Guerra ao terror
2 ou 3 parágrafos | E o Oscar foi para…
Vi o Oscar aos pedaços, pela internet (não sei se perdi muita coisa, perdi?), mas preciso dar duas palavrinhas sobre o resultado. É que me incomoda muito essa conclusão (cada vez mais generalizada) de que a vitória de Guerra ao terror é um soco em Hollywood, um sinal de mudança, uma sandice da indústria. Calma lá. Não é bem o que acontece.
Desde o fim dos anos 80, a Academia aprendeu a lidar com as pressões criadas pelos próprios “independentes”, que passaram a investir em campanhas mais agressivas para emplacar produções e aquisições no Oscar (e o maior exemplo é a Miramax). Mas, já no fim dos anos 90, quando a própria Miramax já tinha sido comprada pela Disney, o conceito de independência ficou nebuloso. O que diferencia verdadeiramente esses filmes daqueles validados pelos grandes estúdios? Quem quer ser um milionário, Juno e Pequena Miss Sunshine, todos com o selo da Fox Searchlight (setor de um estúdio enorme), devem ser classificados como indies? E essa classificação, o que representa hoje além de um valor de marketing? Lembro de uma entrevista que fiz com o Todd Solondz, de Felicidade. “O único cineasta independente é o George Lucas, que controla todo o processo de produção dos próprios filmes”, ele comentou. É por aí.
Guerra ao terror é uma fita distribuída nos Estados Unidos pela Summit Entertainment, uma “pequena empresa” que lançou Crepúsculo e Lua nova. Me pergunto que, se num ataque de loucura dos integrantes da Academia, uma vitória dos vampiros adolescentes teria provocado manchetes em defesa dos independentes. Aposto que não. O que me interessa mais é notar como, nos últimos anos, a Academia tenta usar a (muitas vezes falsa) ideia de autenticidade associada aos “pequenos filmes” para recuperar prestígio e simular a aparência de uma festa relevante e séria, comprometida com um cinema supostamente adulto e legitimado pela crítica. Guerra ao terror cumpre todos esses requisitos. E (ainda que, no contexto, este seja um detalhe) calha de ser um belo filme.
2 ou 3 parágrafos | Indicados ao Oscar
Bateu um pouco de saudade do tempo em que eram cinco os indicados ao Oscar. Havia os favoritos (no máximo dois, geralmente um), os que perderiam com alguma dignidade (no máximo dois) e os que entravam na lista pra fazer figuração. Agora vemos esse elenco de sempre acompanhado de cinco candidatos que aparecem meio que largados no subsolo, na classe econômica da premiação, totalmente fora de cena.
Não entendi a graça da brincadeira (claro, são 10 os estúdios na briga pelo Oscar de melhor filme, e aposto que todos ficaram muito satisfeitos com a partilha), mas seria interessante se a Academia inventasse o ‘Oscar B’, destinado à disputa entre Distrito 9, Um homem sério, Um sonho possível, Educação e Up – Altas aventuras.
E, como um amigo meu bem notou, dá para dividir os indicados também entre os filmes de guerra (Avatar, Hurt locker, Bastardos inglórios, de alguma forma Distrito 9) e aquelas obras supostamente inspiradoras com lições de superação/perseverança (Amor sem escalas, Up, Educação, Preciosa e Um sonho possível, que vi agora mesmo e é tão pueril que parece ter sido feito pra meninos de cinco anos). Um homem sério, que nem é algo tão atípico ou provocativo assim, fica parecendo até uma pedra na garganta da Academia. Uma disputa não tão interessante (de qualquer forma, estou começando a apostar na vitória de Hurt locker), mas gostei de ver A teta assustada na lista de filmes estrangeiros. Nem por ser sul-americano, ou peruano. Mas por fugir completamente daquele padrão careta de telefilme que as comissões de seleção brasileiras acreditam interessar a Hollywood. Olha lá: não é bem assim.