Damon Albarn
mixtape! | de maio?
A mixtape de maio está muito mais nervosinha e sortida que a de abril porque… porque… hum, porque (difícil explicar essas coisas)… porque chega de melancolia, certo?
Estava eu ouvindo a coletânea do mês passado quando enfim percebi: “Céus, que seleção musical mais sombria!” Curiosamente, naquele cedêzinho a minha intenção era gravar canções otimistas, cheias de afeto e doçura. O que aconteceu?
A mixtape anterior, creio eu, acabou por mostrar o estado de espírito de um sujeito em conflito, ao mesmo tempo entusiasmado com um período de mudanças extraordinárias, mas ainda numa luta terrível para lidar com a morte de uma das pessoas mais importantes da vida dele. Aquele cedê me mostra hoje que a temporada não foi simples.
A coletânea nova é bem diferente, e acredito ter a ver com o ritmo da cidade de São Paulo, onde moro há dois meses, e com uma tentativa (meio desesperada, admito) de seguir em frente. Ela tem alguns vestígios cinzentos, não vou negar, ainda que ma pareça mais agressiva, talvez mais vibrante. Não sei como vocês – os três leitores ainda nesta sala – vão avaliá-la. Só sei que estou satisfeito com o que ouço.
Aqui vocês encontram El-P (que tá lá na foto), Animal Collective, Death Grips, Of Montreal, Santigold, M.I.A., Howler, Damon Albarn, The Walkmen, Schoolboy Q. Algumas das músicas não são especificamente de maio, e entram nesta coletânea porque não conseguiram se encaixar nas anteriores. Encare-a como uma mixtape de outcasts. A lista de músicas está na caixa de comentários.
Espero que vocês apreciem.
Faça o download da mixtape de maio.
Ou ouça aqui:
Vídeos do VodPod não estão mais disponíveis.
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Superoito express (19)
Plastic beach | Gorillaz | 7
O terceiro disco do Gorillaz pode não ter provocado as expectativas de um Homem-Aranha 3 ou de um Matrix revolutions (até o quadrinista Jamie Hewlett mostrou certo tédio com a ideia de bolar novas aventuras para o quarteto-cartoon), mas, felizmente, Plastic beach não é o típico desfecho frustrante de trilogia. Na verdade, deixa até a impressão de que a filosofia-Gorillaz pode sobreviver aos personagens de desenho animado — que, admita, já perderam a graça.
E que filosofia é essa? Os álbuns dessa “banda de mentirinha”, roteirizada por Damon Albarn, sempre aproveitaram o clima de brincadeira engraçadinha para provar que colaboração não é necessariamente sinônimo de confusão (isto é: nem todo disco superpovoado de convidados especiais deve soar desgovernado como um projeto do N.A.S.A.). Demon days — com De La Soul, MF Doom, Dennis Hopper, um coro de crianças… — era o Império contra-ataca de Albarn: o episódio sombrio que justificou a saga. E depois?
Plastic beach é um pouco como O retorno de Jedi: mitologia diluída, um tanto oportunista. Mas leve, divertido. Segundo Albarn, é o “disco mais pop” do Gorillaz. Curiosamente, não encontrei nenhum hit do porte de Feelgood Inc (e Snoop Dogg abrindo o disco? Fala sério!). A salada transglobal exagera um pouco no curry (faixas como White flag exploram orientalismos à Quem quer ser um milionário), mas testa sabores inusitados. O melhor deles é o encontro de Gruff Rhys e o De La Soul em Superfast jellyfish. Some kind of nature, com Lou Reed, daria um ótimo ringtone. Já as sóbrias On melancholy hill e Broken mostram que, se dependesse de Albarn, os macaquinhos adotariam um figurino mais soturno. Hora de crescer? Eu não me incomodaria. (Clique aqui para ouvir o disco, na íntegra, em streaming)
Sisterworld | Liars | 6.5
E não é que o Liars, a banda de rock mais instável da geração 2000, escreveu um disco enxuto e acessível (é o “disco americano” deles), que pode ser descrito como um cruzamento (meio doentio, vá lá) do Nick Cave de Murder ballads com o Sonic Youth do fim dos anos 1980? Agora entendo por que o trio decidiu nomear o disco anterior simplesmente de Liars: o estilo que eles cristalizaram lá em 2007 (alternância de agressividade e delicadeza, transe percussivo à krautrock e versos de pesadelo) volta num formato ainda mais compacto. Não é um disco decepcionante, longe disso, mas desprovido dos enigmas e das provocações que conquistaram os fãs de Drum’s not dead, por exemplo. Não sei se o Liars conseguirá sobreviver na pele de uma típica banda indie. Mas, enquanto eles tentam, ficamos com o meio-termo satisfatório de faixas como Scissor e Goodnight everything.
Fight softly | The Ruby Suns | 6.5
O caso do quarteto neozelandês é um pouco mais arriscado: se o Liars tenta encontrar a expressão mais precisa de um estilo, o Ruby Suns tem a ambição de alargar a sonoridade do disco anterior (Sun lion, de 2008), que devia algo à onda “freak folk” dos Estados Unidos. Para evitar comparações, a banda de Ryan McPhun se aproxima da psicodelia tropical de um Islands, com faixas que se desdobram em várias seções (olha o prog rock aí, gente) e criam um ambiente que, nos melhores trechos, soa como uma fantasia infantil dirigida por Tim Burton. Já nos mais fofos e adocicados….
Live at Olympia, Dublin | R.E.M. | 6
Desde 2007, o R.E.M. lançou dois discos ao vivo. Devemos interpretar como sintoma de crise na indústria de discos ou na carreira da banda? Ou nos dois departamentos? De qualquer forma, a premissa é boa: o álbum duplo registra a série de cinco espetáculos que o trio apresentou em Dublin entre junho e julho de 2007. “Isto não é um show”, avisa Michael Stipe logo no comecinho do álbum. A ideia é quebrar o protocolo: clima informal, bate papo com fãs, versões nuas e cruas para canções que a banda gravou nos anos 80… Um “work in progress” que desaguaria no álbum Accelerate, de 2008. Exaustivo, nada aventureiro, mas os fãs mais aflitos vão entender.
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