Leonard Cohen

♪ | Old Ideas | Leonard Cohen

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Nos primeiros versos da música Going home, que abre o disco Old Ideas, Deus admite: “Eu amo conversar com Leonard. Ele é um atleta e um pastor. Um depravado preguiçoso vestido em terno”. Em seguida, o (eu suponho) todo-poderoso trata de explicar a admiração por nosso mais querido outsider: “Mas ele sempre fala tudo o que eu mando, mesmo quando as notícias não são boas. Ele nunca vai ter a liberdade para recusar.” Eis o pacto sinistro.

A voz divina (e divinamente rouca, as always) descreve Leonard Cohen — que, na capa de seu 12º álbum de estúdio, aparece num jardim, pernas cruzadas, lendo um livro, de chapéu preto e gravata. É, perceba, uma maneira inusitada de abrir um disco. Mas o monólogo celestial mostra que, aos 77 anos, o autor de tantas canções de love and hate se sente confortável para brincar com a imagem que a cultura pop — e ele próprio — criaram para representá-lo.

É essa persona soturna, mas também autoirônica (mais esperta, portanto, que o resenhista que trata este disco como uma obra solene, blindada, perfeita), que “atua” nessas 10 canções. O título alerta: são ideias antigas, sem novidades, ali mofando décadas a fio. Tudo igualzinho: Deus tá lá no céu, observando e nos julgando/condenando e usando Leonard para enviar mensagens sonoras aos homens imperfeitos na Terra. Ao mesmo tempo, algo muda: esse som divinal, desta vez, me parece um tanto mais mundano e gracioso, ainda que quase banal (um sonho: um disco de Leonard Cohen com acompanhamento/composições do Lambchop). Piano, violão, guitarra, percussão discretíssima e vocais femininos enevoam sutilmente as melodias, sem saudade (aleluia!) dos sintetizadores kitsch de Ten New Songs (2001) ou da frouxidão harmônica de Dear Heather (2004).

Milagroso é como Cohen ainda encontra mistérios em uma paisagem tão antiga, inventada por ele próprio há quatro décadas. Ainda é amável, sim, a conversa de Leonard.

Décimo segundo disco de Leonard Cohen. 10 faixas, com produção de Ed Sanders. Lançamento Columbia. B

mixtape | Janeiro, from a room

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A mixtape de janeiro é um pouco diferente da de dezembro, mas não muito.

A ideia era gravar uma coletânea mais alegre e dançante, só que todos os planos tiveram que ser alterados depois que ouvi os discos da Sharon Van Etten (que está na foto acima) e do Leonard Cohen (daí o nomezinho do post, em homenagem ao homem). A mixtape, portanto, passou a ser conduzida pela sonoridade, digamos, crepuscular desses dois álbuns.

É uma das minhas mixtapes preferidas – e acho que gosto muito dela porque não foi tão simples encontrar as músicas que combinassem direitinho com a atmosfera que eu queria sugerir. Tive que me livrar de algumas boas faixas, que estão entre as minhas preferidas do mês. Na minha modestíssima opinião, o esforço de não fugir ao tema compensou: o disquinho faz sentido e conta uma história.

Aqui dentro, vocês vão ouvir músicas novas também de John K Samson, Whistle Peak, Bears, Lana Del Rey (ok, essa não é tão nova), Craig Finn, Damien Jurado e Lambchop. A lista das faixas está na caixa de comentários.

Como de costume, você pode fazer o download da mixtape ou ouvi-la aqui no blog. Recomendo a segunda opção: desconfio que o arquivo em mp3 vá desaparecer rapidamente.

Comentários serão bem recebidos. E, antes que eu esqueça, esta mixtape é dedicada ao Daniel (nada de hip-hop desta vez!) e ao Adalberto, que talvez curtam os climas tão realistas (e adoráveis, de vez em quando) deste disquinho.

Faça o download da mixtape de janeiro

Ou ouça aqui:

Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.

Os discos da minha vida (10)

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Que coisa mais enfadonha esta saga dos discos que massacraram os meus sentimentos e violentaram a minha vida, não? Eu estou começando a concordar que já foi mais divertido.

Então vamos depressa que o calvário logo acaba.

Por minhas contas, ainda vai levar alguns meses, talvez muitos meses, possivelmente uma eternidade, mas… Preste atenção: pode ser que, num dia belo (e de sol), eu decida postar a lista completa dos 100 discos, abandonar o blog, correr pra praia e abrir um quiosque de mate, sanduíche natural e água de coco. Que a vida é só uma.

Por falar em vida, o post de hoje trata de discos que mexem com memórias doloridas e, portanto, eu preferiria simplesmente ativar o f**a-se e escrever zero caracteres sobre eles. Posso? Não posso? Isso quebra uma regra? Seria deselegante? Então ok, mas vou tentar ser frio e bruto. E forte. Que melancolia é coisa de macho.

Você pode fazer o download dos álbuns mas, nesses casos, não recomendo. Sério: é tudo muito triste, você vai se sentir mal, eles vão estragar seu dia, vão ficar te espezinhando e você não precisa disso. Prefira algo mais ameno. Prefira música de elevador. Que estamos num feriado.

082 | A ghost is born | Wilco | 2004 | download

Tem gente que considera este disco um estorvo: é blasé, é gélido, é artsy (no mau sentido) e em alguns momentos soa tão polido quanto um álbum do Fleetwood Mac. Eu, que nada tenho contra os discos do Fleetwood Mac, não posso me manifestar contra ou a favor dessa corrente do mal. A ghost is born é o disco do Wilco que não consigo avaliar racionalmente. A trilha sonora do meu longo namoro que deu errado também é um álbum que parece falar um pouco sobre o menino triste e inseguro que eu sempre fui. “O seu objetivo de vida era ser um eco”, diz Jeff Tweedy em Hummingbird. Sei como é. No mais, vou dar uma de Godard: no comments. Top 3: Handshake drugs, Spiders, Hummingbird.

081 | Songs from a room | Leonard Cohen | 1969 | download

Logo depois que descobri Leonard Cohen (graças a uma música do Nirvana, Pennyroyal tea), tratei de comprar quase todos os discos dele. Meu plano era ouvir todos de uma vez só, mas fiquei semanas preso a este aqui. Não é o melhor (eu recomendaria Songs of love and hate, de 1971, ou o primeiro, Songs of Leonard Cohen, de 1967), mas passa uma impressão de intimidade que Cohen nunca superou. Para mim, foi quase fatal: descobri essas canções quando eu era um moleque infeliz com uma grave tendência a achar que o meu futuro seria um quarto apertado, sem mobília e com paredes brancas. Voltar a este disco (e a esta época)? Não, obrigado. Top 3: Bird on the wire, The partisan, Tonight will be fine.