Jason Segal

cine | Os Muppets

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Vamos resumir assim: Os Muppets é uma comédia para crianças que sentem saudade daquilo que não viveram. Quanto mais penso no filme, mais excêntrico ele parece.

Mesmo sem trair nenhum requisito de uma produção Disney padrão (as cenas musicais, por exemplo, se adaptariam muito bem entre reprises de High School Musical), o longa faz tantas referências à série inglesa de 1976-1981 que possivelmente só será compreendido na íntegra por quarentões e trintões que (aí sim) sentem falta daquilo que viveram na infância ou na adolescência.

Na sessão em que vi o filme, só identifiquei dois ou três espectadores dessa faixa etária. E cerca de 20 criancinhas. Imagino as dores de cabeça que o projeto deve ter provocado no departamento de marketing da Disney.

Não dá pra ignorar, é claro, os fãs que descobriram a série em reprises (meu caso), DVDs (foi relançada entre 2005 e 2008) e em longas-metragens como Muppets from Space, de 1999. Esses talvez embarquem na carga de nostalgia do filme novo. Mas é à série original, acima de tudo, que este lançamento se dirige.

O personagem principal é um fã do programa de tevê. E, na trama, o elenco do original (Kermit, Miss Piggy, Gonzo et al) tenta superar uma temporada de decadência para se reerguer num especial televisivo. Percebam que, neste postzinho aqui, devo ter usado mais de cinco variações da palavra televisão.

O ator Jason Segel, que coescreve o roteiro, toma essa homenagem como um projeto pessoal. Ele tem 31 anos, e está na cara que passou tempo demais assistindo a episódios do programa enquanto os amigos jogavam bola. O diretor, James Bobin, é britânico, e mostrou na série de tevê Da Ali G Show (com Sacha Baron Cohen) que sabe satirizar cultura pop. Os Muppets tem um pouco disso: o alvo principal das piadas é o próprio filme.

O tom de autoparódia provoca um efeito curioso: às vezes é como se o filme-puppet estivesse se desmontando aos olhos do público. Após de uma sequência musical pomposa, os dançarinos reclamam de cansaço; quando se encontra uma dificuldade para seguir com o plano, uma personagem comenta: “o filme vai ser curtinho, então”. Praticamente toda cena cômica é acompanhada de um comentário irônico em relação à própria cena. Nos avisam, no mais, que não devemos levá-las a sério.

E não é assim, com um amor abobado e um pouco envergonhado (mas sincero), que um homem adulto se lembra dos brinquedinhos da infância?

(The Muppets, EUA, 2011) De James Bobin. Com Jason Segel, Amy Adams e Chris Cooper. 98min. B