Sem sentido
2 ou 3 parágrafos | Um homem sério
Gosto de acreditar que os irmãos Coen fizeram Um homem sério (A serious man, 3/5) para os espectadores que reclamaram do final inconclusivo de Onde os fracos não tem vez. “A vida é esse vendaval mesmo, nem tente entendê-la completamente”, diz o novo filme de Ethan e Joel.
Ou, nas palavras de um dos personagens, resta “aceitar o mistério.” Com a certeza, é claro, de que as coisas não vão terminar bem. Como na adaptação de Cormac McCarthy, os Coen voltam a condenar um homem comum, honesto, bom, às raias de uma maldição. Naquele filme, o horror ardia na carne de Mr. Javier Bardem. Neste, o inferno está no ar.
O tom desta comédia de horror também é outro, menos assombrado e sutil, como se os cineastas compactassem demônios particulares no molde de uma charge sarcástica sobre a vida numa comunidade judaica de Minnesota (onde os diretores nasceram) em 1967. O protagonista (que não é interpretado por Kevin Spacey, mas por outro ator muito bom, Michael Stuhlbarg) é um professor de física que, numa lapada, se vê chicoteado por provações supostamente divinas: a mulher pede divórcio para casar-se com o melhor amigo dele, a filha passa a sonhar com cirurgia plástica e o filho ouve Jefferson Airplane durante as aulas. O caos reina e o apocalipse (dos costumes) se aproxima. De certa forma, é o filme que os Coen sempre dirigiram (o que não seria um problema); para meu gosto, uma variação talvez fácil demais para os padrões da dupla.
Esta publicação foi postada em Cinema e marcada A vida, Aconteceu em Minnesota, Arraste-me para o inferno, Comédia de horror, Ethan Coen, Furacão, Jefferson Airplane, Joel Coen, Judeus, Maldição, Michael Stuhlbarg, Onde os fracos não têm vez, Os anos 60, Revolução de costumes, Sarcasmo, Sem sentido, Um homem sério.