Endless now

Endless now | Male Bonding

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Estou certo de existe um projeto de obra-prima na agenda do Male Bonding: um álbum ultrareluzente, que vai nos tirar do solo e nos atirar numa outra galáxia.

Em Endless now, o segundo disco do quarteto, uma faixa serve de teaser para essa revelação (que virá, eu sei). Em Bones, a banda usa um turbilhão de overdubs para criar uma versão épica para uma melodia que possivelmente foi abandonada pelo Dinosaur Jr no estúdio em que os londrinos gravaram este disco, em Woodstock. Soa tão marcante que o próprio grupo retorna ao riff no fim do disco.

Mas, se existe mesmo (eu sei, tem!) esse projeto de obra-prima, não é desta vez que o Male Bonding o leva a cabo. Em Endless now, o esforço é outro, oposto: o de ampliar uma sonoridade sem romper os limites estreiros que foram marcados pela própria banda no disco anterior, Nothing hurts, de 2010.

Para ficarmos numa comparação entre britânicos que sonhariam em ter gravado Bandwagonesque: enquanto o Yuck toma um passado recente (o fim dos anos 1980, início dos 1990) como parque temático onde se tem vários brinquedinhos e todos parecem atraentes e “brincáveis”, o Male Bonding tenta simular um disco do Teenage Fanclub que a Sub Pop lançaria naquela época: breve, plano, potente.

Endless now soa, portanto, como o elo perdido entre Bleach e Nevermind. Nem tão áspero (como Bleach), nem tão superpoderoso (como Nevermind). Ainda não dá para encontrar no Male Bonding uma identidade, mas seria ingenuidade acusá-lo de falta de foco: os quatro ingleses conhecem muito bem o mapa onde se movimentam.

E o que eles querem é comprimir, com máxima eficiência, um torrone sonoro de sensibilidade/estrondo — que soa datado e genérico, sim (e não oferece muitos desafios a mais ninguém), mas que pode ser interpretado como uma espécie de exercício de estilo, um disco “à moda de” uma época, à serviço de uma sensibilidade demodé que eles querem ressuscitar (e as letras deprês, pessoais, sobre se sentir velho e coisa e tal, são muito apropriadas).

O curioso é que a banda vê a necessidade de mostrar que ela pode (quando bem entender) ignorar os dogmas e sonhar “fora da caixa” (para ficarmos num clichê corporativo). Bones é o melhor exemplo, uma belezinha que soa até deslocada dentro do disco; Can’t dream é outra, com algo de trilha de Sofia Coppola. Mas aí, depois de se exibir para a plateia, o grupo volta ao business as usual.

Mais interessante, acho, é quando eles tentam se aventurar dentro do quartinho abafado onde moram, mudando os móveis de lugar, usando timbres pouco típicos e deixando as canções criar rabichos que vão se desdobrando em desfechos não muito previsíveis.

Depois da terceira audição, as canções já estão todas lambuzando a nossa memória, escorrendo na orelha. Talvez provoquem lembranças de adolescência, se você também foi um adolescente que se entusiasmava com a elegância modesta dos discos concisos, aqueles cuidadosamente planejados para não cometer excessos, para não mirar ambições impossíveis.

Endless now é simples (às vezes complexo) assim. Quando e se o Male Bonding resolver gravar o tal projeto de obra-prima, talvez sintamos um pouco a falta de álbuns tão decididamente pequenos. Tem beleza nisso aí também.

Segundo disco do Male Bonding. 12 faixas, com produção de John Angello. Lançamento Sub Pop. 66