Delorean
Mixtape! | O melhor de outubro
A mixtape de outubro foi gravada durante as minhas férias e, por isso, deve soar um pouco mais amena, um pouco mais leve, um pouco menos agoniada, um pouco menos pilha-de-nervos, um pouco menos tique-nervoso do que a de setembro. Ela até parece um pouco ensolarada, vejam só que coisa estranha.
Não é uma coletânea como as outras: a colagem foi feita não no fim, mas bem no meio do mês, antes da minha viagem a São Paulo (onde estou neste momento) e pouco depois da semana que passei no Rio de Janeiro. Portanto, o som remete muito mais a esse respiro carioca, do que à escala paulistana. A cor do som é mais azul do que cinza, portanto.
E só percebo isso agora, quando volto a ouvir o disquinho. As primeiras faixas evocam um souvenir de paraíso tropical – o mar, as moças de biquini, uma certa sensação de que as coisas vão terminar bem. Mas aí ele vai ficando um pouco estranho, um pouco torto, talvez você note climas cinematográficos, e (se você me conhece) talvez encontre nos versos e melodias muitas referências aos fatos que vivi, pessoas que conheci, sensações e incertezas… É, como sempre, uma mixtape muito pessoal.
Se existe uma palavra que define as minhas férias, ela tem quatro letras: fuga. Uma corrida louca, uma necessidade desesperada de ocupar o tempo (com filmes, palavras, discos, qualquer coisa) para que eu não corra o risco de ficar completamente sozinho, em silêncio, diante de mim mesmo. Não é simples.
Ainda assim, apesar de ser tudo ainda sobre mim, dedico esta coletânea aos meus amigos mais próximos, que me ajudam mais do que eles próprios percebem. Principalmente ao Diego Maia, o bróder de São Paulo que, apesar de muito mais novo, é um exemplo pra mim: um dos sujeitos mais inteligentes que eu conheço, e não apenas por preferir músicas alegres às tristes.
Então esta é uma mixtape de músicas alegres. Ou quase. O disco preferido do mês foi The age of adz, do Sufjan Stevens. Mas, como ele acabou entrando na coletânea tortuosa de setembro, quem ilustra este post é o El Guincho, que gravou um dos discos mais vibrantes do ano. E um dos que me acompanharam durante estas férias estranhas.
É uma mixtape com sabor de mate leão: tem, além de El Guincho, Delorean, Thurston Moore (interpretando Burt Bacharach), uma faixa emocionante do Clientele, Avey Tare, Manic Street Preachers, The Walkmen… A lista de músicas está logo ali na caixa de comentários.
Então faça o seguinte: tire a poeira da prancha, compre um bom protetor solar e faça o download da mixtape de outubro aqui ou aqui.
(E, depois, para alegrar o meu dia, não custa nada deixar um comentariozinho esperto sobre a coletânea. Não custa, custa? Não custa).
Real love | Delorean
Um fim de tarde mais ou menos romântico. Cachorros (aparentemente inofensivos) à beira-mar. Uma patota de amigos meio junkies. Um dia supimpa, até que algo estranho acontece – e transporta este clipe a um ambiente mais surreal. A direção desta cachorrada fica por conta de Aaron Brown e Ben Chappell (e a música é tão joia que me deixou com vontade de retornar ao disco do Delorean).
Superoito express (21)
Subiza | Delorean | 7
O Delorean é um quarteto espanhol que soa como uma banda sueca de electropop. Eles saíram em turnê com o jj e o Miike Snow (que são suecos), foram remixados The XX e Franz Ferdinand (que são britânicos) e criam trilhas sonoras para fins de tarde em Ibiza (uma ilhota espanhola que os turistas europeus a-do-ram). Sabe aquilo que chamam de pop global? Pois bem. Se você ouvir este disco numa tarde chuvosa, ele vai te transportar para uma praia exótica, com areia branquinha e macia. E, claro, frequentada por gringos pegajosos que curtem house e farofada.
Resumindo: Subiza não é exatamente o paraíso. Se você encana com a superficialidade escancarada (e meio cínica) do indie-dance sueco, não recomendo esta pílula doce. Mas admita: não são muitos os que conseguem criar esse tipo de atmosfera delicada/arejada/ensolarada sem descambar para a lounge music de desfile de moda que encontramos naquelas coletâneas da boate Café del Mar (que fica em Ibiza, veja lá). E há lindos cartões-postais, como Real love e It’s all ours, que soa como as férias secretas do Animal Collective. Eis o paradoxo deste disquinho de vento: quanto mais você ouve, menos rasteiro parece.
jj nº 3 | jj | 7
O segundo LP do jj começa tão bem que deixa qualquer um com vontade de sugerir que a dupla regrave todas as outras oito faixas. E My life, o grande início, não deveria ser mais do que uma introdução. Mas, para roubar a cena logo nos créditos de abertura, a continuação de Ecstasy soa como uma homenagem ainda mais estranha à marra do hip-hop americano (eles se apropriam de versos do Lil Wayne gravados pelo rapper em uma música do The Game) e o mais próximo que a banda chegou do espírito noir típico do trip hop. A letra, sobre prisões e crimes, é veneno azedo no refrigerante do duo, que vai se aproximando aos poucos da soul music. Uma delícia. O restante do álbum é quase tão irresistível quanto, ainda que pareça um esboço para o próximo disco (And now e Let go são flechadas no peito). De qualquer forma, é muito bom conhecer uma banda que só precisa de 27 minutos para nos conquistar.
The wonder show of the world | Bonnie “Prince” Billy & The Cairo Gang | 6
Apesar de acompanhar com muito interesse o rastro de Bonnie ‘Prince’ Billy, reconheço que os melhores momentos do caubói são os solitários. O estilo dele, creio eu, até se beneficia dessa imagem de isolamento: o que ouço em discos como The letting go e Ease down the road é um homem (no máximo, ao lado de uma mulher misteriosa) numa pequena sala. A exceção é o ótimo Superwolf, com Matt Sweeney. No projeto com o Cairo Gang (do guitarrista Emmett Kelly), Billy volta a cantar o tema preferido (a vida em família, com tudo o que há de sublime e assustador) sem a força de um disco muito parecido com este: Lie down in the light, de 2008. A guitarra jazzística de Kelly deve ter atraído o compositor a experimentar uma sonoridade um pouco diferente e espairecer um pouco. Mas, à exceção da primeira música (Troublesome houses), o álbum dá giros lentíssimos em torno de uma ideia já desgastada.
Head first | Goldfrapp | 5.5
Fico com a impressão de que, desde o momento em que se assumiu como uma banda pop (Black cherry, de 2003), o Goldfrapp passou a se preocupar demais com a necessidade de acompanhar “tendências” de pistas de dança e de surpreender o público com mudanças abruptas de figurino. Depois de Seventh tree, o “álbum folk” (no auge do neo-folk americano), este Head first pega a onda do electropop oitentista que voltou às rádios inglesas como o La Roux e o Little Boots. Novamente, me parece apenas uma tentativa desesperada de não perder o bonde. Rocket é um single divertido, mas o disco soa apenas como o lado B de um greatest hits da Kylie Minogue. Rasteiro. E agora, com o retorno do Portishead e do Massive Attack, quem sabe Alison não resolve retornar ao ponto onde o disco de estreia parou?