Bruce Willis
2 ou 3 parágrafos | Os mercenários
São dois filmes dentro de Os mercenários (2/5), um muito melhor do que o outro. No primeiro, uma gangue de justiceiros veteranos bebem, jogam dardos, lustram as motocicletas, fazem tatuagens e ouvem blues-rock na jukebox de um boteco até ajeitadinho. No segundo, alguns desses marombeiros-velhos-de-guerra tomam um avião para a América Latina e explodem uma ilhota miserável.
O filme do boteco tem clima de churrasco-com-cerveja, reunião de colegas de trabalho. É o que Stallone faz desde Rocky Balboa: revê o certo passado de uma certa distância – uma distância às vezes até melancólica. Mas existe a obrigação de conciliar essa autoanálise com o filme de ação oitentista que esperam dele. É aí que Os mercenários começa a se aproximar mais da truculência maçante de Rambo do que da franqueza de Rocky.
E é um filme assumidamente oportunista (o título em português é piada pronta; o original, The expendables, sai melhor ainda), que tenta se justificar pela quantidade de ex-astros de ação que consegue reunir (Van Damme, mais sensato do que eu imaginava, recusou o convite). A cena de Willis, Stallone e Schwarzenegger, que deve durar uns cinco minutos, é uma entre tantas que provocam mais constrangimento do que saudade. “Você perdeu uns quilinhos”, repara Arnoldão. “E você ganhou alguns”, diz Sly, cruel. Eu estive lá, nos anos 80. Eu tinha videocassete. Eu vi os filmes. Eu gostava de alguns deles. Mas saudosismo, meu amigo, tem limite.
Substitutos
Surrogates | Jonathan Mostow | 7
Um filmezinho diabólico que eu colocaria na minha pequena lista de fitas de ficção-científica que tiraram meu sono em 2009 (junto com Presságio, por enquanto). O roteiro é inspirado numa graphic novel, mas poderia ter brotado de um livro do Isaac Asimov ou do Aldous Huxley. Num futuro até plausível, as pessoas ficam ilhadas dentro de casa, onde comandam (via parafernália tecnológica) versões robóticas de si mesmos. Como consequência, os índices de criminalidade despencam e o sedentarismo dispara (e o clima de bem-estar, vejam isto!, é inebriante). E se a Terra se transformasse num seriado teen norte-americano, habitado pelo elenco de Barrados no baile e por seres plastificados à superprodução de Michael Bay? Eis o elenco deste engraçadíssimo filme de horror que segue as regras triviais do gênero e, ainda assim, permite todo tipo de debate pessimista sobre a vida que levamos. Eu interpretei como uma hipérbole para o mundo pós-internet – e, fraco que sou para esse tipo de fantasia, me assustei com a ideia.