Planeta Terra Festival

No Planeta Terra

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1 | Emergência no Planeta Terra: com quantos decibéis se faz um festival de rock?

2 | O lugar era jóia (a Vila dos Galpões, com um visual underground-de-mentirinha que combinou com a proposta do evento), os convidados prometiam, o público compareceu (15 mil pessoas), mas só faltou um detalhezinho: o som. O som, minha gente. O som, meu pai. Como puderam esquecer disso? Onde foi parar o som?

3 | No palco principal, onde se apresentaram Jesus & Mary Chain, Offspring, Kaiser Chiefs e Bloc Party, as performances soavam tão poderosas quanto uma rádio AM com transmissão abafada. Já o galpão indie, de Spoon, Breeders e Animal Collective, com volume altíssimo, era um pedregulho: distorções mil, sutileza zero. Como faz?

4 | Resultado: sair de um palco em direção ao outro provocava uma espécie de choque térmico. Precisei de uma média de dez minutos para me adaptar à atmosfera de cada ambiente. E ainda não me conformo de ter visto um show de Animal Collective tão tecnicamente desastroso.

5 | A pergunta que não nos deixa dormir: na batalha dos festivais, ganhou o Planeta Terra ou o Tim? Pra mim, deu empate. O Tim pode ter nos decepcionado com ingressos caríssimos e atrações canceladas. Mas pelo menos havia conforto e, principalmente, um som espetacular (exceção: Kanye West). Se bem que um festival não deveria se destacar por cumprir requisitos técnicos que são básicos em eventos musicais. Isso se chama respeito ao público. Simples desse jeito.

6 | Aos shows, em ordem de preferência – e rapidinho, na pressa, como de praxe.

7 | Spoon | Palco Indie | ****

Nos álbuns, o Spoon pode parecer a banda independente mais econômica dos Estados Unidos. No show, a precisão das canções (que alternam momentos dançantes com pirações psicodélicas) ganha um elemento adicional: uma performance simples e emocionante, de arrepiar. Britt Daniel pode não ser o band leader mais acrobático (vide Kaiser Chiefs), mas defende cada criação com o orgulho de um pai coruja (e deixa claro que o álbum favorito dele, para desespero deste fã de Kill the moonlight, é Gimme fiction). As notas da introdução de The way we get by, sozinhas, valeram a noite: a repetição sublime de poucos acordes; o melhor show do ano.

8 | The Breeders | Palco Indie | *** 

Uma grande banda de garagem sabe que nenhum show deve ser levado excessivamente a sério. Kim e Kelley Deal fizeram do palco do Planeta Terra um balcão de bar – e sorte de quem foi convidado para a bagunça. Em meio ao clima de despretensão, uma surpresa: as faixas dos dois álbuns mais recentes da banda ganham o peso merecido (apesar da vergonha alheia de acompanhar o bis cantado em espanhol) e os clássicos de Last splash renascem sujinhos e deslumbrantes. Cannonball foi a catarse indiscutível da noite – mas No aloha despedaçou de vez o coração dos fãs. Alguns pediram Kim Deal (com forma física à Magic Numbers) em casamento. Com toda razão.

9 | The Jesus & Mary Chain | Palco Principal | **

Sabe aquela banda que estourava caixas de som nos anos 80 com uma parede quase insuportável de distorções? Ela não assombra mais ninguém. E precisa? Para os fãs, este foi um dos melhores shows de todos os tempos (se bem que qualquer versão de Teenage lust será comovente). Para o restante do público, quase um aperitivo. Um resumo de melhores momentos da carreira, surpreendentemente clean e agradável, que deve ter deixado um ponto de interrogação plantado no cérebro de quem ainda se espanta com Psychocandy (ou com o ruidoso Munki, o último deles). Mas com um som pífio daqueles, só nos restou fantasiar aquele mesmíssimo show (digno, honesto, íntegro etc) com algum peso.

10 | Animal Collective | Palco Indie | **

Eu esperava qualquer coisa do Animal Collective. O que recebi foi bem isso: qualquer coisa. Nocauteados por uma confusão sonora (uma falha técnica que pouco tem a ver com as experimentações do grupo) que deixou o público zonzo, a selvageria da fase Strawberry jam soou ainda mais agressiva, quase impenetrável. O rolo compressor azedou a doce Fireworks e provocou contrangimento logo na primeira canção, interrompida bruscamente. Ainda assim, dá gosto ver uma banda que faz o que bem entende, com liberdade absoluta, com nojo das fórmulas do pop rock. Prova disso é que abriram o show com Comfy in nautica, do álbum solo de Panda Bear, e terminaram com uma batucada não menos que infernal.

11 | Kaiser Chiefs | Palco Principal | **

O oposto do Jesus & Mary Chain: uma banda populista – quase uma sessão de aeróbica – que sabe como arrancar o último suspiro de entusiasmo de uma platéia cansada. Um show bastante eficiente e alegre, apesar do som, mas que confirma o Kaiser Chiefs como uma banda divertida, esforçada (quantos hits eles têm!) e só.

12 | Mallu Magalhães | Palco Principal | **

Menina precoce: depois de passar por uma fase folk à The freewheelin’ Bob Dylan, Mallu rompe o namoro e sai à estrada com sua The Band (e olha lá, ela está usando uma cartola!). Dou seis meses para que ela grave um desiludido Blood on the tracks e, em crise depressiva, enfrente os fantasmas da existência numa espécie de Time out of mind. Continua cantando lindamente bem, apesar do crescimento acelerado e desgovernado. 

13 | Foals | Palco Indie | ** 

Só vi as três últimas músicas, mas foi o necessário: uma banda ainda tão nova, mas já disposta a não ser engolida por obviedades do indie rock. Estão a meio caminho entre Bloc Party e Battles – mas ainda não dá para saber de que lado vão sambar.

14 | The Offspring | Palco Principal | w/o  

Vi as três primeiras músicas. Em Come out and play, entendi por que, naqueles estranhos anos 90, eu preferia Pavement e Breeders. Como disse um colega meu, californiano demais.

15 | Bloc Party | Palco Principal | w/o

Duas músicas e a definição viva para a palavra fake.

16 | E hoje à noite tem R.E.M. Espero que o som inconstante da Via Funchal não me decepcione mais uma vez. Seria o fim do mundo (como o conhecemos). Será que rola Everybody hurts?