Infinite arms

Superoito express (22)

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Infinite arms | Band of Horses | 6

O disco de estreia do Band of Horses, o muito promissor Everything all the time (2006), apontava dois caminhos para este grupo de Seattle: um mais aventureiro, feito de pedrinhas brilhantes (em grandes momentos como The funeral e The Great Salt Lake, que merecem entrar em qualquer coletânea de achados da Sub Pop), outro mais mundano (o country rock de Weed party, baladas delicadas e inofensivas como I go to the barn because I like the). Me parece um enorme desperdício, mas, de lá para cá, a banda mostrou mais interesse por essa segunda trilha (agradável, pop) e menos por aquela outra (misteriosa, imprevisível).

Infinite arms confirma essa preferência e, por isso, pode fazer do Band of Horses um mascote indie muito querido e popular (e indie é força de expressão, já que a bolachinha tem o selo da Columbia). É um álbum de melodias infinitamente graciosas, com toques sutis de psicodelia californiana (Compliments é um encontro de Brian Wilson com Greatful Dead, com a assinatura inconfundível do produtor Phil Ek) e versos sobre amor e nostalgia. Uma doçura (um tanto aguada, mas uma doçura). E que não cheira a produto falsificado – como o Wilco de Sky blue sky, taí uma banda que se emociona com o soft rock. Vamos assobiar juntos! Mas que dá pena ver uma banda tão talentosa se acomodando nesse sofá confortável e quentinho, isso dá. O próximo disco nos mostrará se eles estão no time do Grizzly Bear ou do Kings of Leon.

Pigeons | Here we go Magic | 7.5

E por falar em aventura… É quase certo que, em 2010, o Here we go Magic não vai vender nem 1% dos discos do Band of Horses. E, se quisesse, este quinteto de Nova York escreveria um álbum inteiro com love songs de partir o coração (eles conseguem: ouça Casual, lindíssima). Mas eles preferem caminhar na areia movediça. Este Pigeons faz questão de nos espantar (e de bater asas para bem longe) a cada faixa: começa como uma brincadeira com a psicodelia britânica do fim dos anos 60 (Hibernation e Collector), é ejetado aos anos 90 (Casual lembra Radiohead), prova do indie americano (Surprise tem um quê de Pinback) e recicla as loucuras de Brian Wilson em clima ambient (Vegetable or native). Tem isso e mais. O disco termina e ainda não sabemos direito que banda é esta. Uma boa sensação.

High Places vs. mankind | High Places | 7

O segundo disco do High Places desmente muito do que (achávamos que) sabíamos sobre este duo de Nova York: Rob Barber e Mary Pearson não querem ser conhecidos como os hipsters esquisitões que vivem trancados numa estufa gelada, em contato apenas com a natureza e com um laptop. High Places vs. mankind soa mais urbano e humano: On giving up, por exemplo, se aproxima do trip hop lânguido que Goldfrapp fazia no início da carreira (já She’s a wild horse e Canada usam e abusam de orientalismos fake). Não é uma transformação radical, mas a floresta mágica do High Places guarda mais segredos do que imaginávamos.

Talking to you, talking to me | The Watson Twins | 6.5

As irmãs Watson passam por uma transição delicada neste novo disco. Já na capa, o álbum adota um verniz “adulto contemporâneo” que parece mais apropriado a uma Sheryl Crow do que a uma Jenny Lewis (e muito longe do tom revisionista de Rabbit fur coat, o belo álbum que elas gravaram com Lewis). Mas elas vestem esse novo modelito sem muito desconforto: a soul music modernosa de Harpeth River soa como uma tentativa de vendê-las ao público da Amy Winehouse (e baladas jazzy como Forever me vão agradar aos fãs de Norah Jones), mas elas conseguem envenenar essas fórmulas radiofônicas com versos dark e interpretações elegantes. O melhor fica por último: Modern man pede bênção ao Radiohead de In rainbows e nos prega uma surpresa aos 45 do segundo tempo. O recado: elas se venderam, mas continuam muito vivas.