Moneyball

cine | O homem que mudou o jogo

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Moneyball não é um filme de beiseball (um tema que, sinceramente, não me interessa), mas sobre inovação em empresas. Daria um bom material para palestras de departamentos de Recursos Humanos: temos aqui a história de dois homens que criaram um método para que times não tão grandes — e sem muito dinheiro — vençam jogos importantes. Entre outras dicas de administração, a trama mostra que: 1. Muitas das inovações profundas não produzem resultados imediatos e claros, o que pode ser frustrante para os inovadores e que 2. No fim das contas, os poderosos vão acabar se apropriando das invenções para manter uma antiga hierarquia de poder.

Eu, que não vejo filmes para engolir lições singelas de empreendedorismo, acharia muito banal se este longa de Bennett Miller (diretor de Capote) se contentasse com aquele velho mandamento dos telefilmes edificantes: mostre-me um caso real para que eu aprenda algo com ele. Felizmente, não é só isso. Também é o perfil de um homem, o gerente esportivo interpretado por Brad Pitt — um sujeito turrão, que confia absolutamente nas próprias convicções e tem tino (e coragem) para rechaçar o Grande Esquema (Administrativo) das Coisas.

É um herói com certas angústias. Ele tem uma filha adolescente, e quer ser um exemplo para a menina. Ao mesmo tempo, tenta obsessivamente fazer algo importante, significativo (de preferência, ganhar o título da competição principal de beiseball). Diante desse personagem bidimensional, o roteiro achata todos os coadjuvantes. Até o assistente de Pitt, o nerd interpretado por Jonah Hill, só parece servir para escorar o todo-poderoso, e me parece um tipo funcional na trama (e aí acho que o filme erra feio, já que o personagem de Jonah é o inventor principal da fórmula que Pitt usa para selecionar jogadores e ganhar jogos).

Quando não está tentando nos comover, o filme sugere uma discussão sobre a perda de espontaneidade nas competições esportivas, que se tornam cada vez mais racionais, técnicas, balizadas por esquemas matemáticos. Bennett não tem uma posição clara sobre o tema: às vezes dá a impressão de que torce para que o esporte permaneça imprevisível (apesar de figuras como o personagem de Pitt), mas está sempre ao lado do protagonista do filme, que, nos créditos finais, aparece como uma espécie de pioneiro injustiçado.

A própria estrutura do longa não privilegia reflexão alguma: o diretor quer explicar o caso direitinho (que é interessante, mas eu preferiria ter visto um documentário sobre o assunto) e partir correndo para o abraço (as cenas de catarse). O roteiro, escrito por Aaron Sorkin (A Rede Social) e Steven Zaillian (A Lista de Schindler), parece ele próprio construído por um software — um esquema matemático — que seleciona os trechos mais eficientes de outros sucessos. É curioso: o filme defende o inventor que “mudou o jogo”; mas ele próprio, o filme, também pode servir como um ótimo argumento para quem sai a favor de um esporte (e de um cinema) menos pragmático e mais falível.

(Moneyball, 2011) De Bennett Miller. Com Brad Pitt, Jonah Hill e Robin Wright. 133min. C