-las. É um método inverso ao aplicado em Odelay e Midnite Vultures. Em vez de tensionar mil e um efeitos especiais de forma a percebermos a existência deles, Beck integrou seus jogos sonoros de sempre às estruturas das canções. E elas, as canções, são tão completas e fortes que garantem a longevidade do álbum. Estou certo de que ele será para sempre belo, nunca datado (mesmo se esquecido por todos).

Ainda ouço Cold Brains e Lazy Flies como se pela primeira vez, o que não acontece com Where it’s At, por exemplo, ou com Loser, que são músicas também sobre uma época, uma geração. Mutations, pelo contrário, parece flutuar sobre os anos 90, já que Beck, quando o lançou tão discretamente, não via a necessidade de atrelar o álbum a um período, a uma sensação de estado-das-coisas. Era apenas um disco que, também musicalmente, se deixava perder em referências de épocas ora distantes (o blues, o folk), ora um pouco mais próximas (a psicodelia sessentista, a tropicália) – e de uma forma tão natural e suave que jamais deixava a impressão de querer nos ensinar algo. É somente uma viagem de Beck dentro das próprias lembranças sonoras – e, mais importante, uma viagem tranquila.

Em Sea Change, ele talvez tenha tentado aperfeiçoar esse modo de lidar com a própria arte – de um jeito mais relaxada. Não conseguiu, já que aquele foi um álbum concebido para provocar certo impacto, para ser “importante”, não uma nota de rodapé, para soar como um statement sobre um tema (a dor de amor, em resumo). É um disco extraordinário, mas que me parece pertencer à linhagem de Odelay e Midnite Vultures, já que um álbum com uma arquitetura muito bem pensada, um disco ainda (não gosto da palavra, mas não consigo pensar em outra) cerebral sobre crises sentimentais.

Mutations não escapa de certo esquematismo – afinal, Beck é sempre Beck e o próprio título do álbum é didático. Mas, ouvindo mais uma vez, acredito que esse tenha sido o momento em que o compositor conseguiu perfeitamente (talvez sem perceber) um equilíbrio entre as ideias de uma música feita em doses iguais de alma e razão, instinto e pesquisa sonora. Acho que é por isso que, se eu precisasse me livrar de todos os discos dele e ficar apenas com um, seria este. E se tivesse que escolher uma música, seria Cold Brains, que abre o álbum como se o único objetivo, ao menos desta vez, fosse criar música da forma mais sublime possível. Apenas isso.

‘Pride’, Robert Ellis

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You’re too damn proud to say you were wrong
You’re screaming so loud
Making sure everyone knows what I’ve done
One of these days after everyone’s gone
You’ll see that it was better
Just for once,for you to be wrong

You’re just a kid inside a grown ‘up body
And you don’t have to apologize to nobody
Well you just keep burning every bridge that you walk across
No matter what it costs
No matter who you’ve lost

You’re blaming on the rain
You’re blaming on everybody else
You’re blaming on the way you grew up
You’re blaming on anyone
But yourself,why you’re so alone?
Why you turned out the way you did?
Honey,you’re full grown
But you act just like a kid

Inside a grown-up body
And you don’t have to say sorry to nobody
You just keep burning every bridge that you walk across
No matter what it costs
Cause your pride is the only boss

You’re just a kid inside a grown ‘up body
And you don’t have to apologize to nobody
You just keep burning every bridge that you walk across
No matter what it costs
No matter who you’ve lost
So long as it ain’t your fault
Honey,tell me,is it worth it all?

‘Delorean Dynamite’, Todd Terje

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É uma das melhores músicas de um dos discos mais interessantes do ano. O álbum fica melhor a cada audição e, por isso, vou esperar mais um pouco para escrever o post sobre ele. Me cobrem, ok?

‘My Nigga’, YG

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My Krazy Life não é, de forma alguma, um grande disco – principalmente porque  os versos soam como colagens tão banais de obviedades do hip-hip que, a partir da quarta ou quinta música do disco, parei de me preocupar com eles por completo. Mas é curioso o que acontece com o álbum quando as canções passam a soar como temas de fundo, como um bla-bla-bla distante e desprezível: a química entre rapper e produtor se torna ainda mais clara. E aí tenho que concordar com quem nota que o bate-bola entre YG e DJ Mustard é o que mostra mais entrosamento no hip-hop desde  duo Drake e Noah “40” Shebib. O que resulta disso é uma coleção de músicas mais ou menos interessantes que nascem e fluem dentro de um organismo musical todo particular. O conjunto é tão bem definido e coeso que os detalhes toscos passam a parecer menos irritantes. É, dito isso, o melhor disco de rap que ouvi, por enquanto, em 2014 (não há muitos outros, mas é o melhor).

 

‘A Little God in My Hands’, Swans

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“I don’t set out to be profound, but I wannna be inside this experience. You Europeans seem to have an intellectual bent towards analysing the experience before you experience it. Whereas in America – and it’s hard to generalise; we have some astute intellectuals as well – I think we kind of throw ourselves into it then figure the shit out later. That’s what I do, anyway” (Michael Gira em entrevista a Tom Fleming, do Wild Beasts, na NME)

‘Passing Out Pieces’, Mac DeMarco

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Watching my life, passing right in front of my eyes
Hell of a story, oh is it boring?
Can’t claim to care, never been reluctant to share
Passing out pieces of me, don’t you know nothing comes free?

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Sobre Salad Days:

Depois de lançar um disco pequenino e muito elogiado, talvez Mac DeMarco tenha pensado em retornar com um álbum muito maior. Se essa ideia passou pela cabeça dele, felizmente o sujeito a abandonou. Este compositor se torna forte e particular quando lida com melodias por vezes minúsculas, acordes dedilhados de guitarra e versinhos bem arejados. Daí que o disco, mesmo mantendo o molde do anterior, traz novidades sutis que provocam tremendo impacto – pense em duas ou três pedras atiradas num lago supersereno. Os lances psicodélicos em Passing Out Pieces, no fim de Brother e em Chamber of Reflection (uma homenagem explícita e até surpreendente a Alone Again Or, do Love)  perturbam o álbum de tal forma que o conjunto, ainda que muito familiar, passa a parecer único. Apesar de que, em quase todas as músicas, DeMarco segue deixando a impressão de que vai danar-se a embalar uma versão indie de Alagados, do Paralamas do Sucesso, a qualquer momento.

‘I Hope This Whole Thing Didn’t Frighten You’, The Hold Steady

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“At 42 years old and six records in, making a mellow record would have been obvious” (Craig Finn à Uncut)

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I heard the Cityscape Skins are kind of kicking it again
heard they finally got some discipline
running up the score and stocking up
like its World War IV
I heard that some are getting sprung
and some are back in
you know it’s always back and forth
and some of them are dead and most of them
don’t even live here anymore

So when I brought you back here for Christmas
I didnt think we would see them
I guess I shouldve explained

(Chorus)
There was a side of this city I didnt want you to see
Theres just these guys that I know we go back pretty deep
and I hope this whole thing didnt frighten you
there were times that it terrified me
I know what they said, I dont know if its true
I hope this whole thing didnt frighten you

They’re building a bunker down by the river
someone said thats where theye been getting together
theyve got masks for the gas
theyre sleeping in bulletproof vests
I guess shepard came out of St Cloud with a little ideology
its a different way of thinking, man
a view to the future
Jesus, this might be a mess

For me it was mostly the music
a crew to go to the shows with
I guess I should’ve explained

(Chorus)

They never care if it’s true
as long as they got something to prove
and they always got something to prove

and they run from the dudes
and they cranked up the tunes
I can tell this whole thing kind of frightened you

(Chorus)
I saw you look at their shoes
I saw you look at their teeth
I can tell this whole thing kind of frightened you
saw you tappin your arm like
you wanted to cruise
I can tell this whole thing kind of frightened you

[lost album: so this is goodbye]

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Há uma seção na New Musical Express chamada Lost Albums em que cantores/bandas que estão em evidência comentam rapidamente sobre um disco que, segundo eles, foi subestimado quando lançado. Na edição da semana passada do semanário, Tom Fleming, do Wild Beasts, escolheu So This is Goodbye (2006), do Junior Boys. A seguir, o que ele escreveu:

“It’s rated among people I know, but I don’t think it got the wider recognition ir deserved. They’re almost dubstep, but from when dubstep was less about bass and more about reverb and space. It’s essentially dance music and it’s a wonderful, wonderful album. There are some great sounds on it. This was their second record; their first album ‘Last Exit’ got a bit more attention, but their second one is even better. It’s much more aggressive than the first one, heavier-sounding and really sad. It’s definitely a break-up record”.

Não preciso dizer que concordo totalmente com ele (escrevi muito sobre So This is Goodbye em muitos dos meus antigos blogs), mas o elogio de Fleming me ajudou a notar semelhanças entre a sonoridade do Junior Boys e a do Wild Beasts. São duas bandas que se tentam explorar o máximo de alternativas possíveis dentro dos limites rígidos, duros, por vezes claustrofóbicos mesmo, que elas criam para demarcar os álbuns delas. São discos nos cobram um certo tempo para que nos habituemos a eles e que, talvez por isso, corram o risco de se tornar “álbuns perdidos”, infelizmente.

O post abre com o clipe da minha faixa predileta de So This is Goodbye, In the Morning.

THE LIGHTS FROM THE CHEMICAL PLANT, Robert Ellis

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ellis

Robert Ellis é um texano de 25 anos que mora em Nashville. Se resolvesse cantar no The Voice, possivelmente chegaria à final do reality show. Superficialmente, ele é estranho, “errado”. A voz de Ellis, tecnicamente perfeita, vestiria bem qualquer canção: de Sweet Home Alabama a Wrecking Ball, e é essa ideia de versatilidade (bem típica dos crooners) que os auditórios televisivos aplaudem.

Nada disso soa como elogio, eu sei. Os cantores mais dissonantes e cheios de peculiaridades interessantes raramente são aprovados nas audições às cegas do programa de TV. Mas, no caso, é apenas uma constatação: estamos falando sobre um vocalista aparentemente amável, para toda a família.

O maior ídolo de Ellis é Paul Simon e, tal como o autor de Mrs. Robinson, o texano sofre críticas por soar organizado, polido, agradável demais. Não é o que acontece (verdadeira e profundamente) em ambos os casos, mas audições rápidas e desatentas podem levar a essa conclusão.

Os discos de Ellis não são resenhados na Pitchfork, por exemplo, talvez por serem enquadrados como “álbuns de gênero” – discos de country music que não destoam da média. O curioso é que o cantor vem demonstrando uma curiosidade cada vez maior por transitar entre gêneros (do country ao folk ao pop ao rock) – ele persegue uma ideia de liberdade, de ampliar o próprio território musical, que inexiste em muitas bandas valorizadas por publicações e sites de música pop.

Aparentemente, Ellis é um conservador, já que valoriza certas tradições do country e do rock clássico. Mas a comparação entre seus dois discos – o anterior, Photographs, de 2011, e este – revela um compositor em fase de crescimento, em nada nostálgico e que, com muita naturalidade, coloca em prática a ideia de uma música country revigorada por uma geração que cresceu usando internet. A primeira faixa, TV Show, é um perfil de um homem que se isola do mundo vivendo de acordo com a programação do… Netflix? Ele não especifica, mas temos elementos para acreditar que sim.

Os temas típicos do country – a solidão, o isolamento, o desencanto amoroso – estão todos no disco, mas refletidos na tela pessoal de Ellis, com cenários urbanos e conflitos que, às vezes, são próximos demais de seu cotidiano. A última faixa, por exemplo, é o lamento de um músico em turnê, que não sabe se a namorada o esperará quando ele voltar para casa e que, antes disso, vai a “bares de hipsters” à procura de companhia.

É preciso ignorar muitos clichês da crítica musical supostamente alternativa – que está pronta para elogiar bandas que misturam Bruce Springsteen com shoegazing, mas se perde ao não conseguir analisar a obra mais recente do próprio Springsteen – para embarcar num disco ao mesmo tempo tão pop e tão desesperado. Uma das baladas conta a história de um homem que coloca a culpa de todos os seus problemas em uma garrafa de vinho e em uma bolsa de cocaína. Em outro trecho do álbum, Ellis narra o drama de um personagem que perde tudo, mas não o orgulho, com uma franqueza triste que me lembra o Elliott Smith de Alameda.

O ponto central do disco – e o mais controverso – é uma versão absolutamente delicada, quase onírica, para Still Crazy After All These Years, de Paul Simon. Numa primeira audição, ela pode soar sentimental demais, amanteigada. Pouco a pouco, começa a deixar a impressão de um registro definitivo. Enquanto muitas bandas de indie rock distorcem o rock clássico e o country aplicando a eles uma sensibilidade de fã de rock, Ellis faz o contrário: ele é um compositor de formação country se aventurando por outras paragens. No meio do caminho, talvez sem querer, supera muitos preconceitos que fazem do indie rock um cenário por vezes monótono e seguro demais.

‘Chemical Plant’, Robert Ellis

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“It’s easy, especially for other countries, to have this idea of Texas or Nashville… but the reality is that even if you are in rural Texas, most of the time you have the internet – and I grew up with that. So for me to be this one thing is just really dishonest, when I have the whole world at my fingertips.” (Ellis ao The Independent)

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In a small town down on the highway to coast
Factories and churches lay on dusty gravel roads
This is where they first met
Such a long time ago

Young runners ,what the hell is?
Foolish and unguarding,following blindly without fear
Skippin’ school and hoppin’ fences
Making love down by the pier

Love like in a man’s react
Constellations in the black
The lights from the chemical plant
Burn bright in the night like an old kerosene lamp
From a car parked by the ocean
What a vision to behold
The lights from the chemical plant

She says my heart is like an orphan
And your words are like home
I do not deserve such kindness
Keeps me warm down to my arms
We bear some strange familiar likeness
To a man I feel I know

As if to keep each other safe
They spent the night and then embrace

And the lights from the chemical plant
Burn bright in the night like an old kerosene lamp
When all seemed unstable
I could watch how they were there
The lights from the chemical plant

All the years pass by the’
So I’m ‘
And whenever things got rough,the pain they share
But no matter when death comes
It is on timely
She sat next to him
And tried hard to prepare

How can you still see them?
Through the window if you look
They are still there
Open up your eyes
Just once more, darling
Cause without I know I just can’t bear

The lights from the chemical plant
Burn bright in the night like an old kerosene lamp
I was sure that they would always be there
And one day they were gone
The lights from the chemical plant

‘Mess on a Mission’, Liars

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¨Facts are facts and fiction is fiction”

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“Music has a way of bringing you to a certain ‘other place’. If you think about it, that’s what’s unique to music as an art form. What I’m always looking for in a piece of music is its power to…deliver you. I suppose deliver you from yourself” (Angus Andrew ao The Queitus)