Escracho

2 ou 3 parágrafos | Capitalismo: uma história de amor

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Para aqueles que (como eu) acreditavam que a queda de George W. Bush afundaria o cinema de Michael Moore, Capitalismo: uma história de amor (3/5) mostra que estávamos errados: a eliminação do inimigo provocou um efeito interessante, muito positivo, no discurso do cineasta. Antes, ele era um homem de certezas (Bush era o vírus no intestino da América). Agora, anda cheio de dúvidas: denuncia a crise do sistema econômico capitalista, mas não encontra remédio imediato para a síndrome.

A alternativa mais óbvia ao capitalismo seria o caduco socialismo, mas, antes que critiquemos a ingenuidade de Moore, o próprio diretor sai na frente e elimina qualquer tendência ao radicalismo. O que ele tateia é a possibilidade de um estado social-democrata — gerenciado por trabalhadores — um pouco mais humano do que este que está aí. E sobre isso todos concordamos (novamente, Moore prega para os convertidos, e daí o endeusamento de Barack Obama nos trechos finais, mas que filme triste!).

Em síntese: um longa muito mais complexo (e também sóbrio, uma colcha de tragédias americanas, apesar dos truques sentimentais de sempre) do que os panfletos que ele dirigia até aqui. O escracho é que, desta vez, me parece meio deslocado, como se entrasse no filme por obrigação. Provavelmente, o próprio Moore passa por uma crise. Parece cansado das gracinhas gratuitas, mas não sabe o que fazer com a imagem de provocador incendiário que ele criou. O filme é um reflexo dessas e outras incertezas.