Hurt locker
2 ou 3 parágrafos | O mensageiro
Não era o filme que eu esperava do roteirista de I’m not there. No filme de Todd Haynes, o texto era suficientemente arejado (ou fragmentado, para usar uma palavra que todo mundo gosta) para evitar um retrato quadradinho da trajetória e das personas de Bob Dylan. O mensageiro (3/5), a estreia de Oren Moverman na direção, me parece algo muito diferente disso: a trama vem claramente em primeiro lugar, e ela exerce um baita peso sobre os personagens.
Os heróis do filme são vívidos e poderiam estar em The hurt locker, por exemplo: dois militares que sofrem as consequências psicológicas (aparentemente irreversíveis) da Guerra do Iraque. “A guerra vicia”, dizia Kathryn Bigelow. Aqui, os personagens aprendem que, mesmo longe do campo de batalha, não conseguem abandonar o conflito. Um sargento (Ben Foster, numa atuação excelente) e um capitão (Woody Harrelson, que, cheio de tiques, não me impressionou tanto assim) são os encarregados de dar a má notícia às famílias de soldados mortos.
Existe uma rotina de trabalho a ser seguida: cada família reage de um modo diferente (com agressividade, comoção etc) e o choque provocado por esses reações vai engatilhar todo tipo de crise na psiquê do sargento, iniciante nesse ramo sinistro. O capitão, é claro, acabará estreitando a amizade com o parceiro. Numa noite, eles bebem e caem na farra. É um buddy movie, portanto. Que, por isso, prevê que os personagens passem por certas transformações (o sargento vai se apaixonar por uma viúva, o capitão vai passar a enxergar a morbidez da profissão e blablabla). Nada disso me convence muito. Mas são personagens razoavelmente fortes, interpretados com comprometimento – e eu admito que gostaria de ter visto um outro filme, menos sufocado, sobre essas duas pessoas.
2 ou 3 parágrafos | Indicados ao Oscar
Bateu um pouco de saudade do tempo em que eram cinco os indicados ao Oscar. Havia os favoritos (no máximo dois, geralmente um), os que perderiam com alguma dignidade (no máximo dois) e os que entravam na lista pra fazer figuração. Agora vemos esse elenco de sempre acompanhado de cinco candidatos que aparecem meio que largados no subsolo, na classe econômica da premiação, totalmente fora de cena.
Não entendi a graça da brincadeira (claro, são 10 os estúdios na briga pelo Oscar de melhor filme, e aposto que todos ficaram muito satisfeitos com a partilha), mas seria interessante se a Academia inventasse o ‘Oscar B’, destinado à disputa entre Distrito 9, Um homem sério, Um sonho possível, Educação e Up – Altas aventuras.
E, como um amigo meu bem notou, dá para dividir os indicados também entre os filmes de guerra (Avatar, Hurt locker, Bastardos inglórios, de alguma forma Distrito 9) e aquelas obras supostamente inspiradoras com lições de superação/perseverança (Amor sem escalas, Up, Educação, Preciosa e Um sonho possível, que vi agora mesmo e é tão pueril que parece ter sido feito pra meninos de cinco anos). Um homem sério, que nem é algo tão atípico ou provocativo assim, fica parecendo até uma pedra na garganta da Academia. Uma disputa não tão interessante (de qualquer forma, estou começando a apostar na vitória de Hurt locker), mas gostei de ver A teta assustada na lista de filmes estrangeiros. Nem por ser sul-americano, ou peruano. Mas por fugir completamente daquele padrão careta de telefilme que as comissões de seleção brasileiras acreditam interessar a Hollywood. Olha lá: não é bem assim.