Nick Drake
Mixtape! | Música de estimação
Numa época distante, quando o marcador de visitas deste blog mostrou o número 100 mil, este blogueiro carente ficou todo vaidoso e postou um textinho emocionado sobre o fato.
Cerca de um ano depois, o blog bateu a marca dos 200 mil “hits”. Este blogueiro, então, postou um parágrafo sobre o caso. Mas ali o tom era irônico: o que representava aquele número? Seria uma boa notícia (muitos visitantes na área!) ou uma má notícia (no mesmo período de tempo, um site mais concorrido talvez atraísse mais gente)?
Ainda não sei.
De qualquer forma, virou tique: o alarme deste blog dispara sempre que o contador mostra um número redondo e grandalhão.
Pois bem: chegamos aos 300 mil. Para comemorar, preparei uma mixtape especial.
Falando francamente: o acontecimento é apenas uma desculpa para a existência desta coletânea de músicas; que, diferentemente das mixtapes mensais, não têm nenhuma obrigação de apresentar faixas recentes.
A plano era usar uma certa amostragem (os CDs que tenho no meu apartamento; não são muitos) e, com ela, criar uma seleção de canções de estimação. É apenas uma parte muito pequena delas, adianto (já que muitos dos meus CDs não estão no meu apartamento; e, além disso, algumas das minhas músicas preferidas eu guardo apenas em MP3).
Dito isso, o disquinho acaba espelhando a minha reação à tristeza de amigos que terminaram namoro recentemente. É uma espécie de break-up record, portanto. Mas com melodias muito dóceis. Um disco levinho sobre temas pesadíssimos. Talvez seja um CD sobre o medo da separação, do ponto de vista de um sujeito que está vivendo uma relação muito tranquila e feliz.
A lista de músicas está na caixa de comentários, mas recomendo fortemente que você faça o download, e sem muita desconfiança – ao contrário das mixtapes mensais, que têm limites muito estreitos, esta aqui é a mais sentimental e pessoal de todas. Acho que vocês vão gostar.
No mais, ela foi feita especialmente para quem visita este blog com mais frequência. Sem vocês, não teríamos chegado aos 300 mil hits — para o bem ou, ainda não sei, para o mal.
(e vai ser interessante se vocês comentarem o CD, mas não vou cobrar muito desta vez).
Faça o download da mixtape-bônus
Os discos da minha vida (43)
Devagar (quase parando, quaaase parando), lá vamos nós a mais um episódio da incrível jornada dos 100 discos mais paralisantes da minha vida. A ideia era escrever um texto introdutório mui longo e ambicioso sobre os mistérios da exîstência, o poder do amor, a força das lembranças e o fato de que este é um ranking estritamente pessoal (não tente isto em casa!). Mas não. Não. Sem prólogo, amiguinhos. Sem choro. Sem vela. Sem mais.
Hoje com textos muito pessoais e um cadinho derramados, porque eu sei que vocês curtem esse esquema coração-aberto, todo-sentimento, heart-on-sleeve, emoblog, etc. E quem ainda não fez o download destes discos é mulher do padre, viu.
016 | Pink moon | Nick Drake | 1972 | download
Pensando bem, eu preferiria que Nick Drake não tivesse gravado este disco. Porque, depois dele, o que ele gravaria? O homem decantou o próprio estilo às moléculas elementares. Perto dele, os anteriores soam floreados demais. Não são, é claro. Mas Pink moon tem o poder de colocar a música pop numa outra perspectiva. Não existe outro tão sincero (talvez os do Elliott Smith), e não há pedido de ajuda tão desesperado (talvez os de Kurt Cobain). Lembro que, quando ouvi pela primeira vez, a sensação foi de desamparo. Eu não sabia o que fazer deste álbum: é terrível ou terrivelmente tocante? É um exercício de autocomiseração ou arte lascada, lo-fi da alma? Honestamente, ainda não sei. Só sei que este é um disco que às vezes parece até indecente, indiscreto mesmo: não se comete suicídio na frente de uma plateia de cúmplices. Não se fala sobre assuntos que nos arrepiam ao nos deixar sem respostas. Não se faz. É clichê dizer que este é um disco triste? Talvez seja até um erro, já que Pink moon encara a morte com uma serenidade quase irritante. Dá até um pouco de medo. É assim que acontece quando acontece? Prefiro não saber. Top 3: Free ride, Pink moon, Things behind the sun.
015 | Achtung baby | U2 | 1991 | download
Achtung baby está aqui no alto da minha lista de 100 por dois motivos. O primeiro: ele merece. O segundo (e mais sentimental): foi o primeiro CD que eu comprei, com o patrocínio da mamãe e os conselhos (sábios) dos críticos de música do Jornal do Brasil (voltaremos a eles mais tarde, ok?). Cheguei ao álbum um pouco tarde (logo depois, o U2 lançaria Zooropa, talvez o meu favorito deles), mas lembro bem que ele colaborou mais que qualquer outro para uma espécie de reforma no meu gosto musical. Aos 12 anos de idade, qualquer luz vem a calhar. E esta aqui, rapazes, é uma luz nunca apaga. Um disco tão GRANDE, sobre temas tão LARGOS (amor, amizade, globalização, fim do mundo, o que mais?), e que consegue de alguma forma resolver o desejo de grandiosidade numa dúzia de canções que ainda estão aqui conosco? Nem parece simples. Demorou muito tempo para que eu percebesse o quanto as guitarras do The Edge estreitaram minha relação com o álbum: elas me pareciam absolutamente improváveis (eu, na época um menino agarrado a um violão, nunca conseguiria fazer igual), e ao mesmo tempo muito familiares. Talvez porque, no fim de 1992, eles já estivessem em todos os lugares. E eu ainda estava só aprendendo. Top 3: Until the end of the world, The fly, Zoo station.
Após o pulo, veja os discos que já apareceram neste ranking
The courage of others | Midlake
The courage of others é um daqueles discos que fazem com que eu me sinta um tipinho irrelevante: enquanto eu enfrento os grandes desafios da minha existência (acordar cedo, pagar o aluguel, regar as plantas e visitar minha mãe nos fins de semana), o Midlake se preocupa com a imensidão da natureza, o sentimento de melancolia que acompanha a morte do inverno e o “som grandioso de todas as criaturas vivas”.
Ah, sério? Aposto que este quinteto do Texas não leva a nossa oh-tão-sagrada existência com tanta austeridade. Mas, quando entram em estúdio, soam como cinco monges exilados em meio a uma plantação de bromélias, a muitos quilômetros das preocupações trivais que transformam nossas rotinas em episódios frívolos de seriados de tevê.
Deve haver algum ranço confessional escondido no subsolo deste terceiro disco do Midlake, mas ainda não encontrei a chave (e talvez seja minha culpa, ovelha desgarrada e meio burra). Desconfio que tudo seja uma questão de mise-en-scene: em The trials of Van Occupanther, de 2006, a banda tentava criar uma narrativa pastoral, como se Nick Drake interpretasse um songbook de Neil Young. Desta vez, eles apontam a embarcação para o folk rock britânico do fim dos anos 1960.
É uma aventura mais contida, limitada, menos ambiciosa, mas talvez o objetivo deles sempre tenha sido este: soar exatamente como uma banda-tributo do Pentangle, com algo de Incredible String Band. E vá entender: alguns desejos são meio estranhos mesmo.
A cadência uniforme do disco, que parece ter sido todo ele gravado numa tarde fria e chuvosa, pode atender as expectativas de quem procura desesperadamente um sucessor para Veckatimest, do Grizzly Bear. São dois álbuns duros feito pedra lascada, ainda que, cá para meus ouvidos, o Midlake ainda pareça uma daquelas bandas in-progress que se contentam em tomar um gênero (ou uma referência) e partir para o decalque — com ternura, claro.
Daí que as letras do disco são todas ricas em traços impressionistas, com imagens de vilas longínquas, ambientes selvagens, florestas tomadas por criaturas exóticas (seriam elfos?) e amores impossíveis. Até meu padrasto, o último defensor do rock progressivo dos anos 1970, talvez encarasse como uma homenagem fiel demais ao período. ‘Seria gozação?’, ele perguntaria, descrente.
Não é. O Midlake soa muito sincero nessa ode ao transe cósmico de canções que fazem absolutamente tudo para se livrar as impurezas deste mundo. Não encontrei nada ainda, mas certamente existe sabedoria, dignidade nesse esforço. Bom para eles. No entanto, se a banda estiver interessada em encontrar uma voz particular, vou avisando: a jornada é bem outra.
Mas chame de Astral geeks, se preferir.
Terceiro disco do Midlake. 11 faixas, com produção da própria banda. Lançamento Bella Union. 6/10