Plastic Beach
Superoito express (19)
Plastic beach | Gorillaz | 7
O terceiro disco do Gorillaz pode não ter provocado as expectativas de um Homem-Aranha 3 ou de um Matrix revolutions (até o quadrinista Jamie Hewlett mostrou certo tédio com a ideia de bolar novas aventuras para o quarteto-cartoon), mas, felizmente, Plastic beach não é o típico desfecho frustrante de trilogia. Na verdade, deixa até a impressão de que a filosofia-Gorillaz pode sobreviver aos personagens de desenho animado — que, admita, já perderam a graça.
E que filosofia é essa? Os álbuns dessa “banda de mentirinha”, roteirizada por Damon Albarn, sempre aproveitaram o clima de brincadeira engraçadinha para provar que colaboração não é necessariamente sinônimo de confusão (isto é: nem todo disco superpovoado de convidados especiais deve soar desgovernado como um projeto do N.A.S.A.). Demon days — com De La Soul, MF Doom, Dennis Hopper, um coro de crianças… — era o Império contra-ataca de Albarn: o episódio sombrio que justificou a saga. E depois?
Plastic beach é um pouco como O retorno de Jedi: mitologia diluída, um tanto oportunista. Mas leve, divertido. Segundo Albarn, é o “disco mais pop” do Gorillaz. Curiosamente, não encontrei nenhum hit do porte de Feelgood Inc (e Snoop Dogg abrindo o disco? Fala sério!). A salada transglobal exagera um pouco no curry (faixas como White flag exploram orientalismos à Quem quer ser um milionário), mas testa sabores inusitados. O melhor deles é o encontro de Gruff Rhys e o De La Soul em Superfast jellyfish. Some kind of nature, com Lou Reed, daria um ótimo ringtone. Já as sóbrias On melancholy hill e Broken mostram que, se dependesse de Albarn, os macaquinhos adotariam um figurino mais soturno. Hora de crescer? Eu não me incomodaria. (Clique aqui para ouvir o disco, na íntegra, em streaming)
Sisterworld | Liars | 6.5
E não é que o Liars, a banda de rock mais instável da geração 2000, escreveu um disco enxuto e acessível (é o “disco americano” deles), que pode ser descrito como um cruzamento (meio doentio, vá lá) do Nick Cave de Murder ballads com o Sonic Youth do fim dos anos 1980? Agora entendo por que o trio decidiu nomear o disco anterior simplesmente de Liars: o estilo que eles cristalizaram lá em 2007 (alternância de agressividade e delicadeza, transe percussivo à krautrock e versos de pesadelo) volta num formato ainda mais compacto. Não é um disco decepcionante, longe disso, mas desprovido dos enigmas e das provocações que conquistaram os fãs de Drum’s not dead, por exemplo. Não sei se o Liars conseguirá sobreviver na pele de uma típica banda indie. Mas, enquanto eles tentam, ficamos com o meio-termo satisfatório de faixas como Scissor e Goodnight everything.
Fight softly | The Ruby Suns | 6.5
O caso do quarteto neozelandês é um pouco mais arriscado: se o Liars tenta encontrar a expressão mais precisa de um estilo, o Ruby Suns tem a ambição de alargar a sonoridade do disco anterior (Sun lion, de 2008), que devia algo à onda “freak folk” dos Estados Unidos. Para evitar comparações, a banda de Ryan McPhun se aproxima da psicodelia tropical de um Islands, com faixas que se desdobram em várias seções (olha o prog rock aí, gente) e criam um ambiente que, nos melhores trechos, soa como uma fantasia infantil dirigida por Tim Burton. Já nos mais fofos e adocicados….
Live at Olympia, Dublin | R.E.M. | 6
Desde 2007, o R.E.M. lançou dois discos ao vivo. Devemos interpretar como sintoma de crise na indústria de discos ou na carreira da banda? Ou nos dois departamentos? De qualquer forma, a premissa é boa: o álbum duplo registra a série de cinco espetáculos que o trio apresentou em Dublin entre junho e julho de 2007. “Isto não é um show”, avisa Michael Stipe logo no comecinho do álbum. A ideia é quebrar o protocolo: clima informal, bate papo com fãs, versões nuas e cruas para canções que a banda gravou nos anos 80… Um “work in progress” que desaguaria no álbum Accelerate, de 2008. Exaustivo, nada aventureiro, mas os fãs mais aflitos vão entender.
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