Bonnie ‘Prince’ Billy

Superoito express (21)

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Subiza | Delorean | 7

O Delorean é um quarteto espanhol que soa como uma banda sueca de electropop. Eles saíram em turnê com o jj e o Miike Snow (que são suecos), foram remixados The XX e Franz Ferdinand (que são britânicos) e criam trilhas sonoras para fins de tarde em Ibiza (uma ilhota espanhola que os turistas europeus a-do-ram). Sabe aquilo que chamam de pop global? Pois bem. Se você ouvir este disco numa tarde chuvosa, ele vai te transportar para uma praia exótica, com areia branquinha e macia. E, claro, frequentada por gringos pegajosos que curtem house e farofada.

Resumindo: Subiza não é exatamente o paraíso. Se você encana com a superficialidade escancarada (e meio cínica) do indie-dance sueco, não recomendo esta pílula doce. Mas admita: não são muitos os que conseguem criar esse tipo de atmosfera delicada/arejada/ensolarada sem descambar para a lounge music de desfile de moda que encontramos naquelas coletâneas da boate Café del Mar (que fica em Ibiza, veja lá). E há lindos cartões-postais, como Real love e It’s all ours, que soa como as férias secretas do Animal Collective. Eis o paradoxo deste disquinho de vento: quanto mais você ouve, menos rasteiro parece.

jj nº 3 | jj | 7

O segundo LP do jj começa tão bem que deixa qualquer um com vontade de sugerir que a dupla regrave todas as outras oito faixas. E My life, o grande início, não deveria ser mais do que uma introdução. Mas, para roubar a cena logo nos créditos de abertura, a continuação de Ecstasy soa como uma homenagem ainda mais estranha à marra do hip-hop americano (eles se apropriam de versos do Lil Wayne gravados pelo rapper em uma música do The Game) e o mais próximo que a banda chegou do espírito noir típico do trip hop. A letra, sobre prisões e crimes, é veneno azedo no refrigerante do duo, que vai se aproximando aos poucos da soul music. Uma delícia. O restante do álbum é quase tão irresistível quanto, ainda que pareça um esboço para o próximo disco (And now e Let go são flechadas no peito). De qualquer forma, é muito bom conhecer uma banda que só precisa de 27 minutos para nos conquistar.

The wonder show of the world | Bonnie “Prince” Billy & The Cairo Gang | 6

Apesar de acompanhar com muito interesse o rastro de Bonnie ‘Prince’ Billy, reconheço que os melhores momentos do caubói são os solitários. O estilo dele, creio eu, até se beneficia dessa imagem de isolamento: o que ouço em discos como The letting go e Ease down the road é um homem (no máximo, ao lado de uma mulher misteriosa) numa pequena sala. A exceção é o ótimo Superwolf, com Matt Sweeney. No projeto com o Cairo Gang (do guitarrista Emmett Kelly), Billy volta a cantar o tema preferido (a vida em família, com tudo o que há de sublime e assustador) sem a força de um disco muito parecido com este: Lie down in the light, de 2008. A guitarra jazzística de Kelly deve ter atraído o compositor a experimentar uma sonoridade um pouco diferente e espairecer um pouco. Mas, à exceção da primeira música (Troublesome houses), o álbum dá giros lentíssimos em torno de uma ideia já desgastada.

Head first | Goldfrapp | 5.5

Fico com a impressão de que, desde o momento em que se assumiu como uma banda pop (Black cherry, de 2003), o Goldfrapp passou a se preocupar demais com a necessidade de acompanhar “tendências” de pistas de dança e de surpreender o público com mudanças abruptas de figurino. Depois de Seventh tree, o “álbum folk” (no auge do neo-folk americano), este Head first pega a onda do electropop oitentista que voltou às rádios inglesas como o La Roux e o Little Boots. Novamente, me parece apenas uma tentativa desesperada de não perder o bonde. Rocket é um single divertido, mas o disco soa apenas como o lado B de um greatest hits da Kylie Minogue. Rasteiro. E agora, com o retorno do Portishead e do Massive Attack, quem sabe Alison não resolve retornar ao ponto onde o disco de estreia parou?

Beware | Bonnie ‘Prince’ Billy

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bonnieprincecapaTodo álbum de Bonnie ‘Prince’ Billy é imediatamente tratado como o melhor álbum de Bonnie ‘Prince’ Billy. Você também ouviu essa história antes? Então bem-vindos a Beware, um Grande Álbum com uma Grande Banda gravado por um Grande Compositor em Grandes Estúdios, etc.

Admito que me assustei um pouco com a campanha de divulgação do disco. Pela primeira vez, Will Oldham adota uma estratégia que inclui um número expressivo de entrevistas à imprensa e fotos de divulgação. Para um sujeito declaradamente recluso, soa como um avanço. E um sinal de alerta.

Os fãs, de certa forma, estavam preparados para a transformação. Ano passado, Billy lançou Lie down in the light com o aviso de que aquele disco seria uma espécie de “lado suave” de um projeto mais grandioso. De fato, perto das ambições de Beware, o anterior fica parecendo um murmúrio (comovente, claro).

Trata-se do álbum mais ambicioso (e meticulosamente ambicioso) gravado por Oldham, e inclua aí I see a darkness, de 1999. É também o mais arriscado. Os fãs do músico certamente não cobravam um trabalho tão acessível e extrovertido  (a maioria prefere o trovador introspectivo de discos como The letting go e Ease down the road). E os fãs da fase soul de Cat Power… Será que eles estão prontos para o tom sombrio de canções como Death final e There is something I have to say?

Não há como prever. Mas, como Middle cyclone (de Neko Case) e Merriweather Post Pavillion (do Animal Collective), é um daqueles trabalhos que expandem a palheta de cores usada por ídolos indie e perigam cair no gosto do mainstream. Se acontecer, ficarei feliz por Oldham. Não que seja algo importantíssimo, mas o mainstream deve esse reconhecimento a ele.

No mais, o álbum faz algumas das concessões mais elegantes da história do alt.country. A estrutura clássica do disco nunca é negada por Oldham (para cada rompante country há uma balada emotiva), mas o que impressiona é a forma como essa nova estrutura não cai como um pedregulho sobre o lirismo sutil do compositor. Pelo contrário. Oldham conduz com muita segurança uma banda enérgica, talentosa (com flauta, banjo, saxofone, violino, palminhas e coro), além de um time de convidados especiais (a exemplo de Neko Case, lembremos).

Será acusado de ter tomado o caminho mais amplo e fotogênico. Mas não se deve desprezar um disco capaz de evocar tanto o Bob Dylan sereno de Nashville skyline quanto a atmosfera folk transcendental do Van Morrison de Astral weeks. O álbum soa universal assim, mesmo quando excessivamente formal ou previsível (lembra um pouco o rigor de The greatest, de Cat Power).

Com títulos como My life’s work e I am goodbyeBeware serviria até como um belíssimo testamento para Billy – vamos torcer para que, em vez disso, abra uma nova fase (com novos desafios; quem fica parado é poste) para o Grande Compositor.  

Sétimo álbum de Bonnie ‘Prince’ Billy. 13 faixas. Drag City/Palace Music/Domino Records. 8/10