Deerhoof

The merry barracks | Deerhoof

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Muito oportuno o novo clipe do Deerhoof. O clima é de fita de terror oriental. E, logo no primeiro verso da música, tá lá o alerta: “Hello, hello, atomic bombs are going to explode”. Mais adiante, enquanto uma fantasminha flutua numa cidade em preto-e-branco, cabeças explodem espirrando objetos fofos. Taí uma bela metáfora para o som desta banda adorável de (digite aqui qualquer subgênero obscuro do indie rock). A direção é de Akiko McQuerrey e Jason Drakeford.

Mixtape! | Janeiro, verão sem fim

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Janeiro de 2011: o primeiro mês do resto da minha vida. Verão sem fim.

Fico um pouco melancólico quando viro o calendário e noto que ele sumiu. Adeus, janeiro. Saudade de você, meu velho. Volte sempre. A casa é sua. Entre sem tocar a campainha.

Janeiro, verão sem fim. O som desta mixtape é o sol brilhando na janela – 31 dias incríveis no retrovisor. Semanas quase inacreditáveis. Se este CDzinho soa como um sonho muito aconchegante, é que não quero acordar. Pois bem, meus amigos: perdoem o excesso de formosura sonora.

Nem parece que 2010 terminou logo ali. Não é? Não é?

A mixtape de janeiro trata de segundas chances, fins de semana inesquecíveis, amor, química e açúcar. É um pouquinho inocente. E um pouquinho sexy. Um pouquinho juvenil. Um pouquinho abobada (mas é assim que as coisas são). Passei o dia ouvindo e posso afirmar que é a coletânea mais leve, mais boa-praça, mais cheirosinha que eu gravei. Dê de presente para a sua namorada.

É claro, este é um CD que eu gravei pensando na Alê, a mulher que está mudando minha vida. É para ela. Não são todas as músicas que dizem respeito a ela, nem a mim, nem a este blog, mas sabe o que acontece? Talvez seja melhor desviar a atenção dos versos e prestar atenção ao clima de canções que vão do power pop ao dream pop à soul music, que nos abraçam e não nos abandonam nunca mais.

A mixtape mais adorável do planeta, acredite. Um transe feliz. Look into the sky!

Ela contém doses viciantes de Peter Bjorn and John, Smith Westerns, Cut Copy, Gruff Rhys, Iron & Wine, Deerhoof, Adele, Joan as Policewomen, James Blake (que gravou o meu disco favorito do mês, e está abrindo o sorrisão na foto lá de cima) e Bright Eyes. Está uma delícia, garanto a vocês. 

A lista de músicas está, como de hábito, na caixa de comentários. Sabe aquele lugar que você devia frequentar, mas fica encabulado? Pois é. Tá lá.

Aposto que alguns frequentadores fieis deste blog vão avançar de colherada nessas melodias tão gentis. Melodias maiores que o mundo. Ouviu aí, Daniel? Vá fundo, meu bróder, que a hora é esta!

Então vamos todos juntos fazer o download da mixtape de janeiro. Certo? Joia? Bacana?

Depois (ou antes) de ouvir, se possível, um comentário para alegrar o meu dia. Vamos lá, gente! Tá quente lá fora, tem praia e mate gelado, todo mundo tá de férias e ninguém tem nada a perder. Aloha. E bom dia, fevereiro!  

PS: Ok, eu também às vezes me espanto com o meu otimismo recém-adquirido. Mas esse assunto fica pra depois. Vamos à mixtape, pode ser?

Deerhoof vs. Evil | Deerhoof

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Preciso fazer uma confissão, meus amigos: nos últimos meses de 2010, não foi tão complicado escrever para este blog. É. Não foi. Nos momentos mais sinistros, quando o meu mundinho tão sólido começa a desmanchar no ar, é nestas páginas que me penduro. Os dedos agarrados ao teclado, gritando socorro. Fica até fácil.

Acontece que depois, quando o apocalipse esfria, os parágrafos voltam a uma condição de repouso. Ou, pior, de movimento retilíneo uniforme. Aí descubro que não sei mais lidar com eles. Os dedos hesitam no teclado. A maré tranquila não faz bem à canoa.

Nas últimas semanas, fiquei nesse impasse. A vida está boa, larguei meus problemas na porta. 2011, para mim, é uma comédia romântica às avessas, abrindo com o happy end (cenas felizes que me impressionam dia após dia). O blog, que sempre foi um pouco triste, destoou do contexto. Até pensei: talvez ele tenha que mudar.

Fiquei aflito, pra ser sincero: o site me parecia confuso, indeciso demais. Ainda não sei a quem interessa um blog como este, que não é isso nem aquilo, que não tem RG, que anda sempre na beira do telhado. Que não fala exatamente sobre música nem sobre cinema, que não é só um diário (de um sujeito mediano) nem um laboratório de textinhos ingênuos com ambição literária. Talvez tenha um pouco de todas essas coisas, mas essa equação (pouco + pouco + pouco) passou a me incomodar.

Fiz planos que facilitariam a minha vida. Passou a parecer uma questão de foco. Por exemplo: fazer deste um blog de música, quadradinho (mas talvez eficiente), com notícias e resenhas. Ou: fazer deste um blog de cinema, sisudo e cheio de pensamentos um tiquinho arrogantes. Ou: abandonar os discos e os filmes para escrever sobre o meu dedão do pé e minhas lembranças de adolescência, de um jeito arreganhadamente narcisista porém amável, com a possibilidade de fazer sucesso com a gurizada. Ou: listar episódios de seriados. Ou: rankings non-stop. Ou: mixtapes para sempre!

Nada parecia satisfatório, nada. Mas, em meio à confusão, brilhou um farolete onde eu menos esperava. Sim, no disco novo do Deerhoof.

Explico: o Deerhoof (que era um trio, hoje um quarteto) é daquelas bandas que atraem pela gana como defendem visões de mundo muito particulares. Lindas e loucas idiossincrasias. No caso, os principais mandamentos do grupo são: 1. Nunca se repetir e 2. Nunca se domesticar (pelo menos não totalmente, ou não da forma como esperamos). Eles gravam discos que soam simultaneamente dóceis e selvagens. Não nos deixam seguros.

“I’m not fucking around”, diz Sufjan Stevens. Pois o Deerhoof é o contrário disso. Qualquer álbum deles poderia se chamar To fuck around, já que o estilo da banda soa como uma colagem de experiências que, mesmo quando produzem faixas perfeitinhas, sempre sugerem um ensaio na garagem. É brincadeira, brodagem, vontade de tentar algo diferente. Uma disposição para a desordem que lembra esquisitices como The Fiery Furnaces e os primeiros discos do Super Furry Animals.

Tudo pode dar certo. Mas pode dar errado.

As liberdades da banda fizeram com que eu deixasse de me preocupar com as liberdades do blog. Sem querer comparar um ao outro (meu blog é quase nada; este disco é às vezes muito). Não acredito que seja um blog corajoso ou importante, ou que vá ser reconhecido em 2040, nada disso: o que me conectou ao site desde o início foi a possibilidade de usar estas páginas para fazer qualquer coisa. E fazer tudo errado, só que do meu jeito. Parecia simples. Mas admito que às vezes isto se torna um buraco de coelho.

No décimo disco do Deerhoof, noto um dilema parecido. Quanto mais a banda se aventura (sem itinerário, já que tudo é possível), mais ela queima possibilidades que pareciam promissoras e opta por desvios nem sempre animadores. É um álbum que, em comparação ao anterior (Offend Maggie, lançado há três anos) soa compacto, com anomalias curtas que cruzam referências dos anos 60 (a psicodelia) e 70 (o hard rock) enquanto beliscam de vez em quando as melodias mais coloridas, mais agradáveis.

Ao contrário de Friend opportunity (2007), no entanto, não é cajuzinho, não é uma moça exótica que nos chama para dançar. Deerhoof vs. Evil me parece mais arredio, uma jam com remela nos olhos, nas primeiras horas da manhã.

No mais, apesar de todas as voltas que este quarteto dá, o estilo da banda permanece intacto: os versos infantis que se repetem em ciclos (a ótima Secret mobilization abre com um sugestivo “Isto não é baseado numa história real”, e há as bombas atômicas caindo do céu de The merry barracks, outro estouro), os riffs inesquecíveis que avançam sobre nós apenas por alguns segundos, antes de sair correndo, a voz miúda de Satomi Matsuzaki e os momentos completamente inesperados, como a balada hippie No one asked to dance.

Talvez pareça insignificante. Mas quer saber? Não me importo. Não abandono o Deerhoof porque a banda incorpora, de certa forma, tudo o que eu queria ser: um homem capaz de, apesar de todas as expectativas criadas pelos outros, defender com firmeza as minhas convicções e as minhas alegrias — as mais estranhas e caóticas, principalmente.

E este blog, um campo minado, ainda é uma das minhas felicidades. Então sigamos.

Décimo disco do Deerhoof. 14 faixas, com produção da própria banda. Lançamento Polyvinyl Records. 7/10

Offend Maggie | Deerhoof

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Deerhoof, a melhor banda que você não verá no Brasil em 2008. 

Num primeiro momento, os fãs do Klaxons estranhariam os riffs secos, envelopados a vácuo por John Dieterich. Já a seita de Marcelo Camelo faria pouco caso da “japinha que canta esquisito”. Mas, no caso do Deerhoof, a primeira impressão é a que passa. Na quinta música, aposto que Satomi Matsuzaki conquistaria o apoio de alguma torcida. Três ou quatro pessoas – mas cada epidemia tem o ritmo que a convém.

Falem o que quiserem sobre eles. Qualquer bobagem. Não confio em ninguém que tenha ouvido menos de três discos deste trio – agora quarteto! – de San Francisco, Califórnia.

Um álbum após o outro e, com o tempo (e reconheço que alguma paciência), Matsuzaki soará como a voz mais doce do indie norte-americano. Para quem, assim como eu, descobriu o Deerhoof a partir de The runners four (2005), a aproximação se mostrou um pouco mais tranqüila. O próximo álbum, de 2007, se chamou Friend opportunity. Entendi o recado: são discos tão amistosos (já que brincam com referências de punk rock, psicodelia e hard rock setentista) quanto temperamentais (já que nada, nenhuma melodia pára em pé).

Numa primeira audição, Offend Maggie não acrescenta muito a esse joguinho de extremos. Ao contrário de Friend opportunity, que soava compacto e direto, é um disco mais esparramado, com mais portas abertas que fechadas.  O conjunto das faixas é coeso (e poucas vezes foi tão agradável, tão simples ouvir um disco deles), mas cada canção parece narrada como uma aventura completa, com começo e fim.

Duas mudanças na estrutura do grupo explicam a sonoridade do disco. Primeiro, existe um novo guitarrista – e ele provoca algumas pequenas revoluções na cozinha do Deerhoof. Ed Rodriguez cria uma teia ora dissonante ora melodiosa de riffs que às vezes quase descamba para improvisos jazzísticos, às vezes remete ao Sonic Youth dos anos 90 (ouça Numina O, por exemplo).

A outra transformação é que, ao contrário de entrar no estúdio com poucas idéias e desenvolvê-las durante a gravação, a banda ensaiou várias das músicas durante a turnê do disco anterior. O desafio da vez foi elaborar os arranjos sem perder a aura de espontaneidade. Talvez venha daí a sensação de que Offend Maggie soa descomplicado (pelo menos para os fãs), quase acomodado, avesso a explorar novos territórios musicais. É que, desta vez, o Deerhoof prefere olhar para dentro, rever posturas, aparar arestas à procura de um discurso auto-consciente. Em resumo: eles querem se livrar da desculpa de que escrevem música num tresloucado fluxo de consciência.

Talvez nunca tenham escrito – mas Offend Maggie deixa o processo muito mais claro. Como uma extensão de Friend opportunity, Dieterich continua a embalar riffs gigantescos em pequenos pacotes (e The tears of music and love é tão monumental e viciante quanto o título sugere). Mas são os pequenos detalhes que ainda nos confundem: como as letras em japonês de Matsuzaki, o acento folk da linda Buck and Judy, os violões dedilhados de Family of others, a falta de semancol de uma banda que oscila entre a gozação mais esdrúxula (Basket ball get your groove back) e um épico em tom menor (My purple past).

Numa terceira audição, o álbum vira monstro.

O Deerhoof é uma banda que, apesar de cada vez mais decifrável e humanizada, cada vez mais gente-como-a-gente, continua um mistério. Pelo menos para mim. Quanto mais cresce, mais escapa do meu campo de visão. Estamos prontos para eles? Questão mais importante: eles mordem?

Por enquanto sei que não os verei no Brasil em 2008. Mundinho injusto o nosso.

Décimo álbum do Deerhoof. 14 faixas, com produção da própria banda. Kill Rock Stars. ***