The Dead Weather

Mixtape! | O melhor de maio

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A mixtape de maio está um inferno. Uma peste. Paranoica, frenética, fora de controle, descabelada e com taquicardia. Pode não ser a mais furiosa de todos os tempos, mas, meu amigo!, ela chega muito perto disso.

Se a criatura tivesse um nome em português, seria algo pomposo tipo Fantasmas de guerra. Reparem o setlist: tem Ghost pressure, do Wolf Parade (fácil-fácil a música mais explosiva do ano), e Friendly ghost, do Harlem. E também tem Vietnam, do Crystal Castles, e Cold war, da Janelle Monáe. Ghosts, war, war, ghosts, sacou? Então. Tudo faz sentido e existe sim um Grande Plano nos bastidores desse CDzinho aparentemente ingênuo. 

Mas, se a mixtape fizesse por merecer um nome em inglês, seria algo panaca do estilo Shake it like a schizo!, já que o negócio é dançante e meio pirado.

E perdoem o meu entusiasmo adolescente. É que, quando faço essas mixtapes, mas me sinto como um moleque de 14 anos! Divertidíssimo. Espero sinceramente que vocês se divirtam pelo menos 10% do que curto quando estou selecionando as músicas e buscando conexões entre uma melodia e outra. É um vício! É uma droga (e entenda isso com duplo sentido)!

Antes de voltarmos ao assunto (e que rufem os tambores!), preciso abrir o jogo sobre a já tradicional escolha do melhor do mês. Em maio, o resultado é previsível. No surprises. Expo 86, do Wolf Parade, é meu favorito e, desde já, um dos cinco melhores do ano. Digo cinco porque tenho a esperança de que este será um ano belíssimo, de que todos sentiremos saudades. Outro disco muito poderoso é o do Crystal Castles, que me assusta cada vez mais (mesmo sabendo que vocês se interessam cada vez menos: qualé, gente!).

Voltando à mixtape: também tem Dead Weather, New Pornographers, Dum Dum Girls, Male Bonding, Sleigh Bells e Ratatat. Uma turma encrenqueira e ruidosa e pegando fogo. Tira o pé do chão!    

Antes que eu surte, baixe a mixtape de maio aqui ou aqui. A lista de músicas está logo ali nos comentários. E se você quiser escrever algo sobre a coletânea, sobre o blog, sobre a natureza das coletâneas ou sobre o destino da humanidade… Você estará perdendo um tempo precioso da sua vida, mas prometo que vou responder tudo com a maior atenção. Combinado?

Superoito express (23)

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Sea of cowards | The Dead Weather | 7.5

Os tipos prolíficos correm sempre um grande risco: quando em excesso, as demonstrações de talento podem soar tão admiráveis quanto simplesmente cansativas. A síndrome que saturou as carreiras de Robert Pollard e Ryan Adams está sempre ali, esperando na esquina. E é inevitável notar que, por mais que se goste do sujeito, Jack White preenche todos os requisitos para se tornar a próxima vítima. Neste momento, o sujeito comanda três bandas de rock que têm o desejo imenso de estar entre as maiores (ou as mais bombásticas) do mundo: White Stripes, Raconteurs e Dead Weather. Isso significa que, pelo menos a cada três meses, seremos entulhados com alguma novidade do guitarrista. Esses surtos de produtividade, honestamente, acabam soando familiares, tão previsíveis quanto os chiliques que sua irmã pequena dá de vez em quando. Isto é: perdem o impacto que deveriam ter.

O que é uma pena, já que o segundo disco do Dead Weather contém a performance mais sanguinária de Jack White desde Get behind me satan (2005). É um shake concentrado da bravura que Jack tanto reverencia em ídolos do heavy e do hard rock setentista. Um inferno nada original, mas um inferno. O álbum, soco bem curta (35 minutos), mostra que o supergrupo — formado ainda por Alison Mosshart (The Kills), Dean Fertita (Queens of the Stone Age) e Jack Lawrence (Raconteurs) — tem consciência absoluta do script que encena. A primeira faixa, Blue blood blues, resume tudo: Led Zeppelin cruza com James Brown e Nirvana num boteco interditado pela Vigilância Sanitária. “Shake your hips like battleships!”, Jack provoca. E (ainda) soa como uma ordem.

I will be | Dum Dum Girls | 7

A culpa é da mãe, fã de Beach Boys? Ou seria do pai, que curte The Supremes e Frank Sinatra? Não importa muito descobrir qual é o gene dominante: a vocalista do Dum Dum Girls, Dee-Dee, teve a quem puxar. A sonoridade da banda, ainda que vista um modelito vintage meio démodé (guitarras lo-fi, produção de fundo de quintal, três acordes), tem algo de agridoce, herança clara do pop sessentista. Como The Pipettes, é um quarteto que dá uma boa encardida nos clichês dos antigos girl groups, com algumas lições ruidosas ensinadas pelas riot grrrls. Mas, ao contrário do trio britânico, trata-se de uma banda muito americana, capaz de interpretar baladas lindinhas como Rest of our lives e Baby don’t go sem um pingo de ironia – com o coração na boca e a maquiagem derretendo. Surpresa boa.

At Echo Lake | Woods | 6.5

No disco anterior, Songs of shame (2009), esta banda do Brooklyn dinamitava o rótulo freak-folk: uma sombra psicodélica cobria até os momentos mais triviais, nos surpreendendo a cada nova faixa. O álbum novo é, em comparação, convencional: a única imagem que ele sugere é a de vários amigos fãs de indie rock reunidos ao redor de uma fogueira, à beira-mar. O que há de “freak” é uma atmosfera meio rarefeita, lo-fi, típica do garage rock. Mas nem isso assusta. Logo se percebe que este é um daqueles discos em que uma banda adotada precocemente pela crítica tenta provar que sabe escrever melodias que vão durar: alguns momentos muito delicados, mas é o equivalente hipster para Infinite arms, do Band of Horses.

Omni | Minus the Bear | 4

O quinteto de Seattle merece ser levado em consideração (nem que por mera curiosidade) por uma ousadia: eles desrespeitam alguns dos mandamentos mais sagrados do indie 2000. Em vez de apostar no ruído, na crueza, na zoeira de referências ou em psicodelia, eles vão na direção contrária dessa onda toda com um disco superproduzido e clean que, nos momentos mais amenos, nos lembra o soft rock (obviamente, datado) de um Counting Crows ou de um John Mayer. Um susto, mas que (infelizmente), não dura muito tempo. É que, apesar de soar extremamente sincero e bem-intencionado em tudo o que faz, o grupo se curva a um formato batidíssimo de pop rock. Está claro que a banda quer ampliar o público e, no melhor dos mundos, fazer turnês com o Sting (com lobby de gravadora, My time e Summer angel seriam sucessos). Estranha ambição: mas é interessante saber que, no indie rock, esse tipo de meta ainda existe.