Comédia romântica
(segunda-feira, saída do trabalho, 19h)
Ele: Tiago, eu acho tudo isso uma coisa estranha. Cê era um cara tão fechado, tão na sua, ninguém nem queria saber sobre a sua vida. E agora taí, contando tudo, se abrindo pra todo mundo, desabafando, se arrastando. Te digo um negócio: cê tá sofrendo. Tá sofrendo. Tá na sua cara, olha aí.
Eu: Não sei.
Ele: E cê tá sofrendo porque ainda gosta dela. Ainda gosta dela. Cê criou uma explicaçãozinha racional pra não ter que encarar o fato de que ainda gosta dela. Criou e até acha que tá se dando bem, se convencendo de que tá tudo melhorando, de que tomou a melhor decisão, de que pegou o caminho certo.
Eu: Não sei.
Ele: Mas é. É, e eu vivi um lance parecido. Ainda tô vivendo. E só passei a me sentir bem comigo mesmo quando percebi que eu gosto dela de verdade. Eu gosto dela, porra. E foda-se, velho, se ela acabou de se mandar pro Rio, se ela tá com outro, se ela desencanou geral. Foda-se, não ligo, eu gosto dela. Me fodi, entende? Me fodi bonito. Mas claro: uma coisa é gostar e ficar batendo a cabeça na parede, a outra é gostar e assumir que não tem mais jeito. E aí você tenta seguir em frente.
Eu: Não sei.
Ele: Ou se esborracha. Mas aí é opção sua, sacou? Aí é você decidindo sobre a sua vida. E você não quer ficar preso numa merda de uma relação que já morreu, quer? Eu decidi que, porra, elas que esperem. Não vou ficar que nem um cachorrinho. Vou ficar quieto. Não vou atrás de mulher pra casar, e você sabe que elas já vêm com aliança na porra do meu dedo. As prioridades são outras. Vou trabalhar, ganhar dinheiro, comprar meu apartamento, focar, focar. Minha independência, entende? Eu queria era nunca ter entrado naquela merda daquela relação. Cinco meses no esgoto. Mas eu gosto dela, cara. Eu gosto dela. E você também tá nessa lama que dá pra perceber.
Eu: Não sei.