Celebridades
Blogfobia
Uma dessas situações estranhas da vida: no meio de uma tarde qualquer, no trabalho, você nota que o sujeito do computador ao lado descobriu seu blog. E está lendo-o.
Você morre de vergonha. E não se pode fazer nada contra isso, já que a rede está em todo lugar. No máximo tenta contextualizar o objeto virtual, garantir a ele algum sentido, um espaço no mundo, uma ordem, uma epígrafe, uma linha-do-tempo, um testemonial. Um rastro, pegadas.
– Meu outro blog era mais interessante (eu e a minha velha tendência à auto-depreciação)…
– Ahn.
– … era mais constrangedor (como se isso importasse)…
– Ahn…
– …aí um dia acabei com ele (e é uma historinha entediante)…
– É?
– …e este novo é só um esboço para alguma outra coisa que não sei qual (como se houvesse outra coisa)…
– Hmm.
– Mas não sou eu, é um personagem! (o tiro de misericórdia)
– Meio chato ler na sua frente, né? Termino em casa.
Aí torci por uma versão atrasada do bug do milênio. E para que a crise das bolsas de valores afetasse finalmente a rede mundial. E me lembrei do quanto nunca quis ser a Paris Hilton. Nem o Daniel Galera. Nem ninguém famoso. Nem ninguém minimamente conhecido. Nem a Clarah Averbuck. Se o Murilo Salles tocar a campainha aqui de casa, faço de conta que não estou.
Mas, felizmente, blog é aquela coisa: há sempre o caso do leitor que detesta, toma raiva, fica enfezado e nunca mais volta. Nos meus surtos de blogfobia, vivo me apegando a essa possibilidade.