Constrangimento

Halcyon digest | Deerhunter

Postado em Atualizado em

Há momentos (e não são poucos) em que me envergonho de textos que escrevo.

Dias em que penso: escrevi demais, contei o que não devia. Ou então: usei as palavras erradas, fui ansioso e indulgente, não reli, faltou rigor. Ou: exagerei na pieguice e nas gracinhas, fui fraco, apelei, perdi.

Esse sentimento de frustração me acompanha já por muitos anos e, honestamente, não sei o que fazer dele. Escrevo para trabalhar e para me divertir. Escrevo pelos cotovelos, vocês sabem. Mas, ainda assim, mesmo com a prática, às vezes me falta coragem para ler o que escrevi. Quando leio, quase sempre me decepciono. Acabo chegando à conclusão triste de que ainda falta muito (talvez muito-muito) para que eu consiga os parágrafos que me matariam de orgulho.

Meu maior defeito, admito, é escrever além da conta e, no processo, me expor excessivamente. Daí que me identifico, e sempre me identifiquei, com as pessoas (os músicos, os escritores, os cineastas) que também não se poupam – que deixam, talvez por não conseguir evitar, que experiências muito íntimas contaminem os próprios “textos”. 

Que escrevem como que para um diário – sem medo, talvez sem cautela ou limites. E que depois largam o diário no banco da praça. 

Bradford Cox, vocalista do Deerhunter, é desses. Mas eu poderia estar falando sobre Elliott Smith e Kurt Cobain, sobre o John Lennon de Plastic Ono Band, sobre o Nick Drake de Pink moon, sobre o Beck de Sea change. E sobre cineastas como Jacques Nolot ou Hong Sang-soo ou Elia Suleiman. Todos tão perdidamente eles próprios, mesmo quando inventam, mesmo quando falseiam ou se camuflam em tipos de ficção.

No quarto disco do Deerhunter, Bradford Cox se exibe em quase todas as canções. Ora melancólico (quase suicida), ora estranhamente eufórico, otimista. Em todos os casos, leva às gravações um discurso franco, sem corretivos, que nos toma pelos braços. Somos cúmplices. Pode ser encenação – mas, nesse caso, a técnica só valoriza um álbum que soa como os posts desesperados (e ansiosos, e por vezes apressados) de um blogueiro que ouviu demais.  

O narrador só se revela por completo nas últimas faixas do disco – especialmente em Basement scene e Helicopter, duas das canções mais brutais (e tocantes) do ano. “Eu não quero acordar. Eu não quero envelhecer”, Bradford avisa, sobrevoando uma canção de ninar psicodélica. E depois, como um rockstar condenado, solitário, lamenta: “Nos clubs as pessoas sabem o meu nome”. Os fãs não curam. O palco é uma piada. A vida segue.

A faixa seguinte afoga o vocalista em um loop aquático. Profunda agonia. “Todas essas drogas que eles fabricam… Elas não surtam o efeito que provocavam. Eu costumava usá-las dia após dias”, conta. “Ninguém se importa comigo. Eu não tenho companhia.” E a voz de Bradford, 28 anos, vai sendo engolida por efeitos sonoros coloridos e distorcidos. Um parque de diversão decadente.

O restante do disco, ainda que não vá tão longe nessa autoanálise, vai compondo a persona dúbia de Cox com uma caligrafia trêmula. Mas atenção: trata-se de uma confissão desarranjada e não muito confiável (no sentido documental da coisa, digo), já que confunde sonhos, desejos e memórias. “Este é um disco sobre a forma como reescrevemos e editamos nossas lembranças para formar uma versão condensada e agradável daquilo que queremos lembrar”, disse o vocalista.

O impressionante é como Cox – e a banda, que não se ausenta – leva essa ideia para a sonoridade do disco, que alterna trechos mais oníricos (como Helicopter, Earthquake e Sailing) com faixas cruas (como He would have laughed, escrita em homenagem a Jay Reatard, que morreu este ano). No conjunto, as melodias do disco talvez tentem simular aquele estado breve que antecede o sono, quando nossos pensamentos sobre o cotidiano (nossas preocupações de cada dia) começam a se diluir em sonhos. Soa quase delirante.

A produção de Ben Allen (de Merriweather Post Pavilion, do Animal Collective) ajuda a moldar uma sonoridade a um só passo extravagante e familiar. O disco começa num andamento lento, duro (Earthquake é uma canção do Air remixada por Kevin Shields), mas logo se abre para arranjos de garage rock sessentista (Don’t cry, Revival) e versos inocentes. “Venha cá, garoto, você não precisa chorar. Você não precisa entender todas as razões”, Cox adverte, em busca da infância perdida (um tema que retorna em Memory boy).

Em Sailing, a brisa já passou. Cox está à deriva. “Apenas o medo pode fazer você se sentir sozinho por aqui. Você aprende a aceitar qualquer coisa que consegue encontrar.” E o disco então se parte em dois: verão e inferno, alegria e depressão, lado B misturado ao lado A. Mais do que em qualquer outro álbum do Deerhunter ou do Atlas Sound (até mesmo de Cryptograms, totalmente esquizofrênico), o vocalista depura uma sonoridade que resume um temperamento imprevisível, que oscila a todo momento.

Talvez mais interessante do que isso: uma sonoridade que mostra um compositor capaz de combinar referências de todo canto (do shoegazing ao pós-punk), que se transforma ora em Bowie, ora em Lou Reed, ora em Thurston Moore, ora em Julian Casablancas (na ótima Desire lines, escrita pelo guitarrista Lockett Pundt). Que é todos e ninguém (e, por isso, mascote de uma geração que ouve música exageradamente, apressadamente, talvez sem prudência).

Bradford Cox é um dos nossos: ele vive cada disco como se não houvesse amanhã. Ele está lá. Eu estava me perguntando por que, para mim, parece muito complicado comparar este Halcyon digest com qualquer outro álbum do Deerhunter (até com Microcastle, também hipnótico). Encontrei a resposta: Cox nos faz acreditar que este disco é a imagem fiel – até constrangedora, em alguns trechos – de quem ele é neste exato momento. Aqui e agora. E o que ficou lá atrás, enquanto durar este feitiço, não mais interessa. 

Quarto disco do Deerhunter. 11 faixas, com produção da própria banda e de Ben Allen. Lançamento 4AD Records. 8.5/10

2 ou 3 parágrafos | Nine

Postado em

As fotos de divulgação parecem indicar uma sequência de A casa do espanto, mas isto aqui é muito mais assustador do que eu esperava (e eu estava pronto para enfrentar uma ode a Fellini assinada por Rob Marshall e Harvey Weinstein, algo arrepiante por si só). Nine (1/5) é daqueles equívocos espetaculares.

É muito ruim, e nem tanto por trair o espírito do filme que supostamente homenageia (8 e meio era um delirante fluxo de consciência; isto aqui é um musical kitsch sobre crise criativa), mas por bater naquela tecla dos que tratam a Broadway (e as fórmulas da Broadway) como palco sagrado. Ninguém aguenta mais.

Como em Chicago, Marshall faz dois filmes em um: uma produção “de época” convencional entrecortada por clipes desconjuntados de performances sob holofotes. Tudo muito didático e pragmático, e uma tortura: e as canções chegam a provocar dor de barriga (eu não imaginaria o elenco de Glee interpretando Cinema italiano ou Be italian) e a caricatura dos “italianos” (uns gringos meio toscos e espalhafatosos que fumam e traem sem parar) é puro constrangimento. Meu primo de 15 anos vai curtir as cruzadas de pernas da Penélope Cruz (e aí é covardia) e os fãs de Fellini vão encontrar uma dezenas de referências — todas nos lugares mais errados.

Superoito e a questão do estacionamento

Postado em Atualizado em

O apartamento onde moro fica no final de um corredor longo e estreito. Hoje fiz o cálculo: do elevador à porta são quase 60 passos. Parece uma eternidade, um martírio, mas prefiro encarar a localização com algum otimismo. Meu quarto-e-sala fica grudado à lixeira do prédio (isto é: desovo minha bagunça quando e como bem entendo, de cueca amarela furada às três da madrugada, e tudo isso me dá uma sensação refrescante de liberdade), bem perto da saída de emergência (sou dos que preferem ficar bem perto das saídas de emergência) e, no mais, a caminhada até o elevador dá um belo de um exercício físico.

Gosto dele. Do corredor.

Morar no fundilho do prédio também traz outra vantagem: a janela da sala não dá para uma parede acinzentada, mas para a rua, para o horizonte, para o mais extraordinário e terrível vazio. Quando bato de frente com o cenário (tão plácido!), às vezes esqueço que vivo num cubículo. E isso melhora o meu dia, de alguma forma.

Quando me mudei para o apê, sem lenço e sem documento, pensei que seria só isso: eu e o apê, o apê e eu. Logo fui surpreendido por um elemento estranho: o vizinho.

Descobri num susto. Era sexta-feira, quase oito da manhã. O interfone tocou. E foi também aí quando descobri que eu tinha um interfone e, repare!, ele fazia barulho.

– É o Tiago?

– É. O Tiago.

– Está acordado?

– Um pouco.

– É da portaria. Parece que você bateu no carro do seu vizinho.

– Meu vizinho?

– O da frente. O seu vizinho da frente. Ele tem um carro preto. Parece que você bateu no carro preto do seu vizinho.

– Impossível.

E bati o interfone. Eu estava assustado. Meus sonhos são muito vívidos. Eu estava sonhando. Nada daquilo parecia real. Primeiro, um interfone. Depois, um vizinho. E um carro preto. Uma batida. Eu era o culpado. Eu era o culpado? A situação toda parecia extremamente irreal.

O interfone tocou novamente.

– Tiago, seu vizinho está na garagem. Ele mediu a batida com uma fita métrica e parece que foi você mesmo. Você bateu. Mesmo.

– Não lembro de ter batido em ninguém. Falo a verdade.

– Mas foi você. Eu desci até a garagem, eu vi a batida. Desci duas vezes. Foi você.

Em vez de prolongar a discussão, decidi vestir um trapo e ir à cena do crime. Eu realmente não lembrava de ter batido no carro de ninguém. As vagas da garagem são todas muito apertadas, mas sou cuidadoso.

Foi ali, naquela situação meio esdrúxula, que vi meu vizinho pela primeira vez. Um sujeito baixo, de rosto redondo, devia ter uns 28 anos, cabelo rigorosamente aparado e penteado para a direita. Usava uma camisa branca sem mangas por dentro da calça – e na camisa havia letras coloridas que formavam as palavras “Engenharia Mecânica”. Lembrei que eu nunca me dei bem com pessoas que usam camisa branca sem mangas por dentro da calça. Tomei aquele estranho como um inimigo e fui me irritando com ele pouco a pouco.

– Desculpe o incômodo, mas você bateu no meu carro.

– Eu bati no seu carro? Ontem é que não foi.

– Se não foi ontem, foi anteontem. Mas que bateu, bateu.

– E você vai provar?

– Veja. Aqui, uma fita métrica.

– Eu sei. Uma fita métrica.

– Então observe. A altura da batida no meu carro é exatamente a mesma desse arranhão aqui no seu carro (e, enquanto o sujeitinho explicava, eu só conseguia ler as palavras “Engenharia Mecânica”).

– Pode ter sido coincidência.

– Não pode. Olhe bem. O formato da batida. É redonda e pequena. Agora veja o arranhão no seu carro. É redondo e pequeno.

– Certo. Mas isso prova tudo?

– Isso prova tudo. A fita métrica. Você quer chamar a polícia?

– Não, óbvio que não. Polícia, meu deus. Entenda isso: eu não lembro de ter batido no seu carro. Não lembro. E você não me conhece. Não me conhece. Se você me conhecesse, saberia que não saio batendo nos carros dos meus vizinhos. Não sou desse tipo.

– Sei.

– É verdade.

– E então?

Decidi desistir da briga. Era manhã de sexta-feira, eu precisava vestir uma roupa decente e ir trabalhar.

– Olha… Você tem a prova de que eu bati. Eu não tenho provas de que não bati. Você venceu. Ponto seu. Leve o carro ao mecânico e veja o preço do conserto. Depois me ligue. No interfone. E é uma batida tão pequena que ninguém nem vê.

– É que comprei o carro mês passado e –

– Então faça o orçamento. Tem outra forma?

Ele guardou a fita métrica, provou o gostinho de uma vitória tola, deu um sorrisinho cruel e tudo o mais. Nesse momento, no entanto, notei que ele estava um pouco constrangido com a situação toda. Uma batida de nada, quase invisível, havia rendido uma discussão capaz de arruinar a relação entre dois vizinhos. Ficamos parados ali na garagem por alguns desconfortáveis minutos. Ele resolveu mudar de assunto. Mudar o tom. De thriller sanguinolento para um ameno buddy movie.

– Você mora aqui há muito tempo?

– Não. Poucos meses. Você?

– Dou aula. Engenharia.

– Certo. Certo.

– Que situação, hem?

– Pois é.

– Desculpe por ter ligado tão cedo, é que meu carro, o carro é novo, é meu, o meu carro, sabe como é…

– Sei como é. Tudo bem. Eu é que tenho que pedir desculpas. Bati no carro. Bati sem saber, mas bati. Acontece. Vivendo e aprendendo. E agora tenho que correr pro trabalho está tarde e outro dia a gente resolve tudo vai terminar bem vão consertar é só uma batidinha de nada você vai ver tchau e até mais prazer em conhecer abraço adeus.

Passei uns três meses sem falar com o meu vizinho. Falei com meus amigos sobre o vizinho, a camisa sem manga por dentro da calça, a fita métrica, a batida estupidamente minúscula, e eles acharam graça, que coisa, Tiago, que azar, que coisa, logo você, ninguém merece. Ele nunca comentou sobre o orçamento do conserto. Eu nunca perguntei. Ficamos assim. Outro dia, notei que ele recebia visita. Quando entrei no corredor, vi uma cena inusitada: o vizinho estava ao lado da lixeira, posando para uma foto, com a mãe e o pai e possivelmente a irmã de uns 16 anos. Notei que ele ficou envergonhado com a situação e tomei aquilo como uma espécie de vingança. Entrei no meu apê com um sorriso sádico pregado no meu rostinho diabólico.

O tempo passou. E, durante esse tempo, tentei contato com outros vizinhos. Mas é complicado. Não sei se isso acontece em outras cidades, mas existe em Brasília uma espécie de código social que dificulta as relações de vizinhança. É um estereótipo, sim, mas que sempre cercou a minha experiência brasiliense. Eu vivi o lugar-comum. Na pele. Desde que cheguei à cidade, aos 12, fiz amizade com pouquíssimos vizinhos. Um deles era um fã de heavy metal que me pedia para traduzir os versos do Iron Maiden. Ainda assim, era uma amizade apenas protocolar. Ele tentava me convencer de que a obra do Iron Maiden era uma forma superior de arte (eu fazia de conta que acreditava), eu tentava convencê-lo de que Billy Corgan era o messias (e ele fazia de conta que acreditava), e era isso.

Noto que, nesse ponto, nada mudou. Quando nos cruzamos no corredor, eu e meus vizinhos desviamos olhares, trocamos preguiçosos “ois” e respiramos fundo na torcida para que o elevador chegue rápido e nos livre do encontro incômodo com o desconhecido. Com o desconhecido que mora no apartamento ao lado. No prédio onde moro, não somos muito sociáveis. Não queremos ser incomodados. Somos terrivelmente individualistas e auto-suficientes. E estamos muito bem desse jeito, obrigado.

E poderia ser diferente?

Anteontem, por uma dessas coincidências que não significam coisa alguma, encontrei meu vizinho na garagem. Eu estava chegando de carro, ele também. O encontro seria inevitável. Pensei até em fazer um desvio, sair do prédio, tomar um sorvete e retornar em cinco, dez minutos. Mas decidi encarar a vida como ela é. Estacionei cuidadosamente o carro. Ele fez o mesmo. Acenei e ele, assustado, respondeu com um aceno desajeitado. Estávamos, veja isso!, nos comunicando – e desconfio que, com aqueles acenos típicos de uma vida social saudável, quebramos duas ou três regras definidas pela reunião do condomínio.

Eu tentei encerrar a aproximação ali. Saí do carro discretamente, abri a mala, tirei minha mochila e duas sacolas de supermercado. Notei que meu vizinho estava tirando do carro dele uma mochila e duas sacolas de supermercado. Percebi que a imagem do meu vizinho com uma mochila e duas sacolas de supermercado era um tanto patética, mas logo reparei que eu talvez parecesse igualmente patético. Fiquei um pouco perturbado com a comparação e apressei o passo para o elevador. Ele veio atrás. Apertei o botão do elevador com ansiedade. Mas o elevador não chegou e acabamos nós dois ali, eu e meu vizinho. Eu e o desconhecido. E o silêncio.

Eu devia ter feito um comentário engraçadinho. Mas não havia nada a comentar com o panaca que me acordou às oito da manhã por causa de uma batida idiota.

Para minha surpresa, ele resolveu puxar assunto.

– E então, está gostando de morar aqui?

– Sim, sim. Mais ou menos. Enfim. E você?

– É. Até que sim. É bom. É silencioso. É até muito bom.

– Mas aí vão construir o shopping e daqui a pouco…

– É. Vão construir o shopping e daqui a pouco…

O elevador chegou. Entramos.

– Dizem que o shopping fica pronto em novembro ou dezembro.

– Ouvi falar que é dezembro.

– Já disseram novembro.

– Vai ser um inferno.

E o corredor, longo que só ele. 60 passos.

– Vai ser um inferno.

– É. Vai ser um inferno.

– Vai ser um inferno.

20 passos. Na sacola de supermercado, ele levava alface e consegui notar umas latas amarelas de não-sei-o-que (talvez milho, ou mostarda).

– Só espero que resolvam a questão do estacionamento.

– A questão do estacionamento é importante. Espero que resolvam.

– Espero sim. A questão do estacionamento.

– Que resolvam a questão do estacionamento logo.

– É a mais importante.

Então chegamos. Nos despedimos sem deixar ganchos para próximos episódios. Com alívio. Estava encerrado o encontro. Um confronto difícil. Um épico de Hollywood. Mas nos saímos razoavelmente bem. Com palavras educadas e ocas, provamos para nós mesmos que podemos ser vizinhos até bastante civilizados. Em dois meses, estaremos jogando cartas e abrindo garrafas com os dentes na companhia de outros vizinhos educados e civilizados e tão ocos e tão desajeitados e tão trancados por dentro quanto eu e o desconhecido da porta à frente. Desmentimos a lenda urbana e fizemos de Brasília uma cidade calorosa, simpática e cortês. Viu só? Não é impossível.

No dia seguinte, quando eu estava prestes a sair para o trabalho, o interfone tocou. E tocou de novo. O barulho era mais estridente do que eu imaginava. Deixei tocar. Tocou de novo. Pensei em atender. Pensei duas vezes. O danado gritava. Num salto de dois metros, peguei minha mochila, arrumei meu cabelo, molhei as plantas, abri a janela (tão plácido!), meti a chave na porta. O bicho barulhento ficou gemendo na sala. Eu, que não sou bobo, parti.