The Horrors

Mixtape! | Julho, nas nuvens

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A mixtape de julho é um arraso: tecnológica, revolucionária, moderníssima, um evento. E por quê? É que, a partir deste momento mágico, vocês podem ouvir as coletâneas mensais do tio Tiago aqui mesmo no blog, clicando no box colorido que fica logo ali, no pé do post. Não é incrível?

Ainda existe, é claro, a boa e velha opção do download (e aí você pode guardar as musiquinhas no laptop, no iPod, etc). Mas a ideia é facilitar a vida dos amigos. Né não?

A novidade deve ajudar principalmente os leitores agoniados que, impedidos de fazer downloads na firma, se descabelam com medo de não conseguir baixar as mixtapes mais bonitas da cidade. Seus problemas acabaram, chapas!

O mais genial dessa história é que a seleção de julho está especialmente inspirada. Talvez seja a mixtape mais reluzente de todos os tempos: uma espécie de flash melodioso, um estrobo sonoro. O climão dançante pode lembrar um pouco a coletânea de junho, também conhecida como a “mixtape mais pop da história deste blog”. Mas existe uma camada de amargura que pode provocar pesadelos e arrepios. Por isso, atenção!

No mais, não vou explicar nada. Decifrem o disquinho por conta própria. Neste incrível algodão-doce envenenado, tem SBTRKT, Junior Boys (que está na foto acima), Foster the People, Cassettes Won’t Listen, Zomby, The Horrors, Yacht, Danger Mouse & Daniele Luppi, Eleanor Friedberger e Sleepmakeswaves. A lista de músicas está na caixa de comentários. Espero que vocês curtam.

E não esqueçam de fazer o download da mixtape-bônus superespecial com algumas das minhas músicas favoritas. Foi gravado com muito amor e carinho (e, de certa forma, soa como um complemento muito explicativo para esta mixtape aqui). 

Faça o download da mixtape de julho (e deixe um comentário simpático depois que ouvir, certo?).

Ou, se preferir, ouça tudo de uma vez aqui:

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

Skying | The Horrors

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Tenho uma tese sobre o The Horrors e ela é simplória, bobinha, infantil mesmo: pra mim, a relação entre a banda e os admiradores (e aí inclua uma parte grande da imprensa inglesa) é de amor. E amor a gente sente, a gente vive, a gente curte. Amor a gente não explica, né mesmo?

Falando sério (mas nem tanto): quando leio uma resenha absolutamente elogiosa sobre um disco da banda, me pego diante de uma prosa que me lembra cartas apaixonadas. E o lugar-comum não mente jamais: sabemos que o amor, apesar de lindo, nos cega.

É um caso atípico nos arquivos do indie rock, creio eu. Tome Primary colours (2009), por exemplo. Há quem o encare com ceticismo desapaixonado. Eu, por exemplo. Reconheço a bravura da produção, mas me irrito quando a banda trata as referências de shoegazing e dream pop de um jeitão superficial e single-minded, como quem decora as letras do My Bloody Valentine para impressionar a namorada deprê.

Mas há os que veem no disco uma espécie de obra-prima britânica, um monumento que define sei-lá-o-que, ainda que eles não consigam oferecer argumentos suficientemente extensos ou (a meu ver) convincentes para justificar o afeto. Talvez porque (e que o clichê me ajude novamente) não dê pra explicar essa coisa que chamamos de amor.

Nada contra essa entrega louca, aliás. Amamos os discos e as bandas como amamos nossos animais de estimação e os programas de tevê favoritos. Com eles nos identificamos. A eles juramos fidelidade. No mais, quem sou eu para julgar esse tipo de relação obsessiva, radicalmente sentimental, com os nossos hobbies?

Este textinho apressado, portanto, não vai espezinhar quem vê no Horrors uma espécie de banda-dos-sonhos. Vou tentar algo menos cruel: o que me interessa neles, e agora mais que nunca, é esse talento para despertar paixões. Isso e quase apenas isso. Quando ouço Skying, começo a entender o fenômeno (ainda que não consiga ainda me importar terrivelmente por ele).

É um álbum que deve ampliar o fã-clube e aquecer o coração de quem ama a banda. Espero reações delirantes, superlativos enlouquecedores, tweets chorosos, acesso VIP nas listas de melhores do ano. E vou encarar tudo isso sem grande surpresa, porque o The Horrors é uma dessas bandas inglesas que não querem apenas um público: ela deseja um séquito.

Nesse ponto, é previsível o entusiasmo da crítica britânica, que há muito procura uma nova associação recreativa do porte de um Oasis, de um Stone Roses. Em Skying, o The Horrors assume de vez essa condição de mascote-de-estádios, e com franqueza, autoridade. Difícil acusá-los de hipocrisia. Não: eles nos conquistam principalmente porque entendem a nosso gosto por discos que pensam grande, e se dedicam ao ofício com gana, paixão. Suam a camisa, como dizem os boleiros.

O álbum, simplificando bem, é shoegazing e psicodelia amplificados aos padrões do rock oitentista: soturno, grandalhão e acessível. Alguém comparou a Simple Minds, e não devíamos dar risadinhas porque o caminho é esse mesmo: o Echo and the Bunnymen de Ocean rain seria outro atalho para Skying (e vai ser divertido ler os comentários positivos de gente que detesta The suburbs, do Arcade Fire, outro dos nossos novos discos oitentistas).

Acontece que, ao expor os músculos pop que estavam ofuscados pela maquiagem pesada de Primary colours, o The Horrors começa a soar mais convencional, ainda que mais (digamos) apaixonante. Skying é para ser amado intensamente: mais ou menos como se o Deerhunter decidisse assinar com a Warner, gravar um clipe com o Spike Jonze e jogar para a torcida.

O Deerhunter, aliás, é tudo o que o The Horrors quer ser e (talvez por ter nascido tão britânico) jamais conseguiria. Porque, no caso dos ingleses, existe uma ambição por grandiosidade. E uma ambição um pouco ultrapassada (da mesma forma como acontece no disco mais recente do Arcade Fire), que faria mais sentido numa época menos dispersiva. Skying é um disco de indie rock para plateias enormes — mas onde elas estão? E, no mais, elas se importam?

(E aí você responde: estão nos grandes festivais europeus, as plateias enormes. Sim, assistindo a Foo Fighters e Arcade Fire. Mas ainda acredito que Radiohead e Deerhunter representam melhor os anos 2000 do que Arcade Fire e The Horrors)

Quando olhamos para o rock contemporâneo, uma banda como o Deerhunter soa mais realista, mais urgente que uma banda como o The Horrors. Mas o Horrors entende a nossa necessidade de super-heróis, sabe que ainda gostamos de álbuns com início, meio e fim — e, no mais, percebem a saudade que sentimos de uma época que moldou nosso gosto por música pop. É uma banda que dialoga intimamente com a minha geração, com tanta fluência que nos parece adorável mesmo quando não sabemos explicar por que.

É o que sinto quando ouço I can see through you, por exemplo. Ou as ambiências de Still life. Por alguns minutos, elas soam como as canções mais empolgantes da minha vida. Quando, após 54 minutos, as caixas de som silenciam, percebo o entusiasmo era um tanto ilusório. Neste terceiro disco, o The Horrors ainda é a banda que me lembra outras bandas – são fãs dedicados, saudosistas, que calharam de tocar guitarras.

Às vezes emociona. E daqueles discos que soltam fumacinha do nariz, que não passam discretamente, que querem nos convocar para uma guerra. Mas por que ainda me deixa com a sensação de uma obra que deriva excessivamente de outras e que, por fim, não tem algo tão interessante a comentar?

Acho que desse amor fatal, incondicional, eu fui poupado.

Terceiro disco do The Horrors. 10 faixas, com produção da própria banda. Lançamento XL Recordings. 7/10

Tarot sport | Fuck Buttons

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A ótima aceitação aos álbuns do The XX e do Wild Beasts pode deixar a impressão de que o rock britânico passa por um período muito propício à sutileza e à contenção. Esses dois discos, propositadamente, soam como a arquitetura de Bauhaus (a escola alemã): ainda que influenciadas pela estética sombria dos anos 1980, cada acorde cumpre uma determinada função, as faixas duram apenas o necessário e nenhuma palavra é usada à toa. As canções emocionam por parecer mais simples do que realmente são.

A parte curiosa dessa história (e que pode confundir muito jornalista apressado) é que, num universo paralelo ao dessa “tendência”, há bandas elogiadíssimas que seguem um caminho radicalmente contrário ao do desejo de minimalismo. É o caso do The Horrors (que ocupa a primeira posição na lista da New Musical Express) e do Fuck Buttons. Aí, não há lacunas a serem preenchidas: a música nos soterra em camadas de efeitos, é rebuscada feito arte barroca e, nos momentos mais estridentes, provoca o incômodo de um vinil arranhado.

É claro que, durante o ano, muitas foram as bandas que oscilaram de um extremo a outro. Mas os extremos impressionam.

O novo disco do Fuck Buttons, por exemplo, é o mais próximo que o rock inglês chegou do noise anárquico do Dan Deacon. O álbum anterior, Street horrrsing, levava o pós-rock dos anos 1990 alturas antes inimagináveis (o disco era produzido, não por coincidência, pelo guitarrista do Mogwai, John Cummings). Era um ataque frontal de guitarras em crise nervosa, com breves momentos de doçura (que ninguém é de ferro) e entusiasmo quase juvenil (uma das faixas atende por Okay, let’s talk about magic).

Enquanto o Wild Beasts se transformava numa banda mais sóbria e elegante, Andrew Hung e Benjamin John Power fizeram da transição para o segundo álbum um espetáculo grandiloquente de fogos de artifício. Tarot sport inclui no caldo fervilhante da dupla o elemento que faltava: um quê de euforia eletrônica. O produtor e DJ Andrew Weatherall havia feito um remix delirante para Sweet love for planet Earth. Presumo que a banda, entusiasmada com o resultado, tenha decidido gravar um disco que soasse como um intenso remix do álbum de estreia. Superficialmente, Tarot sport é isso.

Como o álbum de Dan Deacon, esse também se beneficia de repetidas audições. Com faixas longas (quatro delas têm mais de nove minutos de duração) que se conectam umas às outras, o disco nos confronta com agressividade e velocidade. É uma pancada. A abertura, Surf solar, resume as intenções da dupla: um loop de eletrônica repetido à exaustão, num galope cada vez mais acelerado, envolvido num manto de sintetizadores que parecem tirados de uma trilha de filme de ficção científica. O barulho é o da explosão que acompanha a decolagem.

Nas faixas seguintes, o disco sai do solo violentamente, em chamas. Rough steez abre com ruídos industriais e, subitamente, é corrompida por barulhinhos de videogame. Em The Lisbon Maru, a nave flutua graciosamente no espaço — e sugere cenas deslumbrantes. O transe continua em Olympians (o mais perto que o disco chega das melodias doloridas de Come on die young, do Mogwai). A tensão volta a apertar em Phantom limb e Space mountain, até desembarcar de forma sublime na feérica Flight of the feathered.

Mais que uma viagem insólita, Tarot sport quebra as limitações do pós-rock ao agregar elementos que, por outras bandas do gênero, eram tratados como lixo espacial. Cacos de pop, techno, drum ‘n’ bass e drone transformam cada faixa numa colagem disparatada, absurda, excitante de referências. Excessivo, sim. Exaustivo, sem dúvida. Mas como resistir a uma banda que abre os braços para abraçar um universo inteiro?

Segundo disco do Fuck Buttons. Sete faixas, com produção de Andrew Weatherall. Lançamento ATP Recordings. 8/10

Superoito express (7)

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superfurry

(Paralelamente: American beauty, Grateful Dead, 1970; Scott 2, Scott Walker, 1968; In the wee small hours, Frank Sinatra, 1955; Dusty in Memphis, Dusty Springfield, 1969; Something else, The Kinks, 1967; para todo o sempre, amém)

[E me perdoem, sei que estou metido numa geléia de discos e isso pode parecer enfadonho e redundante, mas prometo compensar assim que possível com transcrições de parágrafos de livros. Multidão que visita este blog movida pelo amor à literatura, stay tuned]

Dark days/Light years | Super Furry Animals | 7.5 | Está para o rock psicodélico do final dos anos 60 assim como Phantom power estava para o country rock do início dos 70. E com essa comparação superficial digo que: ainda que adote um método consagrado, “clássico” (no caso, o álbum de jam), o charme do álbum está no modo anárquico e inconsequente como corrompe a herança pop. São discos que fazem questão de não andar na linha. E se os melhores momentos do Super Furry Animals são os mais caóticos e surpreendentes (Guerrilla e Rings around the world, sejamos específicos), Dark days/Light years se esforça terrivelmente para encontrar um lugar entre os grandes. Não soa tão espontâneo quanto os anteriores, beira o exaustivo, mas preserva uma velha promessa do grupo: seguir em frente, sempre. Aqui, eles soam relaxados e seguros, e até arriscam uma ode aos Rolling Stones antes de se transformarem numa máquina ritmica inclassificável. Para o SFA, o significado da palavra “jam” é mais amplo do que se imagina – e, que bom, eles aprenderam a brincar feito gente grande.

Swoon | Silversun Pickups | 6 | A imprensa norte-americana adora uma banda independente que executa com competência uma tonelada de clichês do rock comercial, não adora? Só isso explica a badalação em torno do quarteto de Los Angeles, que lançou este segundo disco por um selo chamado Dangerbird e, ainda assim, virou destaque na Rolling Stone. A primeira audição é nada menos que chocante para quem viveu os anos 90: quando não soa simplesmente choroso, Brian Aubert canta exaamente como Billy Corgan, sob guitarras pesadas-mas-não-tanto que poderiam ter sido produzidas por Butch Vig. Para quem resiste bravamente à sensação de que o passado era mais divertido, o álbum até se sustenta pelo entusiasmo e uso consciente de fórmulas do rock que, na soma dos fatores, produz hits perfeitinhos como Growing old is getting old e It’s nice to know you work alone, que talvez arranquem lágrimas dos fãs do Muse e do Placebo. Talvez. E só deles, ok?

Quicken the heart | Maximo Park | 5.5 | Há bandas que não evoluem nunca, e dessas ficaremos apenas com os primeiros, ótimos álbuns. Quem lembra de Our earthly pleasures, o segundo do Maximo Park? Na minha memória é que não ficou. Mas ainda sentimos saudades de A certain trigger (parecia tão simples!), e por isso retornamos aos britânicos com interesse toda vez que eles lançam uma nova canção que deixa a impressão de que pode ser grande até o momento em que… hum, eles estragaram tudo outra vez. Quicken the heart é quase tão frustrante quanto o anterior, e chega num ponto que parece mais dedicado a reproduzir o catálogo do Futureheads que os clássicos do Gang of Four. Alguns momentos dignos (The kids are sick again, A cloud of mystery e Wraithlike) sentem-se muito sozinhos num conjunto flácido, repetitivo, que parece jogar na minha cara como eu deveria ter sido mais bondoso com o novo do Franz Ferdinand. Mas e então, abandonamos o Maximo Park de vez? Eu não. Ainda acredito que, com o humor fino e a aparente esperteza que eles têm, dia desses podem até nos pegar de surpresa. E repito: é um pouco melhor que o disco anterior. Melhor que o anterior, ouviram?

Primary colours | The Horrors | 5 | Meu caso com o Horrors está envenenado. Acabou. Fechou. Perdeu. Sei que há quem os defenda com dentes, unhas e o diabo a quatro. Entendo que este segundo álbum dos britânicos seria minimamente importante apenas por conter a grife de Geoff Barrow (e foi coproduzido pelo escritor Craig Silvey e pelo diretor de clipes Chris Cunningham, um crossover bizarro que deixaria Andy Warhol muito orgulhoso). Mas tudo o que eu (ainda) consigo ouvir é a décima-nona encarnação de Ian Curtis num moedor de carne à Psychocandy. Conciso – taí um adjetivo que será muito usado para descrever um álbum que compõe atmosferas intensas e sofridas e compactas de ruídos e ecos a serviço… do que mesmo? As trovoadas de Three decades me impressionaram, não há nada tão oco quanto os hits do White Lies, mas o restante do álbum vai agonizando lentamente até desaguar no óbvio ululante: influências de eletrônicas largadas numa jam de oito minutos de duração. Entendo. Mas não me assusta.