Sleigh Bells
mixtape! | …sides of the moon
A mixtape de fevereiro chegou mais cedo porque, no fim das contas, não temos tempo a perder. Em resumo: esta coletânea soa um pouco mais aérea, mais cósmica que a anterior. Um cdzinho de space pop, se você preferir.
Mas não só isso. Se este balaio de fevereiro tem algo de flutuante, há momentos em que ele desce ao solo mui modestamente, e nos mostra paisagens terrenas. A minha intenção, desta vez, foi zanzar entre esses extremos sem romper a atmosfera que paira sobre todas as músicas. Não sei se consegui, mas gostei muito do resultado.
Sem mais invencionices (ou licenças poéticas), este mix contém, nesta ordem, faixas de Frankie Rose, Sleigh Bells, Imperial Teen, Hospitality (que ganhou foto lá no topo do post), Air, Yamantaka//Sonic Titan, Islands, Ezra Furman, Cardinal e Chairlift. A lista das músicas está, como de hábito, na caixa de comentários.
Espero que vocês se divirtam. Comentários serão muito bem recebidos. E, para quem quiser baixar o cdzim, recomendo pressa: os arquivos estão desaparecendo rapidamente.
Faça o download da mixtape de fevereiro.
Ou ouça aqui:
Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.
♪ | Reign of Terror | Sleigh Bells
Podemos concluir, sem sarcasmo, que o segundo disco do Sleigh Bells contém no máximo duas ideias: por um lado (1), o duo se assume de vez como uma “guitar band”, espanando a zoeira de samplers do disco anterior para criar uma sonoridade menos marrenta e mais irônica, com algo de Daft Punk (fase-Human After All) e de Def Leppard e Poison (salve-se quem puder); por outro (2), tenta compor canções de estrutura convencional, e eu não ficaria surpreso se duas delas (as baladas à la American Idol End of the Line e You Lost Me) aparecessem no próximo álbum da Gwen Stefani. É essa a vibe, amigos.
Derek Miller e Alexis Krauss colidem essas duas ideias em acidentões espetaculares, sob jatos de gelo seco e chuva de gel. Quase todas as músicas contêm riffs bombásticos de hard rock, zunidos de bateria eletrônica a 50.000/hora, efeitos sonoros que simulam explosões/decolagem/cheerleaders-em-fúria/rojões-de-festa-junina e uma vocalista desolada, cantando coisas tristes sobre amores perdidos, fracassos, ressacas e afins. Me lembra muito, e muito perigosamente, outro disco de banda indie tentando negociar com certos parâmetros do pop: It’s Blitz!, do Yeah Yeah Yeahs.
Não me parece, no entanto, um disquinho assim tão cínico, nem tão loucamente apelativo, nem digno de muitas audições: se falta sal na farofada do Sleigh Bells, seria má vontade não notar que a banda sabe onde quer chegar — e eles chegam, com precisão, a um disco mais melodioso e dócil, até mais sério (bottom line: cabou a festa, molecada), mas ainda in our faces, que talvez tenha sido criado para contradizer os comentários maldosos de quem identificava no álbum anterior uma, e apenas uma, ideia. A revanche, pois: DUAS ideias até razoavelmente interessantes, que juntas às vezes fazem um barulhão gracioso (Comeback Kid, D.O.A., Born to Lose), às vezes não.
Segundo disco do Sleigh Bells. 11 faixas, com produção de Derek Miller. Lançamento Mom+Pop. C+
Fever dreaming | No Age
Uma força estranha, destrutiva e muito enfezada atua no galpão do No Age. Não me perguntem de onde vem, mas é daquelas que não poupam os móveis da sala. Mais uma invenção pirada de Patrick Daughters, um diretor de clipes que nos lembra de uma época em que ainda notávamos os diretores de clipes. Bons tempos, ótimo vídeo.
(Neste link, outro clipe bacaníssimo: Rill rill, do Sleigh Bells. A morte pede carona numa estrada perdida, ou algo do gênero)
Treats | Sleigh Bells
Como eu tentei explicar naquele post sobre o álbum mais recente do Rufus Wainwright, as capas de discos ainda querem, sim!, nos dizer algumas coisas. Há casos em que elas até nos ajudam a adentrar a floresta e encontrar o caminho para casa. São úteis, acredite. Eu compro CDs muito raramente, mas há capas que eu levaria para meu quarto numa boa.
Essa do Sleigh Bells, por exemplo. Na fotografia, um grupo de cheerleaders estranhamente out of time (a que época elas pertencem? Anos 70? 80?), com imensos pompons em verde e branco, formam uma pirâmide humana. Elas estão prontas para a fes-ta e parecem adoráveis. Mas olhe com atenção: os rostos das meninas são cobertos por camadas finíssimas de plástico, como se elas tivessem sido capturadas, engolidas e depois congeladas por vespas gigantes.
Brrr.
É uma imagem, num primeiro momento, familiar e pueril. E, num segundo, bizarra, sinistra. É a exata representação do estilo dupla-face (doce/amargo, ríspido/fofo, pop/hardcore) deste duo de Brooklyn, Nova York.
Continue com a fotografia por mais alguns minutos: o que se vê primeiro é inocente, depois perverso. O som da banda também é assim, enganador: parece descartável, mas não é. Parece infantilóide, mas não é. Parece uma besteira programada para durar cinco minutos e explodir em confete e serpentina, mas e daí? Parece hype de jornalista novidadeiro, mas qual é o problema com jornalistas novidadeiros quando eles têm razão?
Eu entendo hype da seguinte forma: várias pessoas se entusiasmam ao mesmo tempo por um mesmo disco e tentam desesperadamente convencer outras pessoas de que ouviram algo importante. A gravadora, que não é boba, compra o burburinho e tenta multiplicar a divulgação informal, para ganhar mais dinheiro e prestígio. A banda entra nos trending topics do Twitter, começa a aparecer em sites e blogs bacanas, devora o mundo e, em alguns casos, desaparece dois meses depois. A onda do hype me ajuda a descobrir discos bons e ruins. Não tenho medo dela, já que posso decidir por conta própria se o disco me interessa ou não. Um disco superpaparicado não é necessariamente um disco ruim.
E perdoe o didatismo, mas vivo me aborrecendo com pessoas que tentam simplificar a música pop a uma equação de termos, rótulos e palavrinhas mágicas que não significam coisa alguma.
Treats é, em síntese, um disco que se beneficiou de uma maré de elogios via web e, por isso, será tratado como uma novidade efêmera, típica de blogueiros ansiosos. É também um álbum com a grife de M.I.A., que o lançou pelo selo N.E.E.T. Recordings. Um brinquedinho para fashionistas de plantão, portanto. Certo?
Certo, se você julga um disco por esse tipo de aparência. “Vou ouvir com desconfiança, tem tanta gente curtindo…” Diante desse tipo de lógica, eu até prefiro julgá-los pelas capas.
E a capa de Treats me diz o seguinte: esta não é uma banda ingênua. A sonoridade, felizmente, confirma tudo isso e avança algumas casas. É um álbum pequeno, ruidoso e bombástico, que pisca em flashes coloridos, um artefato colorido que afirma violentamente um estilo. Claro: trata-se de um primeiro disco, talvez afoito demais para nos impressionar com piscadelas de olho. Mas muito atento, muito certo dos alvos que ele quer detonar.
Eu não me impressionaria se Treats tivesse sido produzido por Dan Deacon: quando os momentos mais agressivos chegam (e eles chegam rapidinho!), o impacto da distorção é ensurdecedor. Pop de terrorista. Mas há também um traço firme do “global pop” de M.I.A., principalmente por usar o hip-hop como matriz para a zoação sonora. E M.I.A., é óbvio, não os apadrinhou à toa: eles são pupilos, e delas Derek E. Miller e Alexis Krauss herdam uma atitude, uma forma descompromissada, impura e sacana de manipular a música pop.
Eu nem precisaria reforçar, mas taí: para quem adora esse tipo de jogo tolo (e sério), é uma delícia de disco.
Derek e Alexis reciclam debochadamente o que passa como poluição sonora: as músicas soam versões estouradas para aqueles grudes apelativos que os americanos gostam de ouvir nos intervalos de jogos de basquete. Nada de minimal: é maximal. As guitarras de hard rock farofa (Andrew W.K., cadê você?) tensionam as melodias até quase estourá-las, enquanto Alexis canta delicadamente, como quem não percebe o furacão chegando. A dupla repete esse formato em todas as faixas do disco, variando os gêneros e os chavões que reciclam. No final, o que temos é um álbum meta, um disco entulhado de pop. Um disco que se espreme dentro da panela de pressão.
É energia concentrada. Na última faixa, as guitarras e os sintetizadores primeiro nos atropelam, depois recolhem lentamente o corpo. Montanha-russa, moedor de carne, arrastão, hype: chame do que quiser. Pode ser uma moda passageira (e é sério mesmo que eles entraram entre os 50 mais da Billboard?), mas que pode ser encarado como um comentário em megafone sobre o aqui-agora, sobre o tempo presente, sobre a tonelada disforme de dejeitos pop que lotam nossos HDs.
Um disquinho grandalhão. Mas ouça atentamente. Repare a capa. E depois não diga que não avisei.
Primeiro disco do Sleigh Bells. 11 faixas, com produção de Derek Miller. Lançamento de Mom +Pop e N.E.E.T. Recordings. 8/10
PS: A mixtape de maio vai chegar um pouco mais cedo, amanhã (quarta-feira) à noite. Às 23h, ok? Todo mundo aqui? Por caridade? Adianto que ela é bem melhor do que a season finale de Lost. Coisa épica. Aguarde.