Esqueletos

Os discos da minha vida (14)

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Os discos da minha vida é uma saga quilométrica, pulverizada em dezenas de capítulos que… vocês sabem. No total, são 100 álbuns que… vocês sabem.

Espero sinceramente terminar este ranking antes do apocalipse, mas… vocês sabem. Aqui, vocês encontram obras fonográficas que, dado o caráter insanamente pessoal desta lista, interessam mais a mim do que possivelmente interessarão a… vocês sabem.

Ok. A rotina tem encantos, mas sou um sujeito que se entedia facilmente com situações repetitivas. Portanto, perdoem-me se hoje pareço um pouco entediado.

No espírito de um dos discos da semana, lembro a vocês que isso tudo, no fim das contas, não significa nada. Um grande nada.

Se bem que eu não deveria parecer tão sonolento numa semana que começa com dois disquinhos tão (aparentemente) econômicos, tão temperamentais, tão passionais, que nos tomam pelo pescoço e, em gritos e/ou sussurros, nos ameaçam com o clichê: “é pegar ou largar”. Você tem o direito a ignorá-los. Você tem o direito a amá-los até que o coração crie calos. Mas, nesses dois casos, você não tem o direito ao meio-termo.

O que você deve fazer, desprezando todas as possíveis consequências, é clicar na palavrinha ‘download’, que está te encarando impacientemente. Façam a coisa certa, irmãos. Que a vida passa num segundo e… vocês sabem.   

074 | Elephant | The White Stripes | 2003 | download

Havia uma época em que o White Stripes nos pregava peças: uma banda quase infantil, que brincava com mitos e chavões da música pop como quem bagunça o acervo colorido de uma brinquedoteca. Mas, ao mesmo tempo, uma dupla cujas canções esqueléticas pareciam estudar (e de uma forma absolutamente séria) alguns dos componentes essenciais do rock: o riff e o refrão, a voz e o ritmo, a melodia inesquecível, a performance passional e autoirônica, os hits, os hinos e a fúria (e as piadas infames, como não?). Está tudo aqui, passo a passo, como num guia ilustrado para uma geração que talvez tenha ouvido Led Zeppelin e Nirvana sem entender exatamente por que aquelas músicas soavam tão poderosas. Com um sorriso cínico no canto da boca, Jack White explica. Top 3: Seven nation army, The hardest button to button, I just don’t know what to do with myself.     

073 | Either/or | Elliott Smith | 1997 | download

Se eu fosse um homem absolutamente sincero, os discos de Elliott Smith ocupariam as primeiras posições deste ranking. Todos eles, incluindo aí os póstumos (From a basement on a hill, que é a obra-prima mais triste do mundo) e os irregulares (Figure 8, por exemplo). São álbuns que me têm no cabresto – ouço qualquer um deles e me pego aos prantos, feito um moleque que acabou de perder todos os dentes numa briga de colégio. De forma enigmática, eles falam sobre a minha pessoa, me dão conselhos e broncas, reparam nos meus defeitos e levantam um espelho cujo reflexo não é sempre agradável. Sou suspeito para analisá-los, mas, por uma questão de coerência, escolhi dois para esta lista (o próximo aparecerá muito lá na frente, aguardem). Either/or, que para muitos é o melhor de Smith, soa como as páginas roubadas de um caderno de esboços que escrevi aos 16 anos: as mais tocantes confissões adolescentes, escritas à mão e gravadas na marra. Se você não se identifica com nenhum desses versos, meu amigo, não temos nada em comum. Caso contrário, seja bem-vindo ao clube dos corações agoniados (onde sempre cabe mais um, e cujos sócios nem sempre sobrevivem). Top 3Ballad of big nothing, Alameda, Pictures of me.