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My beautiful dark twisted fantasy | Kanye West

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Minha história com os instrumentos musicais (em cinco capítulos):

1, violão: tentei quando eu tinha 12 anos, me aborreci com a repetição dos acordes e, depois de memorizar todas as manhas de Michelle e Wave, puxei o meu banquinho. Antes disso, meu professor, um velhinho raquítico que viveu três ou quatro vidas, morreu.

2, piano: chegou muito antes, seis/sete anos, lembro da professora octogenária, a da ladainha medonha — ‘endireite os dedos, Tiago, os dedos, Tiago, os dedos’ — e eu nunca descobri se ela queria que eu mantivesse os malditos num ângulo reto ou levemente oblíquo. Aprendi uma versão débil para a nona sinfonia de Beethoven, fiquei superfeliz, concluí: escalei o Everest, quero descer.

3, pandeiro: foi numa roda de pagode que meus primos improvisaram na casa da minha avó ou da minha tia ou da vizinha, não recordo. Naquela época, ou você curtia pagode ou você era um pulha como eu. Tiago era menino, não sacava absolutamente nada de ritmo. Ritmo? Que ritmo? Os primos me aconselharam alguns truques, me envaideci com a performance, eu e o pandeiro, nascidos um para o outro, esqueci tudo no dia seguinte.

4, teclado: dava uma vergonha danada testemunhar as batalhas espartanas, sangrentas, gente sangrando e tal, que minha irmã travava contra o aparelho. Uma guerra sem vencedores e um mundo mais triste para todos. Eu gostava de ir aumentando a velocidade das batidas, daí a valsinha ficava punk rock. Era um brinquedo bobo, nunca levei a sério.

5, guitarra: muito, muito barulho; eu fazia muito barulho, mas, sinceramente, era um fiasco. Ai tentei tirar Palo Alto, aquele lado B do Radiohead que me fazia chorar, e o volume lá nas últimas, e o vizinho pendurou um Comandos em Ação num fio de barbante, que desceu até a janela do meu quarto. Grudado no soldadinho, um aviso breve: “morra, babaca”.

E é isso. The end, vamos para casa.

Ou, antes que eu esqueça: essa história toda, esses capítulos sobre minha relação conflituosa com os cinco instrumentos musicais (cinco namoros fracassados e de curta duração, mas que deixaram marcas e alguma saudade), diz algo sobre o meu gosto por discos desvairados e fantásticos e arriscados e intensamente criativos como este My beautiful dark twisted fantasy, do Kanye West. E, se vocês me permitirem, se vocês não tiverem algo mais interessante para fazer, vou tentar explicar a conexão que existe entre uma coisa e outra.

Não sou, como vocês devem ter percebido, o cara da técnica. Tentei aprender instrumentos e fracassei com todos eles. Hoje, arranho o violão, arranco uns efeitos cavernosos de guitarra e tiro Cai, cai, balão no teclado. Não sei muita coisa além disso. Mas, na minha adolescência, quando eu era um garoto enfezado e , esses instrumentos eram a minha maior diversão. Eram (serei dramático, spielberguiano, para que vocês entendam direitinho) meus amigos.

Agora tente adivinhar: como eles serviam a um zero à esquerda que não entendia nada, absolutamente nada de partituras, harmonias e acordes um pouquinho mais complexos?

Eles serviam a uma espécie de jogo, de laboratório inconsequente de barulhinhos irritantes e melodias imperfeitas. Eu costumava repetir acordes de violão, gravá-los em fitas cassete e, depois, combinar esses trechos com ruídos de teclados e, numa terceira fita, adicionar vocais quase sempre desafinados. Um horror. Mas lembro do prazer que eu sentia quando ouvia o resultado. Era mais ou menos como assistir a um número de mágica.

Guardo muitas dessas fitas e admito que não tenho coragem de ouvir nenhuma delas. São toscas, melancólicas e me mostram que fui um rapazinho infeliz. Isso me entristece. Elas me ensinam, entretanto, de onde vem a alegria que sinto quando ouço discos que usam instrumentos não para atingir ideiais de perfeição técnica, mas para criar combinações sonoras que provocam sorrisos de espanto e excitação – que fazem do pop uma espécie de playground.

Aposto que Kanye West também se entedia com a estrutura mais convencional daquilo que se chama de pop perfeito. Os solos límpidos de guitarra. O refrão certo na hora certa. A ideia polida. O riff sem arestas. Os versos simétricos, as rimas exatas. A sensação de que o compositor é também um músico dedicado e que, raios, ele levou alguns bons anos para aprender a dedilhar este violão!

Nada contra os virtuoses, mas sempre preferi o mal estar dos artistas que não se conformam com os limites da arte, de qualquer arte. Os idolos deslocados, os esquisitos, os incompreendidos, os solitários, os renegados, they don’t belong here.

Kanye West é, não se engane, não se iluda, um desses. Quem espia o blog do rapper ou o acompanha via Twitter sabe que o globetrotter é um acidente prestes a acontecer: são incontáveis os posts rasos e os tuítes risíveis, as demonstrações constrangedoras de amor às futilidades do showbusiness, o gosto por tudo o que é instantâneo e fashion e, principalmente, a necessidade de provar – a cada saraivada de caracteres – que merece reconhecimento, atenção, prêmios, elogios, um lugar cada vez maior e mais confortável no mundo. “Nenhum homem deveria ter tanto poder”, ele aconselha  (a si mesmo), no primeiro single deste disco, Power. Sejam bem-vindos.

O ego faminto de West é prato feito para revistas de celebridades, e o ídolo cumpre esse papel de forma exemplar: odiamos o homem que se descontrola diante da plateia, mesmo quando a crise nos parece falsa. Detestamos o ricaço que perde as estribeiras e sucumbe, erra, perde. Preferimos o autocontrole, a segurança, às demonstrações de fragilidade. Estamos ali para testemunhar o momento em que fracasso chutará a porta, e estaremos lá para celebrar o funeral de mais um astro pop superestimado por nós mesmos.

So what’s a black Beatle anyway?

Imagino que West escreveu as novas canções entre sessões de terapia, entre uma e outra compra milionária, entre um e outro desfile de moda. Nos momentos de incerteza (que, creio eu, existem até para um milionário esbanjador; vide qualquer filme de Sofia Coppola). Depois que você faz alguns discos de sucesso, o que acontece? Depois que você grava tudo o que precisava ter gravado, para onde ir? Quais são as canções que se escreve quando a plateia começa a cair em tédio?

“Todo mundo sabe que sou um monstro”, West se martiriza, ao som de efeitos robóticos. E depois quase entrega os pontos: “Eu cruzei a linha. Eu deixo que Deus decida. Estou de volta para casa.” A música seguinte prolonga o martírio: “A vida às vezes, meu amigo, é ridícula”. E não é?

O novo de West dá sequência a dois álbuns que soavam um pouco mais confiantes: mesmo a fossa de 808s and heartbreak parece controlada, estancada num conceito muito bem definido, um ato de bravura do macho sensível. Graduation era um brinquedo tão reluzente quanto superficial, mas que será lembrado como o retrato de um astro no comando do próprio destino, flutuando nos top ten. My beautiful dark twisted fantasy, em comparação, soa desastroso: da primeira à última faixa, West expõe o medo de perder, de ficar para trás, de se tornar irrelevante, de se tornar (tragédia!) qualquer um. De ser esquecido, perder a identidade, perder followers, etc.

Os versos, até um tanto entediados e conformados com as puxadas de tapete da existência, são o que este disco tem de mais dark. “Vai ser uma morte muito bonita, um salto da janela”, avisa em Power, o réquiem para o super-rapper.

É essa angústia, surpreendentemente, que acaba por energizar o disco, já que West compõe e grava como se estivesse à beira do precipício. Como se houvesse apenas mais uma chance (não é o caso, mas o sujeito é uma pilha de nervos). Em sua discografia, não existe um outro disco que aposte tantas fichas, que mire tão alto (sob pena de tombar no ridículo) e que tome caminhos tão arriscados. Talvez inspirado por Sufjan Stevens e pelo Arcade Fire, West percebeu que a temporada é propícia para esse tipo de monumento extravagante. Quase todas as 13 faixas do disco cabem nessa definição.

São canções como Runaway, All of the lights, Power e Blame game que condensam o espírito do álbum: elas começam e se recusam a terminar, se sabotam, abrem singelas e fecham estranhíssimas. Em alguns casos, como Devil in a new dress, um sampler se repete à exaustão, até esgotar todas as possibilidades de encantamento e morrer na praia. Existe algo de rock progressivo na estrutura dessas faixas, mas não é a melhor forma de defini-las. Existe algo de glam rock e ópera-rock, mas nenhum desses rótulos veste perfeitamente o estilo de West.

É um voo talvez alto demais, talvez cego. As faixas são grandiosas por birra, não por necessidade. Muitas delas caberiam em três minutos de duração. Só que, impertinente, West as alonga para explicitar o que elas têm de desconfortável. São paranoicas (o sucesso pode acabar num segundo). São ambiciosas (o céu é o limite). “Estou perdido no mundo”, ele reconhece, na penúltima faixa do disco, ao som de um sampler fantasmagórico de Woods, de Bon Iver.  A última canção, quase uma vinheta, atende por Who will survive in America. Sobreviver é a questão.

Goodnight, cruel world, I see you in the morning.

Voltando à minha relação com os cinco instrumentos musicais, reparo que álbuns assim – álbuns que não se aguentam dentro do pop, que querem quebrar as paredes do quarto – se comunicam com o meu desejo adolescente de encontrar sons para sentimentos que eu não conseguia decodificar de outra forma. Nessa tentativa, fracassei de todas as formas. Fracassei e fracassei feio. Eu e meus garranchos, minhas fitas toscas e ruidosas. Kanye West, porém, é desses que triunfam quando menos se espera. Um homem estúpido, egocêntrico, frívolo, uma celebridade em crise – tudo isso talvez seja verdade. Mas, neste momento, invejo o monstro terrivelmente.

Quinto disco de Kanye West. 13 faixas, com produção de Kanye West e outros. Lançamento Roc-A-Fella, Def Jam Records. 9/10

No Twitter | 1 a 15 de agosto

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Uma compilação dos comentários-relâmpago que postei no Twitter recentemente. Em alguns casos, com adjetivos e interjeições que não couberam nos 140 caracteres. Nesta edição, de novo, só filmes. Com faixas-bônus, como sempre.

5 x Favela – Agora por nós mesmos | Vários diretores | 3/5 | Este filme de episódios mostra que as oficinas comunitárias do Rio ensinam direitinho a contar histórias. Mas cinema não é só isso, ou é? Os roteiros têm certa “personalidade”, mas deixam a impressão de que foram dirigidos por uma só pessoa.

Meu malvado favorito | Despicable me | Pierre Coffin e Chris Renaud | 3/5 | Uma animação digital quase igual às outras, mas eu ficaria muito feliz se todas as outras tivessem música de Pharrell Williams e um anti-herói tão traumatizado.  

Destinos ligados | Mother and child | Rodrigo García | 2.5/5 | Foi produzido pelo Iñarritu (daí o título brasileiro?), mas a direção pega leve, felizmente. O elenco amacia um roteiro por vezes mecânico demais.

Histórias de amor duram apenas 90 minutos | Paulo Halm | 2/5 | O personagem principal, intratável, é páreo para a mocinha amarga de Não, minha filha, você não irá dançar, do Honoré. Caio Blat e Daniel Dantas se esforçam, mas eu preferiria que esta história de amor durasse uns 20 minutos.  

O aprendiz de feiticeiro | The sorcerer’s apprentice | Jon Turteltaub | 1.5/5 | Típico produto da linha de montagem de Jerry Bruckheimer (produtor de Piratas do Caribe e Príncipe da Pérsia). Tédio para toda a família.

400 contra 1 – Uma história do crime organizado | Caco Souza | 1/5 | Tem tantas idas e vindas quanto A origem, mas à serviço de um roteiro singelo (e de uma direção perdida no tiroteio). Atenção: dá dor de cabeça no dia seguinte.

/\/\ /\ Y /\ | M.I.A.

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O que você procura na música pop?

Você quer conforto, identificação, sentimentos calorosos, um refrão bem escrito, uma melodia que se assemelha a outra melodia que se assemelha a outra melodia que, por sua vez, é a melodia que tocava no momento mais importante da sua vida?

Ou você busca o assombro estético, a provocação, o desafio, a ideia inusitada, a melodia dissonante e estranhamente sedutora que, como um bug inesperado, o convida a repensar a importância que você dá às melodias mais familiares?

Maya Arulpragasam, 34 anos, procura um pouco das duas coisas. O afago e o choque. Mas, decididamente, anda cansada de conforto.

Na capa do terceiro disco de M.I.A., nos deparamos com a imagem de uma tela de computador infestada de cursores do YouTube. A cingalesa se esconde atrás de blocos cor de rosa que poderiam ter saído de um game retrô. É uma colagem que lembra aqueles instantes horríveis em que aplicativos se multiplicam desordenadamente, poluem nossos monitores sem que possamos controlá-los. Um tufão de bits. Por alguns minutos, é como se a máquina – o lado misterioso da força – tivesse finalmente vencido.

O criptografado /\/\ /\ Y /\ (que, se você preferir, aceita ser chamado simplesmente de Maya) é um álbum pop que simula esses minutos de caos e pavor. Pânico de tecnologia.

Que, obviamente, não é provocado tão somente por defeitos momentâneos do Internet Explorer. Logo na primeira faixa, A message, M.I.A. aponta a escopeta para outros inimigos. “Fones de ouvido se conectam com iPhones, iPhones se conectam com a internet, que se conecta com o Google, que se conecta com o governo”, alerta. A introdução dura menos de um minuto de duração, mas resume o sentimento de paranoia, revolta (mas contra quem?) e tensão que contamina o disco inteiro.

Numa época em as redes sociais metralham os “toques” de modelos, boleiros, atores pornôs e ex-integrantes de reality show, pode parecer impressionante que a música pop não tenha adquirido o hábito de comentar a web – e especular sobre os efeitos sociais de todo esse ruído on-line. M.I.A. observa naturalmente essa dimensão tecnológica do tempo em que vive: é possível fazer pop de guerrilha, pop contemporâneo, sem levar em conta o YouTube, o Twitter, o MySpace, a Wikipedia? Para M.I.A., não é.

E talvez não seja mesmo possível. Talvez nós é que estejamos acostumados a encastelar o pop e a protegê-lo de uma realidade que ainda soa confusa, complicada demais. Perto da ambição de M.I.A., o pop-2010 soa como um filme desbotado.

O tema já estava presente, ainda que indiretamente, em Arular (2005) e em Kala (2007). Os discos foram elogiados por renovar a world music, mas M.I.A. sempre pareceu mais interessada em nos mostrar que, com a internet, a música dos ‘outsiders’, dos estrangeiros (antes, tida como exótica e obscura), passou a ser mais um elemento sonoro entre tantos, mais um arquivo em mp3 à nossa disposição. Colar um arquivo no outro – e, com isso, produzir combinações muito pessoais – era a lição (até simplezinha, para quem se adaptou a um planeta pós-Napster, mas que soou como uma imensa novidade).

Maya é o álbum que radicaliza esse estilo global, fragmentado, sem muros, que observa naturalmente (e, no caso, com agonia) um mundo que não passa no noticiário da CNN.

Radical, aliás, em mão dupla: a sonoridade está mais arredia, irritadiça, “difícil” (de propósito). Já o discurso, menos polido, desinteressado em explicar didaticamente as próprias intenções. É o que é, como ela bem avisa no título de uma das faixas.

Lovalot, talvez a melhor do disco, sintetiza o conceito: sob um loop áspero (imagine o som de um chocalho grudado a um sampler mínimo de baile funk), M.I.A. narra o caso de amor entre um casal islâmico envolvido em casos de terrorismo. “I really love a lot”, diz o refrão, que pode ser interpretado como “I really love Alah”. Mas é outro verso, insistente, que ecoa quando a música termina: “Eu luto contra os que lutam contra mim.” Eis que, sem condenar ninguém, M.I.A. dança no campo minado.

Na face menos incendiária do disco, a web serve de plataforma para casos de amor e crises de identidade. “Você quer que eu seja alguém que não sou realmente”, reclama a apaixonada narradora de XXXO. “Por que as coisas mudam e permanecem as mesmas? Por que as pessoas gostam das mesmas coisas?”, ela questiona, em Tell me why, talvez chocada com as semelhanças entre posts do Twitter. E duas das faixas-bônus atendem por Internet connection e Caps locks.

Antes do lançamento do disco, M.I.A. explicou que: 1. As canções foram escritas num momento de crise, quando ela, isolada em Los Angeles, se sentia desconectada do planeta; 2. Ao lado de produtores como Blaqstarr e Rusko, ela gravou uma jam demorada no estúdio caseiro, uma zoeira de ritmos e loops, de onde tirou as ideias para as músicas; 3. A intenção era criar um disco “tão estranho e desconfortável que as pessoas começariam a exercitar os músculos da crítica”, um projeto “esquizofrênico”.

O resultado soa menos desagradável do que M.I.A. esperava, mas chega perto dos atos de terrorismo musical praticados pelo Flaming Lips (Embryonic) e Radiohead (Kid A/Amnesiac). Chegaria ainda mais perto se o disco não se escorasse em três faixas que podem (e devem) rodar nas rádios sem provocar muita estranheza: o R’n’b fofíssimo de XXXO (uma das canções mais viciantes do ano, de longe), o remake dub de It takes a muscle (do grupo alemão Spectral Display) e Tell me why, uma faixa dançante e sutilmente multicultural que poderia ter entrado no repertório de Music, da Madonna.

À exceção desses três momentos (que aliviam e muito a vida do fã), Maya é cacofonia digital com inúmeros dejetos musicais que, numa primeira audição, soam irreconhecíveis. Nos álbuns anteriores, ainda dizíamos que M.I.A. mesclara hip-hop com funk carioca e bhangra. Agora, não dá mais: essas e outras influências são trituradas num caldo grosso, com tempero ardido de punk (em Born free, com sampler de Suicide) e de neo-industrial (Derek E. Miller, do Sleigh Bells, também colabora).

É um disco que permite (até alimenta) a divisão de opiniões: uma obra aberta, espinhosa, que será atacada por muita gente e tratada como uma revolução por outros tantos. Até aqui, goste ou não, é o álbum pop mais urgente do ano.

Em momentos como Teqkilla e Meds and feds, o disco se desprende de qualquer padrão melódico e vai criando camadas de ruídos sobre ruídos. São arquivos que soam como arquivos corrompidos (no segundo caso, M.I.A. consegue sujar a já sujíssima Treats, do Sleigh Bells). É o choque, o vírus que corrói a rede.

Mas, ao fim deste ‘post’ de 42 minutos, M.I.A. volta ao pop (e ao mundo real) com um canção que atualiza o desencanto de No surprises, do Radiohead, e a fase Zooropa do U2, quando um Bono Vox desplugado comentava sobre um mundo com centenas de canais de tevê, mas nada de interessante na programação. “Minhas linhas caíram, você não pode me encontrar. Preciso passar um tempo com você. Não há nada de novo no noticiário da tevê”, canta M.I.A., depois do fim do mundo.

E assim termina o apocalipse digital: numa tentativa de contato. Humano e (parem as máquinas!) real.

Terceiro disco de M.I.A. 12 faixas, com produção de Blaqstarr, Diplo, Switch, Rusko e M.I.A. Lançamento NEET, XL Recordings, Interscope. 8.5/10

No Twitter | 22-31 de maio

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Uma compilação dos comentários-relâmpago sobre séries e filmes que postei no Twitter durante a semana. Em alguns casos, com adjetivos e interjeições que não couberam nos 140 caracteres.

Príncipe da Pérsia: as areias do tempo | Prince of Persia: the sands of time | Mike Newell | 2/5 | Está duríssima a batalha dos blockbusters abobalhados. Não sei qual é o mais palerma, se Fúria de Titãs ou Príncipe da Pérsia – esse último, aliás, é mais uma prova de que fazer os personagens saltarem no tempo é ótima desculpa para roteiristas preguiçosos.

Godard, Truffaut e a nouvelle vague | Deux de la vague | Emmanuel Laurent | 3/5 |  Um doc didático e quadradinho, mas recomendo muito: as imagens de arquivo são incríveis (dois exemplos: Os incompreendidos em Cannes e entrevistas com o público à saída das sessões de Acossado).

Treme | s01e06: Shallow water, oh mama | 3.5/5 | A trama pouco avança, o que não chega a ser um problema – taí um bom momento para notar as atuações, quase todas excelentes.

Treme | s01e07: Smoke my peace pipe | 4/5 | Agora que nos afeiçoamos aos personagens, a série finalmente nos atinge com uma pancada. A cena dos caminhões é de machucar.

FlashForward | s01e22: Future shock | 3/5 | Um desfecho muito coerente com a série: pulpy, frenético, às vezes ridículo, tão sentimental quanto Grey’s anatomy.

Glee | s01e20: Theatricality | 1.5/5 | O mais pobre da temporada. A celinedionização de Poker face é totalmente constrangedora.

No Twitter | 15-21 de maio

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Uma compilação dos comentários-relâmpago sobre séries e filmes que postei no Twitter durante a semana. Em alguns casos, com adjetivos e interjeições que não couberam nos 140 caracteres (e uma faixa-bônus!).

Me and Orson Welles | Richard Linklater | 3/5 | Obrigado, Linklater, por um filme de época sem a sisudez ou a pompa de uma parada militar. Em matéria de fluência, um espetáculo. Mas Zac Efron, tio?

O inferno de Henri Georges-Clouzot | L’enfer d’Henri Georges-Clouzot | Serge Bromberg e Ruxandra Medrea | 3/5 | O doc termina e, ainda assim, mal consigo imaginar se o filme de Clouzot seria algo genial ou apenas enorme. Mistério.

Fúria de Titãs | Clash of the Titans | Louis Leterrier | 2.5/5 | Uma fantasia pulp carnavalesca mais divertida do que eu esperava. Sim, eu esperava Super Xuxa contra o Baixo Astral. E o 3D-que-não-dá-barato é apenas uma entre várias picaretagens do filme.

Palavras cruzadas | Wordplay | Patrick Creadon | 2.5/5 | Este doc nos mostra que as cruzadinhas do New York Times são mais sagazes do que o conteúdo noticioso de muito jornal brasileiro. Mas quando o filme se transforma num thriller sobre batalha dos nerds, vira jogo de sete erros.

Treme | s01e05: Shame, shame, shame | 4/5 | Quando chega a cena-chave (cruel!), percebemos o quanto gostamos daqueles personagens. Bela série, grande episódio.

V | S01e12: Red sky | 3/5 | “É season finale, minha gente, vamos matar alienígenas!” Mas aí o episódio vai ficando finalmente bom quando… é claro, ele acaba.

Lost | s06e16: What they died for | 3/5 | A salvação do episódio, soletrando: B-E-N. O resto é conversa ao pé da fogueira para ninar criancinha (e vamos torcer para que tenham guardado todas as melhores surpresas para o desfecho). E já deu, né?

FlashForward | s01e20: The negotiation | 3/5 | A agente infiltrada, Janis, é o trunfo da série. Aceito engolir o besteirol todo só pra saber como ela sai da encrenca.

Glee | s01e19: Dream on | 2.5/5 | Sempre me decepciono quando a série troca o humor pela chantagem sentimental. Este sonolento episódio sobre sonhos, sonhadores e sonhos-de-valsa é o caso.

No Twitter | 9-14 de maio

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Uma compilação dos comentários-relâmpago sobre séries e filmes que postei no Twitter durante a semana. Em alguns casos, com adjetivos e interjeições que não couberam nos 140 caracteres.

Robin Hood | Ridley Scott | 2/5 | Esta versão aborrecida da lenda transforma todas as outras adaptações em fantasia bocó. Eu fico com a fantasia bocó. (Mas a última cena de batalha me impressionou: grau de brutalidade que não se encontra em livros para crianças).

O preço da traição | Chloe | Atom Egoyan | 2/5 | Egoyan chega ao fim da linha: Atração fatal com verniz autoral. Desta vez, nada de converter lixo em reflexão.

Querido John | Dear John | Lasse Hallström | 1/5 | Dramalhão medonho para fãs de Crepúsculo. Não tem vampiros, mas duvido que corra sangue nas veias do parzinho principal.

Lost | s06e15: Across the sea | 2.5/5 | Um megaflashback bíblico (lição do dia: a culpa é da mãe) com várias respostas que mereciam ter ficado em segredo. Deus!

V | s01e11: Fruition | 2/5 | Os visitantes alienígenas ameaçam, os rebeldes matutam estratégias de resistência. E é assim há uns cinco episódios.

Glee | s01e18: Laryngitis | 3/5 | ‘Você é Top 40, eu sou Rhythm and Blues’. Boa. No fim, eles assassinam One, do U2. Quase tantas intrigas amorosas quanto um episódio de Grey’s anatomy.

Justified | s01e06: The collection | 3/5 | Eu não me importaria nada se largassem as tramas policiais na sala de edição e transformassem a série num drama intimista (mas admito que ainda não consegui entrar na brincadeira).

FlashForward | s01e19: Course correction | 3/5 | Mais um daqueles episódios corridos, alucinados que mostram o quanto os roteiristas desta série veneram 24 horas.