Quero ser Quentin Tarantino
2 ou 3 parágrafos | JCVD
Em 1988, o diretor francês Mabrouk el Mechri tinha 12 anos. Taí uma informação essencial para entender este JCVD (7/10). Aposto que poucos meninos de 12 anos, em 1988, passaram à margem do efeito provocado por O grande dragão branco — uma fita de luta provavelmente muito vagabunda (mas deixe-a em paz nas minhas lembranças, ok? Eu tinha dez anos e lutava karatê) que fez do belga Jean-Claude Van Damme um astro de ação. Nas entrelinhas, JCVD documenta o reencontro entre o ídolo decadente e o fã antigo — 20 anos depois.
O ídolo belga, quase cinquentão, enfrentou dezenas de fracassos e abandonado pela multidão de cruéis meninos de 12 anos, se exilou na indústria dos filmes B. Enquanto isso, o fã trocou o kickboxer por Jean-Luc Godard (é ele quem diz, não eu!) e Charlie Kaufman. JCVD resulta desse esbarrão: um meta-filme-de-roubo com Van Damme no papel de Van Damme. Numa videolocadora imaginária, ocuparia a prateleira das autoficções, na companhia de Filmefobia, Entre os muros da escola e um videoclipe do Eminem.
Há um certo excesso de piadas para cinéfilos (a melhor delas: Van Damme é reconhecido acima de tudo como o sujeito que convenceu John Woo a filmar nos Estados Unidos), mas o cineasta sai pela tangente quando joga com a frágil imagem pública do astro. Mesmo quando o filme parece um portfólio endereçado a Quentin Tarantino, deixa transparecer um olhar emotivo, franco, de menino de 12 anos. O que aconteceu com nosso herói de ação? Um monólogo de seis minutos — sobre filmes vagabundos, escolhas equivocadas e dias estranhos — resume a ópera.