Top 100

top 100 | Os filmes da minha vida (18)

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Amigos, esta é uma semana especialmente movimentada, com incríveis novidades na vida deste blogueiro. Espero, por isso, que vocês relevem o chuvisco de posts, que não estão caindo neste website com a regularidade prometida.

Lamento. Mas, para desempenar a barra de rolagem, cá está um novo episódio de uma saga com filmes que, por motivos quase insondáveis, foram importantes para a minha vida.

No capítulo de hoje, dois longas não muito antigos.

066 | Amantes Constantes | Les Amants Réguliers | Philippe Garrel | 2005

Um amigo meu viu o filme acompanhado da ex-namorada, que queria reatar a relação. Ela não aguentou e rapidamente saiu da sala de projeção, mas ele preferiu continuar com o filme e o namoro acabou definitivamente ali. Possivelmente essa também teria sido minha opção diante de imagens que produzem efeito hipnótico em quem se deixa embriagar por elas. Não sei se esse amigo gostou do filme (talvez não), mas é o de menos: ainda que trate de episódios históricos importantes por um viés que vira pelo avesso um punhado de discursos oficiais – é um réquiem endereçado à geração de 68 -, o que me assombrou antes de tudo foi o choque provocado por essas cenas em P&B puído, rugoso, acho até que bruto, expressivas o suficiente para enxotar do cinema certos espectadores e, em outros, inspirar fascínio eterno.

065 | Magnólia | Paul Thomas Anderson | 1999

Nem foi amor fulminante: na primeira sessão, lembro que as firulas do filme mais me incomodaram que entusiasmaram. O que ficou dele – e, mais tarde, acabou me levando de volta a ele – foram as canções de Aimee Mann. Cada vez que eu as ouvia, uma imagem do longa voltava à minha memória, de forma que as imagens de Paul Thomas Anderson rodaram centenas, milhares de vezes na minha cabeça, atuando como o refrão de uma música pop muito eficiente. Depois me rendi e revi o filme, que hoje me parece belo por causa da intensidade até inconsequente (vide Presságio, para mais informações sobre o tema) como se lança às próprias obsessões. Como numa boa faixa de Mann, as fragilidades de melodia/arranjos são compensadas pela emotividade de uma voz vigorosa, a que não falta verdade.

top 100 | Os filmes da minha vida (17)

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No episódio pós-carnavalesco da saga mais irrelevante da internet mundial, cês ficam com mais dois filmezinhos que ganharam uma série expressiva de 10, notas 10, na minha apuração particular de votos & quesitos.

Para não burlar o regulamento defendido pela comissão organizadora (isto é: eu), este ranking parmanece totalmente fiel ao compromisso de revelar muito sobre as minhas lembranças cinematográficas e, infelizmente, pouco sobre os filmes em si (até porque não lembro muito bem de vários deles).

Neste capítulo, por exemplo, temos um longa-metragem que geralmente aparece em listas de melhores e outro que, bem, cês entenderam como funciona este jogo.

068 | Conta Comigo | Stand by Me | Rob Reiner | 1986

Não me julguem: aos 10 anos de idade, um dos meus passatempos preferidos era caminhar perigosamente na linha de trem que cortava o município litorâneo onde minha família se instalava nas férias de verão. À noite, o trajeto podia ser medonho: quando a máquina barulhenta se aproximava, e os trilhos começavam a tremer, e estávamos (por azar) papeando entre morros, a única escapatória era atirar o corpo nas pedras que forravam a encosta e esperar o fim do turbilhão. Sobrevivíamos. E, após a passagem do trem, algo ficava mais forte na amizade entre os garotos que participavam da aventura. Um sentimento ilustrado à perfeição por este Conta Comigo, um dos maiores entre todos os filme-de-menino

067 | Tempos Modernos | Modern Times | Charles Chaplin | 1936

Foi deveras incomum meu primeiro contato com os filmes de Chaplin. Lembro que eu era muito novo (nove ou dez anos) e que minha mãe, psicóloga, estudava os filmes do homem para escrever um artigo ou algo que o valha. Passávamos tardes esquadrinhando as fitas de VHS, vendo e revendo cenas num indo-e-vindo caótico. Hoje, não consigo separar um filme do outro, e vejo o cinema do diretor como um aglomerado de imagens que parecem contar uma única história. A exceção é Tempos Modernos, que, pouco tempo depois, resolvi rever inteirinho, sem interrupções. O efeito foi de um deslumbramento tão intenso que, na época, pensei lá comigo: ‘este é o modelo de um grande filme’. Desde então, não o revi para confirmar ou desmentir aquela impressão.

top 100 | Os filmes da minha vida (16)

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Ei, amigos: aqui seguimos com o ranking mais inútil da internet brasileira, que reúne 100 filmes que foram extremamente importantes para a, err, minha vidinha. Infelizmente, estamos falando de uma lista muito pessoal, cujo critério principal não é a qualidade ou a importância ou a belezura ou o poder de influência ou o status dos filmes, mas o impacto que essas obras incríveis provocaram na, err, minha vidinha.

Bem, vocês entenderam. Nesta edição, aliens e nudez frontal.

070 | Eles Vivem | They Live | John Carpenter | 1988

Vou tentar não ficar muito emotivo neste parágrafo aqui, mas entendam que é muito difícil manter a compostura diante de uma comédia de horror sobre alienígenas, consumo desvairado, capitalismo, óculos mágicos, o APOCALIPSE e o hábito saudável de mascar chicletes e chutar bundas. O meu preferido de John Carpenter é o ultimate Filme B — hilariante como as piadas que contávamos durante a aula de História, mas com ideias perigosas que podem mudar a vida de um garoto de 16 anos. No mais, como faço pra curar a saudade daquele tempo bom em que os filmes de Carpenter eram discutidos na web como obras de intenso caráter subversivo?

069 | Instinto Selvagem | Basic Instinct | Paul Verhoeven | 1992

Fun fact: fui barrado na sessão de Instinto selvagem. Que coisa, não? Eu, um moleque ousado de 12 anos, até tentei convencer o moço da bilheteria de que fecharia os olhos nas cenas MAIS FORTES, mas tive que lidar com um decepcionante “se manda, garoto”. Tímido e humilado, engoli meu orgulho e aceitei a ideia de ver o filme em VHS (onde os sonhos aconteciam). O que rolou na primeira sessão é impublicável e vocês não gostariam de saber; mas, agora falando sério, vale ser registrado que não me recuperei do golpe desferido por aquela cena lá que todos vocês conhecem muito bem. Também me pareceu uma fita de suspense até bem arranjada, ainda que na época eu não tenha prestado muita atenção a esse detalhe, sinceramente.

top 100 | Os filmes da minha vida (15)

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Vamos a mais uma rodada daquele famigerado ranking de filmes? (A única resposta possível, I’m afraid, é sim). Após uma interrupção que ninguém notou, esta discreta seleção pessoal de obras cinematográficas pede licença para voltar – desta vez, com dois títulos cabulosos (como diria minha prima de 12 anos), que justificam os suspiros de ai-ai, que saudade do tempo bom que não volta mais… Snif.

072 | Rosetta | Jean-Pierre e Luc Dardenne | 1999

Não foi, infelizmente, minha primeira incursão down the Dardenneland: Rosetta foi exibido em Brasília muito depois de O Filho e de A Criança, numa mostra de cinema europeu. Sessão única. Descobrir o filme nessa condição poderia ser perigoso, já que o estilo dos cineastas me parecia familiar. Ainda assim, foi um choque: a sensação era de acompanhar o filme ao lado dos personagens – um convite à imersão que ainda me parece mais eficiente que qualquer 3D. Ao fim da sessão, uma amiga admitiu que, enfim, havia entendido o porquê do prestígio dos Dardenne: um comentário exagerado, mas não retruquei.

071 | Uma Mulher Sob Influência | A Woman Under the Influence | John Cassavetes | 1974

Assisti a todos os filmes do Cassavetes numa mesma época – talvez da maneira errada e tarde demais, eu sei -, quando eles foram lançados em DVD nos Estados Unidos. Desde que moro em Brasília (e lá se vão 20 anos), nenhum longa do diretor foi exibido numa sala de cinema daqui. Posso dizer, portanto, que a tevê salvou este cinéfilo aqui: lembro que, na terceira vez que vi Uma Mulher Sob Influência, eu usava o controle remoto para selecionar os momentos mais assustadores de Gene Rowlands, surtando gloriosamente nos cômodos de uma casinha de classe média. Desde então, espero por uma chance de vê-lo no cinema: esse filme, porém, ainda não vi.

top 100 | Os filmes da minha vida (14)

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Cá estamos com mais um capítulo da saga heroica dos 100 filmes da minha vida. Desta vez, sem muito papo: são dois longas que, por coincidência, vi pela primeira vez na mesma época. E que não revejo há mais de 20 anos. Boa sorte com eles, então.

074 | Até o Fim do Mundo | Until the End of the World | Wim Wenders | 1991

Não sei se acontece com todo muito que gosta de cinema, mas eu vivi sim, admito, a fase dos longas-metragens muito longos. Aconteceu por volta dos meus 11 anos, quando bateu uma fissura inexplicável por fitas duplas de VHS – lembro de alugado, de uma vez só, os três capítulos da série O Poderoso Chefão. Nesse período, assisti a este exagero exageradíssimo de Wim Wenders – um dos épicos mais delirantes (e desembestados, mas essa é outra história) de que tenho conhecimento. Coppola era um ídolo. Mas foi diante deste road movie apocalíptico – como que escrito durante um transe provocado por overdose de livros do Philip K. Dick – passei a admirar os cineastas que se permitiam filmar sem prudência, pateticamente além da conta. A fase dos longas de mil páginas, no entanto, não durou muito: hoje, não sei se teria paciência de cair nessa estrada novamente.

073 | Fome Animal | Braindead | Peter Jackson | 1992

Nenhum filme de Peter Jackson me entusiasmou tanto quanto esta comédia de terror – que, creio eu, fica ainda mais interessante quando vista imediatamente depois de qualquer episódio da série O Senhor dos Anéis. Já em 1992, o diretor parecia entender muito bem como usar efeitos visuais para definir o tom da narrativa. No caso, o excesso grosseiro de gore transforma cada cena num cartoon adolescente – surpreendendo, a cada virada de página, quem acredita ter finalmente identificado os limites do filme. Para um menino de 12 anos, fã de Evil Dead 2, era o tipo de obra-prima que os adultos obviamente jamais entenderiam. Desde então, Jackson dirigiu alguns filmes de aventura – mas ainda nos deve um outro filme assim tão aventureiro.

top 100 | Os filmes da minha vida (13)

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Ainda que ninguém tenha organizado marchas ou atos de protesto ou (quem sabe) churrascos contra a interrupção deste ranking, ele está de volta, cheio de amor pra dar, com mais dois filmes pra lá de astonishing, pra ver (de preferência) antes de morrer.

Deu preguiça de postar a lista dos longas que apareceram aqui em edições anteriores, mas prometo que vou estar cumprindo esta demanda no próximo experiente. Até mais.

076 | O Pântano | La Ciénaga | Lucrecia Martel | 2001

O cotidiano desta família de classe média na cidadezinha de Salta, na Argentina, tem incríveis semelhanças com algumas cenas da minha infância suburbana no Rio de Janeiro, quando também ficávamos todos estirados à beira da piscina suja enquanto as crianças quase sofriam terríveis acidentes domésticos. O Pântano, obviamente, não é só isso. É, antes, o ponto de vista de uma cineasta capaz de, com alguns movimentos de câmera, enquadrar a crônica familiar numa espécie de moldura surrealista – o que complica, lindamente, qualquer interpretação sociológica do filme.

075 | O Fim de um Longo Dia | The Long Day Closes | Terence Davies | 1992

Um filme sobre lembranças de infância que (só pra não fugir do tom ultrapessoal do parágrafo acima) diz muito a respeito da minha adolescência, que também foi tomada por um fog de solidão (num cenário mais ensolarado, no entanto). O cinema era a minha companhia, às vezes minha única companhia, daí que acredito compreender o que passa no imaginário do personagem principal, Bud. Quando assisti ao filme pela primeira vez, numa fita VHS, não consegui perceber o que havia de encantador nele. Mas, sem que eu me esforçasse, ele foi ficando na minha memória, se instalando feito um halo – até se tornar um retrato borrado do meu passado.

top 100 | Os filmes da minha vida (12)

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Neste episódio natalino, o ranking dos 100 filmes que iluminaram minha vidinha apresenta dois longas-metragens apetitosos, para nutrir a sua ceia.

Feliz Natal e até logo mais.

078 | Fargo | Joel e Ethan Coen | 1996

Vi este Coen no cinema, numa época em que eu queria escrever como Rubem Fonseca e dirigir filmes tão geniais quanto Pulp Fiction. Desde então, mudei muito (não sei se pra melhor), mas o desfecho de Fargo ainda segue em alta no meu ranking secreto das cenas mais bonitas do mundo. Eu teria que revê-lo para saber se ainda se sustenta como o meu favorito entre os filmes dos cineastas, mas isso é desimportante: hoje, lembro muito dos personagens e pouco das reviravoltas da trama (o que talvez explique sobre a força do filme).

077 | Feitiço do Tempo | Groundhog Day | Harold Ramis | 1993

Revi esta comédia tantas vezes que, ironicamente, às vezes a impressão era de que eu estava preso num Dia da Marmota cinematográfico (“vivi” o filme repetidamente, ainda que, a cada revisão, sempre descobrindo alguma novidade nele). Por um longo período da minha vida, a identificação com o herói de Bill Murray era total: eu me sentia um sujeito incapaz de crescer e aprender, mesmo quando cometia os mesmos erros duas, três, cinco vezes. Depois, quando parei de me incomodar com esse espelho, consegui notar o que existe de engenhoso no filme – não o truque de roteiro, mas a transformação sutil de um personagem.

top 100 | Os filmes da minha vida (11)

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Na onda de retrospectivas de fim de ano, já postei as minhas listas de Melhores Discos de 2011 e de Piores Filmes de 2011. Mas vou interromper essa série natalina para voltar, só por um breve momento, ao ranking dos 100 filmes que abalaram a minha vida.

Como vocês sabem, esta é uma lista muito pessoal, que não trata dos melhores filmes que vi, nem dos mais importantes, mas daqueles que se impuseram de alguma forma no, arram, mapa da minha existência. Um top 100 cheio de idiossincrasias, portanto. Voltemos a ele.

080 | Gremlins 2 – A Nova Geração | Joe Dante | 1990

Foi difícil encontrar uma palavra para definir a sessão de cinema em que vi Gremlins 2, mas lá vai: festiva. Porque, no fim das contas, éramos crianças e estávamos em festa. Lembro que o filme teve que ser interrompido porque uma menina de oito-nove anos teve uma crise de risos (outra interrupção memorável durante uma sessão: a versão-do-diretor de O Exorcista, alguns anos mais tarde). Não lembro quase nada do filme, a não ser da sensação de que havia algo venenoso no chantilly que Joe Dante nos oferecia. Para meninos de 11 anos, era o tipo mais empolgante de entretenimento (arruaceiro, hilariante & sarcástico, mais ou menos como os colegas de classe que nós admirávamos naquela época): e lembro que lamentei muito quando o longa não foi indicado ao Oscar. Mundo, injusto mundo.

079 | Audition | Ôdishon | Takashi Miike | 1999

Meu primeiro Takashi Miike foi, claro, um choque. Não só isso, no entanto. Descobri com sangue nos olhos – filme a filme; pra minha sorte, o dono da locadora de DVDs importados era fã do japonês – um diretor que fazia cinema com a voracidade de cinéfilo ansioso (ou de um menino hiperativo, que compra o ingresso para a montanha-russa enquanto ainda está na fila pro trem-fantasma). Já vi um punhado de filmes do diretor, que não se cansa de me surpreender, mas Audition segue firme no topo da minha lista de favoritos: um meta-horror pós-Psicose que me perturba menos por aquilo que ele tem a comentar sobre as fitas de gênero (e são comentários fortes, do melodrama ao terror de tortura) e mais por tudo o que Miike diz sobre o quão misterioso é o comportamento humano. Um choque, enfim.

top 100 | Os filmes da minha vida (10)

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Ei, amiguinhos, tudo pronto pra mais um episódio do ranking dos 100 filmes mais especiais da minha vida? Hoje serei breve porque este é um fim de semana movimentado, muita coisa está acontecendo, e não dá pra perder tempo com esse tipo de hobby.

Antes, um resuminho das regras do jogo (imaginando, por exemplo, que você tenha caído neste blog exatamente hoje, por falta de sorte): esta é uma lista com filmes que não são necessariamente os melhores, mas aqueles que, de alguma forma, marcaram a minha vida. Nos textinhos de cada post, tento explicar por que eles foram tão importantes pra mim.

Tentei achar semelhanças entre os filmes de hoje e não as encontrei. Se você quiser procurá-las, be my guest. Abraço.

082 | A Outra Face | Face/Off | John Woo | 1997

Na época da estreia, confesso que não dei muita bola pro filme: os elogios para a fase americana de John Woo me pareciam exagerados (eu havia detestado O Alvo), e eu era um menino que procurava realismo até no filme de ação mais surreal (como assim? Eles trocaram os rostos?). Alguns anos depois, quando passei a me interessar justamente pelos filmes mais delirantes, A Outra Face se tornou uma referência que usei para defender as liberdades criativas que eu identificava em fitas de gênero tidas como descartáveis. Hoje, o vejo simplesmente como um dos grandes filmes dos anos 90. As interpretações de Travolta e Cage (um imitando o outro, e com muito rigor!) são inesquecíveis.

081 | Deus e o Diabo na Terra do Sol | Glauber Rocha | 1964

Ainda me impressiono quando lembro que, apesar de ter me matriculado em quase todas as disciplinas do curso de cinema da Universidade de Brasília, nenhum professor exibiu Deus e o Diabo na Terra do Sol. Um lapso que, no fim das contas, se mostrou até muito positivo: assisti ao filme pela primeira vez numa sessão especial de encerramento do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na tela grandalhona do Cine Brasília. Não sei se devo tratá-lo como o melhor filme de Glauber, desconfio que não seja o melhor brasileiro, mas ainda o vejo como o maior filme de aventura do diretor. E um que me parece criar o projeto de um país cinematográfico: em amarelo, verde, preto e branco. Uma sessão tão forte que, quando acenderam as luzes, eu não fazia mais a menor questão de saber os nomes dos vencedores daquele festival.

top 100 | Os filmes da minha vida (9)

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Neste domingo lindo (mentira, tá chovendo), o dia parece mesmo perfeito para um episódio do ranking que produz intensas expectativas entre cinéfilos do Brasil (mentira, ninguém lê).

Sei que vocês estão muito ansiosos para saber quem é o primeiro colocado desta lista (mentira, todo mundo sabe), mas adianto que até os meus amigos mais próximos vão se surpreender com a revelação final (tá, estou mentindo).

É puríssima verdade, no entanto, que o post de hoje contém filmes que vi há muito tempo. E que foram importantes para a minha vida por razões que pareciam todas tão claras, mas que hoje talvez eu não saiba mais explicar (acontece; o tio aqui está ficando velho).

Resumindo o drama: ainda não tenho certeza se devo recomendar estes filmes a vocês, até por que não lembro muito bem deles. A seguir, pequenos parágrafos sobre como os encontrei.

084 | Short Cuts – Cenas da Vida | Robert Altman | 1993

O filme anterior de Altman, O Jogador (1992), era uma dos meus prediletos da época em que me tornei cinéfilo (aos 12, assim que eu e minha família nos mudamos para Brasília). O seguinte, Prêt-à-Porter (1994), eu defendia com muito entusiasmo, mesmo concordando secretamente com os argumentos de quem torcia o nariz para ele. Mas Short Cuts, com suas três horas e sete minutos de duração, era caso à parte: um filme-cidade, com personagens/moradores que viviam tramas/rotinas. Vi no dia do meu aniversário, na minha tela preferida (Cine Brasília), numa sessão fantasmagórica de cinco da tarde. Desde então, Altman se transformou numa espécie de herói de adolescência – e comecei a ler o autor dessas crônicas suburbanas, o também mestre Raymond Carver.

083 | Duro de Matar | Die Hard | John McTiernan | 1988

Este ultimate action movie, ao contrário de Short Cuts, faz parte da pré-história da minha cinefilia, quando eu via os filmes de uma forma ainda muito ingênua, me deixando afetar pelas narrativas sem perceber os truques de encenação. A experiência de Duro de Matar foi, portanto, de um nervosismo sem fim: na época (eu tinha uns 10 anos de idade), me pareceu o filme mais tenso de toda a história do cinema, um atentado sádico contra as minhas férias tranquilas. Para mim, o personagem de Willis nem era herói, mas um homem comum tentando escapar de um pesadelo (e o pesadelo era a trama em si). Quando descobri que não deveria ter levado esse filme tão a sério, era tarde demais.

Os filmes da minha vida (8)

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Er… Boa noite?

Depois de uma temporada de (sejamos dramáticos) absoluto desencanto com este blog, este redator aflito volta ao ringue para mais um capítulo da incrível, implacável saga dos 100 filmes que… estiveram lá.

Para refrescar as vossas memórias, explico as regras do campeonato: 1. este é um ranking subjetivo, particular, cheio de idiossincrasias, que não reúne os melhores filmes nem os mais importantes/influentes, mas aqueles que acabaram pontuando a minha vida (pro bem e pro mal); 2. a ideia é postar um capítulo por semana, mas (como vocês perceberam) isso nem sempre será possível; 3. Se os amigos leitores quiserem colaborar com links para download dos filmes, a caixa de comentários está aqui pra isso.

Nos próximos dias, vou tentar retormar as atividades deste blog, espantando os ácaros do meu teclado e, quem sabe, escrevendo algo digno de algum respeito. Sei não (estou usando apenas 10% da minha capacidade intelectual, acreditem), mas vejamos.

086 | Não amarás | Krótki film o milosci | Krzysztof Kieslowski | 1988

Os filmes de Kieslowski foram tão importantes para a minha adolescência quanto os episódios de Os Simpsons e os discos do Nirvana (lembro de, no auge da minha rebeldia, ter matado uma aula de inglês para ver A liberdade é azul no cinema), mas, olhando para trás, sinceramente não sei se foi proveitoso ter crescido no período em que o polonês virou astro em festivais internacionais. Na época, não entendi metade dos longas que ele dirigiu (A dupla vida de Véronique ainda me parece um enigma), e acredito que a maior parte tenha sido feita para um público não tão imaturo quanto eu era nos anos 1990. Uma exceção: minha ingenuidade fez de Não amarás uma experiência audiovisual ainda mais inquietante. E o diretor, de algum modo, explicava a forma como eu, um garoto muito tímido, via o cinema: um caso de amor platônico através de janelas indiscretas.

085 | A mosca | The fly | David Cronenberg | 1986

Durante a pré-adolescência, minha fixação por filmes de horror era provocada por slasher movies: Freddy Krueger, Jason – todos os outros maníacos com sérias necessidades especiais – eram meus heróis, talvez porque os mocinhos oficiais não me inspirassem muitos sentimentos além do tédio. Ainda que meu estômago fosse bem resistente, eu não estava pronto para A mosca, que me apresentou um tipo de horror muito mais medonho, mais desagradável – e intenso, já que sem a aparência de uma brincadeira para meninos malcriados. Revi recentemente e ele (ufa) seguiu provocando o bom e velho mal estar, com cenas de degeneração física e psicológica que explicitam boa parte do projeto de cinema de Cronenberg. A partir dele, o cineasta entraria na lista dos meus diretores favoritos, onde permanece firme e forte.

Os filmes da minha vida (7)

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Após um intervalo angustiante (para mim, é claro), voltamos a acompanhar o bonde dos 100 filmes que, por um ou outro motivo, marcaram a vida deste blogueiro (ligeiramente) saudosista.

Mais duas belezinhas para a sua mesa de cabeceira, portanto. Só agora me dei conta da coincidência que existe entre os longas-metragens deste capítulo: um fala sobre o início de um amor; o outro, sobre o fim.

088 | A primeira noite de um homem | The graduate | Mike Nichols | 1967

Não é um filme que eu veria novamente – porque, quando o vi pela primeira vez, aos 17, me parecei muitíssimo familiar. Era como se eu tivesse assistido àquelas imagens desde pequeno, picotadas e reordenadas em outros filmes, em seriados, em anúncios de tevê. Mas, além da naturalidade como filma um tema que me deixava hipnotizado naquela época (a adolescência, o tema preferido de 90% dos adolescentes), lembro principalmente de um filme que corria na tela com uma leveza graciosa; tão adorável que, após a última cena, voltei o DVD para sentir um pouco daquela alegria novamente. Mas eu era um garoto na época; minha opinião sobre o que vi, portanto, não é lá muito confiável.

087 | Nós não envelheceremos juntos | Nous ne vieillirons pas ensemble | Maurice Pialat | 1972

Um filme que vi há pouco tempo, num período complicado de separação, e que veio a mim não como um espelho – apesar de ser um longa sobre um caso de amor degenerado, condenado -, mas como a imagem de sujeito velho, muito experiente, que precisava me dizer algumas palavrinhas cruéis sobre a forma como as pessoas às vezes se relacionam. A secura da trama me perturbou por algum tempo, tanto que acabei cancelando a ideia de uma revisão. As atuações me impressionam sempre que lembro delas. Hoje, depois do turbilhão, talvez eu veja um filme diferente daquele que vi: menos sobre a minha vida, mais sobre algo que diz respeito a mais gente, talvez a muitos de nós.

Os filmes da minha vida (6)

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Estou na cidade grande, de férias, curtindo o ar condicionado da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (prometo mais posts sobre o assunto, aguardem). Mas algumas tradições devem ser mantidas: aos três leitores valentes que acompanham esta série (inútil) de posts, tirei um tempinho para escrever mais um capítulo da estranha saga dos 100 filmes da minha vida.

Este Grande Projeto, como vocês já sabem, é apenas uma brincadeira mesmo: a ideia é listar não necessariamente os meus filmes preferidos, mas aqueles que acabaram deixando lembranças importantes. Simplezinho assim.

Alguns deles, não vejo há 20 anos. Em muitos casos, as tramas desapareceram totalmente da minha memória. Eles deixaram, no entanto (e de uma forma sinistra), rastros poderosos de imagens. Mesmo que eu quisesse (e digamos que eu queira?), não conseguiria me livrar desses filmes. Eles estão aqui, apenas isso.

090 | Delicatessen | Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro | 1991

Taí um filme que se perdeu quase por completo na minha memória (à exceção do tom de cor da fotografia, um sépia sujinho, enlameado; isso ficou) e de que possivelmente eu não gostaria se revisse hoje – os artifícios de Jeunet não me comovem. A sessão, porém, foi das grandes: a minha iniciação no circuito “de arte”, e por total acaso. Estávamos em Botafogo, acredito que para ir ao médico, quando minha mãe decidiu aproveitar o tempo livre à tarde para espairecer no cinema. Quando a sessão terminou, ela pediu desculpas por escolher um filme “tão estranho”, mas eu estava maravilhado. Era diferente de tudo o que eu havia visto: para um garoto de 11 anos, acostumado a superproduções americanas, aquela comédia surreal parecia um OVNI, uma revelação cósmica. Na bilheteria, ganhamos de presente um porquinho dourado, que guardo lá em casa até hoje.

089 | O espelho | Ayneh | Jafar Panahi | 1997

No começo da minha cinefilia, alguns dos meus filmes preferidos eram aqueles que me surpreendiam: a sala de projeção ainda era, para mim, um espaço semelhante àquele ocupado pelos mágicos de circo. É claro que, com o tempo, a maior parte dos truques do cinema começaram a me parecer previsíveis, e passei a ver os filmes de uma forma menos inocente. O segundo longa de Panahi, marca essa transição – e ainda me identifico com a cena em que a atriz-mirim se revolta contra a equipe de filmagem e desiste de encenar o papel de uma menina chorosa, frágil, um lugar-comum ambulante do cinema iraniano dos anos 1990. O filme pode ser interpretado como um filme sobre a condição da mulher no Irã, mas também (e prefiro esse viés) como uma obra de aventura sobre os imprevistos de uma filmagem. Foi nessa época que comecei a ver o cinema não apenas como um truque que nos deslumbra, mas como um espelho para as surpresas da vida.

Os filmes da minha vida (5)

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A saga mais inconstante da internet (sempre alguns atrasada, coitada) chega a mais um episódio, desta vez apressadíssimo. Os textos a seguir foram escritos entre um filme e outro da Mostra de SP, evento onde estou enfurnado desde sexta-feira.

Prometo posts sobre o que eu estou vendo por aqui, no festival. Prometo, mas não sei ainda quando vou cumprir. Talvez amanhã. Não sei. Aos que se contentam com reviews irresponsáveis, escritas imediatamente após as sessões, me seguir no Twitter pode ser um bom placebo (o endereço é este aqui).

E, já que a onda é ficar prometendo, vocês não perdem por esperar a mixtape de outubro, todinha no formato de uma soundtrack. Já é minha favorita de todos os tempos.

092 | A mulher é o futuro do homem | Yeojaneun namjaui miraeda | Hong Sang-soo | 2004

Há cineastas que mudaram a forma como eu lidava com a arte, com o cinema. E há os cineastas que gosto de reencontrar por uma questão de afinidade, e esses trato da forma informal e afetuosa como me dirijo aos amigos. Sang-soo tem lugar nesse grupo. Qualquer filmes do cineasta poderia ter entrado nesta lista (difícil escolher entre a melhor lembrança de uma amizade, e confesso que todas parecem pertencer a um mesmo longa-metragem; e é dessa forma que também lido com os filmes do Godard ou do Linklater), mas escolhi A mulher é o futuro do homem porque foi o primeiro: o encontro inicial, numa telinha de tevê, com legendas desencontradas e um tanto bêbadas (mais ou menos como os personagens da trama). Talvez não seja um dos melhores do cineasta (não ameaça as obras-primas Noite e dia, Oki’s movie e Conto de cinema), mas é quase igual a todos os outros. E, perto de um filme do Sang-soo, quase todo o resto do cinema passa a parecer um pouquinho falso.

091 | Presságio | Knowing | Alex Proyas | 2009

Um dos filmes que mais revi numa tela de cinema (quatro vezes; e aposto que, com um pouco de tempo livre, teria visto mais) colidiu contra a minha vida feito um efeito grotesco de CGI. Acabou se transformando numa piada que meus amigos contam para me provocar: eu entendo que Presságio não é um grande filme (lembro que nem chegou a entrar no meu top 10 de 2009), mas também compreendo o que me conecta a ele: não apenas o tema, que me atrai terrivelmente (sou um fraco para filmes sobre fim de mundo), mas a forma desembestada como a trama se movimenta, aceleradamente rumo às últimas consequências de um gênero que Hollywood se acostumou a tratar com certa covardia (e aí incluo o desfecho, valente de tão juvenil). Tem isso. E tem o fato de que uma lista de filmes da minha vida sem Nicolas Cage seria um pouco desonesta, é claro.

Os filmes da minha vida (4)

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Neste capítulo da série épica, dois pesadelos: um deles assombrou a minha infância (quando eu praticamente só via fitas de terror), o outro amaldiçoou a minha pré-adolescência (quando eu praticamente só lia livros do Stephen King). São filmes que não revejo há uns 20 anos, e que foram picotados e remontados pela minha imaginação em dezenas de”special editions”; portanto, por favor, perdoem as imprecisões.

Também peço humildemente que vocês deem um desconto a este blogueiro, que havia prometido postar os capítulos desta saga às segundas-feiras e, ó-vida!, não está cumprindo a palavra. Pontualidade é, sim, o meu forte – mas temo que, nas próximas semanas, esta lista seguirá inconstante, cambaleando na programação do blog. Em contrapartida, prometo (e lá vamos nós com outra promessa!) textinhos sobre os filmes que eu vir na Mostra de SP. Se bem que… Vocês curtem esse tipo de coisa, amigos?

094 | A coisa | The stuff | Larry Cohen | 1985

Um dos filmes inesquecíveis da minha infância, esta sandice B sobre um marshmallow assassino talvez tenha colaborado enormemente para formar meu gosto por fitas de fantasia deliciosamente absurdas, como que escritas pelos meninos que se sentam no fundo da classe, nos momentos entediantes das aulas de biologia e de matemática (coming soon: Fome animal, de Peter Jackson). Em A coisa, as patetices da trama certamente desvelam um comentário arguto sobre a nossa sociedade de consumo, mas não percebi nada disso quando eu tinha nove anos de idade: o que ficou foi a imagem da sobremesa cremosa (quem resistiria a essa doçura?) que engole os personagens antes que eles a engulam. Uma tolice excessivamente calórica. E um daqueles filmes que me fizeram acreditar que o cinema pode tudo.

093 | O iluminado | The shining | Stanley Kubrick | 1980

Confissão constrangedora: quando assisti a O iluminado, eu mal sabia quem era Stanley Kubrick. Minha referência era Stephen King, o escritor preferido dos meus 11 anos de idade. Foi King quem me apresentou a filmes como Christine – O carro assassino, Conta comigo e Salem’s Lot e It, entre tantos outros. O que eu procurei em O iluminado foi uma adaptação fiel ao livro, apenas isso. O que encontrei superou de tal forma as minhas expectativas que, aos poucos, fui me afastando de King e me aproximando de Kubrick – uma substituição que colaborou para o início da minha vida de cinéfilo. Guardo comigo muitas cenas do filme, por tê-las visto novamente via YouTube ou em programas de tevê. O que ficou com mais força, no entanto, foi a sensação de isolamento e alienação que vai corroendo o personagem principal. O desespero parecia verdadeiro, possível (pouco tempo depois de ter visto o filme, sonhei que estava preso nos corredores de um hotel) – e isso, naquela época, eu não conseguia encontrar em outros filmes de horror.