Neon Indian

Mixtape! | Setembro, teen spirit

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A incrível, contagiante (e um tantinho neurótica) mixtape de setembro chegou cedo (surpresa!) para iluminar setembro.

“Por que a pressa?”, vocês me perguntam, intrigados. É que, na próxima semana, o Tiaguinho aqui não terá tempo para nada: não vai ouvir música, blogar bobagens, bolar mixtapes, muito menos respirar. Estarei no Festival de Brasília: trampo day&night, portanto (vou tentar postar alguns textinhos sobre os filmes da competição, mas não garanto nada).

Mas isso aí é assunto pra outra hora.

Cá está ela, então. Prematura porém bonitona, cheia de charme, com um desejo enorme de te emocionar. Irresistível. Sério. Eu já ouvi tanto que decorei e aprendi as cifras de todas as músicas (!).

Em resposta à mixtape de agosto, que veio sequelada por uns tons de cinza-deprê, esta aqui irrompe iluminando a paisagem. É uma coletânea para os dias muito amarelados da estiagem brasiliense. E uma coletânea que, além de sugerir alguma coisa de juvenil (daí o título), está povoada de moças e rapazes eufóricos/confusos.

Aqui você encontra (nesta ordem) Neon Indian, The-Dream, CSS, St. Vincent (que está na foto lá no topo do post), Laura Marling, Cymbals Eat Guitars, Wild Flag, Wilco e Male Bonding. O lance é dinâmico, e flui que é uma beleza (a lista de músicas está na caixa de comentários).

Minha sugestão: faça o download (desta vez, todas as canções se encaixam direitinho). Mas você também pode ouvir a coletânea aqui no site, clicando na jukebox que se encontra no fundo deste post.

Seria bacana se, além de ouvir, você escrevesse um comentário avaliando a seleção musical deste mês. Mas não vou cobrar nada. Eu não tenho tempo, você não tem tempo e isto aqui, no mais, é só um blog. Relaxe.

E faça o download da mixtape de setembro.

Ou ouça aqui:

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

express | 44

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Wild Flag | Wild Flag | 78 | O último disco do Sleater-Kinney (The woods, um dos meus favoritos dos anos 00) era um prédio implodindo, e soava mesmo como a desintegração sofrida de uma longa história. A estreia do Wild Flag (quarteto com Carrie Brownstein e Janet Weiss, ambas ex-Sleater) bate como uma espécie de renascimento: um bebezinho eufórico e hiperativo, sorrindo, batendo palminhas, cuspindo purê e descobrindo a beleza que existe nos discos do papai punk. As roqueiras-on-board não são mães de primeira viagem, e poderiam muito bem ter criado um disco calculadamente animadíssimo. Mas não. O Wild Flag passa uma impressão muito firme de que elas reaprenderam a se divertir, e o que se ouve é um recomeço a sério. “O som é o sangue entre nós dois”, elas cantam, logo na primeira faixa. E são as canções mais simplezinhas (como Boom, digamos) que se alastram com mais força – e o que seria apenas um disco back-to-basics, com os limites estreitos de uma garagem de quitinete, se torna um álbum que tenta (e consegue) recuperar um sentimento de estreia, de debutar graciosamente. Bonito.

Era extraña | Neon Indian | 71 | É aquela história que vocês conhecem: há os discos sobre a adolescência (Boys and girls in America, por exemplo) e os discos adolescentes (que se comportam inconscientemente como meninos de 15 anos). Este do Neon Indian me parece pertencer ao segundo grupo, e me transporta a um período da vida cheio de contradições, em que eu me sentia simultaneamente horrendo e especial, inadequado no mundo e entusiasmado com o desejo de descobrir esse mesmo mundo. E não faltam bipolaridades teenager a este disco: apesar de atender por Era extraña, ter sido gravado na solidão de um inverno congelante (na Finlândia) e soar dodói, ferido pela contemporaneidade (Future sick é a faixa-tema), também é um álbum empolgadíssimo com tudo o que está up-to-date na indielândia: cada música dá lambidinhas numa referência cool, do synthpop ao shoegazing, tudo amplificado e colorido pela mixagem de Dave Fridmann (aqui, mais para MGMT que para Flaming Lips). Tudo muito pulsante, às vezes cansativo de tão pulsante, às vezes genuinamente juvenil (Alan Palomo tem só 23 anos), às vezes viciante mesmo (Suns irrupt, grude bonito), com repulsa/ tesão por tudo o que brilha nos trending topics. Um disco que será acusado de tudo (novidadeiro e superficial), e talvez seja todo tolo mesmo. Mas se mantém vivo graças a uma energia meio pueril, adolescente (de usar o pop como balão de oxigênio), e dentro dessa fiação elétrica corre sangue – sangue purinho, inocente, mas sangue.

Lenses alien | Cymbals Eat Guitars | 71 | Um daqueles discos que não entrará em quase nenhuma lista de melhor do ano, mas que periga ser reavaliado lentamente. É que as ambições desta banda (pelo menos as ambições que aparecem aqui) têm menos a ver com provocar um efeito acachapante (um “uaaau” de primeira audição) e mais de ir acumulando pequenos efeitos e detalhes, que podem ir nos conquistando sem que percebamos. Parece até um disquinho perverso, que nos tenta a tirar conclusões apressadas (“todas as faixas se repetem numa eterna monotonia, que chato!”), mas depois se mostra muito seguro daquilo que quer – que é criar uma espécie de manto sonoro, que encobre e conecta todas as faixas. Para mim, é uma surpresa: a banda que eu conheci no disco anterior parecia mais disposta a sair se aventurando por aí do que a criar um itinerário circular, simétrico, meio matemático. Pois bem: disco impressiona quando nos familiarizamos a ele, ainda que eu não me sinta atraído a ouvi-lo com frequência, talvez porque a banda ainda me pareça um holograma de bandas mais interessantes dos anos 90. E é um álbum que admiro a certa distância – belo até pode ser, mas tocante (pelo menos para mim) não é.

The High Country | Richmond Fontaine | 59 | Os discos anteriores do Richmond Fontaine (pelo menos a parte que conheço, como Post to wire e o ótimo The Fitzgerald) podem ser lidos como livros de contos, com canções independentes (tramas) que comunicavam sutilmente entre elas. O novo arrisca com um projeto diferente: o que era coletânea de contos agora vira uma espécie de romance beat, com personagens que aparecem e desaparecem entre uma faixa e outra, melodias que alinham cenas, numa estrutura com algo de cinematográfica (tem cena pré-créditos, sequência de ação, momento intimista, clímax…). O repertório de temas daria uma fita indie americana bem previsível: violência doméstica, dramas de “gente comum” em paisagens interioranas e um script com tragédias waiting-to-happen, bem à moda da Fox Searchlight. Como acontece com esse tipo de disco-filme-novelão, a trama às vezes se impõe sobre as canções, a música (mesmo nos belos lamentos country que eles escrevem até dormindo) vai a reboque da ficção. É quando dá a vontade de desligar o disco e ver o filme (ou ler o livro, ou ouvir Johnny Cash).

Superoito express (14)

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Um cadinho de discos e (surpresa!) filmes. Tudo o que vocês queriam, eu sei. Mas adianto que o próximo Express é que vai bombar, com o bonde das perigosas liderado por Rihanna e Mallu Magalhães. Neste aqui, para nosso azar, muito macho muderno arranhando guitarra/violão e brincando com maquininhas eletrônicas. Até lá, então.

Beast rest fourh mouth | Bear in Heaven | 7.5 | Quando uma banda experimental aceita o desafio de baixar a guarda e soar mais acessível, todo desastre é possível. Mas não é o que acontece com este quarteto do Brooklyn, que faz a transição com muita segurança num disco que soa como um cruzamento da base ritmica do TV on the Radio (também do Brooklyn, o que nos faz supor que realmente contaminaram a água da cidade) com os momentos mais melódicos do Sonic Youth. Lovesick teenagers é uma das canções mais tocantes do ano – não à toa, é centro nevrálgico do álbum.    

Seek magic | Memory Tapes | 7 | O projeto de Davye Hawk é uma caixinha de música de infinitas possíbilidades, que oscila da eletrônica abstrata ao pop (e uma certa obsessão pelas linhas de guitarra do New Order). Quase sublime, recomendadíssimo, mas eu gostaria muito de ouvir um disco dele que expandisse a doçura das duas últimas faixas: a excelente Plain material, que rolaria fácil na programação de qualquer rádio de bom gosto, e a seguinte, Run out.

Psychic chasms | Neon Indian | 6.5 | Falando em caixinha de música… Aconselho não ouvir este projeto de Alan Palomo (conhecido como VEGA) junto com o disco do Memory Tapes. Pode parecer minúsculo. Ainda assim, a graça deste álbum-miniatura é essa: soa como um saboroso aperitivo, talvez afetado por uma excessiva reverência ao Daft Punk de Discovery. Mas não dá pra reclamar de uma referência dessas.

Little moon | Grant-Lee Phillips | 6 | Acompanhar a carreira solo de Phillips continua enervante para quem, como eu, admirava a cuidadosa construção da obra do Grant Lee Buffalo. Longe das antigas responsabilidades, o sujeito continua soando como o trovador andarilho de Gilmore Girls: faz discos tão despretensiosos que poderiam ter sido gravados no improviso, depois da janta, com as crianças ao redor da fogueira. A falta de grandes ambições poe ser sinal de maturidade (ninguém quer mais dominar o mundo pop, certo?), mas Phillips ainda não conseguiu converter esse tom informal em algo verdadeiramente memorável. De qualquer forma, Little moon é uma tentativa até digna de “folk rock adulto contemporâneo de sala de estar”, e lembra o clima burlesco do último disco do Buffalo, Jubilee.

Julie & Julia | Nora Ephron | 6 | Uma fantasia (em tom pastel) sobre mulheres incrivelmente corajosas, homens incrivelmente gentis e um blog incrivelmente popular que, inveja!, soma 53 comentários num post sobre lagostas. Inspirado em duas histórias reais? Só pode ser tudo mentira. Fico com a cena em que Julie, ainda sem as manhas do Blogspot, admite que sente como se estivesse escrevendo para um “gigantesco vácuo”. Isso é real.

2012 | Roland Emmerich | 4.5 | Bateu saudades de Presságio, claro – ao contrário deste playground aqui, o filme de Alex Proyas devasta o mundo com algum pesar.

Lua nova | Chris Weitz | 4.5 | Entrará para os anais de Hollywood como o filme de vampiros mais piegas e juvenil de todos os tempos (e ouvir Thom Yorke metido nesse lengalenga romântico deu um pouco de vergonha-alheia). Vampiros e lobisomens também discutem a relação.