Um amigo “pottermaníaco” tenta me convencer de que a saga de J.K. Rowling é uma grande metáfora subversiva sobre o horror da vida escolar. A ideia me atrai — ainda tenho pesadelos sobre semanas de provas. Mas sei não, meu irmão: os episódios finais da série — e principalmente este Harry Potter e as relíquias da morte – Parte 2 — me parecem muito mais comportadinhos que a nossa imaginação, adaptações literárias corretas, asseadas (e elegantes) como ensinam os cadernos de caligrafia mais amarelados do cinema britânico.
E, antes que puxem minha orelha, vou pular o parágrafo sobre os efeitos de catarse que este desfecho vai provocar nos fãs do herói. Porque o fã, é claro, vai gostar — e vai gostar porque é fã. O que me interessa, neste caso, não é chorar a despedida do bruxinho (eu até acho que ele demorou muito para sair de cena; os longas, ainda que rigorosamente eficientes, se repetem), mas lamentar o destino da franquia: o filme-de-colégio se transformou numa fantasia de guerra mais ou menos genérica, que me lembra O senhor dos anéis e As crônicas de Nárnia.
O problema, é claro, está no livro. Porque David Yates, o cineasta in command, não faz mais que isso: criar encenações pomposas, “épicas”, mas que não traiam o texto de Rowling. O que é uma pena, já que o texto limita o filme (ainda que o filme me entusiasme mais que o texto), obrigando o roteirista a incluir personagens secundários e palavrinhas codificadas que os leigos (ou, no linguajar da série, os “trouxas”) não vão entender. Aposto que Yates, o diretor de Harry Potter e o enigma do príncipe (o meu preferido da série, que se garante como uma fitinha dark sobre a adolescência), teria preferido começar o filme de outra forma, sem tantas preliminares truncadas. Mas falta a ele o fervor fantasioso de um Peter Jackson, aquela alegria louca de exterminar seres digitais. Talvez o sujeito até goste do que faz — mas não demonstra, possivelmente porque a intenção aqui é ir à luta com pragmatismo, sem inventar ou sonhar muito.
O primeiro clipe de Measure, um disco que provavelmente estará na minha lista de melhores do ano, não é lá extraordinário (e nem tão bacana quando este outro). O Field Music, lembre-se, é uma banda discreta, quase tímida, que (prometo) vai te conquistar muito aos poucos. Para começar, repare no figurino dos rapazes e nas palminhas que encerram o refrão da música – very british. A direção é de Gavin Wood.