Uma noite sem Rohmer
Minha noite sem Rohmer
Morreu o meu cineasta preferido. Eric Rohmer. 1920-2010.
Ele estava velhinho, 89 anos. Veio a notícia. Até fiz de conta que era engano. Daí soube que perguntaram: “Eric quem? Eric Romero?” E fiquei ali sem saber se o problema era comigo, que tratava aquele francês como uma espécie de pai, ou com os outros.
Não: pai seria um exagero (tenho dois e eles me bastam). Melhor seria dizer tutor, professor. Mestre. Rohmer não foi o único culpado por minha devoção ao cinema, mas ele me ensinou uma das lições principais. Que os filmes estão cheios de vida.
Os filmes de Rohmer me inspiraram a escrever sobre cinema, a entender algumas das minhas incertezas, a refletir sobre desejo e paixão, a experimentar uma juventude que não era a minha, a descobrir que eu não nunca soube exatamente o que fazer com as minhas férias, a tirar alguns dias na praia, a me apaixonar pelas ideias de garotas incrivelmente inteligentes, a travar longos diálogos com pessoas de ficção que soavam indecisas, frágeis, hesitantes, tolas e verborrágicas (às vezes insuportáveis) como eu.
É dificílimo, por isso, escolher um título que resuma a aventura. O próprio Rohmer admitiu que não estava preocupado com os filmes em si, mas com um conjunto de obra que se assemelhasse e um grande livro de contos. Ainda assim, sugiro um itinerário particular, que começa em Conto de verão (obra-prima sobre ter 20 e poucos anos) e segue com Minha noite com ela, O joelho de Claire, O amor à tarde, toda a série Comédias e provérbios numa maratona obsessiva, A inglesa e o duque (e os falsos dramas de época), A colecionadora e todos os outros, repetidas vezes.
Você, neófito, vai ser iluminado pela revelação de que Rohmer fez um só filme. E que essa história não termina, não vai terminar nunca.