Coldplay

♪ | Given to the Wild | The Maccabees

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Nos setores da crítica musical que confundem madureza com sisudez, este disco mui sério do Maccabees é tratado como um dos acontecimentos centrais deste querido mês de janeiro. Motivo: depois de gravar dois álbuns que agradaram moderadamente às revistas britânicas — mas não fizeram meu golden retriever, o Simba, levantar a patinha —, os cinco londrinos voltam com uma OBRA de movimentos contidos, textura arenosa, melodias cheias de sutilezas (mas, calma, pra todo mundo cantar junto) e um vocalista que parece interpretar as canções de olhos fechados, girando o dedo no ar, em estado de profunda concentração.

Mas não nos deixaremos impressionar por nada disso (certo?): ainda que com intenções muito dignas (exemplo: eles usam o conhecimento de um produtor de eletrônica, Tim Goldsworthy, mais para criar climas katebushianos que pra incendiar genericamente numa pista de dança qualquer), a banda esmaga as músicas dentro de m modelo de pop rock “atmosférico”, “adulto” e “profissional” (zzz) que, além de ter se transformado num clichê até engraçado, emite um certo odor de mofo — simulando, quando muito, o U2 de The Unforgettable Fire e o Coldplay de Parachutes. Direto de túnel do tempo: depois de andar nessa estradinha pomposa, Bono e The Edge chutaram o balde e criaram, aí sim, Achtung Baby. Vamos torcer pra que, em 2018, o Maccabees não se contente com um Viva la Vida.

Terceiro disco do Maccabees. 13 faixas, com produção de Tim Goldsworthy, Bruno Ellingham e Jag Jago. Fiction Records. C

Mines | Menomena

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Entendo por que tanta gente se espelha em bandas como o Grizzly Bear, o TV on the Radio. Eles, os nova-iorquinos, correram atrás de uma marca, de um lugar no mundo, e encontraram tudo isso.

Também compreendo que muitos tenham o enorme desejo de gravar discos como Veckatimest e Dear science. Álbuns coesos, duros, determinados, densos – a cristalização de um estilo! – mas também fascinantes, misteriosos.

Mas a vontade de ser uma banda como o Grizzly Bear ou o TV on the Radio e de gravar discões como Veckatimest e Dear science, é claro, muitas vezes é apenas uma vontade: concretizar essa ambição é que são elas.

Pois bem: Mines, o disco mais ambicioso do Menomena, mostra que não é fácil desenvolver uma trajetória particular, inimitável, dentro do indie rock. Não é fácil ser o novo Grizzly Bear, muito menos o novo TV on the Radio.

O Menomena, um trio de Portland, Oregon, está no quarto disco e, até agora, não pareciam muito interessados em definir uma identidade sonora. O anterior, Friend and foe (2007), era um tiroteio de promessas. Uma sacola de cacos de vidro. E um ótimo disco, com faixas fortíssimas como Evil bee e Wet and rusting. Ainda hoje, gosto muito dele.

Era complicado definir o som da banda e, por isso, muitos diziam que eles criavam arranjos “angulosos” (o que é verdade), com um emaranhado instrumental imprevisível (um quebra-cabeças de loops) que acenava para o math-rock de um Battles, por exemplo, mas com uma tendência a melodias sentimentais, doces. Era mais ou menos isso.

Essa definição também pode ser aplicada a Mines, mas trata-se de um disco menos brincalhão e arejado que o anterior. Naquele, cada música parecia ter sido gravada num dia diferente. Neste, as 11 faixas soam como se tivessem saído de um mesmo ensaio e, três minutos depois, lacradas a vácuo.

Antes, havia lacunas no quebra-cabeças. Essas lacunas soavam misteriosas. Algumas faixas não soavam exatamente como canções, mas como esboços de canções. Desta vez, o Menomena resolveu usar as peças do puzzle para formar canções bem acabadas, às vezes redondinhas.

Mines é um disco bitolado numa “ideia-fixa”: as canções soam mais melodiosas (e menos aventureiras), sutis, mais detalhistas e, alguns momentos, sisudas, cabisbaixas, como capítulos de uma história triste. Em vez da caixinha de surpresas, um bloco maciço daquilo que eles entendem por maturidade.

Se fosse possível catalogar toda a história da música pop em dois tipos de álbuns – os juvenis e os adultos -, Mines seria um álbum adulto. Friend and foe, um juvenil (mas não se preocupe: essa catalogação maluca é uma bobagem).

É uma bela reviravolta na carreira da banda, que será defendida por muita gente (procure na web: há fãs tratando o disco como um dos melhores do ano), mas a questão é: eles conseguem bancar o salto?

Fato: o Menomena aprendeu a usar uma aquarela de timbres, loops e efeitos (e tem de tudo: guitarras, sintetizadores, sopros dissonantes, piano de casa do espanto, coros fantasmagóricos, percussão, palminhas, etc) para compor uma imagem harmoniosa. Perto disso, Friend and foe era Jackson Pollock.

Há canções aqui, como Dirty cartoons e Tithe, que poderiam ser confundidas com baladas do Coldplay e do Snow Patrol. E do Elbow. São quase convencionais. E, ainda assim, soam belas, cuidadosas, corretas.

Meu problema com o disco está nessa última palavrinha: ele soa corretinho. E, para uma banda de rock que parecia solta no mundo, tateando possibilidades, essa tendência ao comodismo me parece meio assustadora. Era só isso que eles queriam? E, nessa perspectiva, como fica o disco anterior?

Ainda assim, Mines não parece errado: existe um lugar nas rádios para o Menomena, eles soam sinceros e verdadeiramente desiludidos com alguma coisa (as letras, escritas na primeira pessoa, lidam com inseguranças e responsabilidades da idade adulta, temas com que podemos nos identificar, e há um tom surrealista, um clima de paranoia urbana que deixa tudo mais complexo). Junto do Morning Benders, do Dodos e de alguns outros, eles entendem que é possível arredondar referências de rock psicodélico sem tomar o rumo de elevadores e consultórios de dentistas. E isso é bom.

Não estamos falando de um disco aguado como o terceiro do Band of Horses.

Mines é um álbum coeso, para ser montado e desmontado lentamente? Sim. Indica a possibilidade de algum sucesso comercial? Talvez (eu não duvidaria). A certidão de nascimento de um estilo? Ainda não.

De qualquer forma, fico imaginando o que teria acontecido ao Menomena se eles tivessem mergulhado no caos colorido de Friend and foe e descido mais fundo naquele laguinho. As bandas de rock não devem ser o que queremos delas. Elas são o que são. Mas fico aqui imaginando.

Quarto disco do Menomena. 11 faixas, com produção da própria banda. Lançamento Barsuk Records. 7/10

Life in technicolor II | Coldplay

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Tudo bem que o histórico de videoclipes do Coldplay facilita o trabalho do diretor Dougal Wilson (Viva la vida, por exemplo, entra em qualquer ranking de piores). Mas taí, então: o Melhor Clipe de Todos os Tempos do Coldplay, se é que alguém se importa com isso. Sério: Wilson conseguiu reduzir uma das bandas mais populares do planeta a um teatrinho de bonecos – sem, digamos, perder o glamour. E de onde vem aquele helicóptero, hem?

Prospekt’s march | Coldplay

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coldplayA crise tá pegando, então vá por mim: o EP do Coldplay é o presente de Natal de que você não precisa. Quase um par de meias.

Chris Martin – nessa altura uma espécie de herói romântico do pop de estação FM – comentou que este CDzinho de oito faixas ajudaria o fã a compreender integralmente o conceito do álbum Viva la vida or Death and all his friends. Como se fosse complexo.

Por aí, nas lojas, está saindo a R$ 19.

É um assalto. Faça as contas: das oito faixas do compacto, três derivam diretamente de canções que já conhecemos. Life in technicolor II adiciona vocais (dispensáveis) à instrumental que abre o álbum, Lovers in Japan é um remix quase invisível e Lost+ vem com a inexplicável participação de Jay-Z, que obviamente presta homenagens a Biggie e Tupac.

E há uma que não chega aos trinta segundos de duração. Só nisso já descartamos metade do mimo de Martin.

O que nos sobra não é tão ordinário, ainda que não adicione novos elementos – nem tons, já que Martin adora usar metáforas de cores – ao disco produzido por Brian Eno. Glass of water adota a típica de hits como Yellow (versos dóceis, refrão cheio de guitarras) e Rainy day, mais interessante, brinca de eletrônica (com um refrão que emula Lou Reed). As acústicas Prospekt’s march/Poppyfields e Now my feet won’t touch the ground são sobras de estúdio. Lados B. Sensíveis, delicadas e tal, mas duvido que passariam pelo crivo de Brian Eno.

O perigoso de lançamentos assim, pobres de tudo, é que o público tende a atentar para detalhes que talvez passariam despercebidos em outra ocasião. Por exemplo: o preciosismo do Coldplay se encontra mais na embalagem das canções (a produção está longe de valer só R$ 1,99, e os títulos são sensacionais de tão emo) e do CD (o encarte é caprichado) que no processo de composição. De tão desarranjados, os versos de Life in technicolor II soam como fluxos de consciência. E essa fixação pela frase ‘agora meus pés não vão tocar o chão’, hem?

Se existe um conceito forte em Viva la vida, não será desta vez que ele virá à tona. Talvez seria melhor perguntar ao Brian Eno. Ou, como fazemos com o presente pouco memorável, guardar este par de meias no fundo do armário.

EP do Coldplay. Oito faixas, com produção de Markus Dravs, Brian Eno e Rik Simpson. Lançamento EMI. 3/10