Fucked Up

Queen of hearts | Fucked Up

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Os chapas do Fucked Up acabaram de lançar uma ópera-hardcore do tamanho de um rinoceronte (David comes to life, que ainda não ouvi com a devida atenção) e, é claro, não estão aqui para brincadeirinhas de criança. Bacana saber, no entanto, que o clipe de Queen of hearts não se leva tão terrivelmente a sério: pode ser descrito como um encontro de The wall com Escola de rock, tão surreal quanto elegante (e um pouquinho polido, vá lá). Scott Cudmore dirige, e com um sorriso irônico no canto da boca.

The chemistry of common life | Fucked Up

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fukd1Uma banda de hardcore chamada Fucked Up já sai da garagem com pelo menos uma imensa promessa a cumprir: fazer justiça ao próprio nome.

Até agora, era impossível acusá-los de vender gato por lebre. Com quase 40 faixas lançadas em singles, EPs e compilações, o quinteto sem-limites já gravou canção de 17 minutos, subiu no palanque dos anarquistas, foi acusado de apologia ao fascismo e (heresia imperdoável para a seita hard) fez parcerias com Nelly Furtado e Owen Pallett (do projeto Final Fantasy).

O álbum The chemistry of common life é a provocação que faltava à gangue canadense liderada por Pink Eyes (Damian Abraham): tirar uma casquinha do império do indie rock. Lançado pela Matador Records – um dos maiores pequenos selos de que temos conhecimento -, o álbum nega a liturgia dos nichos, bagunça o coreto dos gêneros e, em alguns momentos, chega perto do pop (na fantástica Black albino bones).

Em resumo: um disco tão fraturado e paradoxal quanto sugere o nome da banda. Fucked up, sim. Existe algo mais tipicamente indie que isso?

O elo entre fúria e melodia acaba remetendo a Pixies, Hüsker Dü e Smashing Pumpkins. Mas são elementos que nem sempre se misturam numa mesma faixa: a pancada Magic word, por exemplo, é seguida pelo mantra instrumental Golden seal. A idéia de diversão, aqui, é surpreender o público (e chocar os fãs xiitas de hardcore) a cada três ou quatro minutos.

A química funciona mais ou menos como num álbum do Les Savy Fav: um riff dócil é lançado em meio a uma selva de ruídos; um vocal assobiável sobrevive à erupção barulhenta; um arranjo tosco briga com letras sobre “os mistérios do nascimento e da morte”, etc.

Nas primeiras audições, o descontrole me pareceu um pouco gratuito – e nem tão assustador ou radical quanto a banda gostaria. Mas canções como Days of last e No epiphany são pedregulhos que sustentam esse prédio torto, criado para rasgar a paisagem.

Segundo álbum do Fucked Up. 11 faixas, com produção de Jon Drew. Matador Records. 8/10