Michel Gondry

Crystalline | Björk

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Michel Gondry + Björk: não tem erro. Ou tem? Admito que eu esperava um pouco mais deste clipe, o primeiro do álbum Biophilia (que sai em setembro). Mas não dá para não reconhecer que existe uma boa ideia em jogo – a cantora está perdida numa espécie de pista de dança interplanetária, digamos. Escondida num globo turvo, Björk mal aparece. E os efeitos, como de costume, fazem cócegas nos nossos olhos. Mas é daqueles casos em que a música impressiona mais que as imagens.

Os discos da minha vida (12)

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Diretamente de São Paulo, numa manhã ensolarada de segunda-feira, seguimos com a radiante saga dos discos que se instalaram na minha vida: os pestinhas que, às vezes sorrateiramente, chegaram e ficaram. Os 100 que eu levaria para uma ilha deserta.

Vocês sabem como funciona: os critérios para o ranking são duvidosos, muito pessoais e, por isso, nem adianta ficar pedindo por esse ou aquele disco que talvez tenha marcado a sua vida. Quando terminarmos esta louca viagem em torno do dedão do meu pé, prometo compor uma lista dos álbuns que considero os mais importantes – os que mais admiro. Mas adianto que ela não vai ter muita graça.

Os discos da minha vida é um top 100 ególatra. E isso me deixa um pouco envergonhado. Mas, para não torná-lo totalmente inútil, facilito o atalho a minhas lembranças com links de bons álbuns que, se você não conhece, deveria conhecer. Entenda assim: os links são a recompensa por sua infinita paciência, caro leitor.

Na edição de hoje (por coincidência?), dois discos que nada têm a ver um com o outro. Boa viagem.  

078 | Post | Björk | 1995 | download

Post será lembrado como o disco mais lúdico, mais colorido (a capa não mente), mais brincalhão (a palavra em inglês cai melhor: playful) de Björk. Depois dele, o céu da islandesa fecharia em cumulus cinzentos (um cenário de beleza incomum, como no  irrepreensível Homogenic). Para mim, no entanto, é um álbum memorável por outro motivo: ele resume o meu amor pelos videoclipes – um sentimento muito típico entre aqueles que viveram a adolescência nos anos 90, auge da MTV. Ouvir o disco é relembrar imagens: a graça naive de It’s oh so quiet, o preto-e-branco mágico de Isobel, o game melancólico de Hyperballad, o surrealismo pateta de Army of me; Spike Jonze e Michel Gondry. Um disco que inspira todas essas cenas inesquecíveis só pode conter, ele próprio, algo de fantástico. Top 3: Isobel, It’s oh so quiet, Hyperballad

077 | Off the wall | Michael Jackson | 1979 | download

Na minha vida, existe o Michael Jackson da infância (o branquelo marrento de Bad, que embalava os meus seis, sete anos) e o Michael Jackson de uma época em que a música já não me soava tão inocente. Foi nesse período – aos 20, 21 – que eu finalmente descobri Off the wall. Na minha adolescência, Michael era apenas um tipo excêntrico e afetado a ser combatido por meus ídolos. Depois percebi, principalmente nos primeiros discos dele, o menino amaldiçoado (já que imensamente talentoso e solitário) que se ocultava na euforia da disco music sintética. Sabemos como a tragédia termina: mas, em retrospecto, Off the wall continua a me fascinar como um dos ritos de passagem mais bonitos da história do pop: o garoto cresceu e venceu; apenas isso. Soa libertador. Top 3: Rock with you, Don’t stop til you get enough, Burn this disco out.

Rebobine, por favor

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kind

Be kind rewind, 2008. De Michel Gondry. Com Jack Black, Mos Def, Danny Glover e Mia Farrow. 102min. 7/10

Rebobine, por favor é filme de diretor de videoclipe. É sim. Disso não há como fugir.

Cada cena sugere uma ideia chamativa, um artifício engraçadinho, uma brincadeira esperta modelada em workshop e, acima de tudo, um aceno para o público que conhece Michel Gondry de maravilhas como Let forever be, do Chemical Brothers, ou Fell in love with a girl, do White Stripes.

E são dos melhores clipes que já vi (se você não tiver clipefobia, recomendo os links acima). Num formato que oscila entre o espírito free-style do curta-metragem e as obrigações comerciais de peças publicitárias, Gondry impôs uma marca, uma grife.

Mesmo sem querer (e talvez não queira, já que os clipes continuam a ser tratados mais como publicidade, menos como arte), Gondry não abandona muitos dos recursos que o consagraram com prêmios da MTV. Filmes como Sonhando acordado e até mesmo Brilho eterno de uma mente sem lembranças são preenchidos com sacadas visuais que poderiam ter sido aproveitadas num vídeo da Björk.

Não sei a opinião de Gondry sobre o assunto (e eu deveria procurar alguma entrevista do sujeito antes de sair escrevendo bobagens), mas desconfio que ele também tenha enfrentado o mesmo tipo de olhar-torto (de uma parte da crítica) que vitimou um Spike Jonze, um David Fincher. No documentário Dave Chappelle’s Block party (2005), por exemplo, ele tenta se livrar do estigma com uma câmera observadora, sóbria, sem passes de mágica. E funciona (mas não é tãããão ele).

Rebobine, por favor aproveita o tema principal de Block party (a vida em comunidade), mas acaba se revelando uma espécie de instrumento de defesa para o cinema de Gondry.

Na trama, a criatividade vence. São as ideias simples porém extraordinárias (aquelas que, num clique, deslumbram a platéia) que garantem o ganha-pão de dois balconistas de locadora que, para salvar o comércio, decidem gravar versões caseiras de sucessos de bilheteria como Os caça-fantasmas e A hora do rush 2.

Nesta fábula, os dois “diretores de videoclipes” se transformam em astros de uma comunidade pequena, mas generosa. Não poderia haver símbolo melhor para os dilemas de Gondry, ídolo da geração -MTV.

O cineasta poderia ter criado um filme tão toscamente siderado quanto as criações da dupla de personagens (Jack Black e Mos Def). Mas não. Apesar de uma ou outra piada realmente hilariante (e os truques visuais muitas vezes são gracinhas secas, e só), Rebobine, por favor mostra a que veio no desfecho, em que Gondry pede licença para prestar homenagens ao poder agregador do cinema – e ao VHS, a depender do referencial.

E é uma cena, um truque emocionante – principalmente para quem adora um videoclipe.