Pantha du Prince
Mixtape! | O melhor de fevereiro
Pelo menos para este blog, que não é de ferro, fevereiro não foi um mês fácil. Depois do carnaval, ainda entorpecido pelo consumo desmedido de marchinhas desafinadas, este depósito de abobrinhas capotou na quarta-feira de cinzas e por pouco não saiu do buraco. Dureza, meus irmãos. O pobre coitado quase cometeu blogcídio. Sei que já vimos este filme – mas não deixa de ser um filme triste.
Pois bem: o blog agoniza, mas não nega fogo. E, já que todo fevereiro tem seu fim, chega a hora da minha obrigação mensal favorita – as coletâneas, que preparo com todo amor e carinho.
A deste mês é a mais sortida de todas (mais ainda do que a seleção de melhores de 2009, que você ainda encontra aqui, na parte 1 e na parte 2). Tem indie e soul e minimal e folk e até uma faixa alegrinha do Tindersticks com um quê de Burt Bacharach. É quase um desfile de escola de samba. Detalhe: sem modéstia, a seleção ficou muito bacana (vou até gravar num CD pra ouvir de vez em quando).
(Aliás, recomendo aos interessados que se apressem: a coletânea de janeiro durou menos de 10 dias, quando finalmente foi devorada pelo lado negro da força).
E os melhores do mês foram… O meu disco número 1 de fevereiro é o desta banda que está na foto do post, o Titus Andronicus. The Monitor é daqueles épicos exageradamente humanos. Mas vejam bem: ninguém pode virar o semestre sem ouvir os do Surfer Blood e do Local Natives. São finíssimos, bons do início ao fim. Antes que me perguntem sobre a Joanna Newsom, que entrou na mixtape (como não?), explico que estou desbravando len-ta-men-te o disco triplo da moça. Prometo um texto até… pode ser setembro?
Tai a setlist da vez:
1. Floating vibes – Surfer Blood 2. Airplanes – Local Natives 3. Paradise Circus (com Hope Sandoval) – Massive Attack 4. I learned the hard way – Sharon Jones & the Dap Kings 5. Harmony around my table – Tindersticks 6. Four score and seven (Part one) – Titus Andronicus 7. Bike (Pink Floyd) – The Hotrats 8. Stick to my side (com Panda Bear) – Pantha du Prince 9. Excuses – The Morning Benders 10. Good intentions paving company – Joanna NewsomO link para download é este aqui: Mixtape – O melhor de fevereiro (link atualizado!).
Superoito express (18)
Gorilla manor | Local Natives | 8
Quando ouvi este disco de estreia do Local Natives pela primeira vez, admito que não me animei muito: este quinteto de Los Angeles exibe as próprias referências musicais com o entusiasmo meio ingênuo de um adolescente que, na parede do quarto, pendura cartazes coloridos das bandas favoritas. Daí que não é preciso bater um papo com sujeitos para entender que eles amam os climas misteriosos dos discos do Radiohead, o (falso) descontrole do Pixies, o transpop do Talking Heads (via Vampire Weekend), a emotividade do Arcade Fire e os ventos interioranos de uma balada do Band of Horses. Tudo muito bonito e organizadinho. Mas não seria o caso de abandonar esta banda e ir direto às fontes?
A resposta é um grande não. O “problema” é que, pelo menos para a parte do público que acompanhou o rock dos anos 90 e 00, Gorilla manor despertará tamanha familiaridade que poderá provocar dois tipos extremos de reação: amor imediato ou desconfiança. Dê uma chance ao amor, ok? E note como é interessante a forma como eles conseguem interpretar as próprias referências com muita franqueza, como quem revira as gavetas, escreve uma carta de amor aos ídolos e pede passagem.
Dito isso, taí um début elegantemente ambicioso, com uma obra-prima irresistível (Airplanes, que é tão emocionante quanto Funeral, do Band of Horses), canções obsessivamente buriladas e, mais importante, o ânimo daquelas bandas que apostam tudo em planos incríveis, gigantescos, talvez ridículos. Nisso também lembra Arcade Fire (ou Guillemots, hein?). Fiquemos com a boa lembrança.
Black noise | Pantha du Prince | 7
Nunca entendi o que há de tão extraordinário ou particular na microeletrônica de Hendrick Weber — e olha que tentei os dois discos anteriores dele, que oscilam entre o sublime e o letárgico —, mas Black noise me obrigou finalmente a entrar na sintonia do alemão. Não é um álbum tão acessível quanto parece (a participação de Panda Bear em Stick to my side, a música mais pop que o Pantha du Prince já gravou, pode provocar interpretações equivocadas), mas faixas como Lay in a shimmer e Behind the stars mostram um estilo que se torna mais compacto, seguro e melodioso sem perder a carga de invenção que sempre esteve associado a ele. Para quem gostou do disco mais recente do Four Tet, é um desafio que vale todo o esforço.
Falling down a mountain | Tindersticks | 6.5
Este álbum do Tindersticks, um dos mais sortidos da banda, me decepcionou um pouco — talvez por ter me lembrado de como o Lambchop se apropria de referências mais ou menos parecidas (country, folk, soul music, lounge, easy listening) e, com elas, faz discos infinitamente mais enigmáticos do que este. Falling down a mountain soa como uma tarde de férias na companhia de Stuart Staples, confortável e até despretensioso, com um ar de trilha sonora (reflexo da experiência de Staples no ramo) e até momentos de pausa na habitual melancolia (Harmony around my table é o susto da vez). Não dá pra recusar um disco desses, mas não me peçam para cair de amores por ele.
Turn ons | The Hotrats | 6
Pelo menos por aqui, eram grandes as expectativas para este projeto de Gaz Coombes e Danny Goffey (ambos do Supergrass) que, com produção de Nigel Godrich (Ok computer, Sea change), se dispõe a reinventar maravilhas como I can’t stand it (Lou Reed), Big sky (The Kinks) e E.M.I. (Sex Pistols). Mas acaba que Turn ons soa como muitos álbuns do gênero: as versões não trazem nenhum insight muito particular e fica a impressão de que as homenagens renderiam mais em palco (e aí todos cantaríamos juntos e haveria drinks de graça e choraríamos de emoção e seria o melhor dia das nossas vidas) do que em disco. A boa sacada: Bike, do Pink Floyd, com neon e glitter.