O exterminador do futuro: a salvação

2 ou 3 parágrafos | Transformers 2

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Faça o seguinte: leia o post que escrevi há três dias (sei que é longo e enfadonho, mas você entende que não há vitória sem sacrifício, entende?), e substitua O exterminador do futuro: a salvação por Transformers 2: a vingança dos derrotados (4/10). Sei que é preguiça e isto é uma vergonha. Sei também que você não deu a menor bola para o maldito post. Mas ando trabalhando feito um cão, os tempos são difíceis, tenho um monte de obrigações domésticas e, no fim das contas, não vai mesmo fazer muita diferença.

Mas, antes, deixe-me completar este parágrafo que (não faria tanta) falta. Transformers 2 é até bem honesto naquilo que vende ao público: uma superprodução em estado bruto, assumidamente idiota e inflada (2h30!), que pode ser interpretada como um documentário psicodélico sobre um cineasta obcecado pela ideia de explodir o mundo em zilhões de pixels. Michael Bay continua mais fascinado pelos robôs que pelos humanos, mas pelo menos admite a preferência sem culpas (o filme é narrado por uma máquina, vejam aí). Os fãs do original vão pirar. Já eu continuo achando tudo isso meio doentio.

O exterminador do futuro: a salvação

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Terminator salvation, 2009. De McG. Com Christian Bale, Sam Worthington, Bryce Dallas Howard e Helena Bonham Carter. 115min. 4.5/10

Outro dia comentei neste blog sobre duas sessões de cinema inesquecíveis, que marcaram minha vida para todo o sempre: a de O demônio das onze horas, de Jean-Luc Godard, e a de Playtime, do Jacques Tati. É a pura verdade. Mas não deixa de ser bonito escrever esse tipo de coisa — as pessoas leem e pensam que sou um cinéfilo culto e sofisticado.

Pois bem: uma das maiores sessões da minha vida ocorreu numa sexta-feira de agosto, 1991. Eu tinha 12 anos de idade, morava no subúrbio do Rio de Janeiro, liderava um clubinho de ciclistas desajeitados, detestava matemática e imaginava que, aos 29 anos, eu estaria trabalhando como um cardiologista muito bem remunerado. O filme? O exterminador do futuro 2 — O julgamento final.

Hoje, se alguém analisar o caso com distanciamento, possivelmente chegará à conclusão de que o longa de James Cameron simboliza (como poucos!) o avanço incontrolável dos efeitos visuais nas superproduções dos anos 90. Eu compro essa tese. Mas, para mim, ele representou uma revolução ainda mais avassaladora. Chegou na minha pacata pré-adolescência praticamente como o fim do mundo.

Por isso, não me peça para escrever seriamente sobre qualquer filme desta série. Os episódios que vieram depois, coitados, empalidecem perto daquela experiência. Nesses casos, só consigo fazer um tipo de texto que você encontra aos montes no meu blog, mas que não me deixam nem um pouco satisfeito: viagens egocêntricas ao redor da minha relação afetiva com o cinema. Sinto lembrar que that’s all, folks.

Acontece que a sessão de O exterminador do futuro 2 virou um fantasma, e eu ficaria até feliz se decidissem explodir logo essa franquia em mil pedacinhos. Mandar tudo para o ar em zilhões de pixels. Para mim, a série acabou faz tempo. Leio algumas críticas sobre este O exterminador do futuro: a salvação e fico abismado: as pessoas conseguem se divertir com isso? Conseguem devorar pipocas em paz? Não é uma questão de gostar ou não gostar: para mim, provoca apenas de uma viagem melancólica ao passado.

O filme de McG (que é um cineasta de imagens escancaradamente falsas, processadas por camadas de efeitos de computador — vide As panteras: detonando) é árido e enlameado. Uma espécie de Mad Max 2 atualizado para a geração Playstation. James Cameron filmou os robôs do futuro com um misto de deslumbramento tecnológico (estávamos no início dos anos 90, afinal) e horror. McG vive num mundo saturado de efeitos de computação e aproveita-se da possibilidade de compor universos quase abstratos, sem lei de gravidade, onde tudo pode acontecer. Ao mesmo tempo, parece um pouco entediado com tudo isso. É um filme sobre o apocalipse de um cinema de entretenimento mais inocente — para ser visto, por isso, junto com Transformers e Speed Racer.

(E Christian Bale é o ator-modelo para esse tipo de filme: expressivo como uma placa de metal).

Tudo o que posso dizer sobre O exterminador do futuro 2 remete a algumas sensações que entusiasmaram um menino de 12 anos. A principal delas: o filme parecia dividir comigo uma descoberta. Uma descoberta técnica, talvez. Mas a compartilhava graciosamente. Fiz questão de pegar a primeira sessão, na sexta-feira de estreia, como quem se apressava para ver o filme primeiro, antes dos outros. Era um acontecimento. Cada efeitos visual prateado que irrompia na tela era motivo para espanto. Às duas tarde, a sala estava lotada. O cinema ficava bem perto de uma estação rodoviária e, para vocês terem uma ideia do grau de comoção provocado por Mr. Cameron, quando o filme acabou, um grupo de cobradores e motoristas de ônibus o aplaudiu de pé, no corredor central do cinema.

Ao mesmo tempo em que entendo o fim desse cinema (e não consigo imaginar esse tipo de reação em sessões de Harry Potter e Homem-Aranha – aplaudíamos a tecnologia!), não me sinto confortável diante desse novo entretenimento, que me parece frio e aborrecido. Pensando um pouco sobre o assunto, talvez encontrarei aí a razão do meu desconforto com este quarto O exterminador do futuro: os filmes que me formaram como cinéfilo, de certa forma, me estragaram. Inconscientemente, talvez eu busque experiências que, hoje, são impossíveis.

No máximo, McG acena de longe para esse espectador distante: inclui Guns n’ Roses, a clássica frase “I’ll be back” e, finalmente, o próprio Schwarzenegger, que passa a habitar uma realidade paralela, reconstruído por efeitos de computação gráfica. Em tese, a liberdade como o cineasta picota essas e outras referências parece interessante. Mas, na prática, me deixa com a impressão de assistir a um protótipo truncado de um cinema que o nem próprio diretor sabe ainda como manipular.

Ou tudo pode ser apenas um tipo de saudade, um sinal de envelhecimento deste meninão aqui. Reconheço: também pode ser.